Desceu do ônibus devagar, o ponto ficava longe, levou um tempo para chegar em casa. “Logo no primeiro dia de aula, já me meto numa encrenca dessas, qual será o meu castigo? Um ano sem TV, talvez ficar preso no quarto resto da vida, ou então, então sei lá” parou no portão “como queria não ter brigado, mas foi culpa daquele Nícolas, eu não podia deixar quieto, ele me ofendeu e a Tomi também, se pudesse voltar atrás..., Quem eu to enganando se eu pudesse voltar, faria exatamente a mesma coisa, não melhor, agora, com certeza, eu surraria ainda mais aquele bóyzinho” Mike parado na frente do portão enxergou seu reflexo na janela, pela primeira vez desde a briga, Murano falou que tava feio mas não imaginou que fosse tanto, o olho direito tava do tamanho de uma bola de tênis roxa “como eu deixei aquele cara fazer isso comigo? logo eu, que me criei nas ruas apanhar assim dum playboy como Nícolas”
Mike não queria entrar, mas, no fundo sabia, tinha que enfrentar as consequências. Abriu o portão e entrou devagar, na esperança que sua mãe não estivesse em casa e desse tempo pra pensar em alguma coisa. Empurrou a porta estava só encostada “não ! ela tá em casa! por que eu fui brigar por que?”
Abriu a porta sua mãe estava lavando a louça ele ficou ali parado com os olhos fechados, sem fazer nada só esperando o momento que ela ia perguntar o que tinha acontecido, e começar o sermão. Esperou um minuto até sua mãe falar
—Mike? O que foi?—O tom de voz dela era calmo muito diferente do que tinha imaginado
—Por que taí, parado? entre logo e feche aporta!”o que?”pensou Mike, “ela não falou nada sobre meu olho”.Abriu os olhos ela tava parada a uns dois metros dele.
—Mike?você está bem?
Ele olhou pro quadro com a foto de um padre que tinha sido famoso a tempos atrás, com as bordas espelhadas que sua mãe tinha na parede, e não acreditou no que viu, seu rosto tava perfeito sem um roxinho se quer, nem um arranhão. “mas como?”
—Mike?
—To—respondeu com um enorme alívio e saiu correndo pro quarto, jogou a mochila em cima da cama e pegou um pedaço de espelho que ele tinha quebrado com uma bolada, pra ter certeza que seus olhos não estavam pregando uma peça, realmente não tinha nenhum vestígio da briga achou até que algumas manchas que tinha ganhado por ficar muito tempo no sol tinham sumido. “como aconteceu isso?”
Depois do almoço, ficou olhando um tempão pro livro fechado em cima da cama, como se esperasse o lobo piscar a qualquer minuto, era uma figura imponente toda de prata ,o couro da capa vermelha parecia ser muito velho. “Será que tem haver com esse livro?” Folhou a procura da figura da lapide pra ter certeza que estava escrito mago. Mas pra surpresa não achou nada. “cade, tava aqui, eu sei que tava ” olhou três vezes o livro inteiro mas não tinha nada, as folhas amareladas não tinham nem sinal de tinta. Jogou o livro na cama em cima de algumas roupas que tinha esquecido de guardar. Escutou o som de uma moeda caindo e rolando no chão. Olhou em baixo da cama, lá estava ela, a moeda que tinha ganho do homem da cicatriz.
—Tinha esquecido completamente.—segurou a moeda na mão fechada.
Em cima da cômoda tinha um cordão, resto de um presente de amigo secreto, do final de ano, o pingente havia se quebrado dois dias depois do natal. Mike passou o cordão por volta da moeda, e a colocou no pescoço, ele lembrava muito de seu pai quando olhava pra ela.
—MIKE—MIKE—escutou as vozes de Tomi e Murano chamando no portão da casa “esqueci, que vinham aqui”
Sua mãe os mandou entrar. Mike os encontrou na porta.
—Mike! Falou Murano com cara assustada
—Vamos entrar—Mike puxou os dois pelas mãos—Vamos la no quarto? Ver o livro?
Os dois só concordaram com a cabeça, Tomi tava tão abismado quanto Murano.
Escutou a voz de sua mãe gritando —Não façam bagunça, meninos,
—Pódecha mãe.
—Tá bom— Tomi falou baixinho com se elas estivesse ali pertinho.
—Mike cade o olho roxo—Murano olhando bem de pertinho pra ter certeza.
—Sarou, desde pequeno, minha mãe fala que eu saro rápido.
—Qualé, daquela vez que você chutou o asfalto, fico quase uma semana sem ir pra escola.
—Eu achei que tinha quebrado, tá. Mas vamos ver o livro?
Murano ainda com cara de bobo, sentou num banquinho de madeira que Mike mesmo construiu, era manco e estava meio torto mas dava pra sentar, Tomi ficou de pé perto da porta.
—Sente Tomi.
—Tá bom aqui de pé —parecia meio desconfortável, como todas as outras vezes que estivera ali. Mike já tinha se acostumado com o jeito dele.
—Venha mais perto pra ver o livro—pegando a mochila Mike tirou o livro—Aqui está—colocou em cima da cama, Murano foi em cima mais rápido que um gato pula num rato,
—Nossa é bem grande, e velho também.
—Gostei do desenho— disse Tomi—bem legal
Murano abriu o livro —mas não tem nada escrito aqui.
—É eu sei ,estranho é que …gaguejou um pouco, estava em dúvida se falava sobre as figuras que desapareceram, mesmo sendo os seus melhores amigos, Murano sabia ser cruel quando queria, uma vez quase fez uma garota da sala chorar por que ela escreveu um texto sobre seus amigos imaginários. pra ele essas coisas eram normais, talvez por que seus irmãos mais velhos faziam coisas piores com ele. Ja em Tomi podia confiar mais, os dois sempre conversavam sobre todo tipo de coisas, apesar de Tomi ser bem calado ,Mike nem sabia direito como era sua vida em casa, só que era filho único, e morava com seu pai e sua mãe, mas quando perguntava sobre ele, Tomi mudava de assunto ou só falava que não gostava daquele assunto.
—O que? Falou Murano folhando o livro.
—É que, um livro antigo como esse, não te nada escrito, é estranho.—decidiu não falar por enquanto.
—Bom que dá pra você desenhar nele—falou Tomi, se tinha uma coisa que ele gostava era desenhar, sempre se distraía nas aulas desenhando.
—Acho que não vou escrever nada nele talvez ele seja assim por algum motivo.
—É—falou Murano, que ficou tempo olhando o livro, Mike já estava estranhando seu interesse—preciso ir agora minha mãe falou pra não demora.
—Mas já vocês acabaram de chegar—ela precisa de mim em casa. Falou saindo com pressa
—Então tá, tchau.
—Até amanhã na escola—gritou já la no portão.
—Estranho que será que deu nele?
—Sei la.
Mike queria contar sobre o diretor para Tomi, mas tinha muitas dúvidas, se Tomi não acreditasse nele? Se ele estivesse escutado errado? Ou pior ,se ele estivesse ficando louco? Não tinha passado ainda pela sua cabeça esse pensamento, se nada daquilo tivesse existido? E se nunca tiveram desenhos no livro? Ou a chuva que ninguém viu. Não, não pode ser, na briga todo mundo viu a hora que Nícolas foi parar na lata de lixo. Pensando bem agora, estava acontecendo muita coisa com ele, coisas que ele não podia explicar. Resolveu tentar se distrair um pouco pra parar de pensar naquilo.
—Tomi?—falou Mike— quer me mostrar um de seus desenhos?
—Não trouxe nenhum.
—Que pena, intão ..., vamo joga bola ali na rua?
—Bora—Tomi saiu pra fora.
—MÃE, vo joga bola com o Tomi—Mike gritou
—Tá mas não vai longe—Gritou ela, pela voz devia estar lá trás regando a horta.
—Tá.