Aquele dia fatídico

Zeref ainda se lembrava da primeira vez que usou sua magia. As chamas ardentes dançando em volta e o garoto sem reação olhando para elas. Naquela hora, ele ficou sem reação, mas seu irmão ficou admirado com a cena que via.

Na verdade, seu irmão parecia se admirar com muitas coisas. Zeref sabia que seu irmão o via como um herói. Mas teria alguém algum motivo para se zangar com o Dragneel mais novo? Natsu estava sempre sorrindo, como se nunca nada pudesse dar errado em sua vida.

Mesmo depois de perderem seus pais, ele continuou sorrindo. E aquilo passou a ser a força de que Zeref precisava para seguir em frente.

Ninguém parecia se importar muito com os garotos sem pais. Desde que eles não perturbassem a ordem natural do mundo, estava tudo bem.

Mas só porque ninguém os via como tal, não queria dizer que eles deixaram de ser crianças. Crianças que não tinham orientação, que não tinham aconselhamento. Crianças que não sabiam que brincar com fogo não era a mais brilhante das ideias.

Natsu adorava ver as chamas que seu irmão podia produzir com sua magia. Mas sem aconselhamento ou um professor, Zeref não sabia como controlar completamente sua chamas.

Nuvens de desastre se aproximavam, mas eles não perceberam.

Por ser um menino curioso, Natsu pediu a seu irmão para ver as chamas novamente. Só que eles não estavam no melhor dos lugares para isso. Garotos ingênuos. Zeref produziu uma pequena chama e alguém chamou na porta. Ele foi até lá para atender, enquanto seu irmão mais novo, que ainda não tinha mostrado sinais de magia, ficou próximo à chama, naquele cômodo cheio de coisas inflamáveis.

Estava bastante barulhento próximo à porta. Natsu decidiu ver o que estava acontecendo e porque Zeref estava demorando tanto para voltar. Ele se moveu para conseguir um ângulo de visão melhor e o recipiente com a pequena chama acabou virando. Justo em um dos materiais mais inflamáveis do quarto.

Ninguém viu as chamas. Em pouco tempo o quarto estava cheio de fumaça e Natsu ainda estava preso ali, tentando encontrar uma saída. Estava cada vez mais difícil respirar, mas Zeref logo encontrou seu irmão que havia perdido a consciência e o levou para um local livre da fumaça.

Não demorou muito para que apagassem o fogo, mas nada poderia voltar ao que era antes do acidente. Zeref não queria pensar sobre o pior desfecho possível. Ele já tinha perdido seus pais, ele não poderia perder seu irmão mais novo!

Natsu não tinha queimaduras, não tinha nenhuma marca deixada pelo fogo. Mesmo assim, ele parecia ficar cada vez mais fraco à medida que o tempo passava. Sua respiração cansada foi ficando cada vez mais fraca, até que já não era mais alta que um sussurro.

E então parou. Natsu Dragneel se foi.

Zeref sentiu como se seu mundo estivesse se partindo em um milhão de pedaços. Como ele seguiria em frente agora? Que tipo de irmão mais velho não consegue sequer proteger seu irmão mais novo? Os sentimentos negativos vieram.

A culpa. Foram as suas chamas que começaram o incêndio. O remorso. Ele chegou tarde demais para salvar seu irmão mais novo. FALHA. INÚTIL. Foi tudo culpa dele e nada no mundo poderia afirmar o contrário.

Zeref olhou para o aviso que estava segurando. Ele havia sido aceito na Academia de Magia de Mildian. No início, ele já não tinha mais vontade de ir para lá. Se ao menos ele não houvesse deixado Natsu sozinho naquela hora...

Mas talvez... Talvez magia fosse a sua resposta. Talvez ele pudesse encontrar uma maneira de reverter a morte. Trazer seu irmão de volta e eles poderiam ser felizes novamente.

E com um novo propósito, Zeref Dragneel iniciou sua nova jornada. Mas ele não sabia que o próprio Ankhseram o observava. Ele não sabia que o seu desejo traria dor e sofrimento para muitos. Ele não esperava ser amaldiçoado e acabar perdendo sua magia original.

E depois de 400 anos, Zeref parou de sentir remorso. Tudo era um preço pequeno se significasse que ele poderia ver seu irmão novamente. Seu irmão era merecedor de todo aquele sacrifício.