Capítulo 2

Sakura não se sentia tensa com o momento, mas sentia o momento tenso. Nunca se sentiu bem rejeitando Naruto. Não entendia o porquê dele amá-la, porém também não entendia o porquê de não amá-lo. Naruto era tudo o que esperava que Sasuke fosse. Mas, é claro, de seu próprio jeito ele seria, pois sabia que Sasuke nunca agiria tão amorosamente como Naruto. Então, por quê? Ela não entendia. Queria amar Naruto como ele a amava, mas não conseguia. Sabia que se tentasse o magoaria mais do que já magoa. Não tinha escolha, a não ser ser sincera, porque também sabia que se havia algo que Naruto também não merecia, e odiava, era a mentira.

– Por quê você se menospreza?

A pergunta dele lhe tomou a atenção.

– Por quê... em todas as vezes... você diz ser pouco pra mim?

– Naruto...

– Você já pensou, Sakura-chan... você é uma ninja extraordinária, uma médica incrível, uma pessoa boa, alguém que também merece alguém muito melhor do que aquele que ama, porque... talvez... você também só acha que o ama.

– Não tenho dúvidas em relação aos meus sentimentos pelo Sasuke, Naruto – disse firme, percebendo, como todas as vezes era visível, a tristeza que era a maneira como suas palavras atingiam Naruto. – Eu tenho certeza que você é muito melhor que o Sasuke. Você... você seria você se fosse ele. Agiria diferente... não buscaria vingança nem me magoaria. Mas... a questão é que... você, Naruto, pode até ser melhor que ele... mas não para ser meu. Entende?

– Mas se você me deixasse tentar... se você também tentasse, Sakura-chan...

– Eu tento, Naruto – interrompeu-o. – Céus, e como eu tento... – dizia, com o rosto abaixando e os olhos fortemente fechados para tentar conter as lágrimas. – Você não sabe o quanto eu me odeio por fazer você sofrer como ele me faz, justamente por eu saber como é, mas... eu não posso. Não posso mentir pra você. Não quero magoá-lo mais, pois sei que se eu tentar lutar contra isso de outra forma... ficando com você... ainda assim vou magoá-lo – olhou-o. – Porque eu amo o Sasuke. É amor, Naruto. Mais forte do que a palavra já demonstra ser, pois eu sinto.

Os braços de Naruto a cercaram. E ele era tão mais alto que ela, que Sakura ficou com o rosto sobre seu peito. Surpresa com a atitude dele.

– E você não sabe o quanto me dói ver você sofrendo assim... por aquele teme...

– Não é só por ele, Naruto. Não entendeu ainda? – perguntou, levantando a cabeça para olhá-lo, ainda em volta dos braços fortes dele. – Eu sofro também por saber que você sofre por mim. E isso me machuca mais, porque você é um irmão pra mim. Alguém que não merece passar pelo que eu passo.

Sakura sentiu os braços de Naruto afrouxarem, voltando para os lados de seu corpo. Entendeu que, talvez, ele estivesse entendendo o que ela queria dizer, mas preocupava-se com isso ao ver a expressão séria e ao mesmo tempo triste em seu rosto.

– Você está querendo dizer...

– Que eu só vou deixar de sofrer com isso quando você deixar de sofrer por mim. Quando estiver feliz, ao lado de uma pessoa que o ame tanto quanto você vai amá-la. É a única maneira de eu também ser feliz perante isso, Naruto. Você sendo completamente feliz.

– Sua felicidade não pode depender da minha, Sakura-chan.

– Mas depende. Em relação a nós dois, depende, e muito.

– E em relação ao Sasuke? E se não conseguirmos trazê-lo de volta?

– Eu vou me conformar, porque ainda vou ter você!

Sakura enchugou as lágrimas, e sorriu.

– Mas isso não vai funcionar se você estiver sofrendo também. Ainda mais por minha causa.

Esperou uma resposta de Naruto. Uma reação, qualquer coisa. A medida que os segundos passavam e Naruto ainda permanecia quieto, Sakura odiava-se cada vez mais. Sentia seu coração ficar apertado dentro do peito, como se o sofrimento de Naruto fosse palpável, tão grande quanto o seu.   

Quando viu um sorriso fechado se formar no rosto dele, e sentiu suas mãos segurarem seu rosto e seus lábios tocarem sua testa em um beijo, Sakura suspeitou que, talvez, Naruto finalmente tivesse entendido.

– Prometa... – disse Sakura, retribuindo o abraço que recebia. –... que vai acabar com o seu sofrimento para também acabar com o meu.

Naruto suspirou. Demorou, mas a olhou nos olhos ao dar sua resposta.

– Eu prometo.

Ver o sorriso de Sakura após proferir essas palavras foi o contento de Naruto, que tinha realmente entendido que não poderia preencher o vazio que Sasuke deixou em Sakura, muito menos fazê-la sentir por si o que sentia por ele. Então, com certeza acharia esse teme, e, se Sasuke tiver sorte, será antes de Naruto se tornar Hokage.

***

Ao entrar em seu apartamento, Sakura foi direto para a sacada de seu quarto. Viu Naruto caminhar tranquilamente pela rua, e para sua surpresa ele olhou para trás. Acenou, e o viu acenar também. Assim que não pôde mais vê-lo a medida que Naruto tinha voltado a caminhar e virado uma esquina, Sakura entrou, tomou um banho e vestiu uma camisola de seda verde clara. A cor lhe caia tão bem quanto o rosa natural de seus cabelos. Nessa noite ela sentiu como se, enfim, tivesse tirado um peso de seus ombros. Naruto não sofreria mais por ela. Ele prometeu, e sempre cumpre com suas promessas.

Deitada em sua cama, olhando para o teto, cansada, mas sem sono, Sakura ficou pensando em tudo o que pensava em todas as noites antes de dormir. Como ele deve estar? Estaria precisando de cuidados? Se alimentando bem? Estaria... feliz? Satisfeito por ter cumprido sua vingança? O que intrigava Sakura era que não sabia o porquê dele ter ajudado a vila a lutar com Obito na quarta guerra ninja e não ter voltado para casa! Ele lutou com Naruto, venceu Obito e os abandonou de novo! Por quê? Ficou tão feliz e orgulhosa ao vê-lo lutando junto com Naruto... teve esperança de que ele voltaria a partir daquele momento, mas quando menos esperavam ele partiu. De novo.

O procurou tanto, tanto, depois que soube. Passou dias, quase um mês inteiro tentando o encontrar, e tudo o que encontrou foram feridos necessitados de sua ajuda após voltar para casa, e Tsunade e Naruto, até Ino, loucos de preocupação. Não podia desaparecer daquela maneira, não podia ir atrás de Sasuke outra vez como queria, pois a vila precisava dela, a principal médica do hospital, substituta de Tsunade. Pensar em Sasuke parecia lhe corroer por dentro a medida que sua dor se intensificava e sua preocupação aumentava. Haviam muitos perigos lá fora. Um maior que o outro. Sasuke podia muito bem combatê-los e sair vivo. Mas ferido era algo que ele não podia evitar ser, e dependendo do ferimento, do estado em que se encontrasse, precisaria de um médico, de cuidados avançados e especiais, se não... Sakura interrompia a si própria cada vez que chegava a essa conclusão.