Ao desenlaçar os nós do finíssimo tecido azul de seda pura, me surpreendi. Duas passagens de embarque em um luxuoso cruzeiro pela costa de Kanto, com paradas em Cinnabar e nas ilhas de Seafon e uma em especial nunca antes feita com o S. Marinun repousava na superfície da embalagem de nosso almoço.
- Isis, você não vai acreditar! ? disse incrédula.
- Não diz que perdemos nosso almoço. ? Isis estava se refrescando com boas goladas de água de seu cantil. O calor estava quase insuportável.
- Acho que iremos participar de um luxuoso cruzeiro. ? notei que junto aos bilhetes havia uma carta gentilmente dobrada e selada.
- O quê? ? Isis provavelmente imaginou que o sol escaldante fritara meus miolos, e que começara a imaginar coisas.
- Os Montblanc por alguma razão nos deram um empurrãozinho para chegarmos até Cinnabar, e em grande estilo eu diria. ? um pouco afobada, acabei rasgando o lacre e levando consigo uma parte considerável de papel.
- Julli, tome cuidado. ? ela se pôs ao meu lado, esperando ansiosamente o motivo que levara a tal atitude do gentil casal. ? Pode começar a ler.
Dei uma risada tímida antes de iniciar a leitura. A caligrafia era excepcionalmente pomposa e floreada, e tive certeza de que pertencia a Li. Até a sua maneira de escrever era exagerada. Senti um "cutucão" em minhas costas. Nem notara que estava enrolando para começar. Pigarreei tentando melhorar a voz e fui desvendando o que aqueles excessos de traços significavam.
- Em nome de meus avós, gostaria de oferecer-lhes um presente de despedida. ? disse lentamente procurando decifrar a mensagem ? Durante o jantar vocês mencionaram que estavam a caminho da ilha de Cinnabar e com isso eles se lembraram que em comemoração as bodas de ouro de seu casamento, os seus filhos lhes deram passagens para um cruzeiro pela costa de Kanto. Por não poderem se ausentar da fazenda e não quererem magoar os filhos, eles decidiram doá-los a vocês, pedindo em troca que tirem fotos dos locais que visitarem e repassassem para eles, para terem como mostrar aos filhos as fotos do cruzeiro. Eles pediram que aceitassem de bom grado e aproveitassem essa experiência ao máximo. Atenciosamente. Os Montblanc.
- Nós não podemos aceitar. ? Isis continuou assim que terminei a carta e concordei piamente. ? Nós poderíamos ficar tomando conta da fazenda para eles. Não seria problema algum.
- Exceto que não entendemos nada sobre criação de Mareeps. ? Isis também concordou e acabamos divididas com a generosa oferta. ? Eles mereciam ter um descanso e aproveitar um pouco o tempo livre.
- Julli, o embarque é para daqui dois dias. ? Isis apontou para as letras miúdas no canto esquerdo das passagens. ? Não teríamos tempo para aprendermos o básico sobre criação de Mareeps para eles poderem viajar.
- De qualquer forma não iremos aceitar. ? disse esperando confirmação por parte de Isis.
- Claro. ? Isis consentiu. ? Já que definimos isso, vamos apresentar o novo companheiro aos outros pokémons.
- Esqueci de comprar ração. ? disse de súbito.
- Eu tenho bastante de reserva. ? Isis retirou uma sacola de plástico de sua mochila e começou a distribuir doses controladas de ração em três tigelas de plástico amarelo ouro, sem se importar com meu devaneio, já estava se acostumando. ? Pode pegar. ? Ela ofereceu-me e tive de aceitar. Não iria deixar minha cabeça avoada prejudicar o almoço de meus adoráveis pokémons.
- Depois eu compenso. ? disse retirando as tigelas metalizadas em tinta fosca e uma recém-adquirida pokebola. ? Acho que já é hora de dar a notícia mesmo. ? respondi Isis.
Respirei fundo, clicando uma vez, a pokebola expandiu-se, cliquei novamente e lancei-a no ar, liberando um jato brilhante conformando-se em formas algodonosas e arredondadas.
- Reeeeeeeeepppp. ? Sua lã era luminosa e de coloração creme recobrindo todo o corpo e a superfície da cabeça, o rosto e as patas em azul, os chifres e a cauda em listras amarelas e negras, e na ponta de sua cauda uma esfera de tonalidade alaranjada. Os olhos negros delineados brilharam intensamente ao perceber que estava em um ambiente diferente do que estava acostumada.
O entusiasmo dela a fez correr em minha direção, derrubando-me. Ela começou a me lamber intensamente, demonstrando seu carinho, mas devido à textura lisa e úmida de sua língua, iniciei um ataque de risos, com as constantes cócegas em meu rosto e pescoço.
- Julli precisa de ajuda? ? fiz que não com a cabeça e passei a acariciar sua lã macia e viciante.
Aos poucos ela se retirou, mas continuou a demonstrar sua alegria correndo pelo campo.
- Mareep? ? gritei procurando chamar sua atenção ao me levantar. ? Acho que já entendeu que agora viajará comigo, não é?!
- Mare. ? ela derrapou suas patas na grama curta ao parar bruscamente. Mareep tinha uma personalidade tempestuosa e agitada, semelhante a uma chuva forte entre relâmpagos.
Isis se antecipou deixando suas pokebolas em seu colo, aguardando embaixo da sombra de uma nogueira.
- Mareep, gostaria que você conhecesse alguns amigos meus. ? disse calmamente. ? Você quer?
- Mareep! ? ela pareceu consentir, contudo ainda poderia ser resquícios entusiasmados da notícia que acabara de receber.
Mareep desabou seu corpo no chão amortecendo-o com sua lã. Retirei de minha mochila três pokebolas lançando-as no ar.
- Todos vocês, façam as honras. ? disse vigorosamente.
Três raios brilhantes moldaram-se em três miúdas formas.
- Natu... ? Natu focalizou sua atenção nas tigelas enfileiradas rodeando uma rocha incrustada na terra.
- Buu! ? ao me ver, Budew correu em minha direção com um sorriso estampado e pedindo colo. Como já estava se tornando um hábito, coloquei-a em meu ombro acariciando suas ramas.
- Mud. ? Mudkip enciumou-se com a minha relação afetuosa com Budew, mas rapidamente fingiu não se importar.
- Isis é sua vez. ? Isis lançou suas pokébolas no ar.
- Tedd? ? Teddiursa surgiu cambaleante, mas desta vez não chegou a cair. Assim que Budew a viu pulou de meus ombros, e instintivamente Teddiursa a abraçou carinhosamente. Começava a deduzir que a atração imediata que Budew sentia por Teddiursa, tinha a ver com o aroma adocicado que ela exalava, já que seu pelo vive lambuzado de honey, uma guloseima muito apreciada por pokémons planta e inseto.
- Mud... ? percebi que Mudkip ficou feliz com a cena, mas como ele fingi que nem notara sua reação enciumada.
- Larv! ? Larvitar surgiu espreguiçando seu corpo pedregoso indo em direção as tigelas de ração.
- Larvitar! ? Isis o repreendeu.
Inconformado, Larvitar sentou-se no chão com claros sinais de birra.
- Ee... ? Eevee com seu porte aristocrático, posicionou-se de maneira elegante como uma escultura em exposição em um museu de arte. Ele logo percebeu a presença de Mareep e se dispôs a cumprimentá-la.
- Como Eevee já percebeu, temos uma nova companheira. ? disse alegremente. ? Quero que conheçam Mareep. ? apontei Mareep e todos voltaram sua atenção a ela. ? Mareep, estes são Mudkip, Natu, Budew, Eevee, Larvitar e Teddiursa. ? disse apontando cada um deles.
- Mud. ? Mudkip cumprimentou-a apenas mexendo a cabeça veementemente. Ele era realmente preguiçoso às vezes.
- Na... ? Natu saltou sobre a lã de Mareep, sem aviso prévio, felizmente não a assustou, o que poderia acarretar em descargas elétricas nada agradáveis e armar uma confusão generalizada. Com suas garras, começou a massagear a lã de Mareep, fazendo-a relaxar com os seus movimentos ritmados. A reação de Natu me surpreendeu de certa forma. Foi a primeira vez que demonstrou iniciativa em alguma coisa, e principalmente por se dar bem logo de cara com um pokémon que possuía um tipo incompatível ao seu e que poderia afastá-los, mas ainda bem que eu me enganei.
- Dew? ? Budew saltitou até Mareep esfregando seu corpo de textura áspera, mas inexplicavelmente reconfortante em suas bochechas e como retribuição Mareep lambeu suas ramas, fazendo Budew rir.
- Larv! ? Larvitar acenou de forma rígida para Mareep.
- Maree... ? ela baliu respondendo a Larvitar.
- Tedd! ? Teddiursa abraçou a lã de Mareep e não desgrudou-se.
- Mareep. ? ela também adorara a textura do pelo de Teddiursa.
- Agora que todos se conhecem, podem comer. ? Isis disse especialmente para Larvitar.
Todos foram em direção às tigelas, exceto Mudkip que não moveu um músculo.
- Mudkip, pode vir aqui? ? Mudkip fingiu não ouvir. Agora que repassava mentalmente, não estava dando atenção alguma a ele. Era certo que Budew, por ser um filhote ainda, precisava de maiores cuidados, mas não era justificativa para deixá-lo em segundo plano.
Já que Mudkip não iria até mim, fui até ele. Ajoelhei-me a sua frente, segurando seu miúdo corpo e depositando em meu colo. Ele continuou a me ignorar solenemente. Decidi jogar sujo com ele. Passei a massagear seu dorso, passando para suas patas e sua barriga. A textura de sua pele era lisa, úmida e escorregadia, extremamente agradável. Ele começou a relaxar instantaneamente. Aos poucos as barreiras entre nós ruíram. Naquele momento senti uma tristeza profunda como se tivessem retirado algo muito precioso de mim.
- Me perdoe. ? uma lágrima escorreu de meus olhos cor de água e respigaram em Mudkip. Percebi seu olhar de culpa em me fazer chorar. ? A última coisa que queria era magoá-lo, Mudkip. Eu vou tentar melhorar.
- Mud. ? Mudkip lambeu minhas mãos procurando se desculpar.
Todos estavam ocupados comendo e nem perceberam o que acabara de ocorrer. Abracei Mudkip e o soltei para se juntar aos outros pokémons. Depois fiquei ao lado de Isis e Eevee, aproveitando o saboroso almoço preparado pela senhora Montblanc, mas com a cabeça a mil.
***
- Finalmente estamos chegando. ? Isis alongou as pernas cansadas de um dia inteiro de caminhada. ? Já era noite quando conseguimos chegar aos arredores da cidade de Vermilion. ? Se não tivesse parado para batalhar com aquele pescador de Magikarps, teríamos chegado ainda durante o dia.
- Eu preciso treinar para a batalha de ginásio. ? procurei me justificar. ? Não posso falhar miseravelmente. Li me desafiou, tenho de corresponder as suas expectativas.
- Tenho certeza de que vai conseguir. ? Isis procurou levantar meu moral.
Aos poucos era possível identificar uma ponte que levava ao porto da cidade. Uma placa fixada a beirada da trilha indicava o caminho da direita para a caverna dos digletts, o esquerdo para o porto de Vermilion e a frente a cidade sulista banhada pelo sol de coloração laranja, Vermilion.
- Digletts, são aquelas adoráveis minhoquinhas? ? perguntei apontando para o chão.
- Sim. ? Isis disse segurando para não rir. ? É a principal ligação hoje pra Pewter, já que não conseguiram conectar Pallet a floresta de Viridian. A cidade de Rútilo está se tornando por conta disso o principal foco de reformas para reconectar o circuito da liga pokémon.
- Eu quase não tenho informações do infortúnio que se abateu sobre Viridian. ? o vento salso e úmido do mar transpassou meu corpo. Estes ambientes litorâneos estavam se tornando frequentes em minha jornada.
- Na verdade não há muitas informações a respeito. ? Isis contorceu o cenho, ela parecia ocultar sentimentos dolorosos em seu interior.
- Finalmente encontrei algo que você conhece pouco. ? tentei descontraí-la e retirá-la de suas recordações.
- Engraçadinha. ? Isis deu um tapinha de leve em minha cabeça e ficou a observar os barcos e navios flutuando nas ondas calmas do mar. ? Vamos ver se conseguimos vaga no centro pokémon.
- Claro! ? sai correndo pela trilha a minha frente. ? Quem chegar primeiro fica com o beliche de cima.
- Ei! ? Isis gritou desolada. ? Não vale. Você está roubando.
***
Corremos pela trilha até chegarmos a uma estrada de tijolos em granito compressados na terra alaranjada e fofa da região. Os postes de luz iluminavam intensamente e meus olhos precisaram de um tempo considerável para se acostumar com tamanha claridade. A praia a poucos passos de nós chegava a respingar gotas mornas de água em mim. As casas em sua maioria de coloração alaranjada destacavam ainda mais a luminosidade.
- Essas luzes incomodam. ? disse esfregando as vistas.
- Você tem toda razão. ? Isis colocou um óculos escuros e daí lembrei que também estava carregando um. ? Pelo menos não está tão quente.
- Verdade. ? disse sorridente. ? O centro pokémon deve ficar aonde?
- Estou vendo ele bem ali. ? Isis mostrou uma placa vermelha em forma de P próximo a uma praça.
Caminhamos vagarosamente observando a cidade luminosa e as pessoas estranhando eu e Isis de óculos escuros durante a noite.
Na praça havia alguns flamboyants bem afastados um do outro intensificando as cores da cidade, trazendo um pouco de vida ao excesso de luz. As flores laranja de colorido forte, a copa extensa, lembrando um guarda-chuva, o tronco forte e retorcido de coloração quase negra acalmou minha visão perturbada pela claridade. O gramado verde, com pedras espalhadas em toda a extensão, retirava a uniformidade do terreno. Bancos de madeira distribuídos por entre as vielas retorcidas, desviando das pedras.
A porta do centro pokémon retiramos os óculos, e adentramos ainda em tempo de fechar. Havia uma quantidade considerável de pessoas na entrada, sentados nos sofás e cochichando.
- Julli? ? uma voz extremamente familiar acelerou as batidas de meu coração. ? É você mesmo?
- Adele? ? quase não acreditara quando vi.
Pelas minhas contas ela tinha quinze anos agora. Estava lindíssima. Os olhos acobreados resguardados por um óculos de armação com suporte em fios de náilon e aros retangulares, o rosto quadrangular suavizando-se em seu queixo duplo, o cabelo castanho de um brilho vistoso moldado linearmente em um coque estilizado. Usava um terno feminino em corte italiano extremamente sexy, sem parecer vulgar, destacando suas formas voluptuosas. Carregava uma pasta de mão em couro, com detalhes em dourado, e bordado no canto esquerdo, ?Adele Portman?.
- Há quantos anos não nos vemos garota. ? Ela colocou sua pasta na beira do balcão e me abraçou afetuosamente. ? Você está um espetáculo. E parece que conseguiu dobrar sua mãe para conseguir estar aqui.
- Olha quem fala? ? disse observando-a de cima a baixo. ? Meu pai quem conseguiu operar esse milagre. Graças a ele amanhã poderei tentar minha segunda insígnia. Nem acredito, Adele que saudades. Isis, essa é Adele Portman, uma grande amiga de infância.
- Olá. ? Isis cumprimentou-a com um aperto de mão solene. ? Me chamo Isis Gast.
- Oi. ? ela olhou bem para Isis. ? Você também é muito linda.
- Ah. ? Isis enrubresceu. ? Obrigada.
- Isis, a Adele foi à única amiga que meus pais permitiram eu ter. ? disse ofegante. ? Era o ?bom exemplo? a seguir. Essa garota foi e é muito importante. Nossos pais trabalhavam juntos em Cerulean, mas há cinco anos ela teve que se mudar, porque seu pai conseguiu uma boa proposta em Unova. Eu fiquei arrasada, mas eu acabei superando. Lembro que você era fissurada com pokémons lagartos, queria um Charmander de qualquer maneira.
- Eu não consegui um Charmander, mas consegui um bom pokémon lagarto do tipo planta. ? ela disse nostalgicamente. ? Pena que quando estou a trabalho não carrego meus pokémons comigo. Adoraria que visse eles. São adoráveis.
- Hã, que pena mesmo. ? estava realmente emocionada em reencontrá-la. ? O que você anda fazendo aqui?
- Eu vim em nome da Liga Pokémon para ratificar a entrada do novo líder de ginásio da cidade de Vermilion já que sou a secretária pessoal do presidente das relações internacionais da Liga Pokémon. ? Adele disse calmamente.
- Como você conseguiu isso, garota? ? estava impressionada com Adele.
- Nos mudamos para a cidade de Castelia na região de Unova e lá eu comecei a trabalhar na Companhia de Batalha. ? a voz de Adele era harmoniosa e apurada. Faz-se como flecha; perfura o peito e chega ao mais bem guardado segredo que temos dentro de nós. ? Como a Liga Pokémon estava sendo reformulada eu fui indicada pelo presidente para ocupar o cargo e fui aceita e agora estou aqui, representando o presidente das relações internacionais da Liga Pokémon, já que ele não pôde comparecer.
- Isso é incrível. ? não conseguia acreditar que minha amiga de infância estava ficando tão importante.
- Julli, não se engane. ? Adele sussurrou disfarçando. ? Estou em um ninho de cobras. Uma teia de conspirações sórdidas. Tome cuidado.
- Adele? ? senti um calafrio em minha espinha subindo por minhas vértebras gelando minha cabeça. ? O quê?
- Então para mantermos contato, acho que isso resolve. ? Adele continuou como se não tivesse dito nada demais. ? Xtransceiver. A mais alta tecnologia disponível em comunicação da região de Unova. Por agora só tenho nessas cores. - Ela segurava uma espécie de relógio de alta tecnologia em cada uma das mãos, na esquerda de cor branca e na direita de cor negra.* Eu e Isis nos olhamos e decidimos visualmente com qual cada uma ficaria imitando a reação de Adele para não levantarmos suspeitas. Ela poderia estar sendo vigiada. Eu escolhi o branco e Isis ficou com o negro, como era esperado, já que a cor favorita de Isis era aquela.
- Julli agora tenho uma reunião com a enfermeira Joy do centro pokémon daqui, eu tenho mesmo que ir. ? Adele me abraçou outra vez e sussurrou novamente. ? Note as diferenças. ? ela me liberou com um sorriso radiante. ? Daqui eu já irei embora direto, mas foi muito bom reencontrá-la, Julli e conhecê-la também Isis. Queria que conhecesse minha namorada, talvez em outra oportunidade.
- Seus pais aceitaram. ? disse feliz por ela. ? Estava torcendo muito por você.
- Foi meio que aos trancos e barrancos, mas apesar disso consegui sim. ? Adele sorriu discretamente.
- Que bom! ? falei apressando-me ? Agora poderemos nos comunicar, então até. ? apontei o Xtransceiver meio culpada em poder atrasá-la.
- Até. ? Adele despediu-se de nós, pegou a maleta sobre a bancada e adentrou a portaria.
- Boa viagem. ? Isis acenou sorridente.
- Boa viagem. ? disse estupefata e preocupada com o bem estar de Adele.
***
Estava preparada para tudo. Mal dormira após ouvir o que Adele disse. Eu e Isis ficamos discutindo horas, bolando hipóteses, mas não conseguíamos perceber anormalidades com a Liga Pokémon.
Em frente ao ginásio de Vermilion não me senti intimidada. Apenas estranhei o ginásio ficar em uma instalação do exército. Daí recordei-me de que Li comentara que o antigo líder era um tenente e conectei as informações.
- Preparada? ? Isis colocou as mãos em meus ombros tentando me animar.
- Sim. ? disse confiante.
Ao adentrar pelo salão escuro e embolorado, com sinais claros de abandono e desleixo pude ver atrás do campo de batalha sentado à cadeira, Li com um sorriso radiante. Tinha o mesmo cabelo escandaloso, mas hoje vestia roupas menos extravagantes. Estava com um minishort jeans preto, presos em um cinto de couro de cobra amendoado, uma blusinha regata de algodão amarelo ouro, um colete preto e uma bota de cano alto toda em couro.
- Julliane e Isis, como é bom revê-las. ? Li levantou-se em movimentos rápidos e já estava a minha frente. ? O juiz ditará as regras.
Percebi que havia um homem utilizando um uniforme verde e preto com o emblema da Liga pokémon, segurando uma bandeira vermelha na mão esquerda e uma verde na direita.
- O oponente tem direito a troca em qualquer momento da batalha, serão três contra três em uma batalha sem limite de tempo. ? o homem disse sem demonstrar qualquer emoção.
- Está de acordo? ? Li ajeitou os fones de ouvido.
- Sim. ? me sentia segura como nunca antes estivera.
- Boa sorte Julli. ? Isis gritou animadamente e sorri em retribuição.
- Então iremos começar. ? eu não percebera quando Li pegou sua pokebola. Ela era realmente veloz em suas movimentações. ? Pipiri, a batalha!
- Chu! - Um fofo e pequenino roedor de pelagem amarelo-pálida, cauda negra e miúda e de orelhas em losango enormes rolou pelo chão demonstrando um gás formidável. Suas bochechas com esferas rosadas lampejaram estática, iluminando levemente o local.
Apontei a pokédex para coletar informações sobre aquele pokémon.
Pichu, pokémon pequeno roedor. Ainda não é hábil em armazenar energia, devido a sua pouca idade. Oscilações de humor podem causar acidentes com liberação de descargas poderosas.
- Certo. ? já que ela jogara um bebê em campo, iria retrucar com a mesma moeda. ? Budew, faça as honras!
- Dew! ? Budew liberou suas ramas a procura de luz, demonstrando dois botões em flor, um azul e outro vermelho.
- Budew, use growth. ? O corpo de Budew foi envolvido por uma energia cósmica, aumentando de tamanho.
- Pipiri, use sweet Kiss. ? Pichu rodopiou pelo campo lançando um beijo em Budew.
Budew ficou desorientada, balançando de um lado ao outro.
- Budew? ? ela parecia confusa. Não esperava por aquilo. Pensei que seria forçada a me proteger apenas da paralisia. Novamente um líder de ginásio me surpreendia. ? Tente usar mega drain!
- Pipiri hora de thunder wave. ? Pichu começou a liberar ondas eletromagnéticas no campo, paralisando os movimentos de Budew.
- Não! ? Estava encurralada. Budew estava confusa e paralisada, ótima maneira de iniciar uma batalha. Resolvi recuar. ? Budew retorne.
- Mal começamos. ? Li coçou a cabeça um pouco chateada.
- Mudkip faça as honras. ? lancei outra pokébola no ar. ? Mud-slap!
- Não mesmo. ? Li não estava para brincadeiras. ? Pipiri, use thunder shock.
Pichu forçou suas bochechas, lançando uma descarga elétrica potente clareando tudo por onde passava e logo em seguida ele já estava dando cambalhotas.
- Mudkip evasiva e Mud-slap. ? Mudkip por pouco não recebeu a descarga. Então se adiantou lançando uma rajada de terra em Pichu.
Ele rodopiou pelo campo e desmaiou.
- Pichu está fora de combate, o desafiante venceu. ? o juiz levantou a bandeira verde.
- Isso aí, Mudkip. ? Isis fez um sinal de positivo a ele.
- Mud! ? Mudkip alegrou-se com a vitória.
- Continue assim. ? disse transmitindo toda minha confiança a Mudkip.
- Pipiri, você foi muito bem. ? Li sorriu para mim. ? Como eu esperava de você, Julli. Contudo, não pense que já está com a vitória garantida. Elekid, a batalha.
Li lançou outra pokebola, surgindo um pokémon muito parecido com um plug de uma tomada. Seu olhar era ameaçador e nada convidativo. Seu corpo amarelo e ovalado, disposto com listras negras e um raio estilizado em seu abdômen, os pés desproporcionais aos seus enormes braços, que também continham listras negras e garras cortantes.
Resolvi colher algumas informações sobre aquele estranho pokémon.
Elekid, pokémon elétrico. Ele rodopia os braços para produzir energia, contudo ele não consegue produzir grandes quantidades por se cansar rapidamente.
- Kidddddd, kidddddd! ? Elekid começou a rodopiar os braços liberando pequenas descargas de seus chifres em forma de tomada.
- Mudkip, mud-slap. ? continuei na mesma estratégia.
- Elekid, quick attack. ? Num piscar de olhos, Elekid desapareceu do campo, reaparecendo ao golpear Mudkip com um soco de direita.
- Mud! ? Mudkip absorveu o impacto do golpe e lançou uma rajada de terra com o auxílio da cauda em Elekid, apesar da violência do ataque, ele resistiu bem.
- Tackle! ? disse empolgada.
- Elekid, low kick. ? Li ajeitou os fones de ouvido ao ordenar o ataque.
- Eeee. ? Mudkip tentou jogar seu corpo de encontro a Elekid, mas foi surpreendido por uma rasteira, derrubando-o no chão.
- Termine com um thundershock. ? Li disse confiante.
- Mudkip levante-se. ? gritei preocupada. Seria difícil ele resistir ao impacto.
- Eleeeeeeeeeeeeee... ? Elekid rodopiou os braços e lançou uma descarga elétrica diretamente em Mudkip. Ele não resistiu.
- Mudkip está fora de combate. ? o juiz levantou a bandeira vermelha. ? A líder do ginásio venceu.
Estremeci ao ver o pequenino corpo de Mudkip inerte. Retornei-o a pokebola, não conseguiria continuar vê-lo naquele estado lastimável.
- Você foi incrível. ? disse antes de guardar a pokebola na mochila e pegar a próxima. Meu coração estava batendo com tamanha força, que sentia que iria explodir a qualquer instante.
- Não esperava que Mudkip pudesse suportar por tanto tempo. ? os olhos de Li brilharam. ? Está me proporcionando uma ótima batalha.
- Obrigada. ? disse confiante. ? Seus pokémons são extraordinários. Está sendo um grande aprendizado para mim, apesar disso não irei perder hoje.
- Espero que consiga seu objetivo. ? Li soltou os fones de ouvido e ajeitou o cabelo Black Power.
- Certamente. ? lancei meu próximo pokémon ao campo. ? Budew, faça as honras.
- Buuu... ? Budew não conseguia se movimentar devido à estática que Pichu produziu.
- Sleep powder, Budew. ? Budew lançou um pó brilhante de suas ramas em direção a Elekid.
- Elekid, Double team. ? Li não se sentiu ameaçada pela nuvem brilhante que se abateu em Elekid.
O ataque de Budew não surtiu efeito algum, frustrando-me.
- A habilidade de Elekid pode surpreender às vezes. ? Li começou a falar visto que percebeu o meu espanto. ? Diferente da grande maioria, o meu Elekid nunca poderá ser afetado por ataques de adormecer. Ele possui um espírito vibrante, um vital spirit que nunca o deixará adormecer.
- Interessante. ? ela já bolara uma estratégia visto que já havia visto meus pokémons. Li era realmente formidável. ? Mas Budew possui uma pequena surpresa devastadora.
- Hum... ? a sobrancelha de Li arqueou-se intensamente, demonstrando sua curiosidade e interesse em descobrir o que poderia ser.
- Vai nessa Budew! ? Isis gritou com entusiasmo por já saber do que se tratava.