A Decisão de Harbinger

Episódio 1

A Decisão de Harbinger

Em uma residência de dois andares, de fachada muito elegante e um jardim bem cuidado, acontecia uma festa, regada por boa música, um quarteto de cordas derramava o melhor da erudita sobre os convidados, que dançavam, banqueteavam, conversavam e transitavam por um salão de tamanho espantoso. Um lustre luxuoso se fazia imponente no alto tal como o sol ao meio dia. A luz dava um tom de mistério aos convidados mascarados... um garçom passou com uma bandeja cheia de quitutes, quando um homem alto apanhou alguns e os saboreou, a máscara lhe cobria bem os olhos, mas se notava claramente seus traços selvagens. Metido num terno escuro todo alinhado e de gravata borboleta, Harbinger resmungou:

_De todas as missões que nos foram dadas, acho que o Grande Mestre exagerou nesta...

Uma jovem garota de vestido vermelho e mascara dourada se aproximou, seu cabelo cor de rosa combinava com o vestido, ela degustava vinho em uma taça.

_Acalme-se Binger, o Grande Mestre nos pediu para descobrir quem seria o hospedeiro de Hades, ao que tudo indica, seria alguém desta família nobre, um jovem de coração puro.

_Sonia. Apesar da comida, eu gostaria de estar quebrando alguns ossos, realmente missões diplomáticas me deixam entediado. Você não suspeita de quem possa ser o hospedeiro de Hades?

_Parece que o filho desta família rica, Galen é o nome dele, um jovem puro o suficiente para ser o hospedeiro. Temos de o encontrar antes daquela mulher chamada Pandora, pelo menos foi o que nos passaram.

_Não vejo nenhum garoto, melhor olhar no jardim.

_Binger, se encontrar o garoto, não o mate.

Harbinger faz um gesto positivo e some dentre a multidão.

_Me concederia uma dança? senhorita?

Sonia se vira e se depara com um homem alto, de cabelo verde claro todo espetado, selvagem, o pouco da face que a máscara revelava, era um semblante sereno e muito pacifico.

Rapidamente os dois estavam envolvidos na valsa, Sonia sentia algo perturbador vindo daquele homem, que começou a lhe elogiar:

_De todas as damas que aqui estão, você é a que mais transmite força, personalidade e um espirito profundamente guerreiro.

_Como? Me parece ser um bom observador, se nem meu rosto está vendo por completo.

_De fato, seria difícil ver por completo o rosto de uma amazona de Atena, você me mataria ou me amaria.

Sonia fica perplexa e se solta, encara o homem e pergunta surpresa:

_Quem é você? Não me diga que é um espectro.

_Não, os espectros ainda não despertaram e pode dizer ao Grande Mestre para não se preocupar com isto, nosso mestre ainda não despertou no corpo do jovem mais puro desta época, então, estou apenas vindo lhes dar um aviso. Não o encontrarão aqui.

_Maldito, você é...

_Imagino que não tenha trazido sua armadura, não é mesmo? Então vamos evitar um combate desnecessário, por enquanto.

O homem se retira.

No jardim, Harbinger observava alguns jovens casais aqui e ali, mas nada de interessante, já havia contornado toda mansão e nenhum jovem isolado ou aparentemente puro estava em vista, foi quando Sonia se aproximou e disse preocupada:

_Harbinger, vamos voltar ao santuário! Um dos deuses gêmeos está aqui!

_O que? Mas que ótima oportunidade para uma luta!

_Harbinger, não venceríamos, estamos sem nossas armaduras e a casa está cheia de pessoas inocentes, vamos voltar, ele disse que o hospedeiro não está aqui!

_E se estiver blefando? Só pra nos afastar.

De repente, uma rápida onda de energia corta o espaço e invade a mente de Harbinger e Sonia, que de imediato sabem do que se trata. Sem despedidas, ambos se retiram da luxuosa casa e ganham a pequena cidade italiana na qual estavam percorrendo ruas estreitas e solitárias... alguns quarteirões e encontraram alguém, com uma urna acomodada próximo a parede.

_Siam de Sagita! Foi você que nos chamou elevando seu cosmo? – indagou Sonia.

_Sim, senhorita Sonia, mestre Harbinger, eu estive conversando em tabernas e descobri que esta festa é uma comemoração, a família residente trabalha com plantas modificadas geneticamente. Hoje à noite eles estariam apresentando novas descobertas para a alta sociedade. O filho de tal respeitada família, está vindo da Alemanha, onde ganhou um prêmio por seus estudos com plantas.

_Então devemos voltar! – diz Harbinger alarmado.

_Não, espere, agora faz sentido, se o garoto está vindo de outro país para exibir uma premiação, provavelmente os espiões de Hades podem tê-lo interceptado! Talvez já tenham se apossado dele! – diz Sonia.

Siam passa a mão pelos cabelos loiros e diz confuso:

_Viemos aqui em vão pelo visto, ou não, não sei...

_Vamos para a Alemanha! – diz Harbinger.

_Temos de comunicar o Grande Mestre, não podemos agir sem ele saber. – diz Sonia.

_Eu irei até o santuário, vocês se apressem, pelo que sei, Almaaz de Auriga está na fronteira aguardando instruções, vou pedir para que ele se apresse e lhes de reforço!

Sonia e Harbinger trocaram um olhar e um gesto positivo com a cabeça, então desejaram sorte para Siam e se separaram ali, sem despedidas ou formalidades. O cavaleiro de prata tomou sua urna e saiu caminhando cuidadosamente pelas ruas isoladas...

No outro dia...

_Eles agiram tão bruscamente? – indagou o Grande Mestre severamente.

_Sim. – respondeu Siam – Acredito que o desejo de ambos em dar um final nesta guerra santa o quanto antes tenha os motivado a fazer isso.

_Tolos! Se Hades despertar, a barreira os tornarão fracos e incapazes de lutar, serão alvos fáceis. Harbinger deve ter sido movido pelo instinto de luta, de querer derramamento de sangue... agora não entendo os propósitos de Sonia.

_Se me permite Grande Mestre... Ela é a primeira amazona de ouro na história dos cavaleiros, ela deve estar se sentindo muito pressionada, não concorda?

_Primeira? Não meu jovem Siam, na verdade, Sonia não tinha a intenção de ser amazona, tão pouco de prata como de ouro. Ela é sobrinha do cavaleiro de peixes, em uma ocasião passada seu cosmo queimou tão intensamente... que ficamos surpresos quando a armadura escolheu ela como usuária. Desde então ela vem treinando e se aperfeiçoando. Mas ela é a segunda amazona de ouro.

_E quem seria a primeira? – pergunta Siam curioso.

_Ninguém jamais viu ela, nenhum dos cavaleiros sabe quem é ela e tão pouco sabem seu nome...

O Grande Mestre se ergue, seu longo cabelo branco reluz sobre a luz do sol.

_Venha agora, hoje será o teste final de dois aspirantes a cavaleiros, um chamado Kouga, que vivia com a senhorita Atena em uma ilha quando ambos eram crianças e o outro se chama Souma, um pequeno prodígio que Micenas encontrou em passagem pelo México quando foi investigar as movimentações em Teotihuacán.

Harbinger estava lavando o rosto em um rio, Sonia estava de braços cruzados, observando as montanhas, a grande distância que ainda tinham para percorrer até chegar em seu objetivo, antes de que o senhor do submundo viesse a despertar. Embora fosse um mistério o que eles iriam encontrar na Alemanha. Caso chegassem até lá, o que parecia estar predestinado a não acontecer, ruídos de uma carruagem surgiram do outro lado do bosque e a dupla resolve averiguar, cuidadosamente, poderiam ser viajantes.

Mas era uma imponente e assustadora carruagem, com arabescos nas laterais, negros e com relevo, reluziam de forma lúgubre. Dois cavalos imponentes puxavam o transporte sobre o estalo das rédeas de um condutor mal encarado.

_Acho que encontramos. – sussurrou Harbinger – Vamos atacar e matar todos imediatamente!

_Vamos segui-los cautelosamente, a julgar pela carruagem, é possível que já seja tarde demais...

Sofia, a deusa Atena estava no coliseu, observando os preparativos que iriam coroar os dois novos cavaleiros de bronze, seus olhos estavam admirados com todo o empenho de todos os cavaleiros, mas seu coração estava em outro lugar... mais distante com outra pessoa... Kouga estava no meio da multidão, aguardando o momento de sua luta, tal como Souma, que se sentia de certa forma, confiante, pois havia sido treinado por um cavaleiro de ouro, o mais leal para com Atena. E mesmo sem sua armadura, Micenas transmitia imponência e respeito, mesmo trajando seu típico cachecol vermelho e a velha calça surrada. Com os olhos muito serenos, o cavaleiro de estava ao lado de Atena no alto do coliseu, onde logo chegaram o Grande Mestre e Siam de Sagita.

_Aspirantes! Cavaleiros e soldados! Hoje, testemunharemos quem irá conquistar a armadura de pegasus e a armadura de leão menor! Que os combatentes entrem em campo, primeiro, Kouga contra Ardoem!

Kouga, o jovem que viveu alguns anos com Sofia em uma ilha, sobre a vigilância e o treinamento de uma amazona, tinha agora a oportunidade de mostrar tudo o que aprendeu, não somente pelos ensinamentos daquela amazona, mas também do cavaleiro de libra, que o ensinou algumas coisas. Os olhos de Kouga se encontraram com o de Sofia e ele pensou “Sofia, eu irei me tornar um cavaleiro e vou te proteger! Desde o dia que me tornei seu jardineiro, ainda quando vivíamos com Galen, nunca abandonei este desejo, darei minha vida por você!”

_Comecem! – bradou o Grande Mestre.

Ardoem era um sujeito bem alto, beirando os dois metros, musculoso e rude como um morador de rua, seus golpes vieram sem qualquer cerimonia, os socos eram velozes e miravam o rosto ou o peito, fazendo com que Kouga se mantivesse na defensiva. Souma analisava a luta e resmungou:

_Ardoem tem um estilo muito direto...

Muitos pensavam que aquela sequencia se manteria, mas Ardoem inesperadamente passou uma violenta rasteira em Kouga e ele desabou pela direita, levando um soco no rosto que o fez se chocar violentamente contra o chão. Ardoem saltou e se posicionou rapidamente no alto, vindo em alta velocidade com o joelho esquerdo, visando a coluna de Kouga. Seria um ataque fatal, mas Kouga reagiu de imediato e rolou para a esquerda no ultimo momento, quando Ardoem se chocou contra o chão, e neste momento o jovem avançou furiosamente com socos velozes, fazendo arder toda sua vontade de proteger Sofia. Os golpes foram certeiros e muito pouco pra se defender fez Ardoem, que acabou sendo arremessado para perto da arquibancada, passos vacilantes... quando sangue escorreu pelos lábios de Ardoem, ele se enfureceu e avançou numa velocidade assombrosa e com um soco arremessou Kouga contra um pilar, que desabou em ruinas.

A luta estava determinada, embora o Grande Mestre estivesse esperando algo mais amistoso... quando o veredito estava para ser dado, os destroços da ruina foram arremessados ao céu, em meio a chamas azuis reluzentes, Kouga estava emanando seu cosmo com extrema potência, fazendo um movimento tão veloz, que poucos captaram, Ardoem viu seu adversário atrás de si o golpeando tão precisamente que ele caiu inconsciente.

O coliseu vibrou, Sofia uniu as mãos aliviada e sorriu. Estava decidido quem então seria o cavaleiro de pegasus da atualidade, Kouga então deveria esperar o combate de Souma, para subirem juntos até a presença de Atena e o Grande Mestre, para receberem suas armaduras.

Na entrada da mansão, o jovem Galen estava, olhando friamente para seu amado lar, com seus olhos negros, cabelo liso muito bem cuidado e alinhado, na altura dos ombros, trajando uma vestimenta social muito elegante. O rapaz poderia sorrir para sua mãe e seu pai, que vieram o receber, mesmo estranhando a carruagem inadequada na entrada da residência, mais do que isto, estranharam a alta e imponente mulher de vestido negro ao lado do rapaz, sorrindo de forma misteriosa e até sinistra... de um certo ponto, num telhado, Harbinger e Sonia observavam tudo, perplexos.

_Ela já se apossou dele. – argumentou Sonia em meio tom.

_Agora é a hora de pôr um fim nisto tudo, eu não me importo de ir pro inferno quando morrer, vou matar todos eles, não haverá guerra santa, vou sacrificar uma minoria pelo bem do planeta! – disse Harbinger decidido.