Cap. Único - Porque?

Era um dia como outro qualquer, cinza e sem vida. Mais uma vez estava naquele quarto, sentada naquela cama enquanto as lágrimas escavam dos meus olhos e caiam pelo meu rosto. Já não tinha sinais dele há dias, não sei se ainda pensa em mim ou se já me esqueceu. É um facto que aqueles dias de alegria não viriam mais, agora não passavam de memórias e momentos de ilusão. Não sei o que mais me dói, o facto de ter vivido uma ilusão ou me ter deixado enganar tão facilmente, afinal, aqueles cabelos pretos e os seus olhos azuis como o céu nunca deixaram de me deslumbrar. Não era apenas atração física, eu senti amor, mas agora vejo que ele nunca sentiu nada.

Sara levantou-se da cama, limpou o rosto e saiu de casa. Andou sem rumo à espera de ter alguma ideia, algo que ela pudesse fazer - Eu não pedia mais que um simples telefonema, uma mensagem a dizer que sentia saudades. Eu necessito de saber por ele, eu tenho de conversar com ele - Pensou Sara e logo dirigiu-se para a casa dele.

Estava frio e logo começou a chover, mas isso não iria impedi-la. Finalmente tinha chegado, as suas pernas tremiam e tinha medo do que poderia encontrar ali - Será que se ele souber que sou eu irá abrir a porta? Eu ainda tenho a chave da casa dele, então... - Sem mais demora colocou a chave na fechadura, rodou e a porta abriu. Ouvia-se algo no quarto do fundo da casa, mas não se percebia bem. Ela fechou a porta com cuidado para não se ouvir e silenciosamente andou até àquele quarto. A meio do caminho dava para ouvir gemidos intensos vindos do quarto e Sara já se arrependera de ter entrado ali. Aproximou-se da porta, e abriu-a um pouco para espreitar. Lá estavam, o amor da sua vida e a sua melhor amiga, enrolados, num sexo tão selvagem que lhe custava olhar. Ela colocou a mão na boca para abafar a sua respiração. Eles gritavam, gemiam e ela pedia por mais. Ficou por momentos a observar o cenário, calada e escondida por detrás da porta. A cama batia na parede e dava para ver a força que ele fazia contra ela num vai e vem constante. Encostou a porta e saiu dali a correr. - Provavelmente nem notaram, estavam bem divertidos - Dizia para sí própria.

Sara correu pelas ruas, as lágrimas caiam sem parar pelo seu rosto. Sentou-se num banco e começou a gritar. Gritou tão alto que se ouvia pela cidade fora e chorou de tal forma que iria acabar por desidratar. Passado uma hora a chuva parou e com ela as lágrimas já não caiam mais. Levantou-se e andou até casa, quando chegou fechou-se no seu quarto. Sentou-se na cama perto da janela, dobrou-se e agarrou as pernas com os braços. Ela só se lembrava daquela cena, ele em cima dela a fazer sexo como se fossem animais. - Porque fui eu acreditar em alguém assim? Que idiota eu fui! Eu já devia ter percebido, as risadinhas e a troca de números de telefone. - Levantou-se rapidamente da cama e foi até à cozinha, agarrou numa faca e pensou em se matar. Ela só queria fazer aquela memória desaparecer, fugir daquela situação e não ter de lidar com nada disto, então assim fez, com um corte rápido na garganta rapidamente foi perdendo o seu sangue e logo faleceu ali, ficando deitada sobre o seu próprio sangue, agora com o corpo frio e livre daquelas emoções.

Provavelmente apenas quando acumular imensas faltas na escola iriam dar pela sua falta, caso contrário iria permanecer ali, pois Sara não tinha família, e apenas tinha o seu namorado e a sua melhor amiga.

Um mês e meio depois, um representante por parte da direção da escola de Sara e um oficial da justiça entraram em sua casa, encontrando Sara no chão. Fez-se um enterro, mas ninguém apareceu, ela havia morrido sozinha e nunca ninguém se iria lembrar dela, pois, nunca alguma vez alguém se importou com a sua existência.