Não havia tempo suficiente para muita preparação. Ao mesmo tempo em que Gatts recolhia o que restava de suas adagas e flechas de metal espalhadas pelo local, e recarregava seu canhão para um possível e eventual disparo, os homens demônio, com suas expressões de cão estavam a caminho de algum lugar com aquelas garotas. Já era difícil perseguir os rastros daqueles seres antes que terminassem o que tinham de fazer com as pobres moças, mas partir no escuro atrás daqueles monstros sem ao menos estar com a munição pronta seria mais complicado ainda quando a hora chegasse.
No celeiro, Gatts encontrara a maior parte de seu armamento. Ajeitou-se, conferiu o canhão em seu braço esquerdo, tudo certo. Não concordava em se desviar de seus objetivos mas não havia outro modo. Talvez descobrisse alguma pista de Griffith quando encontrasse o grupo inteiro daquelas criaturas.
Puck o encarava com uma expressão de surpresa.
- O que foi inseto? - disse Gatts a ele rispidamente.
- Tem um garoto ali fora que está olhando pra você já faz um tempo... - disse Puck, um tanto contrariado com o insulto que não passara despercebido. E enquanto Puck tentava se vingar pela ofensa mordendo furiosamente e inutilmente a orelha de Gatts, este se encaminhou até a porta do celeiro e verificou que o pequeno Puck tinha razão.
Um garoto de mais ou menos dezesseis anos esperava impaciente na porta e carregava uma espada fina de médio porte na cintura. Um arco, e também uma aljava com flechas completavam seu pequeno arsenal. Gatts saiu do celeiro sem olhar para o garoto e puck o seguiu, voando bem em frente ao menino, embora ele não pudesse vê-lo.
Ao notar que o pequeno aspirante a guerreiro continuava a acompanhá-lo, Gatts se vira para este e o encara. Seu corpo, muito maior do que o do garoto, projetou uma sombra, privando o garoto da pouca luz que a lua lhes concedia.
A expressão de puro desprezo de Gatts, tal como sua assustadora aparência, teriam o mesmo efeito em qualquer outro homem, independente do tamanho ou idade deste. Embora um garoto como aquele realmente não estaria preparado para confrontar um guerreiro mercenário que ignora o medo e os inimigos normais.
- O que pensa que está fazendo pirralho? - disse por fim. E o garoto se encolheu ligeiramente ao ouvir a voz de Gatts. Mas levantou o rosto e mordeu os lábios, com o olhar mais firme que pode sustentar.
- Eu... Só... - gaguejou o garoto - Vim para ajudar... Posso ir com você! Te dar apoio...
- Não seja idiota! Fique em sua cama macia esta noite e me deixe em paz! Dispenso sua bravura por hoje.