Prólogo - A promessa pela perda

Eramar, X477. Em algum lugar das florestas Sequoias.

Um grito de negação se propagou, seguido instantes depois por um choro cheio de dor e agonia.

Ela tinha morrido nos seus braços.

Natsu era um rapaz inconsequente, imaturo e impulsivo, mas de uma coisa sabia. Sua amiga, a única que suportava seu jeito era tudo pra ele e agora ela morreu. Seus olhos não paravam de derramar lágrimas, incapazes enquanto sua mão ainda tentava estancar o sangue na barriga dela.

- Lucy, por favor.

O sussurro desesperado foi engolido no estouro de uma explosão. Todo o salão do lugar estremeceu, as chamas nos archotes quase apagando. Natsu tinha se debruçado rápido sobre o corpo da garota em seu colo, cobrindo-a da poeira e fragmentos do teto desmoronando. Erguendo o rosto reparou pela primeira vez na ruína ao redor. Os pilares tremiam e um deles, o que estava bem diante dele rachou. Natsu encarou desnorteado o alicerce, sua mente mergulhada em dor saindo um pouco do caos depois que Lucy parou de respirar.

A guerra continuava lá fora, esse templo onde estavam não aguentaria muito. Mais pilares racharam, um seguido do outro e um cheiro forte veio com o vento soprando do outro lado do salão. Virou o rosto na direção. Enxofre e algo mais. Estreitou os olhos, farejando. Sangue humano.

O teto então passou a desintegrar mais, rachando e criando fissuras até as paredes. O som do desabamento ecoava aumentando junto de um urro gutural e ele soube, confirmando.

O tempo acabou.

Respirando fundo, trêmulo, olhou para a garota nos seus braços. Ela tinha os olhos fechados. Desde o momento que foi ferida estavam assim. Minutos atrás Lucy gemia dizendo que sentia tanto medo. Ele mesmo se sentia assim, mas não tinha demonstrado para não assustá-la. Outro estrondo sacudiu o templo, só que desta vez o impacto foi interno. Os abalos aumentavam as rachaduras no mármore negro, derrubando os poucos archotes acessos caindo em sombras o salão.

A poeira caindo não o incomodou, nem o fato que uma das Feras tinha invadido esse lugar. Levantando mais o tronco dela, trouxe mais pra perto dele. Lucy tinha um rosto tão bonito. De tão perto assim, como nunca chegou de quando estava viva lamentou tanto não ter dito isso antes, de sequer ter tentado. Tombando o rosto para o dela, curvou a cabeça, seu braço na cintura fina a apertando enquanto colava os lábios nos dela frios e sem vida.

Seus olhos fechados derramaram mais duas lágrimas com o peito rasgado por dentro. Um impacto estremeceu o piso liso de mármore negro acompanhado do cheiro de enxofre e sangue impregnando tudo ao redor.

Natsu parou o beijo. O primeiro e o último que teve com ela. Ainda de olhos fechados apoiou a testa na da garota, ignorando o urro que sacudiu os pilares, o teto rachando ainda mais com o chão enquanto o vento fétido açoitava seus cabelos e roupas. A Fera estava a meros metros dos dois. Com certeza apreciando o momento antes de atacar.

Não sentia mais medo, só resignação. Numa das poucas vezes que agia com maturidade – como Lucy sempre reclamava que faltava esse tipo de atitude nele –, fez uma promessa.

- Espere por mim. Logo vou me encontrar com você.

Outro urro ecoou e um impacto de algo se aproximando derrubou um pedaço de mármore do teto perto deles. Natsu então deitou o corpo de Lucy no chão delicadamente e se levantou, se voltando para o monstro do outro lado.

O dragão vermelho escancarava a bocarra mostrando as presas enormes. Era um dos maiores que já tinha visto, com cicatrizes e as asas gigantescas recolhidas pelo pouco espaço. A fera se abaixou nas patas dianteiras enquanto sua cauda chicoteou para o lado, derrubando mais pilares e desabando o teto atrás. Natsu quase riu, não queria que ele fugisse?

Os dragões eram seres de grande poder. Por isso dominaram a humanidade... E por isso existiam magos como ele. Com o poder transbordando, a magia queimando, tomou impulso e avançou na fera gritando.

O Dragon Slayer era coberto por chamas douradas quando o primeiro golpe quebrou os ossos do dragão.