Tudo estava calmo agora, as minhas incertezas e dores tinham desaparecido por completo. Parecia que uma dose de comprimidos e uma seringa eram a minha salvação. Eu tinha cortes nos meus pulsos, que ocupavam meio braço. Logo, a dor voltou, e eu injetei mais uma vez aquela droga nas minhas veias. Eu queria esquecer toda a dor causada por uma só pessoa, ele, que me enganou, maltratou e jogou-me fora como se eu fosse um mero objeto descartável.
- Eu quero morrer… - Falei com a voz fraca e tomei mais cinco comprimidos.
Acabei por ficar sem reação. Tentei pegar na seringa mais uma vez e acabar com tudo isto, mas não deu certo. Eu não podia mais deslocar o meu braço, nem outra parte do meu corpo. Eu estava pronta. Pronta para morrer e parar de sofrer por este individuo. Senti os meus olhos fechar, quando vi uma luz na minha direção. Seria a entrado para o céu? Não. Umas pessoas saíram dela e senti que me levavam para algum lugar, mas eu desmaiem antes de me aperceber.
-Passado dois dias-
Acordei e mal conseguia abrir os meus olhos. A luz forte do sol batia nos meus olhos cor de avelã, iluminando o quarto todo. Quando me acostei, olhei para todos os cantos, eu estava num hospital. Estava salva, infelizmente. A pessoa que eu mais odiava me tinha salvado, o meu suposto “namorado”. A pessoa que me iludiu, enganou e fingiu amar-me.
- Estás bem agora. – Ele sorriu para mim. Será que ele sabe que isto tudo era por causa dele? Até admira não estar com o telemóvel na mão. – Ainda bem que apareci. – Ainda mal! Eu queria morrer, porque ele tinha de aparecer naquele exato momento, que saco.
- Mais uns dias e poderás sair, mas aconselho a que te trates, para não seres viciada. – Que puta, eu quero lá saber, só quero sair daqui e morrer logo. – É um milagre estar viva, Deus é grande. – Ela sorriu e saiu da sala.
“Deus” é grande? Eu parei de acreditar em Deus, igrejas e coisas ligadas a isso. Só acredito na minha seringa e nos meus comprimidos, eu só quero ir para casa, matar-me…
- Hey, vou indo agr. – Ele ia beijar-me e eu virei o rosto. – Ainda estás chateada?
-Como não ficar seu idiota?! – Gritei – Saí daqui agora!
Ele saiu logo sem hesitar. Como não ficar chateada? Ele traiu-me… Como uma das minhas melhoras amigas. Eu devia ter percebido, eles davam-se bem demais…
-Passado uma semana-
Já estava livre daquele hospício infernal. O meu ex-namorado não me contactou mais, não sei se é bom ou mau, mas é uma dor insuportável…
A caminho de casa passei pelo parque, eu já tinha parado com aquelas ideias suicidas, mas, ali estavam eles. O meu ex e a minha melhor amiga. Eles estavam abraçados, trocavam caricias e beijos. Eu senti uma raiva e de seguida uma tristeza profunda com a cena que acabei de visualizar. Eu corri o mais depressa para o lado oposto, eu precisa da droga, rápido. Corri e corri, e passado um tempo tinha chegado naquele bairro de lata. Entrei dentro de uma daquelas casas deploráveis.
- Vieste pela droga menina? – Falou um senhor.
- Sim. – Respondi friamente, eu só queria sair dali agora e injetar-me até morrer. – Quero dez seringas por favor, da mais forte que tiver.
- Será caro, tem a certeza?
- Absoluta. – Ele entregou-me aquilo que tinha pedido, paguei-lhe e vim logo embora.
Ao chegar a casa tirei as seringas da mala e sentei-me no chão. Injetei, uma, duas, três logo de seguida, sem hesitar. Logo o efeito viria. Comecei a sentir-me mole e tonta, então, injetei outra. A dor e as minhas memórias iam desaparecendo com calma, parecia tudo muito bem, calmo e sossegado. Injetei a quinta e logo a sexta seringa. A minha respiração falhava e rapidamente perdia a minha consciência. Injetei as últimas três e caí para o lado. Não conseguia respirar, o meu corpo não respondia e a minha consciência logo se iria. Foi então que o meu coração parou, parei de respirar e morri.
***
Depois de uma semana sem notícias de Sónia, os amigos e familiares contactaram a polícia. Sónia foi encontrada morta no chão de uma cozinha. Os médicos declaram morte por causada pelo uso excessivo de droga, uma overdose.