Rosae vermillus - O clã das rosas vermelhas

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    Capítulos:

    Capítulo 8

    Boni mores: Bons costumes

    Violência

    - Esta é Sara! - disse Lucius - E este é Vinícius - completou, e me virei num salto quando notei a presença de alguém atrás de mim.

    - Olá rapaz! - disse-me o garoto, e seus olhos verdes pareciam brilhar como os de uma criança que encontra um novo amigo para brincar. Os cabelos castanhos não chegavam a ser como os de Lucius, mas não eram curtos, penteados e cortados como um astro de rock, desiguais e repicados. Camisa quadriculada e jeans rasgado. A garota era bonita, e se vestia ainda melhor que muita garota metida à patricinha de minha escola. Ambos pareciam jovens normais, em contraste com Lucius, que parecia um figurão num baile fino onde somente gente da alta tem acesso, embora talvez; um baile do século passado.

    - Tenho que me alimentar de sangue humano? - perguntei, como se tentasse escapar de algum modo dos olhares inquisidores e curiosos dos meus novos colegas do meio social vampírico.

    - Isso é algo que verá sozinho. Não há muitas opções que não envolvam degradação lenta e muita dor se não se alimentar - disse o garoto de cabelos bagunçados.

    - Tenho talento para julgar caráter - disse Lucius ? Tenho certeza de que você será como nós. Essa família não se alimenta dos humanos até que seu sangue se acabe. Para vampiros mais fundamentalistas, os mais antigos ou que descendem de sangue-puros, humanos são rebanho. Nada mais do que alimento. Mesmo entre eles, poucos são os casos em que o sangue é sugado até o fim. É importante para a preservação de nossa raça, que os vampiros nunca saiam do escuro. Isso é válido para qualquer clã, e aquele que desobedece essa regra básica, é perseguido e executado da forma mais cruel. É claro que não nos importamos de modo similar com as vidas de seres como aqueles dos quais você planeja se vingar. Mortes eventuais vão ocorrer vez ou outra. Mas é importante manter o controle, pois uma vez que ceda à seus impulsos, e sugue todo o sangue de um humano, mais difícil será para se conter da próxima vez.

    - E um dia se tornará um monstro sedento por sangue e nada mais, uma simples e incontrolável aberração, como nosso amigo disse agora à pouco. E um vampiro assim não tem nenhuma classe... - disse Vinícius.

    - Então vocês bebem apenas uma parte... - acabei dizendo, um tanto confuso.

    - Mas é claro! Já imaginou os noticiários mostrando os corpos sem uma gota de sangue? Chamaria muita atenção! É claro que... Sempre tem aqueles babacas que fazem isso por ai e desaparecem com os corpos. Jogam no mar ou enterram fundo demais para serem encontrados. Casos de pessoas desaparecidas, você deve ter notado que ocorre com muita frequência - explicou o garoto novamente, um tanto revoltado. E não entendi se o motivo da revolta era por não gostar do comportamento dos tais vampiros, ou se era por que desejava fazer a mesma coisa, e por alguma razão Lucius o impedia.

    - E como explicam as marcas de dentes deixadas nas vítimas? E elas nunca se lembram dos ataques? - perguntei novamente.

    - O vampiro lambe a ferida e antes que a vítima desperte sem sua memória mais recente, a ferida já se fechou ? disse a garota desta vez; Sara. Com um sorriso puro e cínico ao mesmo tempo.

    Agora Lucius já não participava da conversa. Apenas acompanhava do outro lado da sala, acomodado em uma poltrona. Enquanto isso, o velho Pedro se movia por toda a sala, arrumando a bagunça causada pelo meu rápido confronto com Natan. Pendurava as armas novamente em seus respectivos lugares, e recolocava os móveis em suas posições originais. Quando pendurou a última espada em meio a um machado e um escudo de guerra medieval de valor histórico, me encarou com um desdém que me fez reavaliar se era realmente bem vindo em sua casa. Para me desvenciliar continuei falando.

    - E quanto ao sangue de animais? É uma opção? - perguntei, mas Sara e Vinícius começaram a rir.

    - Animais? Viu só Vini? Eu te disse que não eram só as garotas que gostavam da ''saga Crepúsculo''! Esse cara aqui com certeza leu o livro ou viu o filme! - dizia ela, em meio a risadas. Me senti meio idiota, mas no fundo eu tinha mesmo lido o livro...

    - Ora, você pode tentar meu amigo, é sempre uma opção. Mas não irá lhe satisfazer de modo similar ? disse Vinícius. - É como se estivesse morto de fome, esperando comer um prato enorme com direito a carne assada e te empurrassem uma saladinha. Além disso existe um limite para a quantidade de sangue que você pode ingerir antes que seu corpo não suporte mais e tenha que vomitar tudo para fora...

    - Que nojo Vini! - disse Sara.

    - Só estou explicando o que vai acontecer se ele tentar beber sangue animal demais. Muito antes que atinja a quantidade certa para suprir sua necessidade; seu corpo não suportará tanto sangue ''ralo''. O sangue de humanos é nosso alimento. E o sangue de vampiros é nosso néctar. Se beber do sangue de um vampiro mais forte que você, em uma quantidade considerável, irá se tornar mais forte. Sua capacidade de suportar sangue no corpo aumenta, e é claro, sua sede também. É uma faca de dois gumes, mas o mundo está cheio de carinhas pondo os dentes pra fora, apenas para sugar o sangue uns dos outros e subir de classe. É só usar a lógica para saber que um ser fraco não poderá beber à força o sangue de outro mais forte, mas estes costumam agir em grupos e capturam vampiros sem clãs ou renegados. Por isso convém que você tome cuidado. Já que o sangue que você bebeu era de um vampiro nobre, e logo, você será quase tão forte quanto nós.

    Fiz cara de quem não entendia muito bem e Lucius voltou a falar.

    - Um humano se transforma em vampiro após ser mordido e infectado por um. Mas é o primeiro sangue em quantidade que ele consome que determina qual é a força desse vampiro. Se tivéssemos permitido que você se alimentasse de sangue humano logo em sua primeira vez, teria se tornado um vampiro mais fraco. Um simples sugador de sangue sem objetivos definidos ou personalidade concreta. A sede seria sua única característica marcante. E acabaria sendo morto por outro vampiro ou teria sua cabeça cortada por Natan, por exemplo.

    Tentei assimilar toda aquela informação, mas algo não se encaixava. Não sabia se podia confiar naquelas pessoas mas também não me importava, já que Lucius sabia que meu objetivo era a vingança contra Charles. Aqueles conflitos políticos entre seres das trevas poderiam ficar para mais tarde, e estaria disposto a fazer algo por Lucius e seus aliados desde que me desse carta branca para agir e resolver meus assuntos. Só teria de me preocupar com Natan. Não devia ser do agrado dele permitir que vampiros andassem por ai assassinando mesmo que fossem seres humanos ''lixo'' como Charles. Teria de ser cuidadoso.


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