De longe se via um garoto sentado na calçada, encostado na grande árvore, os braços cruzados em cima dos joelhos, no lado, um cano de plástico, cheio de furos onde estavam pendurados um monte de pacotinhos de doces. Estava um calor insuportável até na sombra, muito barulho, de todos os lados vinha algum som alto, carros passando de lá pra cá, gente conversando, o vendedor ambulante gritando.
—Duas por dez, pulseiras artesanais com pedras místicas —Tudo foi ficando cada vez mais confuso, “e esse calor”, já não aguentava mais. Seus olhos foram ficando menores, até tudo sumir.
“Mike estava atrás da parede olhando através de um portal que dava pra sala de estar, em uma casa que não era a sua, era mais bonita. Se sentia estranho como se aquele corpo não fosse realmente seu. Estava escuro, sua visão meio embaçada, a porta abriu com um barulho alto, um homem de casaco marrom caiu de costas pra dentro, logo atrás entrou outro homem, este era feio com uma de fuinha. Estavam brigando. Vinham gritos de fora da casa, uma mulher—que ele achou ser sua mãe—entrou na frente do cara , pra o proteger, o fuinha mirava o seu rosto com uma vara que emitia uma luz pequena da ponta. O homem caído atrás de sua mãe pegou algo de dentro do casaco e atirou uma luz atingindo o cara de fuinha no peito, fazendo o invasor cair pra trás se contorcendo de dor. O homem se virou e olhou para ele e falou algo, era seu pai, mas Mike não ouviu nada da boca dele, todos sons cessaram, a imagem estava ficando cada vez mais borrada, seu pai olhou pra frente quando outras duas pessoas entraram na casa, uma figura que parecida ser uma mulher, jogou uma luz contra sua mãe derrubando-a de lado e um homem gordo e baixo, que atirou no seu pai, com o clarão Mike se virou, tudo ficou escuro e agora ele só escutava o som de carros e buzina que foram ficando cada vez mais altos.”
Acordou com um salto, ofegante “foi apenas um sonho”, o estanho era que não costumava dormir de dia, ainda mais num lugar como aquele, no chão a beira da avenida encostado numa árvore “deve ser o calor” pensou Mike. A árvore era uma das maiores do centro da cidade, era grossa e bem alta, devia ter centenas de anos. Sentou ali pra descansar e se esconder do sol escaldante e acabou pegando no sono, era um menino pequeno pra idade, tinha dez anos mas parecia ter oito, era negro tinha o rosto fino, cabelos encaracolados
Tentava vender doces durante as férias pra ajudar em casa, mas ninguém parecia interessado, as pessoas estavam sempre apressadas, a vida delas devia estava muito corrida, andavam de um lado pra outro, mal olhando quem estava no lado, não tinham tempo de comprar doces.
Uma senhora de cabelos lisos de saia comprida, vinha andando rápido e segurava a bolsa contra o corpo tão forte que os dedos brancos pareciam que iam cair da mão, quando se bateu contra um homem alto, de chapéu e sobretudo cinza, seus sapatos pretos lustrados brilhavam no sol, que vinha quase correndo, falava no celular tão alto que de longe dava pra escutar—não sei como ela não o viu chegando— era alguma coisa de uma reportagem sobre uma grande escola, do século XIV, parecia zangado. A mulher se assustou quase derrubou a bolsa e pediu desculpa pro homem que mal ligou pra ela, “se fosse eu que tivesse trombado com ela, certeza que ela tinha saído correndo ou gritado pra polícia, pega ladrão” Aquilo até, já tinha acontecido antes.
Um homem de cabelos marrons, de meia idade, com um colete de lã azul e calça laranja, suava muito “também vestido com um colete de lã naquele calor”, olhava para os lados parecia com medo de ser assaltado. Um carro preto, grande e bonito, “provavelmente de uma pessoa muito rica”, parou próximo a ele, Mike se levantou, pegou os doces e foi oferecer, mas antes que pudesse chegar perto, o homem entrou no carro que imediatamente foi embora, não dando nem tempo de chegar perto.
Mike abriu a mão e contou as moedas.
— dois e cinquenta, não vendi quase nada hoje — olhou pro sol “Não posso chegar tarde na última vez fiquei quase uma semana sem televisão”. Levantou e saiu andando devagar, olhando em volta oferecendo os doces, veio um homem não muito alto de cabelos pretos desarrumados, terno cinza escuro, usava uns óculos de aros redondos, “parece do Jhon Lennon” pensou Mike.
—Gostaria de comprar doces, senhor? falou Mike erguendo o cano—tenho doce de amendoim, doce de leite, cubinhos de abóbora e …
—Aboborra é? — falou o homem com um sotaque estrangeiro.
—Huhum! é um real. — Mike ficou olhando o homem, cabelos derramados, uma roupa estranha.
—Acha que vou ficar um de abóborra —falou já procurando dinheiro nos bolsos—faz tempo que não como comida de trouxas.
“Comida de que?” pensou Mike, mas não falou nada pra não parecer mal educado com um dos poucos clientes que arrumou hoje, devia ser alguma palavra de seu país.
—A está aqui—colou a mão e tirou um monte de moedas—pucha vida—segurou as moedas com a mão direita e voltou a procurar com a esquerda, depois de muito procurar.
—ah não! não vou ter dinheiro de trouxa!—falou baixinho.
“de novo trouxa, o que será é isso, será que ele tá me xingando?”
—Desculpe eu não ter dinheiro—Falou um pouco sem jeito.
—E essas moedas aí na tua mão? Mike apontou com o dedo. O homem olhou pra própria mão, e se abaixou ficando na mesma altura dele, quando chegou perto Mike viu uma cicatriz em forma de raio na testa. “deve ser de nascença” O homem deu uma moeda pra ele. Era grande, dourada parecia feita de ouro, de um lado, tinha o desenho de um homem de barba cumprida e chapéu pontudo na cabeça escrito gringots bank e do outro um animal que parecia um dragão, e as palavras unum galleon.
—É um galleon, vale muito de onde eu vennho — falou o homem da cicatriz. Mike pensou um pouco, não tinha vendido muito naquele dia, e a moeda podia não valer nada, ele ia ficar no prejuízo, mas era muito bonita, e além disso seu pai colecionava, e tinha uma daquelas, só que não era tão dourada.
—Tá bom—Mike entregou um doce de abóbora pro homem—essa moeda é muito bonita, além disso me lembra meu pai ele tinha uma dessas.
—Tiinhaa é ?—o homem ergueu uma sobrancelha —como é o nome de seu pai?
—Arthur Benefoi — falou Mike, um pouco triste só de lembrar de seus pai. O homem colocou uma mão no queixo
—Nou conhecer, mas no conhecer muitas pessoas neste país, esto só de passagem— O sotaque deixava ele com um ar engraçado.
—De onde ó senhor é? — Disse Mike guardando a moeda no bolso da camiseta.
—De um lugarr muito longe menino—Deu uma mordida no doce— talvez um dia você conheçer —falou com a boca cheia.
—Talvez. Disse Mike.— o que o senhor faz no Brasil?
—Estou a procurar umas pessoas— e fez um barulho quando engoliu— muito bom seu doce.
—Obrigado, minha mãe que faz —Mike ergueu os olhos para o relógio que tinha numa torre de igreja ali perto, já era quase seis horas.
—Tenho que ir agora, até qualquer dia. tchau— Fez um gesto com a mão que estava livre.
O homem da cicatriz de raio só deu um tchau com a mão e voltou a andar terminando seu doce de abóbora. Mike fazia aquele trajeto todos os dias, ia vender doces no sinal, conhecia toda vizinhança, o seu Zé padeiro, a dona Márcia do salão, o Dr. Alvarenga dentista, e todo mundo o conhecia, tinha nascido e se criado ali — pelo menos é o que ele achava—. O semáforo não era muito longe de sua casa apenas quatro quarteirões na direção do centro. Morava com sua mãe e irmão mais novo numa casa de madeira bem pequena. Seu pai saiu de casa quando Mike tinha cinco anos, mesma idade que Caio seu irmão tem hoje, depois disso Mike nunca mais o viu.
Faltando duas quadras pra chegar, avistou de longe algo que ele nunca tinha visto, no lugar que antes só havia um calçadão cinza em frente do bar do seu Rufino, agora existia um banco de praça, era branco, parecia muito antigo, e a pintura estava intacta como se tivesse sido pintado naquele dia, era muito bonito, sem nenhuma pichação ou lixo em volta, mas o que chamou atenção foi o mato que crescia em torno dos pés, que assim como os encostos de mão eram feitos de bronze, e reluziam ao sol deixando o banco ainda mais bonito, “como podiam te crescido tão rápido?”. Não combinava nada com o local, tudo o que Mike conseguia enxergar em volta estava pichado ou havia sido quebrado por vândalos, como as lâmpadas dos postes e os muros e paredes das casas.
Ainda tinha alguns minutos antes de escurecer, cansado de trabalhar o dia inteiro, Mike sentou descansar um instante, colocou os doces no lado do banco, e encostou-se, mesmo sendo de madeira o banco era muito confortável, o céu estava bem azul, não havia nenhuma nuvem, assim como os dias anteriores, o clima estava muito seco, já completava dez dias que não chovia, todo mundo estava economizando, reaproveitando, tentando se virar como podiam, naquela época do ano era normal o racionamento de água, Mike pensava se na hora que chegasse em casa haveria água no chuveiro para tomar banho, e teria que recolher os baldes que sua mãe deixa pra recolher água da chuva, que provavelmente estariam secos como sempre.
Sem ele ver de onde, veio um senhor e sentou do seu lado, de idade avançada, meio careca, com um casaco marrom velho e grande que ia até o joelho. Era seu Rufino, um velhinho dono um pequeno bar, ele era meio engraçado, usava uns sapatos de um tipo que Mike nunca havia visto antes, da cor verde, com o bico levantado em direção ao céu, tinha uns desenhos que pareciam ser aves e estrelas. Mike cumprimentava-o todos os dias quando passava ali cedo indo até o semáforo, mas de tarde na hora que voltava pra casa ele não estava mais lá, além disso nunca tinha trocado mais que duas palavras com ele.
— Oi— Falou Mike tentando ser simpático. O velho Rufino olhou olhou para o menino devagar, com cara de alguém que estava preocupado— Quantos anos você tem menino?
— Dez—Respondeu sem entender muito porque da pergunta. Rufino o fitou durante um longo tempo. Mike olhando para ele sem entender o que o Velho queria.
— Por que, senhor?
— Desde quando você vem aqui e senta nesse banco aqui? — Respondeu a pergunto de Mike com outra pergunta. Fazendo a mesma coisa ele disparou
— Estava mesmo curioso, sobre o banco! O senhor mandou colocar hoje? Onde o senhor comprou um banco tão bonito? E como fez pra crescer mato tão rápido?E...
O velho mudou a expressão na hora e soltou uma gargalhada muito estranha e alta. Mike se surpreendeu mas achou muito engraçado e riu também.
— Você faz muitas perguntas garoto! Já tinha me esquecido como as crianças são sempre curiosas com suas milhões de perguntas, onde vai com esses doces todos os dias? — Perguntou apontando ao lado do banco. Mike achou a pergunta estranha, achava que todo mundo já tinha o visto na esquina do semáforo. Mas pensando bem agora nunca tinha visto seu Rufino passar lá. Para falar a verdade nunca tinha o visto em outro lugar que não fosse na frente do bar.
— Vo vender lá no semáforo. —Mike ergueu o braço e apontou, como se desse pra enxergar o semáforo dali— O senhor nunca me viu lá? Sr Rufino passou a mão pela barba branca, não muito grande do queixo.
— Pra falar a verdade não, nunca ando por estes lugares .
Mike ficou pensativo “como pode alguém ir ate o centro e nunca passar pelo semáforo? Ate têm outras ruas paralelas, mas a avenida era a principal, todo mundo pegava aquele caminho, estanho”.
—Uma criança como você não devia trabalhar, isso é coisa de adulto! Você não devia estar na escola? — falou seu Rufino erguendo uma sobrancelha.
—Estou de férias, ninguém vai pra escola nas férias. E além disso preciso trabalhar pra ajudar a comprar comida pro meu irmão e minha mãe—Mike olhando pra cima fazendo uma careta por causa do sol que batia em seu rosto.
—E seu pai?
—Nos abandonou quando eu era uma criança de colo, mas não gosto de falar disso.—Mike olhou pra baixo colocando as mãos na frente do corpo.
— Sinto muito— falou Sr Rufino, olhou para o céu e ficou assim por um certo tempo.—tinha me esquecido que estamos nas férias de inverno, está muito quente.
Mike ficou em silêncio pensando em seu pai, e no sonho que tivera ainda pouco. Percebeu um volume no bolso do seu Rufino, era um livro, parecia bem grande. Ergueu cabeça e colocou a mão na frente dos olhos pra proteger do sol
— Que livro o senhor tem aí?
O senhor Rufino o olhou durante um tempo, parece que demorou pra entender a pergunta, olhou pra baixo colocou a mão enrugada no bolso por cima do casaco— Ah isto aqui! É um livro. Estava tentado ler, quando vi você aqui.
— Sobre o que é o livro. Gosto muito de ler! — Mike ia sempre que podia à biblioteca já havia lido várias obras, como As reinações de narizinho, As cronicas de Nárnia a feiticeira, o leão e o guarda-roupa, O senhor dos anéis e muito outras obras. Sonhava um dia fazer parte de alguma aventura como daquelas histórias fantásticas. Ele tirou do livro do bolso e colocou no colo realmente era muito grande até mais do que Mike imaginou “como cabe no bolso dele um livro tão grande?”, tinha uma capa grossa na cor vermelho escuro tinha um desenho de um lobo prateado em relevo, parecia muito antigo. Um livro muito bonito.
— Posso ver? —Mike estendeu as mãos.
— Claro! Mas não sei se você poderá ler, apenas algumas pessoas no mundo conseguem ler este livro—E entregou o livro nas mãos do menino
Sem intender muito bem, Mike pegou o livro, muito pesado, um dos mais pesados que tinha segurado na vida, abriu-o mas com exceção de algumas figuras todas as páginas estavam em branco. Olhou para o seu Rufino.—Só tem figuras nesse livro e um monte de páginas em branco.
—Figuras?—Seu Rufino que parecia muito surpreso, —Tenho que entrar agora, vai chover logo—já estava de pé e olhando para o céu, apressando foi andando na direção ao bar.
—O livro!—falou alto Mike
—Pode ficar, ele pertence a você agora!
—Por que as páginas estão em branco ?E o banco? — perguntou.
—O que quer saber sobre o banco? —Falou já perto da porta do bar.
—Quando colocou esse banco tão bonito aqui? e como cresceu mato tão rápido nos pés? E… — Mike já estava de pé, falando rápido e alto.
— Primeiro! O banco está aqui a muito tempo, foi um homem muito poderoso que o fez aqui. Segundo! Sim ele está cheio de mato, mas a é culpa minha, a muito tempo não cuido dele, já tinha até me esquecido que ele estava aqui em frente ao meu bar.
Mike olhou pro banco, ponderando o que Sr Rufino tinha falado.
—Vê se corre, vai se molhar na chuva!— entrou no bar, e fechou a porta
—Mas não vai chover ho…—nem terminou quando caiu a primeira gota de água em seu nariz, olhou para o céu, estava escuro com muitas nuvens, parece que se aprontava uma tempestade.
“De onde veio todas estas nuvens” falou baixinho pra si mesmo.
Mike saiu correndo, com o livro de baixo do braço, mas agora a chuva começava cair de verdade nas suas costas, com medo de molhar o livro, pensou em colocar embaixo da roupa, mas mesmo a camisa que usava sendo larga pra ele o livro não coube de baixo. A chuva aumentou muito rápido não daria tempo de chegar em casa sem se molhar e molhar o livro. Umas três casas depois do bar do seu Rufino, na esquina ficava a biblioteca municipal. Um pouco ofegante com a roupa molhada, abriu a porta e entrou tão rápido que se bateu com um homem que saia lá de dentro, um sujeito enorme, tinha, pelo menos, dois metros de altura, enquanto Mike caiu sentado com o livro no colo, o homem nem sequer deu um passo pra trás. Mike olhou pra cima era o mesmo homem que estava falando no celular la no semáforo. O homem falou já passando por ele:
—Cuidado moleque—e continuou andando, sem olhar direito pra ele.
Mike fez um gesto de sim com a cabeça , se levantou, e ficou olhando o homem com um jeito meio estanho sair, Mike levantou devagar, não tinha mais ninguém próximo a porta, a bibliotecária não estava em sua mesa como era de costume, observou três cartazes colados na parede, cada um com uma foto de uma criança, escrito desaparecido em cima, uma menina de pele clara de cabelos pretos, um menino asiático, e outro loiro. A biblioteca era grande e muito alta com estantes enormes de livros pra todos os lados, e algumas mesas no fim de um dos corredores. Mike foi até a mesa mais próxima, tentou um pouco tirar a água do cabelo e da roupa, mas não adiantou muito. Sentou e abriu o livro, que pra sua surpresa não tinha molhado nem um pouquinho, as dez primeiras páginas mais ou menos estavam em branco, depois tinha um desenho, era uma pintura de quatro jovens, abraçados e sorrindo, vestidos com capas pretas que cobriam todo o corpo, cachecóis listrados de vermelho e amarelo.
—O que está fazendo aqui moleque?-- falou uma voz de mulher bem aguda. Mike olhou pra atrás era a bibliotecária, uma mulher alta e magra de uns trinta anos, usava uns óculos da cor roxa, parecida o formato de uma borboleta torta—quem deixou você entrar? a biblioteca está fechada!
—A porta estava aberta.— Falou baixo engolindo seco
—Não minta pra mim, eu mesmo a tranquei um minuto atrás.—Ela mostrando com o braço e apontando com o dedo fino na direção da porta.
—Eu entrei quando o homem alto saiu.
—Que homem? não vi homem alto nenhum, chega de histórias, me de aqui este livro e caia fora daqui
—Não este livro não é da biblioteca! é meu, eu ganhei do seu Rufino do bar.
—Aquele velho maluco, achei que nem sabia ler! Deixa eu ver!-Mike não quis entregar, mas a mulher pegou o livro a força —A capa é muito bonita, mas está em branco, não tem nada nas páginas, a não ser umas manchas de mofo.
—Mas...falou Mike baixinho.—Me devolve, é meu— falou alto. Pra surpresa dele ela devolveu o livro com um força no peito de Mike.
— Tome e caia fora daqui.—quando ele já ia chegando na porta a mulher, que ia andando atrás dele ,pra ter certeza que ele realmente ia sair, perguntou:
—Por que você está todo molhado foi o velho maluco que fez isso com você?
—Não!não foi seu Rufino, me molhei na chuva .
—Que chuva moleque você também é maluco? — E abriu a porta, estava escurecendo já, mas nem sinal de chuva, estava tudo seco e nenhuma nuvem no céu—Não chove a nove dias.
—Dez pra falar a verdade.
—Que seja!— falou de forma grosseira e bateu a porta com força. Mike abriu o livro, a figura ainda estava lá e saiu andando devagar olhando desenhos e pensando na chuva que se formou tão rápido quanto foi embora, e na mulher que não ver nada conseguiu no livro, e ainda chamou seu Rufino de louco.
Quando enxergou o portão da sua casa no final da rua, foi como se tivessem dado um soco no estômago dele—Os doces!—falou alto, arregalando os olhos.