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O nome daquele ser de cabelos compridos era ''Lucius'', se apresentou formalmente para mim alegando ser um vampiro nobre que se rebelou contra seus líderes no exterior, e que tem se escondido no Brasil desde então. Como quem dá instruções a um novo empregado, embora com toda a educação e polidez possível; disse-me que agora eu era também um vampiro e que teria de morar naquela casa. Disse que o velho resmungão ao seu lado era o dono da casa.
- Este é Pedro, não é um transformado como você, embora tenha suas peculiaridades. É uma longa história, mas basicamente, lhe concedo de tempos em tempos uma pequena parte de meu próprio sangue. Isso lhe confere certas habilidades fora do comum para um ser humano, mas que principalmente lhe protege de sua doença terminal, prolongando também sua vida até quando desejar. Em troca ele me permite morar aqui com meus aliados - disse Lucius.
- Quer dizer que a família continua aumentando? - disse aquele que havia me atacado poucos minutos antes. Pela primeira vez pude notar que este devia ter quase minha idade. Cabelos pretos como os meus, mas arrepiados em um moicano. Usava luvas e jaqueta preta de motoqueiro, então imaginei uma moto ''custom'' exótica estacionada em algum lugar lá fora e que talvez esse cara andasse por aí acreditando veemente que era uma espécie de ''Blade'' branco. E de fato, pelo seu porte físico, viciado em academia, bastaria ser negro e usar óculos escuros e poderia fazer um cosplay do caça vampiros. A carranca e o mau humor ele já tinha. Ele me encarou e pude ver que os ferimentos no pescoço já tinham parado de sangrar.
- Este - disse Lucius -, é Natan. A história dele é semelhante a sua. É um vingador, embora se alimente de sangue por seus próprios motivos, não é um vampiro. Em termos de classe, é mais parecido com Pedro do que com você, Leandro.
Ele sabia meu nome. Provavelmente tinha lido meus documentos já que no mesmo instante procurei minha carteira no bolso de trás e não encontrei.
- A diferença de Natan em relação a Pedro, é que pode parar de ingerir sangue de vampiro no momento em que desejar, embora não o tenha feito ainda, pois o vampiro que quer matar...
- Cale-se Lucius! - exigiu o garoto numa postura desafiadora.
- Perdão. Imagino que tenha vindo aqui buscar mais... Pode subir agora. Sara e Vinícius estão lá em cima e vão atender você - disse Lucius, com ar sereno em seu rosto jovial.
Então o rapaz subiu as escadas balançando seu moicano com um ar arrogante e fiquei ali com mais explicações sobre minha nova condição.
Lucius deixou bem claro, como um prestador de serviços explicaria sobre as cláusulas de um contrato, que havia sido minha vontade, e não dele, de que eu fosse transformado. E de certo modo ele tinha razão, mas não era bem esse tipo de ajuda que imaginei quando quis que ele me salvasse, para que pudesse executar minha vingança. Queria sobreviver para ir atrás de Charles e seus comparsas, mas acho que isso podia ser até melhor. Para alguém que não tinha mais vontade de viver além da pura e simples vingança, estava de bom tamanho. Era apenas questão de me acostumar com a idéia.
Quando se é vampiro tudo muda. Deveria estar assustado ou em pânico naquele momento, mas não sentia muito mais do que impaciência durante a explicação monótona e vaga de Lucius. Foi então que o interrompi, como se precisasse com urgência ouvir o som de minha própria voz para lembrar-me de minha existência:
- Por que aquele rapaz me atacou se é aliado de vocês?
- Bem... Ele não é um aliado declarado. Odeia a maior parte dos vampiros, na verdade. É um tanto complicado meu jovem, o que temos com ele é um acordo, e alguns objetivos em comum...
- Ataquei você por que não te conhecia! - interrompeu Natan, que após alguns minutos, descia as escadas com um estranho embrulho debaixo do braço. - Neste mundo, onde a noite é tomada constantemente pelas aberrações que vagam livremente entre os inocentes e sugam seu sangue, qualquer vampiro que eu não conheça é meu inimigo - virou-se para Lucius e continuou - Não sabia que ainda criava mais dos seus, Lucius. Só tentei proteger sua casa do que acreditei ser um possível invasor - disse por fim, e se encaminhou para a porta deixando todos nós olhando para ele.
- Fico agradecido - disse Lucius -, mas tenho tudo sob controle por aqui ? completou sorrindo.
- Espero que sim. Ou terei que matar o garoto também. Não permita que ele saia da linha.
O carrancudo saiu e bateu a porta. Que figura.
- Ele nos chamou de aberrações de novo! - disse uma voz feminina. Olhei para cima e notei uma garota, loira, logo acima de mim, se esticando sobre o corrimão da escada. Ela saltou as escadas e chegou ao chão num único pé, de um modo tão suave que fiquei admirado. Um sorriso se desenhou em seu rosto e não soube bem como deveria reagir a tudo aquilo.
? Oi!? disse ela.