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Não sabia quanto tempo havia se passado desde então, e pude apenas pensar em uma coisa; Rose. Queria vê-la uma última vez. Talvez ainda tivesse tempo para isso.
- Lucius - comecei -, o que houve com Rose? Ela está sendo velada?
- Já faz dois dias desde que encontrei você... E a garota já foi enterrada. Sinto muito.
Raiva e angústia tomaram conta de mim por um instante:
- Por que não esperou, para me transformar mais tarde? Eu precisava vê-la!
- Não se engane! - disse Lucius, ríspido, pela primeira vez. - Transformei você no momento adequado. Nem antes nem tarde demais. Mais um pouco e teria morrido de verdade e nem mesmo eu poderia fazer algo por você se não arrancar pessoalmente as cabeças daqueles jovens e recuperar a dignidade daquela donzela por quem você parece ter tanto apreço. Seus pulmões estavam perfurados pelas suas próprias costelas, seus órgãos em geral esmagados, e seu coração lutavam bravamente para te dar mais alguns instantes de vida e não duvide de mim quanto a isso!
Abaixei a cabeça. Não tinha mais nada a ser feito.
- O que posso fazer por você é... Levá-lo até o túmulo - disse Lucius, e fez sinal para Pedro, que agarrou um molho de chaves penduradas na parede.
Era madrugada. Percebi o silêncio espectral mesmo depois que nosso carro havia deixado as ruas desertas onde a chácara de Pedro parecia se camuflar em meio a um terreno imenso e cercado pela natureza. Não pude deixar de me lembrar de certas coisas, logo que passamos pelo local onde tudo havia acontecido. A imagem de Rose, lânguida, e cheia de sangue em seu corpo branco como a lua.
Pedro dirigia. E no banco de trás, Lucius me acompanhava, sem dizer uma palavra desde então. O carro tinha todos os vidros filmados. Pedro manobrava como se estivesse pilotando uma bicicleta de rodinhas, sofrendo para ganhar cada metro que percorríamos. Era um desperdício de tempo e um desrespeito com o carro - que era um bom carro -, e dirigir daquela maneira àquela hora da noite com a pista vazia, era algo que me incomodava. Mas permaneci calado. Era um velho dirigindo e era seu carro, não meu.
Não demorou muito, no entanto, para chegarmos ao cemitério particular onde os pais de Rose fizeram questão que ela fosse enterrada. Lucius havia feito o possível para não perder de vista os detalhes, e me passou as informações que ele, Sara e Vinícius haviam coletado sobre todo o assunto. E por fim, jogou em minha mão um jornal com uma página falando só do caso de Rose, até mesmo eu havia sido mencionado. Não é desta maneira que alguém espera aparecer na mídia. Aparentemente, Charles ainda era o suspeito principal, junto de mais alguns amigos que também estavam desaparecidos desde o ocorrido. A informação era de que houve estupro, agressão e por fim, o que havia tirado a vida dela teria sido um disparo de pistola ''ponto 40''... Ou algo assim, nunca entendi muito de armas. Uma vez um amigo me disse que apesar da burocracia, e de uma pessoa precisar ter no mínimo vinte cinco anos para conseguir uma arma, era possível uma mesma pessoa ter até seis armas registradas. O pai de Charles era um desses homens que tinha armas em casa. Lucius me contou que a casa deste homem foi verificada, pela polícia, e seus registros confirmados, mas que duas de suas três armas haviam desaparecido, incluindo a pistola do mesmo calibre usada no crime.
Apesar do pai não ter nenhuma ligação com o crime, permitiu que as armas fossem parar nas mãos de seu filho e dos demais garotos por isso seria investigado também.
Por fim, descobri que corria o boato, ou a ''suspeita'', de que eu poderia ter sido morto pelo grupo de Charles, e que havia a possibilidade de meu corpo aparecer por ai a qualquer momento. ''O amigo da vítima; Leandro Rodrigues de Souza, que supostamente teria encontrado o corpo primeiro, feito a ligação aos pais da mesma, próximo do local do crime e possivelmente quando os autores esconderiam o corpo, ainda não foi encontrado. O desaparecimento do garoto de dezessete anos é outro ponto importante para o caso. É vital para a polícia encontrar o garoto, se possível, vivo. '' A polícia tem um modo interessante de mostrar que está sempre preocupada em te ajudar da melhor forma. Mas nesse caso, já não podem me ajudar, pois como diriam em seu linguajar; o ''mesmo'' já está meio morto.
O bom de cemitérios particulares, é que se há algum velório acontecendo mesmo de madrugada, a segurança é um tanto fraca. O porteiro abriu o portão logo, e apenas me perguntou se estava indo para o velório, dissemos que sim e ele nos deixou passar. Ainda bem que não nos perguntou de quem era esse velório, pois não saberíamos dizer se era um homem ou mulher, quanto mais dizer o nome. Mas não convém fazer perguntas impertinentes a alguém que supostamente está de luto, então entendi o porquê de tanta delicadeza da parte dele. Bom, pelo menos não tivemos que pular o muro de cinco metros. Não que tivéssemos dificuldade com isso, mas chamaria atenção demais.
Vinícius havia me emprestado seu sobretudo, e além disso eu usava uma touca e um cachecol. Nada estranho para aquela madrugada fria, e tinha de esconder meu rosto o máximo possível. Rodamos pelo velório para despistar e até acenamos para os presentes. Nessas horas, todos até se confortam quando aparecem mais conhecidos do morto. Por sorte, não fizeram perguntas. Despedimos-nos e demos meia volta. Afinal não era aquele homem no caixão que eu queria visitar. Fomos até o túmulo de Rose, assim que notamos que ninguém mais nos observava.
Pedro sentou para descansar as pernas numa tumba ao lado e acendeu um cigarro. O velho nunca falava nada, não era agora que eu esperaria um belo discurso. Lucius se agachou de modo suave sobre o túmulo de Rose e depositou uma flor.
- Camélia rosa - disse ele. - ''A grandeza da alma''.
E para minha surpresa, Pedro se levantou e depositou uma, que imaginei ser também de seu jardim pessoal.
- Acácia branca - disse ele após suspirar uma vez -, ''elegância''. Vi as fotos no jornal. Ela me lembra minha filha... Tem a mesma idade. Sinto muito garoto.
- Obrigado... - foi tudo que eu disse. Eram belas flores, e sei que teria derramado uma ou duas lágrimas mesmo na frente de Lucius e Pedro. Mas por alguma razão que deveria estar diretamente ligada ao fato de eu não ser mais um humano, não sentia muitas emoções além da vontade de resolver tudo àquilo de uma vez e tentar deixar minha consciência descansar um pouco. Tentei buscar no fundo de meu coração, no íntimo do peito, algum pedaço do sentimento puro e lindo que tinha por Rose até a superfície, mas parecia estar fundo demais e não pude alcançar mesmo me lembrando de todas as noites que havia passado pensando nela. Eu era isso agora. Um ser desprovido de quaisquer emoções além da sede por vingança, e da sede por sangue.
- Eu sou um monstro? - disse, sem perceber para quem direcionava minhas palavras. Talvez as tivesse apenas jogado ao vento.
- Existem monstros bem piores por aí garoto... Mesmo entre os humanos. Não é o fato de você ser um vampiro, ou de não ser mais como seus amigos de escola, que te classifica como um ''monstro'' - disse Pedro, tragando mais uma vez seu cigarro. - São seus atos que dizem quem você é, e o que se pode esperar de alguém como você.
Talvez ele tivesse razão. Afinal eu não poderia ser um monstro pior do que aqueles que em breve iria caçar e matar. Um por um.
![]() | Ivelee há muito tempo
Tava relendo a historia e percebir que tem um tempinho que nao faço comentarios.Linda historia Lufir, parabens, quase pude sentir a dor do Leandro.Continue sempre. |
![]() | Taigachan há muito tempo
Ahhhhhh...voltei a ler depois de 2 meses na seca...hausuhsuhsSó posso dizer que tá ótimo.Té mais Lufir |
![]() | Lufir22 (Autor) há muito tempo
Que bom que voltou ^^ Taiga-chan, ja estava sentindo falta... |
![]() | Konomi Chan há muito tempo
Gostei *-* Coitado do garoto T.T Otimo capitulo Lufir-sempai! ![]() |