Boa leitura!
Enfim, logo sairia daquele hospital. Não aguentava mais ficar parada, e por ter ficado tanto tempo assim teria que começar a treinar dobrado para ficar em forma de novo. Quem sabe até ficar melhor, mas sua preocupação maior era ajudar Naruto a encontrar Sakura. Estava tão preocupada... Já completaria 3 dias que ele partiu atrás dela e, ao menos, nenhuma notícia teve até então. Nem de como ele estava nem de como andam as buscas. Tudo o que soubera até o momento era que Zetsu em breve seria capturado. Seu pai começara a lhe fazer constantes visitas, estando a deixar informada sobre isso e tudo o mais na vila para terem o que conversarem. Seu pai estava se esforçando para demonstrar o quanto esteve preocupado quando soube que sua primogênita estava a beira da morte. O fez pensar nos tantos anos que não demonstrou seu amor. Nos olhares exigentes e decepcionados que lançava sobre Hinata. Agora, ele deixava um pouco mais claro seus sentimentos sem nem precisar obrigar a si mesmo. Hinata não poderia estar mais feliz com as visitas do pai, as conversas... Hisashi ainda não demonstrava carinho, mas a olhava com tanto e isso era muito mais do que o bastante para ela. Pois Hinata sabia o que sua quase morte havia provocado em Hisashi. O susto desencadeou uma série de emoções que esquentaram o coração de seu pai.
A irmã casula também não havia ficado de fora. Hinata ainda se lembrava das palavras de Hanabi na primeira visita que fizeram a ela antes de irem embora, e não conseguia não se emocionar a cada vez que as repetia em sua cabeça.
– Hinata? Como vai? – perguntou Ino ao se fazer presente, percebendo que ela ainda não notava sua entrada.
– Ah! Ohayo, Ino-chan. Estou bem, e você?
Um longo suspiro abandonou os lábios da loira. Ino sentou-se na cadeira ao lado do leito de Hinata, ainda no mesmo lugar que Naruto havia a deixado enquanto estava ali sentado todos os dias. Sentia tanta falta de tê-lo ali. Tanta! Mas gostava da companhia que Ino lhe fazia quando podia descansar.
Estranho o silêncio da loira, Hinata levantou o olhar para ela e viu um rosto melancólico. Os olhos azuis carregados de lágrimas. Sua pergunta retórica havia causado certa comoção em Ino. Ela estava se sentindo mal emocionalmente, isso Hinata pode constatar a princípio. E não era difícil adivinhar o porquê. Ino tentou conter suas lágrimas, contudo seu esforço era totalmente em vão perante o turbilhão de sentimentos que precisava aliviar de seu peito.
– Não devo me abrir com meus pacientes. Mas... Hina... – fungou, e parou ao virar o rosto para a janela numa tentativa de esconder as lágrimas que rolaram, com um dedo abaixo do nariz, sob os lábios rosados trêmulos.
A insegurança de Ino foi mais do que notável. Ela não podia se abrir com seu pacientes, mas conhecia Hinata a bastante tempo. Só não sabia se ela a receberia e a ouviria já que nunca tiveram um vínculo tão forte, ou qualquer outro, quanto o dela e de Sakura.
– Mas... somos amigas, certo?
Ino a olhou.
– Nos conhecemos desde a infância. Já realizamos missões juntas e lutamos na guerra... Estamos do mesmo lado há anos, desde a época da academia... Nunca conversamos tanto, mas eu estaria, e estarei, disposta a ajudá-la no que precisar, Ino-chan. Se você, é claro... se sentir confortável a se abrir comigo – disse, um tanto quanto sem graça.
A ternura depositada nas palavras de Hinata emocionaram Ino. A comoveu ainda mais por dentro apesar de Hinata ter olhado uma vez ou outra em seus olhos enquanto falava. Mas era o jeito tímido dela de ser, portanto Ino sabia que ela havia falado de coração. Com todo aquele carinho, como não se sentiria confortável se abrir com ela? Havia viu que ela precisava se abrir, notou sua agonia sem que Ino precisasse mencioná-la antes e estava a recebendo de todo bom grado. Ino se sentiu muito mais do que apenas confortável.
Sorriu e segurou a mão esquerda de Hinata enquanto suas lágrimas banhavam seu rosto.
– Tsunade-sama cancelou as buscas para encontrar a Sakura.
Hinata arregalou os olhos.
– Nani?... Doushite? – A vila está ficando desprotegida, e as missões estão se acumulando. Tsunade-sama não teve escolha. Foi uma questão de necessidade.
– Demo... precisam encontrá-la! O Naruto-kun... – parou. Naruto deveria estar furioso. Indignado, surtando e se recusando a aceitar as ordens da Godaime.
– Eu sei... Imagino que ele deva estar virado no bicho. Literalmente falando. Mas ele deverá entender mais cedo ou mais tarde. Deverá voltar, porque não pode procurá-la sozinho. É perigoso demais pelas bandas da Vila Oculta da Névoa. Há muitos assassinos poderosos.
Hinata respirou fundo. Não gostava de imaginar Naruto fora de controle. Por mais que ele tenha aprendido a controlar o chakra da Kyuubi, se ele se recusava a aceitar a decisão de Tsunade, usufruiria do chakra da raposa para tentar achar Sakura ainda mais rápido. Enquanto isso a raposa estaria usufruindo do chakra dele e poderia matá-lo se Naruto não deixasse de usar o dela. Então... precisava ter alta logo para ir atrás dele.
– Hinata... – a voz de Ino, carregada do que parecia ser mais do que somente angustia, a despertou.
– Eu... eu... fui atrás da Sakura na noite em que ela partiu para realizar a missão.
Hinata esperou que ela continuasse, sem entender o que aquilo significava.
– Eu a encontrei antes que ela passasse dos portões e... – tomou fôlego. – Eu sabia que ela iria embora, Hinata. Eu sabia que ela iria atrás dele. E a deixei ir.
Os olhos perolados tornaram a ficar arregalados. Não poderia acreditar no que ouvira. Não acreditaria se qualquer outra pessoa a contasse, afinal, Ino e Sakura são amigas! Como ela própria pôde deixar que Sakura partisse atrás de alguém que iria tentar matá-la no momento em que a visse em sua frente?
– Ino...
– Entenda, Hina! Ninguém a conhece melhor que eu e Naruto. Mas eu a entendo, eu a compreendo. Sei que Naruto se importa com ela. A ama, até! Ele até pode entender uma parcela de como a Sakura se sente, mas não completamente. Eu não aguentava mais vê-la sofrer, Hinata! A dor dela era quase palpável para mim.
– Demo, Ino-chan... Sasuke pode matá-la!
Ino baixou a cabeça, fungando e sentindo o medo se alastrar em seu peito.
– Hina... – segurou a mesma mão que segurava com sua esquerda, com sua direita. – Tente me entender... Sakura parecia sem vida!
Hinata parou, e recostou-se em seu leito.
– Eu sei que fiz o certo em deixá-la ir. Eu sei! Sakura precisa dele. Precisa, pelo menos, tentar, entende? Ele também precisa que ela vá, e tente. Ele não sabe, mas precisa!
Ino estava convicta, e sua confiança fez Hinata pensar melhor. Se Sakura não tentasse, nunca viveria em paz. E se ela não conseguisse, pelo menos, trazê-lo de volta, ou se Sasuke nunca a aceitasse, sabia o quanto isso a destruiria. Ainda mais desta vez. Mas Sakura precisava tentar. Se recusava a viver na dúvida. E, ao constatar isso, Hinata concluiu que também se recusaria.
– Onegai, Hina. Não pense mal de mim... Eu sentia que era o certo, e ainda sinto. Eu só tenho medo. Medo dela não conseguir. Dele, realmente... matá-la. Meu coração fica apertado só de pensar em não tê-la de volta.
Ino sentiu a outra mão de Hinata pousar sobre as suas. Levantou o olhar e deparou-se com a ternura no de Hinata. – Pensar mal de você? – sorriu. – Você a deixou ir temendo a tudo o que pode acontecer, porque a ama. Você se colocou no lugar dela. Essa foi a escolha certa, agora eu entendo. No seu lugar eu teria feito a mesma coisa. E no lugar da Sakura, também seguiria meu coração. Desculpe se a interpretei mal. Suponho que mais ninguém possa saber disso, então, pode ficar tranquila. Não contarei a mais ninguém.
A bondade de Hinata aliviou o coração de Ino. Ela conseguiu se abrir, conseguir fazê-la entender a situação e os sentimentos, tantos de Sakura, quanto os dela. Hinata era uma pessoa pura, com um coração de ouro. Fez Ino terminar de debulhar-se em lágrimas, e durante todo aquele momento sentir-se bem com suas mãos juntas.
– Obrigada, Hinata.