E aí galera, como vão as coisas? Eu finalmente ganhei o cabo de guerra com o compasso problemático, então vamos logo porque tem muita água pra rolar ainda.
E pensar que esse capítulo era o meu recorde de mais longo até ontem...
Eu não consegui ninguém para me dizer se uma certa parte ficou legal, então saibam que meu receio quanto a isso é algo bem... Affs, chega de ficar enrolando.
Boa leitura!
Cambaleando e cheia de arranhões por causa da queda, Lucy ouviu as vozes que a perseguiam se tornarem cada vez mais fracas até desaparecerem. Ela estava sozinha. A menina se lembrava bem das instruções dadas por sua mãe. Entrar na floresta, atravessar a floresta, encontrar seu pai nas Cidades Independentes.
Ela então se pôs a caminhar lentamente pela floresta desconhecida. Caminhou sem descanso, levando seu pequeno corpo ao limite. E quando já não mais conseguia dar um passo sequer, desabou na grama macia de uma clareira, iluminada pela luz da lua e das estrelas.
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Atlas Flame já havia visto muitas coisas estranhas em sua vida. Já havia desafiado situações de que só se ouviam falar em histórias quase lendárias. Mas ao encontrar uma criança desmaiada em uma clareira da floresta dos fragmentos perdidos, ele não tinha a menor ideia do que deveria fazer.
Foi então que decidiu levar a menina consigo. A coitada estava coberta de ferimentos e ele podia ao menos oferecer abrigo, comida e um tratamento básico para os ferimentos dela.
Tomando o corpo pequenino nos braços, ele começou a caminhada de volta no maior cuidado possível para não acordar a menina. Porém, em nenhum momento percebeu que alguns pingentes dos braceletes reluziam de forma discreta.
E pouco tempo depois, eles chegaram ao refúgio.
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Desde que haviam se refugiado na floresta, Igneel estava inquieto. Não era do feitio de um rei deixar seu reino nas mãos de um vira-casaca. Ainda mais um vira-casaca sedento por poder. Era certo que as ações de Acnologia haviam quebrado o frágil equilíbrio do mundo. Então por que as estrelas não mostravam sua insatisfação? Teriam elas abandonado Ishgar de vez?
E outra coisa o incomodava. A profecia. Com certeza a profecia encontrada por Acnologia tinha origem nas estrelas. Mas, como as estrelas, sempre tão ordeiras, dariam uma profecia que se concretizasse trazendo caos? Não fazia sentido.
Pelo menos Natsu parecia não estranhar o fato de agora estar em uma floresta. O garoto aceitava a situação bastante bem e parecia até animado com a nova perspectiva.
Igneel foi tirado de seus pensamentos ao ver Atlas Flame retornando com uma criança em seus braços. A menina estava desacordada, provavelmente havia desmaiado de cansaço após se perder na floresta.
Os dois trocaram algumas palavras rápidas e Atlas foi entrando para colocar a menina em uma cama. Foi quando Igneel notou os braceletes. Ele não podia acreditar na cena. Justo quando pensou haver sido abandonado pelas estrelas, uma Star Dancer apareceu. Mas ela era apenas uma criança, talvez não soubesse muito bem como usar seus poderes.
Igneel suspirou fundo. Mesmo quando parecia que uma luz apareceria, logo algo a atrapalhava. Parecia que o próprio destino estava contra ele. Ele realmente não deveria ter se tornado rei. Isso o teria poupado de toda essa dor de cabeça.
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Natsu não se lembrava de estar dividindo o quarto com uma menina quando foi dormir na noite anterior. Não que houvesse qualquer problema, já que o quarto tinha duas camas separadas por alguma razão que ele desconhecia.
A menina era interessante. Cabelos loiros, pele clara. Suas roupas provavelmente já haviam visto dias melhores, mas o que realmente chamou a atenção do príncipe das chamas foi o par de braceletes dourados nos pulsos da menina. Estes possuíam alguns pingentes prateados que de tempos em tempos cintilavam discretamente.
A menina começou a se mexer e logo abriu seus olhos, aos poucos se acostumando ao ambiente em que estava. Ela parecia meio perdida e preocupada, mas logo se acalmou ao ver o menino de cabelos rosados.
— Onde eu estou? — Ela perguntou de forma tímida.
— Ahn... Acho que em algum lugar na floresta dos fragmentos perdidos. É, acho que é isso. — Ele concluiu enquanto se sentava ao lado da cama que ela estava sentada.
— Mas, como eu cheguei aqui? Eu me lembro de uma clareira e depois, mais nada.
— Eu não sei. Quando acordei você estava deitada na cama. — Ele fez uma pausa e percebeu que aquilo tinha soado estranho — Na outra cama, não na que eu estava deitado.
Ela agradeceu mentalmente pelo garoto ter corrigido sua frase. Lucy não conseguiria evitar se sentir constrangida se tivesse dividido uma cama com um garoto que nem conhecia.
— Seus braceletes são bonitos. Aliás, me chamo Natsu.
— Lucy. E obrigada pelo elogio, Natsu.
Não demorou muito para que um dos adultos entrasse no quarto chamando para o café. Lucy ainda receava em seguir o ruivo, mas o sorriso convidativo de Natsu fez com que ela resolvesse dar uma chance a ele. Não poderia confiar totalmente em desconhecidos, ainda mais considerando que estava sendo perseguida por soldados do reino há pouco.
O café seguiu animado, com os dois adultos sendo gentis e Natsu sendo o alvo de brincadeiras que faziam Lucy dar risadas discretas. Aquele estranho trio conseguia fazer ela se sentir em casa, mesmo que não soubesse do paradeiro de sua mãe e estivesse longe de pai, que a essa altura, deveria estar morrendo de preocupação.
— Está se sentindo bem Lucy? — Perguntou Atlas Flame, percebendo que a garota havia se aquietado de repente.
— Estou... Apesar de não sentir bem o meu braço. Ele tá meio dormente e também...
— Também? — Iniciou Igneel, agora já demonstrando estar preocupado com a menina.
— ...eu não sei o que aconteceu com a minha mãe. Vários soldados estavam atrás da gente, mas eu não sei por quê! Eles diziam que era ordem do rei, mas nós não fizemos nada de errado! — Lucy contava já soluçando, enquanto Natsu fazia círculos em suas costas na tentativa de acalmá-la.
Igneel e Atlas Flame olharam um para o outro com praticamente o mesmo pensamento passando por suas mentes: Acnologia estava caçando Star Dancers. Fosse para o que fosse, aquilo não terminaria bem. As estrelas não costumavam deixar impunes aqueles que ousavam tocar em seus mensageiros.
Igneel colocou uma mão nos ombros de Lucy e com um olhar suave, finalmente conseguiu acalmá-la ligeiramente.
— Não se preocupe. Nós não vamos te entregar para os soldados. Agora vamos dar uma olhada nesse braço e verificar se não está quebrado, ok?
— Ok. — Respondeu Lucy engolindo o choro.
Com cuidado para não acabar machucando ainda mais o braço da menina, Atlas verificou o ferimento, logo percebendo que não era tão grave assim.
— Foi só uma pequena torção. Em alguns dias vai estar melhor.
— Você pode ficar por aqui até seu braço sarar. Depois, você tem algum destino em mente? — Perguntou Igneel.
— Meu pai está nas Cidades Independentes. Minha mãe disse que, independente do que acontecesse, eu deveria ir encontrá-lo.
Com seu destino decidido, Lucy respondeu várias perguntas e descobriu que Atlas a havia encontrado desmaiada e levado até a casa. Ela e Natsu passaram a tarde juntos, e ele mostrou um local interessante, que, aliás, era um dos preferidos de Natsu.
O local era uma bela clareira cercada de flores das mais variadas cores. O tempo passava sem que eles percebessem e logo já era noite novamente. Só que diferente da noite anterior, nessa as estrelas brilhavam de maneira sem igual, indicando o início de uma nova era e uma leve faísca de esperança era lançada.
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Aquela já era a terceira noite desde que Lucy havia sido encontrada por Atlas Flame. Ela agradecia a hospitalidade do estranho trio. Os dois ruivos mais velhos, que eram irmãos e do rosado, que era o único filho de um deles.
Lucy estava inquieta naquela noite. O sono parecia fugir dela. Ela olhou pela janela aberta na quente noite de primavera. As estrelas a chamavam.
Ela se levantou com cuidado, para não acordar Natsu que dormia na cama do lado e sorrateiramente saiu pela janela na direção do lugar especial que ele a havia mostrado no primeiro dia.
Uma leve brisa soprava, balançando os cabelos cor de ouro e trazendo um sorriso ao rosto da menina. Seus pés começaram a se mover sem que percebesse e uma leve dança começava a surgir ali.
Lucy estava concentrada e por um momento se perdeu ao ouvir uma voz familiar.
— O que está fazendo Lucy?
A garota parou a dança e se virou, ficando cara a cara com o menino.
— Nada demais. Eu não conseguia dormir, então resolvi dançar um pouco.
— Eu posso observar Lucy? Prometo que não vou te atrapalhar.
Lucy ficou surpresa com o pedido, mas logo abriu um sorriso caloroso.
— Pode sim, Natsu. Eu não me importo.
Natsu logo se sentou encostado em uma das árvores da clareira, enquanto Lucy voltava aos passos de sua dança.
A menina se movia de maneira graciosa, com pequenos saltos da direita para a esquerda e fazendo os mais diferentes movimentos com os braços. Aos poucos a dança se tornava mais animada, pois aquela era uma noite de festa para as estrelas e a energia delas afetava a menina.
Logo Natsu se perdeu na dança dela e quando percebeu, estava acompanhando com um movimento ritmado de palmas e batendo um dos pés no chão. Lucy continuava com sua brincadeira de saltos e movimentos com os braços, até que ela se aproximou de Natsu e estendendo uma mão perguntou:
— Quer participar também?
Ele hesitou por alguns segundos e depois aceitou o convite. As mãos entrelaçadas aproximaram os corpos das duas crianças, para logo em seguida se afastarem soltando as mãos. Giros e rodopios levaram os dois para lados opostos da clareira, para logo começarem a bater mãos e pés em sincronia, da mesma maneira que Natsu estava fazendo antes.
Alguns saltos e os dois se encontraram no centro da clareira entrelaçando seus braços e fazendo meias voltas antes de inverter o sentido. Os dois soltaram os braços, se afastando um pouco para logo em seguida se aproximarem saltitando alternando os pés e brincando de bater mãos. As duas, depois uma, as duas novamente até que Natsu segurou as mãos de Lucy e a fez dar um rodopio, logo em seguida entrelaçando uma das mãos novamente.
Um passo abrindo, outro fechando. Mais um abrindo e outro fechando. No terceiro passo abrindo, as mãos se soltaram e a dupla se afastou com um longo giro parando com a mão estendida como em um convite e o corpo em uma posição como se desafiasse o outro para uma luta.
O silêncio reinou por um breve momento, até que os dois começaram a rir e se abraçaram no meio da clareira.
— Isso foi divertido! — Disse Natsu com um enorme sorriso no rosto.
Lucy também o acompanhava nas risadas, enquanto ofegava de cansaço após a agitada dança. Porém nenhum dos dois percebeu que a clareira agora emitia um leve brilho dourado no formato de um grande círculo com um desenho único em seu centro.
O brilho foi se tornando mais forte, logo se tornando um clarão que impedia que a dupla mantivesse os olhos abertos. Desnorteados, os dois não tinham ideia do que estava acontecendo ali.
O círculo atingiu o ápice de seu brilho e uma forma enorme foi surgindo a partir da luz dele. O brilho foi diminuindo e a dupla já podia abrir os olhos. Mas o que os esperava os deixou completamente sem fala.
— Uahahah! Parece que alguém resolveu me chamar depois de tanto tempo. Vejamos... onde está? — Disse a enorme criatura dourada, olhando a clareira.
— Um-um-um... um dragão! — Disse Natsu chocado, mas ao mesmo tempo empolgado com o que via bem na sua frente.
Lucy estava paralisada e com os pensamentos correndo em sua mente a mil. Ela suspeitava da identidade daquele dragão, mas não sabia se isso era possível. Ela foi tirada de seu turbilhão interno pelas ações animadas de Natsu.
— Lucy, Lucy! Veja é um dragão, um DRAGÃO! Meu tio disse que eles estavam extintos, mas tem um bem na nossa frente!
O grande dragão de escamas douradas se virou para as crianças, finalmente reparando nelas pela primeira vez.
— Por essa eu não esperava. Nunca pensei que seria chamado por duas crianças. Mas agora que me chamaram, poderiam me dizer os seus nomes?
— Natsu.
— Lucy. E você é?
— Draco, o dragão. Mas vocês já deveriam saber disso, não? Já que me chamaram provavelmente querem fazer um contrato, certo?
Natsu parecia não entender o que acontecia ali e Lucy não ficou tão feliz assim em saber que suas suspeitas eram certas. Draco percebeu o desconforto dos dois e olhou com maior cuidado as duas crianças na sua frente.
A menina era uma Star Dancer, disso ele tinha certeza, já que conseguia ver os braceletes nos pulsos dela. Mas o garoto... Ele não possuía braceletes e pela reação dele quando foi mencionado um contrato, certamente nem sabia direito o que era um Star Dancer. E não era só isso. A aura dele era carregada demais, como se possuísse um poder semelhante ao do próprio Draco. Como se ele fosse da linhagem dos dragões.
Mas isso faria com que aquilo não fizesse sentido. Havia algumas condições para que Draco fosse invocado e o maior motivo de ter ficado tempos sem que isso ocorresse, era que a dança de invocação deveria ser realizada por uma dupla de Star Dancers. Então como que duas crianças, sendo apenas uma delas um Star Dancer, haviam conseguido invocá-lo?
Então ele se lembrou de algo previsto há tempos. Aquela previsão seria a única exceção para a invocação dele e pelo o que tudo indicava, aquelas duas crianças pareciam se encaixar nela.
— Desculpem-me crianças. O erro foi meu. — Ele disse e se virou para fitar Lucy — Se você quiser, depois podemos fazer um contrato. Antes eu quero dar um presente a vocês. Posso ver que o futuro reserva várias coisas para os dois.
— Claro! — Respondeu Lucy, agora já mais calma.
Draco se levantou nas patas traseiras e começou a dizer algumas palavras em uma língua a muito perdida e de alguma maneira, Natsu sentia como se pudesse entender um pouco do significado das palavras do dragão. O círculo dourado no chão voltou a brilhar e a luz dourada cobriu totalmente as duas crianças, logo fazendo que uma marca de um dragão aparecesse nas costas dos dois.
A sensação de serem cobertos por aquela estranha luz deixou a dupla esgotada, como se mal tivessem forças para se manterem em pé. O brilho do círculo havia diminuído bastante e Draco estendeu uma de suas patas para firmar o contrato com Lucy.
Após dar algumas últimas indicações, entre elas que Lucy só o chamasse em caso de absoluta necessidade e não houvesse nenhuma outra opção, o círculo brilhou novamente, fazendo com que o dragão desaparecesse e um pingente novo surgisse no bracelete esquerdo de Lucy. O presente de Draco não era evidente, mas talvez se mostrasse necessário no futuro.
Exaustos pelos acontecimentos, Natsu e Lucy se encostaram em uma das árvores na borda da clareira e lá adormeceram usando um ao outro como apoio. E foi nessa posição que Igneel e Atlas Flame os encontraram quando finalmente chegaram ao local.
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Dias se passaram desde a noite em que Draco havia sido invocado acidentalmente. Mesmo que gostasse muito da companhia do estranho trio, Lucy tinha que ir. Era certeza que seu pai estaria morrendo de preocupação naquele momento.
Ela se despediu dos três, que a haviam acompanhado até um certo ponto da floresta já localizado no território das Cidades Independentes, e continuou seu caminho com a ajuda de Pyxis, a bússola.
Mas a parte mais difícil de todas foi se despedir de Natsu. Os dias que passaram na companhia um do outro haviam sido uma gota de esperança num mar de desespero. Eles não tinham como saber quando ou se sequer se veriam novamente, mas prometeram que tentariam.
Mais alguns dias e Lucy finalmente havia chegado à borda oriental da Floresta dos Fragmentos Perdidos. Finalmente estava em território seguro. A cidade mais próxima era Yokin, porém seu destino era mais ao sul. Seu pai a esperava em Seshor e era para lá que ela se dirigia.