Carmesim

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    Capítulos:

    Capítulo 2

    A Frágil Presa

    Álcool, Estupro, Hentai, Heterossexualidade, Linguagem Imprópria, Mutilação, Nudez, Sexo, Violência

    Makai

    HIEI POV

    - Hiei! Oi, há quanto...

    - O que você quer mulher idiota?

    Os olhos róseos se arregalaram enchendo de mágoa e suspirei enfadado. Estava quase refinando mais o Jao Ensatsu Kokuryuu-ha e essa shinigami me aparece atrapalhando. Ignorando meu mal humor, ela sorriu empolgada e tive uma breve nostalgia. Essa mulher continua igual. O mesmo estilo ao prender seu cabelo azulado, a aparência jovem de uma adolescente, o quimono rosa pálido e o sorriso fácil. Se não fosse pelas íris rosadas e a energia espiritual emanar dela, diria que se tratava de uma koorime. Como Yukina e minha mãe...

    Arquejei acordando de repente. O teto irregular e escuro me fez estranhar até que uma respiração ressonou ao meu lado. A cama estremecia leve pela fortaleza em movimento e espiei de soslaio a youkai ao meu lado. Mukuro estava deitada de costas para mim. Seu corpo suado tinha marcas que logo sumiam. Hematomas quando a agarrei pelos braços e a cintura, mas pelo visto ela nem se importou. Voltei a encarar o teto, pensativo e sentindo os vergões das unhas dela nas minhas costas e outras feridas arderem.

    Era a segunda vez que tenho esse sonho. Me lembrava de quando a guia espiritual me esperava no escritório de Mukuro. A youkai ainda continuava com o corpo deformado e aparentemente ignorava esse “reencontro”. A onna sorria sincera em me ver e pela primeira vez dei atenção à aparência dela. A garota de cabelos azulados tinha uma semelhança incrível com as princesas de gelo. Eu lembro das velhas e mulheres discutindo sobre mim enquanto era apenas um bebê. Selado naquele casulo apenas meus olhos estavam à vista e vi como elas pareciam iguais. Os cabelos turquesa, a pele pálida, a beleza etérea (exceto das mais velhas) e ainda os olhos. Carmesins como os meus. A única coisa que herdei de minha mãe além da pedra de lágrima.

    Porque sempre lembro disso não faço ideia. Talvez por me chamarem de Criança Maldita o tempo inteiro e fomentava meu ódio por elas. Suspirei me sentando ao levantar da cama, sibilando ao pegar minhas roupas jogadas no chão. Sentia meus ossos e músculos doerem. Mukuro era selvagem, tinha um vigor de uma Súcubo. Por um momento eu achei que era esse tipo de demônio enquanto ela cavalgava em mim, tomando o controle. Era estranho. Nessas horas eu nem me importava, apenas queria o sexo, mas depois... Era como se fosse como antes.

    Me vesti rápido e prendi a espada no cinto às costas. A faixa branca coloquei por ultimo cobrindo o Jagan. Nesses dois dias ela sempre me arrancava, dizendo que me queria sem nada. Era uma ordem. Humpft. Imagino o que diz para os outros consortes que ela tem. Soube que mesmo antes de reparar seu corpo já tinha alguns. Faziam parte dos seus setenta e sete guerreiros. Sem mais caminhei até a pesada porta e saí, ouvindo a tranca passar.

    Hoje era a coroação do campeão do Torneio. Por algum motivo, Mukuro perdeu. Yomi vai assumir o poder e todos estavam nervosos com isso. Ninguém esqueceu suas razões há três anos para conquistar plenamente Makai. Eu simplesmente não me importava. Enquanto andava pelos corredores negros, as paredes parecendo cavidades vazias de um inseto, um bando de vozes me alertou. Parei de andar me concentrando até que entendi.

    - Onde você achou?

    - No nível mais baixo da fortaleza. O salão estava cheio deles.

    Os dois riram baixo e olhei para o arco à minha esquerda. Corri sumindo entrando nesse corredor até avistar outro portal de pedra. O bar arsenal estava cheio. Os monstros berravam e gritavam derrubando mesas numa briga enquanto que os outros apenas assistiam. Vi de relance fêmeas de youkais-gatos e Súcubos sentadas nos colos deles. Umas gostavam, outras pareciam já ter apanhado. Eram prostitutas. Mukuro permitia raras vezes e os guerreiros se esbaldavam. O problema era que as fêmeas não podiam ser escravas e haviam poucas que estavam nessa vida por vontade própria. Corri desviando de todos até saltar para cima de uma viga de pedra. O ângulo da pilastra criava sombras me escondendo e pude espiar os dois guerreiros conversando abaixo de mim. Eles murmuraram, mas conseguia ouvir mesmo com o barulho ao redor.

    - O que você acha?

    - Não sei. Nunca senti nada igual.

    O demônio com as asas tirou algo por dentro da gola. Ele tinha muito cuidado, mal tocava e observando ao redor junto do outro abriu a mão colocando o objeto na mesa. O pedaço de pano branco se abriu vazio e eles se inclinaram sobre ele inspirando. Estreitei o olhar. Era isso que escondia? Esse trapo? Bufei enfadado. Não devia ter perdido meu tempo.

    - Era de uma fêmea.

    Me interessei outra vez. Eles fitavam o tecido fascinados com o cheiro, mal tocavam arfando. Isso me intrigou.

    - Mukuro só deu permissão hoje. Devem tê-la escondido-a bem.

    - Esses canalhas... Aposto que era uma Koorime. Essas youkais são uma delicia.

    Prendi o fôlego e antes que percebesse havia sumido da pilastra. Quando me notaram já tinha roubado o pano e olhava fixamente os dois. Parado diante da mesa e sério respirava fundo. O guerreiro com as asas pulou do banco estremecido de medo. Seu amigo me encarava em pânico.

    - Hi..Hiei!

    O grito avisou a maioria dos monstros que estavam aqui e vários congelaram de susto. Curvei os lábios desdenhoso, sentindo a raiva aumentar e guardei o trapo no bolso da calça. Não tinha mistério algum nesse choque deles. Eu era um youkai de categoria S. O fato de eu estar aqui significava problemas e eles tinham um pavor tremendo de Mukuro.

    - Hiei... Só estávamos conversando. Não vimos...

    - Quando encontrou o pano?

    Eles arregalaram os olhos, os pescoços engolindo convulsivamente. Confesso... Estava curioso com a reação deles. Fugiram ou enrolariam numa mentira? De qualquer modo, não iam escapar. Com o silencio anormal, os outros ouviram e aumentaram mais a atmosfera tensa e curiosa nesse bar.

    - Que pano?

    - Ei Kento! Vocês não fizeram nada de errado, não é?

    - Olhem a cara deles. Estão se borrando de medo!

    Metade caiu na gargalhada e o amigo dele saltou do banco, correndo desesperado pelo salão. Simplesmente o observei atravessado e sumi, chutando suas costas quando o alcancei em segundos. O youkai se entalou voando até cair em cima de umas mesas. O estardalhaço aumentou e ele se levantou rosnando, correndo até mim. Sacando a clava em sua cintura ele gritou me xingando e atacou, descendo a clava mirando minha cabeça. Quase ri e esquivei quando a arma acertou o chão, quebrando em pedaços. Antes que ele reagisse surgi ao seu lado no ar e balancei a katana. Seu braço caiu e ele gritou segurando o resto, o sangue melando ele próprio e o chão.

    - Seu maldito!

    Vi algo pela visão periférica. Me esquivei rápido do chute do cara sem um braço, agarrando seu tornozelo torcendo e pisei em seu joelho quebrando os ossos. Ele caiu no chão gritando e os outros riram dele. Minha outra mão havia atirado a espada para o lado e outro berro cortou o silencio.

    Encarando de cima, vi o sujeito estremecer de dor. Que fracote.

    - Por.. por que?!

    - Vocês são idiotas ou apenas burros mesmo?

    Torci a perna e o monstro gritou mais alto. Ninguém ousou me interromper.

    - Não fizemos nada!

    Soltei uma risadinha encarando atravessado o outro youkai com as asas. Ele estava pendurado na parede pela espada que atirei. O punho era a única coisa que aparecia saindo da sua barriga que sangrava mais e mais.

    - Sabem que Mukuro é rigorosa e mesmo assim iam esconder.

    Larguei o tornozelo e fui rápido até o outro na parede. Agarrei o punho da espada e arranquei. O youkai cuspiu sangue, arregalando os olhos em dor e caiu de joelhos. Balancei a arma tirando o sangue.

    - Tem um dia pra contarem. Senão eu mesmo conto.

    O sujeito me olhou em pânico e saí do bar normalmente. Deixando todos confusos e curiosos. Enquanto entrava no corredor principal pensei nesse problema. Não me importava quem eram os estúpidos que trouxeram a fêmea. Mukuro ia mata-los de qualquer jeito. O que me fez bater naqueles fracos foi a suspeita deles. Uma Koorime? Isso me revoltava. Elas são frágeis. Presas fáceis e dóceis que não oferecem resistência alguma. Apesar do poder que tem, minha irmã era machucada o tempo inteiro, de todos tipos por aquele porco humano e nojento. A criatura não teve chance alguma. Imagino o que fizeram com o corpo quando acabaram. Deve ter ficado irreconhecível.

    HIEI POF

    Ningenkai

    BOTAN POV

    - Esse Yusuke... Ele me paga.

    Suspirei olhando Keiko. Ela estava tão bonita nesse vestido rosado e rodado. Estávamos no cômodo amplo sentadas em almofadas no tatami ao esperar os meninos. Kurama me mandou o recado que o Torneio havia acabado e que Yomi era o novo rei de Makai. Encarei a revista que fingia ler preocupada e pensativa. O senhor Koenma já deve ter informado ao senhor Enma daioh e os sacerdotes. Isso deixaria o mundo espiritual tenso. Dos três demônios poderosos em Makai, Yomi era o único que trazia preocupações. Ele queria se não me engano transformar o mundo dos demônios numa ditadura. A única coisa que o impedia era Raizen, mas ele morreu e Yusuke teve a grande ideia do Torneio. Não sabemos se ele ainda tinha essa ideia de poder. Kurama não é mais seu segundo no comando.

    Puxa... Não saber das coisas é difícil. Agora entendendo a raiva da Keiko.

    - Botan!

    Dei um pulo na almofada.

    - Ai! O que? O que foi?

    A garota estava inclinada para mim, sua expressão preocupada. Minha pressão caiu um pouco, por favor de novo não.

    - O que você tem? Tá tão calada...

    - Ah! É que só tou pensando nos meninos. Eles estão demorando muito, não acha?

    Suspirando ela se endireitou cruzando os braços. Relaxei de alivio.

    - Humpf! Eu sei que Yusuke tinha que ir até esse Torneio. Mas caramba, já faz quase duas semanas Botan! Ele me prometeu que não ia demorar.

    Ri sem graça levantando as mãos.

    - Calma. Deve ter um bom motivo. Olha a Yukina. O Kuwabara só foi assistir, mas ela também tá preocupada. Afinal, é o marido dela.

    Os olhos castanhos inflamaram em mim. Ai, caramba!

    - O que está querendo dizer? Que Yusuke não vai casar comigo?

    Me espantei.

    - Não é nada disso!

    - Sei.

    Suspirei cansada. Poxa, ela é minha melhor amiga, a considero uma irmã. Mas de umas semanas pra cá Keiko tem me tratado tão estranho. Acho que foi porque pedi emprego no restaurante dos seus pais. Eu já queria me estabelecer no mundo humano. Gosto tanto daqui. Mas o senhor Koenma disse que teria que viver como tal por causa do equilíbrio, afinal não tenho registro nem nada. E depois daquilo eu realmente preciso me sustentar.

    - Escuta Botan. Você gosta de alguém?

    - O que?!

    Que pergunta é essa? A porta de correr se abriu dando passagem à Yukina. Ela vestia roupas humanas como nós. Uma saia longa e uma blusa de mangas comprida. Keiko nem desviou o olhar, meu rosto rendia de tão quente suando e envergonhada.

    - Do que estão falando?

    A voz doce me aliviou um pouco, mas Keiko nem me deixou responder.

    - Sobre a Botan gostar de uma pessoa. Você gosta não é?

    - E...eu..eu

    - Acho que ela não quer falar Keiko.

    Deus abençoe Yukina. A garota ainda continuava esperando e baixei olhar brincando com meus dedos. Mexia só os indicadores empurrando um no outro enquanto pensava nessa vergonha. Eu não tinha exatamente um amor platônico. Uma vez havia me encantado com Kurama, mas ele sempre foi gentil com todo mundo principalmente com as garotas, então não contava. Yusuke já foi diferente. Eu me preocupo com ele, é verdade, mas ele ama a Keiko. Fui testemunha do amor deles e levei um tempo em notar que eu queria um amor assim pra mim. Eles combinam tanto. São teimosos, valentes, não fogem de um desafio e se conhecem desde sempre.

    Não penso em mais ninguém. Minha vergonha deixava minhas bochechas tão vermelhas e quentes porque me sentia uma boba. Sou tão inexperiente nessas coisas que nem perceberia quando realmente estivesse apaixonada.

    - Ah, já sei.

    - O que Keiko?

    Levantei o rosto. A garota me olhava maliciosa e cúmplice. Me confundi totalmente como Yukina. Apontando um dedo para mim ela piscou risonha.

    - Você é afim do Hiei, não é?

    Arregalei os olhos empalidecendo e antes que dissesse qualquer coisa o sino da varanda tocou. Yukina se levantou de uma vez da almofada, correndo para porta.

    - Kazuma!

    Os passos aumentaram no outro cômodo e Keiko se levantou também, imitando a koorime gritando “Yusuke!”. Em poucos segundos fiquei sozinha aqui. Meu coração estava batendo louco e fechei os olhos, respirando rarefeito e procurando me acalmar. Quando senti o sangue circular normalmente me levantei e fui até a sala. Todos devem estar cansados. Preparamos um lanche e jantar bem especial. No corredor de madeira e paredes de papel-arroz tentei por um sorriso feliz. Bem convincente. Keiko com certeza deve ter achado minha reação bem interessante, mas não tem nada haver com sua pergunta. Fiquei pálida por causa do nome. Hiei.

    Eu fiquei chamando e chamando por ele até desmaiar. Eu só sabia gritar e depois balbuciar o nome dele. Por isso aqueles youkais foram cruéis comigo. Eles o odiavam. De qualquer modo, não importa. Eu tenho que seguir em frente e... Esquecer isso. É o melhor que posso fazer.

    - Cadê a Botan? Ela não estava com vocês?

    - Ela deve tá se arrumando.

    Parei no beiral, estranhando o tom risonho da Keiko. Parecia uma indireta. Suspirando fundo botei um sorriso no rosto e entrei na sala.

    - Oi rapazes. Como foi o Torneio?

    Observei em volta sorrindo para todos. Yusuke estava segurando Keiko pela cintura. Tinha umas ataduras no braço e no pescoço. Kurama caminhava até mim simpático e Kuwabara estava com as mãos nos bolsos, pálido e sorrindo tremulo. O que? Que comportamento estranho.

    - Foi tranqüilo apesar dos contratempos. Koenma estava lá.

    - É mesmo?

    - Ele gosta mesmo é de se arriscar. Ir sozinho para o mundo dos demônios, humpf!

    Prendi o fôlego e virei na direção da voz cínica. Um rapaz de cabelos espetados e negros estava encostado no batente. Os olhos fechados e a expressão tediosa enquanto cruzava os braços. Estremeci sem querer. Mesmo usando aquela capa preta inconfundível me espantei sentindo o estômago cair. Uma mão segurou meu cotovelo e acordei do transe olhando para a pessoa. Kurama me fitava surpreso. A expressão confusa e preocupada. Antes que dissesse algo, ele de repente olhou sobre o ombro sorrindo.

    - Pessoal, porque não se acomodam? Vou conversar um pouco com a Botan e já voltamos.

    Me virou para o portal, já caminhando ao me levar.

    - Ei Kurama! Que papo é esse? A gente não é nenhum estranho não.

    Yusuke parecia confuso. Com certeza o resto dos meus amigos estavam.

    - É algo do Koenma.

    - Ah! Então gente? Que tal um rodada de vídeo game?

    - Nem pensar, Yusuke!

    - Eu tou dentro.

    - Mas Kazuma...

    Não ouvi mais nada direito. Kurama caminhava rápido praticamente me arrastando então de repente parou, puxando uma porta e me vi numa saleta privada. Ele me sentou numa cadeira e fechou a porta. Ouvi vagamente um rangido no soalho e então um suspiro.

    - Botan... Que reação foi essa?

    Levantei o olhar e Kurama estava sentado em outra cadeira diante de mim. Seus olhos me analisavam procurando um motivo e claramente não entendia. Sentia minhas pernas moles. Pesadas e lentas. Meu rosto parecia vazio e um zumbido enchia meus ouvidos.

    - Botan? Botan! Olhe para mim, você está entrando em choque.

    As mãos dele seguraram meu rosto e o calor me acordou aos poucos. Vendo a cor voltar nas minhas faces ele suspirou e retirou as mãos.

    - Aconteceu alguma coisa em Makai quando avisou Hiei?

    Mordi o lábio e não consegui falar. A mesma pergunta. Ele tem me perguntado a mesma coisa e sempre menti, mas agora não conseguia. Encarei a parede azulada e Kurama soltou o ar.

    - Então vou mudar a pergunta: O que Hiei fez com você quando foi ao Makai?

    Meus olhos arderam enquanto um bolo subia na minha garganta. Meu peito se apertava tão forte por dentro.

    - Nada.

    - Botan...

    Engoli em seco e baixei o rosto. Queria esconder meus olhos úmidos com a franja, mas ele saberia que estava prestes a chorar.

    - Ele não fez nada.

    As lágrimas caíram uma a uma, não enxergava mais minha calça e no silencio, ele me deixou chorar. De todas as respostas que já disse ao Kurama, ele percebeu que agora estava dizendo a verdade.

    BOTAN POF


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