A briga

—Aí estão vocês—falou uma voz feminina —não querem se meter em encrenca já no primeiro dia,não é ?

—Seria meu recorde—disse Murano rindo

—A mamãe que não ia fica nem um pouco feliz com isso.

Era taci, ela e Murano, tinham a mesma idade, mas ele era duas vezes maior que ela. Taci tinha a mesma altura que Mike, mas era mais magra o que a deixava ainda menor, bem diferente de Murano que era alto e forte, loiro de olhos claros e cabelos espetados.

—Vocês não podem ficar ai dentro,é contra as novas regras da escola.

—Como assim? Não podemos ficar na nossa própria sala de aula—Falou Murano

—Não na hora do recreio,é o que tá escrito aqui naqueles papeis colados na parede.

—Pelos menos, talvez assim parem de mexer e nossos materiais na hora do recreio.—falou Mike tentado ver o lado bom.

Murano levantou—Eu vo la ver.

—Deve ser coisa do novo diretor Mala—os dois caminharam na direção da porta—Ei Tomi, vamos—ele tinha ficado la na carteira

—Ja vo—fechou o caderno ligeiro, guardou o lápis e borracha no estojo saiu andando rápido.

Eram quatro papéis, um do lado do outro.

—Então o que está escrito tanto ai?—disse Murano, chegando o nariz perto, como se fosse ler.

—Além das quarenta e duas vezes, que está escrito que qualquer bagunceiro, arruaceiro ou preguiçoso, não são aceitos nessa escola, diz que a partir de amanhã as salas serão fechadas no recreio, que o lanche será pago—Murano abriu a boca de surpresa, —caramba a comida não— que os muros serão aumentados, que não serão aceitos alunos sem o uniforme completo, que todas as punições serão mais rígidas do que eram antes, e qualquer descumprimento será punido severamente, e que é para nosso bem….—Taci respirou fundo.

—Como vamos comprar mais uniforme?—Falou Mike pegando na camiseta branca. Ele não tinha o uniforme completo, apenas duas camisetas, faltava a calça, jaqueta e bermuda.

—E de onde vamos arrumar dinheiro pro lanche?—falou Tomi

—O que mais ? Perguntou Murano mexendo no cabelo de Taci.

—Se você quiser saber leia você mesmo…—Murano fez uma careta pra ela, que nem ligou, e se virou de costas pra eles, olhando o pátio da escola, não muito grande, tinha uma cobertura sustentada por oito pilares de concretos meio desgastados precisando de uma reforma

—Alguém sabe o que aconteceu com o diretor Mario? perguntou Mike olhando pros papéis.

—Dizem que ficou louco, não dizia coisa com coisa, e foi levado a uma casa de repouso.

—Coitado do velho— disse Murano, se virando pra o lado de Taci, tentando olhar para o mesmo lugar que ela.

—O Murano não chame-o assim— Tomi parecia concentrado no que tava escrito nos papéis colados na parede.

—Por que? ele era velho!—disse Murano— andava de vagar e com as mãos na costas —E colocou as mãos nas costas e andou meio mancando, imitando o Diretor Mario.

Tomi e Mike riram.

—Mas era muito legal, todo mundo gostava dele—falou Mike—Não acredito que tenha ficado maluco, era velho mas parecia ser o mais lúcido de todos aqui.

—É! —concordou Tomi.

—Não ligue pra esse meu irmão, as vezes ele é assim mesmo, meio “dã” — Disse Taci.

—Irmão adotado—Falou Murano. Taci vermelhou na hora e saiu correndo pro banheiro.

Mike lançou um olhar de reprovação pra Murano.

—O que ?—falou Murano

—Vai atrás dela e pede desculpa, seu cavalo!

Murano fez o que o amigo falou meio contrariado.

Tomi ainda estava lendo os papéis.

—Quer decorar tudo Tomi?—Mike colocou a mão no ombro dele.

—Não, só achei uma parte estranha aqui—e colocou do dedo no papel

—O que? Mike olhou mais de perto, estava escrito:

“ qualquer habilidade fora do comum deverá ser informada imediatamente. Fatos estranhos de qualquer natureza que ocorram dentro das dependências da escola deveram ser comunicados á diretoria ”

—O que será que ele quer dizer será com habilidade fora do comum?—falou Mike olhando pra Tomi.

—Sei lá, mas não deve ser jogar futebol ou xadrez.

Os dois se olharam, Mike sabia o que Tomi tava pensando, no começo do ano ele falou pra todo mundo que tinha visto duendes correndo no jardim da escola.A partir da li a escola inteira passou a caçoar dele. O que só o deixou mais calado.

—Tá mas agora vamos, vamos perder nosso recreio olhando esse papel.

—Ok.

Mike se virou e deu de ombro com alguém. Era um garoto da altura de Tomi, a pele tão branca que parece que nunca tinha tomado sol na vida e cabelo bem preto feito um topete duro de gel.

—Olha se não é o pretinho favelado e seu amigo o menino doidinho—falou com um sorriso no rosto.

—cai fora Nícolas—O garoto deu um paço em direção a ele ficando bem na frente de Mike

—Ou o que ?vai chamar teus amigo da “comunidadi”—falou num tom de deboche.

Mike não falou nada só passou por Nícolas batendo de ombro com ele.

—E Tomi, vê se não sai por ai caçando duendes de novo viu?

Mike sem pensar se virou e deu um soco com toda a força que pode, acertou bem no nariz do garoto, que se desequilibrou e caiu sentado. Nícolas com o nariz sangrando se levantou com um salto e se jogou na altura da barriga de Mike, jogando-o de costas no chão, subiu em cima de Mike que ficou preso entre as pernas de Nícolas, que desferia socos sem parar, acertou um do lado direto do rosto, outro do lado esquerdo e mais um e outro. Quando parou por um segundo, Mike conseguiu sentar, não enxergava direito tava tudo borrado e meio tonto, sentia sua cara inteira latejar de dor, o olho direito parecia fechado, escutou a voz de Tomi gritando —PARE—O garoto se levantou Mike com o olhou bom viu Tomi tentando segurar Nícolas, e um monte de criança por volta gritando mas ele não escutava nada. Do chão Mike viu quando Nícolas empurrou Tomi, um garoto que estava atrás o segurou pelos braços, era Murilo, o comparsa de Nícolas como ele o chamava, um garoto grande e forte com uma cara mal encarada. Nícolas deu um soco na barriga de Tomi. Mike se levantou e gritou —Não— Nícolas limpou o sangue do rosto com o pulso, soltou uma gargalhada, olhou pra Mike—quer apanhar mais um pouco neguinho? o próximo é você—e deu um soco da cara de Tomi. Mike sem enxergar direito e com um zumbido no ouvido esquerdo, tremendo de raiva, “você vai ver” foi pra cima de Nícolas—SOLTA ELE—gritou, e deu um soco no ar, pelo menos é o que achou na hora, mas quando olhou pra onde Nícolas estava, só enxergou Tomi já livrando de Murilo, e do outro lado Murano e Taci chegando naquele momento, estavam parados com cara de assustados e boca aberta “O que? cade o Nícolas” atrás dele os outros alunos tinham parado de gritar, estavam com a cara igual ou mais assustada que seus amigos, e no meio um espaço vazio que parecia um corredor. Murilo passou olhando pra ele, parecia com medo e andou o pátio inteiro, e parou no lado de uma lata de lixo que estava a uns dez metros de distância .Mike sem entender, ficou parado olhando Nícolas tentar se levantar, parecia atordoado, só conseguiu sair com a ajuda de Murilo. Tocou o sinal mas ninguém deu um passo, parece que nem respiravam

—O que é isso?—Escutou uma voz estranha.—o que está acontecendo aqui? O que vocês pensam que estão fazendo?

Mike olhou pra trás, vinha furioso andando e balanço os braços, um homem que usava um colete verde-claro, uma calça beje, “o homem do semáforo, o que erá que ele faz aqui na escola?” pensou Mike.

—Quem é você?—falou Murano

—Me perdoem por não ter me apresentado ainda, mas estava muito ocupado, esta escola estava uma bagunça, Anestor Paredes, o novo vice-diretor dessa espelun… quero dizer escola—falou todo pomposo fazendo gestos com os braços, parecia que ele queria passar uma imagem de gente importante—Mas sou eu que faço as perguntas aqui, quem é que estava brigando?

Os alunos que ainda não tinham voltado pra sala —Era ele—apontaram pra Mike,—ele que estava brigando.

Murano, falou:—Foi ele que começou—e apontou para Nícolas que vinha, mancando apoiado no ombro de Murilo, estava com uma casca de banana na cabeça e um pacote vazio de salgadinho grudado na roupa—Taci e Tomi concordaram com ele, com risinhos abafados para que o homem não percebesse—Foi ele que começou eu vi tudo—falou Tomi. Nícolas estava com uma cara com um misto de choro e raia.