E ai minna! Como vocês estão?
Quero dizer pra vocês que esse capítulo ficou um pouco mais curto do que eu planejava e que eu tenho uma razão pra tanta demora. Então POR FAVOR GOMENNASAI! Bom, o motivo para ambas as coisas é: amanhã eu embarco às duas da tarde num avião pra Curitiba para visitar minha família e estive MUTÍSSIMO ansiosa nos últimos dias, tanto que sempre que pegava para escrever, acabava não conseguindo me soltar totalmente. E JR é uma escrita muito importante pra mim, eu preciso estar bem para escrevê-la porque a história tem uma carga emocional minha muito grande. Então me desculpem por demorar. E também o motivo de o capítulo ter ficado um pouquinho menor do que eu havia planejado é porque eu tive um dia super corrido. E era para eu ter escrito o pedacinho que faltava mais cedo, mas não deu tempo e ai eu comecei agorinha, o capítulo está saindo do forno! kkkkkkk então por isso encerrei mais cedo, porque minhas costinhas pede arrego! hahahaha Queria avisar aqui rapidinho que as trilhas sonoras irão voltar aos poucos e que as músicas nessa fanfic são MUITO importantes. Todas as que tocarem têm ou um envolvimento direto na trama ou representarão a cena, como em filmes, por exemplo. Enfim! Desejem-me boa viagem e é isso ai, boa leitura e até lá embaixo! *-*
Hinata
Estar em uma aula de educação física era tudo o que eu menos queria naquele momento. Ao vestir o uniforme de primavera para o evento, senti-me instantaneamente exposta e com saudade do inverno. Além de que, é claro, meu rosto estava uma droga. Não sabia o que mais amaldiçoar, se a atitude de meu tutor ou minha pele excessivamente branca. No fim das contas, tudo contribuía para uma série de olhares acompanhados de burburinhos costumeiros e irritantes.
Suspirei. Hoje era dia de jogar basquete e eu não sabia nem andar direito, que dirá quicar uma bola e correr. O problema é que não participar, infelizmente, não era uma opção. A não ser que se esteja ferido ou algo do tipo, mas eu já estava chamando atenção demais para forjar alguma coisa. Ao invés disso, apenas aceitei a problemática e andei até a quadra, onde o Gai-sensei determinava duas meninas para escolher os times.
Desejava que pudéssemos jogar com os garotos. Mas as meninas não compartilhavam da minha ideia, provavelmente. O fato era que ter o Uzumaki por perto sempre afastava as coisas ruins. Tudo bem, eu dependia demais dele, mas o que podia fazer? A verdade era nua e crua: a vida que eu levava fora dada por ele. Vida essa que eu agradecia com fervor, ou então não teria cumprido a promessa feita à Akemi em seu leito de morte.
“Eu prometo viver”.
Palavras aparentemente inofensivas, mas com um poder imenso de te enlouquecer, quando na verdade tudo o que se quer é não estar nesta dimensão. Mas eu estava ali, literalmente mais viva do que nunca, prestes a jogar basquete.
Aulas de educação física sempre eram horríveis para mim. Costumava dar um jeito de burlar todas as que conseguia, mas desta vez, eu estava finalmente gostando de estudar. Ir à escola significava vê-lo, afinal.
Dei uma olhadela de canto para o lado do campus onde os garotos se alongavam para jogar uma partida de beisebol. Naruto estava testando um taco, arqueando-se perfeitamente, como se soubesse tudo sobre o esporte. Invejava essas pessoas que conseguiam se sobressair em tudo o que faziam. Era como se força nenhuma no mundo pudesse as colocar para baixo. Ele sorriu para Sasuke quando o amigo lhe disse algo e eles se cumprimentaram, enquanto vestiam seus bonés vermelhos.
Nesse meio tempo, mesmo estando parada, consegui ser atingida na cabeça por uma bola de basquete. Atordoada, cambaleei alguns passos, procurando de onde a maldita bola teria vindo. Uma garota loira, eu lembrava muito bem quem era, Shion, me olhava com um ar vitorioso e risonho. Suspirei, com raiva por ter esse dom de ser perseguida.
Mas, dessa vez, senti alguém bufar atrás de mim. Era Sakura, ela tinha os cabelos róseos presos em um rabo-de-cavalo pequeno, segurava a bola de basquete em mãos e tinha um sorriso presunçoso. Ela me lançou um olhar e balançou a cabeça.
- Ei, Shion! Perdeu sua bola! – gritou, lançando o objeto com força na direção da loira e a atingindo em cheio na testa, fazendo-a cair no chão. Imediatamente pude ver seu rosto avermelhar e Sakura soltar um risinho ao meu lado, passando um braço ao redor de meus ombros.
- Sakura-chan! – exclamei, surpresa.
- Não se preocupe com ela, é só uma garota idiota. E amarre esse cabelo enorme, levante o rosto. O jogo vai começar! – disse baixo, mas com o tom de voz caloroso e confiante. Sorri, tímida, aceitando o elástico que ela me dava.
Olhei na direção das meninas, que acenavam, chamando-me e se aquecendo. Aquilo me encorajava, o apoio que recebia e a forma como aquele grupo se comportava como uma família incrivelmente hospitaleira e protetora. Fazia valer a pena estar ali, ter aceitado a tutela de Hiashi e passado por tantos dias vazios na mansão. Então sorri, prendendo o cabelo em um rabo-de-cavalo alto, deixando apenas a franja solta e respirei fundo. Não havia nada a temer, certo?
Uma última olhadela para o Uzumaki respondeu minha pergunta. Ele rebatia com agilidade uma bola, em seguida se lançara numa corrida, feito um leão elegante, chegando ao ponto desejado, deslizando no chão e marcando o ponto. O loiro se le9iuvantou, animado, tirando um pouco da areia da camiseta e ajeitando o boné. De repente, ele notou meu olhar e sorriu amplamente, acenando. Fez um gesto com a mão indicando meus cabelos presos e depois fazendo um sinal positivo, elogiou-me e brincou com o fato. Seus olhos azuis pareciam brilhar mesmo distantes. Eu ri, balançando a cabeça e me virando de volta para meu time.
Não, eu não tinha nada a temer.
***
No final daquele dia, estávamos na última aula quando Tsunade entrou. A diretora parecia ansiosa e eu me lembrara do motivo que a levava ali. As inscrições começariam a ser confirmadas e os alunos já podiam entregar as autorizações. Mas eu não possuía nenhuma, tampouco a reles tentativa de um sim. Ao invés de pedir para o aluno da última carteira entregar a papelada, a mulher decidiu passar de carteira em carteira. A viagem parecia realmente importante para ela, de uma proporção além da normal. Eu só não sabia se havia algum motivo de urgente ou se a Convenção, de fato, seria um evento essencial para nos guiar em boas escolhas.
Vi Naruto entregar sua autorização, sob o olhar já preparado de Tsunade, mesmo que ele ainda não tivesse feito nenhuma gracinha e depois os olhos cor de topázio pousaram sobre mim, em expectativa. Encolhi os ombros.
- Não recebi autorização, Tsunade-sama. – murmurei. Meu amigo se virou, olhando-me com tristeza nos olhos azuis. A diretora tocou meus cabelos, direcionando os orbes tomados por um sentimento solidário, onde eu jurei ter visto certa súplica também.
- Sei que conseguirá. – disse, certa do que dizia, mas ao mesmo tempo desejosa de que isso se concretizasse. Abaixei os olhos, constrangida. Lembrava-me da conversa tensa que havíamos tido em sua sala e isso me deixava nervosa. Naruto tinha dito que tentaria desencaná-la um pouco do assunto, mas ainda não tinha lhe perguntado a respeito. Apesar de não me sentir desconfortável perto da loira, nossa conversa me deixara extremamente confusa. Assim que a senti se distanciar, deixei o ar fluir pelos pulmões e relaxei um pouco. Mesmo que minha vida estivesse entrando um pouco nos eixos, ainda me via emaranhada em teias grossas. Numa bagunça difícil de arrumar e entre códigos que eu desconhecia.
- Sabe o que vai fazer? – Naruto cochichou, inclinado sobre o protetor contra terremotos em sua cadeira. Neguei com a cabeça.
- Não, Hiashi é difícil de contornar. – respondi, suspirando. – Acho que você vai ter que tirar muitas fotos para me mostrar quando voltar, porque duvido que eu tenha meu celular tão cedo.
Ele fez uma careta.
- Mas eu não quero ir sem você. Temos que dar um jeito. – respondeu. Seu cenho franzido indicava o quanto aquilo o incomodava e eu sabia o motivo. Compartilhava dele, o medo de que Hiashi se descontrolasse outra vez ou que a distância de Naruto me deixasse sem saída. Mal podia imaginar como seria não ter o mínimo de contato por dias, totalmente sozinha de novo, sem nem poder sair e ousar bater à porta de sua casa e simplesmente pedir por um momento perto de seus pais, só para sentir que ele não estava do outro lado do mundo. Suspirei, a solidão já parecia tão concreta em minha existência e agora era do que eu tinha mais medo.
- Não quero te deixar sozinha. – disse o loiro, quase ecoando meus pensamentos. Levantei os olhos, surpresa pela sintonia. Ele sorriu com o canto dos lábios e inclinou a cabeça de lado. Parecia, assim como sempre, saber quando a escuridão ousava se alastrar dentro de mim.
- Eu não quero ficar sozinha. – admiti baixinho. O garoto assentiu, conhecia meu medo e o entendia, não somente como uma aversão comum e humana, mas como parte integral do que eu havia sido um dia e que desejava não mais ser.
- Vamos encontrar um jeito de convencê-lo. – prometeu, segurando minha mão e a apertando, antes de soltá-la. Assenti, tentando me convencer daquilo também. Nós fomos liberados para ir embora logo em seguida e isso agora me deixava triste.
Nos levantamos e começamos a caminhar. O céu lá fora ameaçava uma chuva, mas nenhuma gota caía. Era como o tempo nebuloso que se instalava dentro de mim. Ainda que em meu interior, algumas faíscas dos raios solares teimosos brilhavam um pouco, tentando vencer a névoa e cada gota que viesse para entristecer a paisagem, não para refresca-la.
Andei ao seu lado em silêncio, mas de repente fui puxada para um corredor vazio, onde ficavam as salas dos produtos de limpeza. Olhei interrogativamente para o loiro, mas ele apenas sorriu, coçando a nuca.
- Acho melhor nos despedirmos aqui, para não deixar que sua irmãzinha veja de novo. – respondeu. Arqueei as sobrancelhas, olhando na direção da saída, onde estávamos antes. Era bem provável que ela visse mesmo, mas esconder dela seria impossível. Talvez a curto prazo, mas a longo as chances eram nulas. Por mais que Mayumi não pudesse me ver prolongando o adeus com Naruto todos os dias, ela poderia pedir para suas amigas vigiarem ou qualquer outro que se disponibilizasse.
- Por enquanto. – disse. Ele assentiu, encostando-se à parede.
- É, mas até que a gente viaje, é melhor manter algumas precauções. – disse o loiro, olhando-me com os olhos brincalhões. Eu entendi o recado contido em sua afirmação de que a viagem não só aconteceria, como embarcaríamos nela juntos. Balancei a cabeça, sorrindo.
- Como consegue ser tão positivo? – perguntei, zombando um pouco. Uma coisa que aprendera com Naruto era fazer humor do que me incomodava. Uma maneira bem “Narutesca” de não deixar que os sentimentos ruins se sobressaiam ao sorriso. Ele deu de ombros.
- Se eu não for, quem vai ser por mim? – disse, lançando uma piscadela.
Eu apenas assenti. Fazia o sentido, assim como muitas coisas nele ultimamente. Fazia o sentido que nossa amizade causasse tanta comoção, ainda que eu fosse tão tímida e invisível ao lado do caloroso loiro de olhos azuis. E por falar em suas características, era esse um dos motivos que fazia esse sentido ser validado. Naruto era lindo.
Lindo, de um jeito que talvez não existisse no dicionário. Nada que pudesse realmente justifica-lo. Do mesmo modo como me perdia em sentimentos ao pensar na magnitude de suas ações em minha vida, não sabia como definir o seu tipo de beleza. Era tão estranho admitir, mas ao mesmo tempo tão inevitável. Eu o admirava como um menininho admira seu super-herói, convicta de que todos os seus adjetivos se encaixavam como o mais perfeito quebra-cabeças. Não faltava nada para completa-lo e eu sabia agora que não existia ninguém capaz de substituí-lo, assim como sabia que Akemi nunca seria.
E isso era incrível. Mesmo com o tempo curto desde o desastroso dia em que nos conhecemos, eu sentia como se minha única família de verdade que restara se resumia ali, naquele garoto alto e sorridente.
- Hinata? Você está tão quietinha... – ele murmurou. Olhei em seus olhos claros, enxergando-me neles como uma miniatura à sua frente. Meu coração tomou um ritmo descompassado e meus braços arrepiaram, tão grande fora a sensação eletrizante inexplicável que passou por mim. Acho que ele sentira alguma coisa também, pois seus olhos pareceram se tornar um espelho dos meus.
E foi então que enxerguei atrás de Naruto algo que já havia tempo que sumira da minha rotina. Eu tinha certeza, via com clareza os longos cabelos púrpuros como os meus, a aparência jovial e amável e o sorriso maternal, mas ao mesmo tempo infantil. Arqueei as sobrancelhas, surpresa por estar vendo-a como se estivesse de fato ali, nos observando. Pisquei uma vez, emocionada pela imagem de Akemi ter voltado. Já havia tanto desde que vira os “seres especiais” que quase vinha me esquecendo desse estranho “dom”.
Eu acompanhei seu sorriso e os olhos pousados sobre as costas de Naruto e depois a imagem se dissolveu, deixando-me enxergar no fim do corredor o corpo de Mayumi andando para os portões. Meu coração se apertou, feliz. Era como se, por um momento, mamãe estivesse cuidando de mim. Seria possível?
- Aconteceu de novo? – Naruto murmurou, olhando-me com cautela. Expirei, tonta por estar me sentindo tão emotiva.
- H-Hai... – respondi baixo. Eu sabia que deveria correr ao alcanço de Mayumi se quisesse evitar conflitos, então me afastei do garoto. – Tenho que ir, ela... – tentei dizer, caminhando para longe dele. Estava tão atordoada por simplesmente tê-la visto!
- Ei! – ele chamou, confuso. Parei no meio do corredor e de repente me lembrei de que havia algo que eu deveria fazer. Virei-me, deixando o sentimento se espalhar pelo meu âmago. Eu estava...feliz, sim, eu estava. O sorriso nasceu em meu rosto, forte e saudável como se não quisesse deixa-lo.
Em passos apressados, cheguei até Naruto novamente e o abracei, deitando minha cabeça em seu peito. Senti-a quase uma criança diante de sua estatura, mas ao menos podia ouvir o som de seus batimentos cardíacos quando nos tocávamos daquele jeito. Ele demorou um pouco para entender, mas me abraçou de volta e acho que aquilo podia permanecer assim por horas e eu não me cansaria. Queria compartilhar com ele o sentimento, queria que ele também pudesse ter visto. Teria gostado de saber que Akemi fica sorridente quando olha em sua direção e talvez tivesse feito algum comentário sobre como somos parecidas.
Apertei meus braços ao seu redor, os dedos enroscando-se em sua camisa social, parte do uniforme formal que usávamos.
- Olha só, temos uma baixinha forte aqui! – ele zombou, afagando meu cabelo. Eu sorri, querendo lhe dar um tapa por me chamar de baixinha tantas vezes. Não saberia lhe explicar como me sentia por tê-la visto outra vez, feliz, como se estivesse de fato realizada por estarmos vivos e juntos naquele pequeno corredor de escola. Mas talvez um abraço lhe dissesse mais do que minhas palavras e eu queria acreditar nisso, porque eu sabia que era graças à ele que o sorriso de Akemi se fazia presente, assim como eu.
E pude pensar em uma coisa importante enquanto nos mantínhamos grudados um ao outro: as canções de minha mãe sempre foram as melodias que mais me agradavam, mas agora a única música ritmada que eu nunca mais desejaria parar de ouvir era o som produzido pelo coração do garoto grandalhão que havia curado o meu.
- Naruto? – chamei.
- Sim?
Corei antes de lhe fazer o pedido, mas ele merecia que eu o fizesse.
- Você poderia me levantar, como fez aquele dia na sua casa? – pedi. Ele não questionou, nem riu, apenas abaixou-se para enlaçar os braços ao redor de minha cintura e depois se endireitou, trazendo-me para a sua altura e deixando meus pés suspensos. Eu me apressei em fazer logo o que queria, envergonhada. Dei-lhe um beijo em sua testa e depois encostei a minha na sua, como fizemos anteriormente numa mesma situação. Eu havia prometido lhe fazer aquele gesto mais vezes, porque conhecia o carinho representado ali. O toque de nossas testas estava se tornando quase como uma marca registrada de nossa amizade, como toques de mãos em grupos nos filmes ou o velho tapinha nas costas entre amigos. Para nós era apenas aquele singelo encostar de cabeça, como uma junção dos pensamentos. Olhos nos olhos e sorriso no sorriso. Especial e diferente como tudo o que Naruto já fizera por mim.
- A gente se vê em breve. – murmurei.
Desci de seus braços e acenei, correndo para encontrar Mayumi e deixando para trás um garoto surpreso, mas que eu esperava que estivesse, assim como Akemi, feliz. Pois eles eram o motivo e real significado da felicidade para mim.
***
Cheguei em casa com o coração mais leve e menos enraivecido pelo ocorrido com Hiashi. De algum modo, voltar a ter essas visões não me assustava mais como antes e isso significava uma grande mudança dentro de mim. Era incrível como as coisas estavam diferentes desde que conhecera o loiro de olhos azuis, como me sentia mais forte, mais livre das amarras e mais confiante sobre mim mesma. Não era como se acordasse disposta a enfrentar um novo nascer do sol, mas com certeza estava sendo muito melhor do que eu havia planejado.
O motorista havia nos buscado outra vez e Mayumi parecia estranhamente quieta. Ela entrou antes de mim e subiu sem nem mesmo cumprimentar sua mãe e de repente me passou pela cabeça se o fato de ela ter me dedurado e causado essa confusão tenha sido repreendido. O que era no mínimo esquisito, já que Aiko não estava do meu lado. Mas analisando melhor, todo o clima dentro da mansão parecia diferente.
Fechei a porta atrás de mim, segurando meu casaco na mão. O calor leve da primavera estava dando as caras naquele fim de tarde e eu já não via mais a necessidade de me esquentar, nem de me esconder. A agressão de Hiashi não era segredo para ninguém ali, então nem fazia sentido que eu o fizesse.
Subi para meu quarto, tentando ignorar o olhar de Aiko por cima da revista que lia. Precisava me apressar em encontrar uma maneira de ter a permissão para viajar, mas não tinha nada em mente. Suspirei ao finalmente largar a mochila no chão e correr para um banho morno. Os dias de aula sempre eram longos, ainda mais no último ano, em que a pressão para entrar no mundo universitário assolava todos os alunos. Não que fosse o meu caso, já que eu nem havia imaginado que chegaria aos 18 anos. O futuro para mim ainda era como uma folha em branco e não tinha ideia nenhuma do que fazer com ele, exceto pelo fato de que só conseguia imaginar a presença de Naruto como essencial para que esse futuro realmente exista. Ou que faça sentido, ao menos.
Mas era também por isso que a viagem relâmpago de Tsunade vinha me incomodando. Quando o ano chegar ao fim, os sonhos de todos começarão a se tornar realidade. Muitos trocarão os trabalhos pequenos por outros fixos, outros herdarão empresas, mas com toda certeza no mínimo 90% entrarão em uma Universidade. Naruto seguiria sua vida, conheceria pessoas novas, talvez se apaixonasse e acabasse ficando ocupado demais para salvar o dia de uma garota perdida.
Eu não queria ficar para trás, apesar de já estar muito atrasada. Mas também não tinha o direito de atrasar ninguém comigo, muito menos Naruto, a quem eu devo a própria vida. Perder a chance de viajar com a turma não somente acarretaria em dias horríveis e muitos trabalhos escolares, mas também em experiências importantes a serem perdidas e a oportunidade de ser tutelada em um caminho de verdade, em uma escolha, algum lugar para eu seguir depois que terminar o colégio.
Agora que a vida estava voltando a ter cores, essas coisas começavam a se tornarem reais também. Ausências que antes eu não notava, mas que não me deixam mais dormir em paz. Eu já não sou mais uma garotinha e as responsabilidades, querendo ou não, bateriam em minha porta algum dia.
Soltei um suspiro pesado. Eu só desejava não estar tão perdida quando esse dia chegasse.
Me assustei com a presença de Mayumi quando voltei ao quarto. Ela estava sentada em minha cama, olhando para os próprios pés. Enquanto passava a toalha nos cabelos molhados, andei devagar, temendo o que ela estaria planejando ali. A garota ergueu a cabeça quando escutou meus passos e eu apenas a encarei de volta. Ela pigarreou baixinho, parecia incomodada em estar ali também e eu logo percebi que o motivo não era ruim. Se ela estivesse feliz com aquilo, sua expressão não seria tão irritadiça. Resolvi tomar a iniciativa e larguei a toalha na cama, sentando-me ao seu lado.
- Oi. – disse.
- E ai. – ela respondeu de volta, um pouco rouca.
- O que foi, Mayumi? – perguntei, indo direto ao ponto. Mantive o tom de voz desinteressado, mas não rude. Não queria brigar com ela, nem causar mais conflitos. Estar naquela casa já era pesado o bastante.
A mais nova suspirou, mexendo nos babados do short cor-de-rosa de seu pijama.
- Sei que ele te bateu. – cochichou. Encarei seu rosto, confusa. – Eu... Eu sei que tenho um pouco de culpa nisso.
- Você sabe? – repeti, estranhando. Mayumi ergueu os olhos castanhos para mim.
- Você deveria ser menos ingrata, Hyuuga. O jeito como ele olha pra você... Otoosan nunca olhou assim para mim. E apesar de eu detestar esse fato, mesmo que você não precise da gente, eu sei que ele sofreria se você partisse.
Sustentei seu olhar, surpresa por suas palavras. Aonde ela queria chegar com aquele discurso?
- O que está querendo dizer? – murmurei. Mayumi se levantou, fungando. Seus olhos estavam enchendo de água, como se dizer aquilo doesse.
- Estava tudo bem até você aparecer. Mas desde então as coisas mudaram, otoosan não é mais o mesmo. Eu vejo que tem alguma coisa incomodando sua consciência e eu tenho certeza de que o motivo é você. Eu não sei quem você é na vida dele, mas Hiashi é o meu pai, entendeu? Você pode não se importar, mas eu me importo. Então em vez de transformar essa casa num inferno, por que você não tentar fazer as coisas direito e para de afastar a gente? – ela acusou, os olhos castanhos pareciam em chamas. Abri a boca, estupefata pelo rumo da conversa. Não era como se Mayumi tivesse apenas ciúme, no fim das contas? Então por que ela parecia estar querendo me dizer algo?
- Mayumi... – comecei, sem saber direito o que dizer.
- Você não entende? – ela perguntou de repente, assumindo uma expressão raivosa. A garota apontou o dedo indicador para mim e deu um passo à frente. – Já que está nessa casa, seja a maldita filha dele. Só... Faça o que ele quer, faça o que ele precisa. Porque eu quero a minha família de volta. Então fique longe deles, Hinata! Fique longe dos Uzumaki! – ela quase gritou no fim, chorosa. Arregalei os olhos, absorvendo as palavras.
- Você está me culpando por algo que eu não fiz. – sussurrei, engolindo o nó que se formava em minha garganta. A garota soltou um riso sarcástico.
- Não se faça de sonsa. O que é? Está apaixonada por ele, não está?
- O quê? – perguntei de imediato, surpresa. A constatação de minha meia-irmã fez algo em meu estômago se revirar. Havia um certo ódio em suas palavras, como se isso fosse repugnante aos olhos dela. Eu só não entendi o porquê daquilo tudo. Por que Mayumi pensava que eu estava apaixonada? Por que ela odiava os Uzumaki? Teria ela um ódio generalizado ou apenas ódio por não poder estar perto de Naruto, como as outras garotas?
Mayumi balançou a cabeça, agitada como nunca havia visto.
- Esqueça. Fique longe de Naruto, Hinata, e cumpra o seu papel. Eu não sei o que otoosan quer com essa brincadeira de casinha, mas acho bom você andar na linha, porque eu não estou disposta a ver nossa vida desmoronar por uma desiquilibrada igual a você. – murmurou, ríspida. Em seguida, se retirou a passos duros, deixando-me com o coração martelando em meus ouvidos.
Meu rosto esquentou, meu corpo se arrepiou e um calafrio passou por mim. Ouvi passos voltando na direção de meu quarto e de repente Mayumi irrompeu outra vez, apontando o dedo diretamente para minha face.
- E faça a droga do favor de descer para o jantar ao menos uma vez na vida. – sibilou, fugindo como um cão raivoso logo em seguida. Expirei o ar de meus pulmões, afundando o rosto em minhas mãos.
Minha cabeça girava. As palavras de Mayumi haviam me acertado como flechas envenenadas. Não somente por terem me atirado um peso enorme, mas também porque me despertaram dúvidas que até então não haviam se enraizado. Ela tinha razão, aquilo parecia uma brincadeira de casinha. Não era como se eu tivesse desembarcado das férias de verão para passar um tempo com minha segunda família. E disso eu já sabia, eu era como uma intrusa por ali. Mas não havia levado minhas dúvidas por um caminho tão tortuoso. Preferia que Hiashi apenas tivesse tentado salvar a única coisa que restara de sua primeira mulher. Mesmo sob a mentira da traição, eu esperava que ele entendesse que a culpa não era minha.
Mas agora...
Olhei ao meu redor, vendo um quarto que não era meu, uma casa que não era minha e senti-me encurralada entre as paredes. Era como estar cega, mas ter como reverter a situação, embora sem saber como. A verdade deveria estar tão escancarada, mas o que eu entendia de tudo isso? Estivera por tanto tempo petrificada em meu próprio limbo espiritual que nem havia pensado em motivos reais para estar ali.
Olhei para minhas mãos, assustada. A sensação varria a poeira dentro de mim, forçava as engrenagens a voltarem a funcionar, pressionava-me para encontrar respostas. As palavras de Mayumi quase denunciavam que a garota tinha as peças de um quebra-cabeças, mas desconhecia as sequências e conjuntos.
E de repente, em meio a tantas perguntas, uma dúvida soou latente em minha consciência, abrindo meus olhos de um jeito novo:
Havia um significado em ser um Hyuuga. Havia uma tradição em ser um Uzumaki. Mas o que havia em ser um Sasaki?
***
Desci os degraus da escada querendo subir de volta. Apesar de estar nervosa depois doo discurso de Mayumi, sabia que precisava fazer alguma coisa logo. Havia um milhão de perguntas em minha mente, mas um sinal de alerta piscava fortemente, desviando a atenção de minha inquietação acerca das dúvidas: minha amizade estava ameaçada. Tudo o que construíra delicadamente até agora estava sob os olhos apurados de Hiashi e sua filha mais nova, o que, uma vez que eu não tenha para onde correr, pode realmente me acarretar problemas sérios. Ou para outras pessoas envolvidas.
Não sabia dizer ao certo o que me incomodava no fundo, mas algo me dizia que Hiashi não era um homem de negócios politicamente correto. E não digo isso sob influência do ponto de vista Uzumaki, mas por intuição própria. Talvez fosse sua atitude da noite anterior que despertara em mim uma desconfiança maior ou talvez fossem os seus olhos duros demais, frios demais.
Independentemente do que fosse, não poderia deixar que os Sasaki tivessem alguma razão na visão judicial. Sabia que eles fariam de tudo para me afastar de Naruto se soubesse o quão próximos estamos e se eu tentasse sair da mansão, com certeza Hiashi diria ao conselho que não sou apta para me virar sozinha, apontando meu comportamento e até mesmo mencionaria rebeldia, referindo-se ao episódio “baile”.
Os três escutaram meus passos e pude ver a cabeça do patriarca se esticar para fora da mesa, lançando-me um olhar curioso. Eu andei até eles com a cabeça erguida, encarando cada par de orbes que pousava sobre mim. Sentei-me de frente para Aiko, no lugar livre ao lado da ponta, onde Hiashi permanecia me encarando e peguei os hashis.
- Itadakimasu. – disse, olhando para minha madrasta. Ela arqueou as sobrancelhas, mas começou a me servir de oniguiris e peixe.
Notei o olhar convencido de Mayumi e apenas ignorei. Fingir lealdade era o primeiro passo para conseguir me desvencilhar das garras de todos eles.
- Estou surpreso. Positivamente, digo. – Hiashi murmurou, bebericando de seu chá. Mastiguei o salmão, sorrindo de canto.
Esperei que o jantar fosse agitado por minha presença, mas a família parecia quieta demais. Olhavam-me várias vezes, porém o diálogo não era muito comum por ali. Apenas me concentrei em comer para que aquilo acabasse o quanto antes.
E quando o jantar finalmente acabou e pude voltar ao quarto, Hiashi bateu à porta, deixando-me tensa. Convidei-o para entrar e ele o fez com uma postura menos dura, um tanto cabisbaixa, mas nunca vulnerável. Me sentei de volta à cama, olhando para meu dever de casa quase completo.
- Precisamos conversar. – Hiashi introduziu. Eu lhe encarei o mais inocentemente possível. Embora nem soubesse sobre o que ele iria querer falar. – Tomei uma atitude impulsiva ontem e não gosto de ser imprudente. Sou um homem muito sério com tudo o que faço, Hinata, acho que pode notar. Não quero que guarde uma impressão errada de mim, sei que é já é uma moça e tem personalidade forte, assim como eu, então creio que possamos conversar civilizadamente desta vez, certo?
Assenti, meu coração começou a acelerar e torci para que meu corpo não denunciasse isso de alguma forma.
- Pensei sobre tudo e decidi lhe deixar viajar com sua escola. Mas sob uma condição muito importante.
Arregalei os olhos, mal acreditando que a permissão partira voluntariamente dele.
- Que condição? – perguntei.
- Quero que use o que aprender com a Convenção para ficar ao meu lado nos negócios. Quero que fique conosco, que seja parte de nós também. Não quero jantares com minha esposa e filha te olhando como se estivéssemos abrigando um estranho. O tempo passou e é hora de encarar a sua vida, Hinata. Estou lhe propondo: viaje, conheça o que tem para conhecer, ganhe um pouco de experiência, depois volte e seja uma integrante da família de verdade. Estou recuperando o que gostaria de ter tido quando soube da sua existência. Temos um acordo?
Olhei em seus olhos, procurado algo por trás daquilo, mas eles eram tão sólidos que não pude ler nada. Ponderei um segundo, sabia o que significaria aceitar, seria enroscar-me mais ainda nos meios Sasaki, mas seria isso ou perder uma oportunidade de ter uma escolha. Pensaria numa maneira de me livrar desse compromisso mais tarde. A imagem de Tsunade me olhando com a súplica no olhar pintou-se em minha mente e eu tive a convicção de que precisava ir nessa viagem mais do que qualquer coisa naquele momento.
- Temos um acordo, otoosan. – respondi, exagerando no meu teatro, talvez, mas convencendo-o. Sempre que o chamava de pai, via a confiança lhe banhar o rosto e isso podia ser de boa ajuda.
Hiashi me estendeu a mesma mão que esbofeteou meu rosto horas atrás, mas eu não a temi. Apertei-a com a certeza de que esse acordo salvaria minha amizade de alguma forma. Naruto havia me trazido de volta à vida e em troca eu prometeria não deixar nada nos afastar.
Troquei um olhar sério com meu tutor e ele assentiu. Busquei a folha de autorização e roí uma unha enquanto o via assinar seu nome nela. Guardei com cuidado em meio aos meus materiais e depois que ele saiu, só o que pude fazer foi torcer para que isso me guiasse à um rumo feliz.
***
Caminhando com minha estimada autorização em mãos, driblei os inúmeros alunos que estavam pelos corredores do colégio. Havia chegado mais cedo e com sorte encontraria a diretora em sua sala. Queria lhe entregar pessoalmente, talvez ela desse mais alguma pista sobre seu estranho interesse sobre mim. Mas ao chegar à porta que antes eu temia, a voz séria de Tsunade me fez paralisar. Ela parecia estar ao telefone, em alguma ligação urgente. Olhei para os lados, me certificando de que não havia ninguém e depois colei o ouvido à porta, prendendo a respiração assim que o assunto da ligação veio à tona:
- Eu fui até aquela maldita sala porque senti que havia algo pendente, oras. Tenho uma intuição muito boa. Mas a passagem secreta estava arrombada e as pegadas na poeira eram claramente recentes, dois pares. Tenho certeza absoluta de que era um casal. E algo me diz que a invasão no colégio tem a ver com isso. Está pensando o mesmo que eu, não está? – ela esperou a resposta por um segundo, suspirando pesadamente. – Isso está mesmo acontecendo? É melhor agirmos logo e acho bom torcer para essa história ser só uma pegadinha, porque se eu estiver certa, as coisas vão começar a ficar complicadas.
Saí de perto da porta ao ouvir a ligação ser encerrada. Meu coração batia tão ligeiro que o podia sentir na garganta. As palavras de Naruto vieram como flashes em minha memória e a dúvida quase esquecida latejou em meu cérebro como se fosse uma emergência. A comprovação de nossas suspeitas fez algo doer dentro de mim, estranhamente, mas real. Tsunade sabia sobre a sala misteriosa e agora sabia também que ela havia sido invadida.
Corri para a escada, deixaria a autorização para depois. Só o que eu conseguia pensar era em como isso precisava ser dito imediatamente à Naruto. Eu sabia que meu amigo pensaria em algum plano para desvendar qual o envolvimento da diretora naquela bagunça e com quem ela estaria falando. Mas conhecendo nossos métodos, minha linha de pensamento tomaria rumos complexos quanto ao significado da minha existência. E mesmo que essa confusão implicasse em desenterrar memórias difíceis, eu sabia, mais do que isso, eu sentia.
Era hora de descobrir.
Hinata
Estar em uma aula de educação física era tudo o que eu menos queria naquele momento. Ao vestir o uniforme de primavera para o evento, senti-me instantaneamente exposta e com saudade do inverno. Além de que, é claro, meu rosto estava uma droga. Não sabia o que mais amaldiçoar, se a atitude de meu tutor ou minha pele excessivamente branca. No fim das contas, tudo contribuía para uma série de olhares acompanhados de burburinhos costumeiros e irritantes.
Suspirei. Hoje era dia de jogar basquete e eu não sabia nem andar direito, que dirá quicar uma bola e correr. O problema é que não participar, infelizmente, não era uma opção. A não ser que se esteja ferido ou algo do tipo, mas eu já estava chamando atenção demais para forjar alguma coisa. Ao invés disso, apenas aceitei a problemática e andei até a quadra, onde o Gai-sensei determinava duas meninas para escolher os times.
Desejava que pudéssemos jogar com os garotos. Mas as meninas não compartilhavam da minha ideia, provavelmente. O fato era que ter o Uzumaki por perto sempre afastava as coisas ruins. Tudo bem, eu dependia demais dele, mas o que podia fazer? A verdade era nua e crua: a vida que eu levava fora dada por ele. Vida essa que eu agradecia com fervor, ou então não teria cumprido a promessa feita à Akemi em seu leito de morte.
“Eu prometo viver”.
Palavras aparentemente inofensivas, mas com um poder imenso de te enlouquecer, quando na verdade tudo o que se quer é não estar nesta dimensão. Mas eu estava ali, literalmente mais viva do que nunca, prestes a jogar basquete.
Aulas de educação física sempre eram horríveis para mim. Costumava dar um jeito de burlar todas as que conseguia, mas desta vez, eu estava finalmente gostando de estudar. Ir à escola significava vê-lo, afinal.
Dei uma olhadela de canto para o lado do campus onde os garotos se alongavam para jogar uma partida de beisebol. Naruto estava testando um taco, arqueando-se perfeitamente, como se soubesse tudo sobre o esporte. Invejava essas pessoas que conseguiam se sobressair em tudo o que faziam. Era como se força nenhuma no mundo pudesse as colocar para baixo. Ele sorriu para Sasuke quando o amigo lhe disse algo e eles se cumprimentaram, enquanto vestiam seus bonés vermelhos.
Nesse meio tempo, mesmo estando parada, consegui ser atingida na cabeça por uma bola de basquete. Atordoada, cambaleei alguns passos, procurando de onde a maldita bola teria vindo. Uma garota loira, eu lembrava muito bem quem era, Shion, me olhava com um ar vitorioso e risonho. Suspirei, com raiva por ter esse dom de ser perseguida.
Mas, dessa vez, senti alguém bufar atrás de mim. Era Sakura, ela tinha os cabelos róseos presos em um rabo-de-cavalo pequeno, segurava a bola de basquete em mãos e tinha um sorriso presunçoso. Ela me lançou um olhar e balançou a cabeça.
- Ei, Shion! Perdeu sua bola! – gritou, lançando o objeto com força na direção da loira e a atingindo em cheio na testa, fazendo-a cair no chão. Imediatamente pude ver seu rosto avermelhar e Sakura soltar um risinho ao meu lado, passando um braço ao redor de meus ombros.
- Sakura-chan! – exclamei, surpresa.
- Não se preocupe com ela, é só uma garota idiota. E amarre esse cabelo enorme, levante o rosto. O jogo vai começar! – disse baixo, mas com o tom de voz caloroso e confiante. Sorri, tímida, aceitando o elástico que ela me dava.
Olhei na direção das meninas, que acenavam, chamando-me e se aquecendo. Aquilo me encorajava, o apoio que recebia e a forma como aquele grupo se comportava como uma família incrivelmente hospitaleira e protetora. Fazia valer a pena estar ali, ter aceitado a tutela de Hiashi e passado por tantos dias vazios na mansão. Então sorri, prendendo o cabelo em um rabo-de-cavalo alto, deixando apenas a franja solta e respirei fundo. Não havia nada a temer, certo?
Uma última olhadela para o Uzumaki respondeu minha pergunta. Ele rebatia com agilidade uma bola, em seguida se lançara numa corrida, feito um leão elegante, chegando ao ponto desejado, deslizando no chão e marcando o ponto. O loiro se le9iuvantou, animado, tirando um pouco da areia da camiseta e ajeitando o boné. De repente, ele notou meu olhar e sorriu amplamente, acenando. Fez um gesto com a mão indicando meus cabelos presos e depois fazendo um sinal positivo, elogiou-me e brincou com o fato. Seus olhos azuis pareciam brilhar mesmo distantes. Eu ri, balançando a cabeça e me virando de volta para meu time.
Não, eu não tinha nada a temer.
***
No final daquele dia, estávamos na última aula quando Tsunade entrou. A diretora parecia ansiosa e eu me lembrara do motivo que a levava ali. As inscrições começariam a ser confirmadas e os alunos já podiam entregar as autorizações. Mas eu não possuía nenhuma, tampouco a reles tentativa de um sim. Ao invés de pedir para o aluno da última carteira entregar a papelada, a mulher decidiu passar de carteira em carteira. A viagem parecia realmente importante para ela, de uma proporção além da normal. Eu só não sabia se havia algum motivo de urgente ou se a Convenção, de fato, seria um evento essencial para nos guiar em boas escolhas.
Vi Naruto entregar sua autorização, sob o olhar já preparado de Tsunade, mesmo que ele ainda não tivesse feito nenhuma gracinha e depois os olhos cor de topázio pousaram sobre mim, em expectativa. Encolhi os ombros.
- Não recebi autorização, Tsunade-sama. – murmurei. Meu amigo se virou, olhando-me com tristeza nos olhos azuis. A diretora tocou meus cabelos, direcionando os orbes tomados por um sentimento solidário, onde eu jurei ter visto certa súplica também.
- Sei que conseguirá. – disse, certa do que dizia, mas ao mesmo tempo desejosa de que isso se concretizasse. Abaixei os olhos, constrangida. Lembrava-me da conversa tensa que havíamos tido em sua sala e isso me deixava nervosa. Naruto tinha dito que tentaria desencaná-la um pouco do assunto, mas ainda não tinha lhe perguntado a respeito. Apesar de não me sentir desconfortável perto da loira, nossa conversa me deixara extremamente confusa. Assim que a senti se distanciar, deixei o ar fluir pelos pulmões e relaxei um pouco. Mesmo que minha vida estivesse entrando um pouco nos eixos, ainda me via emaranhada em teias grossas. Numa bagunça difícil de arrumar e entre códigos que eu desconhecia.
- Sabe o que vai fazer? – Naruto cochichou, inclinado sobre o protetor contra terremotos em sua cadeira. Neguei com a cabeça.
- Não, Hiashi é difícil de contornar. – respondi, suspirando. – Acho que você vai ter que tirar muitas fotos para me mostrar quando voltar, porque duvido que eu tenha meu celular tão cedo.
Ele fez uma careta.
- Mas eu não quero ir sem você. Temos que dar um jeito. – respondeu. Seu cenho franzido indicava o quanto aquilo o incomodava e eu sabia o motivo. Compartilhava dele, o medo de que Hiashi se descontrolasse outra vez ou que a distância de Naruto me deixasse sem saída. Mal podia imaginar como seria não ter o mínimo de contato por dias, totalmente sozinha de novo, sem nem poder sair e ousar bater à porta de sua casa e simplesmente pedir por um momento perto de seus pais, só para sentir que ele não estava do outro lado do mundo. Suspirei, a solidão já parecia tão concreta em minha existência e agora era do que eu tinha mais medo.
- Não quero te deixar sozinha. – disse o loiro, quase ecoando meus pensamentos. Levantei os olhos, surpresa pela sintonia. Ele sorriu com o canto dos lábios e inclinou a cabeça de lado. Parecia, assim como sempre, saber quando a escuridão ousava se alastrar dentro de mim.
- Eu não quero ficar sozinha. – admiti baixinho. O garoto assentiu, conhecia meu medo e o entendia, não somente como uma aversão comum e humana, mas como parte integral do que eu havia sido um dia e que desejava não mais ser.
- Vamos encontrar um jeito de convencê-lo. – prometeu, segurando minha mão e a apertando, antes de soltá-la. Assenti, tentando me convencer daquilo também. Nós fomos liberados para ir embora logo em seguida e isso agora me deixava triste.
Nos levantamos e começamos a caminhar. O céu lá fora ameaçava uma chuva, mas nenhuma gota caía. Era como o tempo nebuloso que se instalava dentro de mim. Ainda que em meu interior, algumas faíscas dos raios solares teimosos brilhavam um pouco, tentando vencer a névoa e cada gota que viesse para entristecer a paisagem, não para refresca-la.
Andei ao seu lado em silêncio, mas de repente fui puxada para um corredor vazio, onde ficavam as salas dos produtos de limpeza. Olhei interrogativamente para o loiro, mas ele apenas sorriu, coçando a nuca.
- Acho melhor nos despedirmos aqui, para não deixar que sua irmãzinha veja de novo. – respondeu. Arqueei as sobrancelhas, olhando na direção da saída, onde estávamos antes. Era bem provável que ela visse mesmo, mas esconder dela seria impossível. Talvez a curto prazo, mas a longo as chances eram nulas. Por mais que Mayumi não pudesse me ver prolongando o adeus com Naruto todos os dias, ela poderia pedir para suas amigas vigiarem ou qualquer outro que se disponibilizasse.
- Por enquanto. – disse. Ele assentiu, encostando-se à parede.
- É, mas até que a gente viaje, é melhor manter algumas precauções. – disse o loiro, olhando-me com os olhos brincalhões. Eu entendi o recado contido em sua afirmação de que a viagem não só aconteceria, como embarcaríamos nela juntos. Balancei a cabeça, sorrindo.
- Como consegue ser tão positivo? – perguntei, zombando um pouco. Uma coisa que aprendera com Naruto era fazer humor do que me incomodava. Uma maneira bem “Narutesca” de não deixar que os sentimentos ruins se sobressaiam ao sorriso. Ele deu de ombros.
- Se eu não for, quem vai ser por mim? – disse, lançando uma piscadela.
Eu apenas assenti. Fazia o sentido, assim como muitas coisas nele ultimamente. Fazia o sentido que nossa amizade causasse tanta comoção, ainda que eu fosse tão tímida e invisível ao lado do caloroso loiro de olhos azuis. E por falar em suas características, era esse um dos motivos que fazia esse sentido ser validado. Naruto era lindo.
Lindo, de um jeito que talvez não existisse no dicionário. Nada que pudesse realmente justifica-lo. Do mesmo modo como me perdia em sentimentos ao pensar na magnitude de suas ações em minha vida, não sabia como definir o seu tipo de beleza. Era tão estranho admitir, mas ao mesmo tempo tão inevitável. Eu o admirava como um menininho admira seu super-herói, convicta de que todos os seus adjetivos se encaixavam como o mais perfeito quebra-cabeças. Não faltava nada para completa-lo e eu sabia agora que não existia ninguém capaz de substituí-lo, assim como sabia que Akemi nunca seria.
E isso era incrível. Mesmo com o tempo curto desde o desastroso dia em que nos conhecemos, eu sentia como se minha única família de verdade que restara se resumia ali, naquele garoto alto e sorridente.
- Hinata? Você está tão quietinha... – ele murmurou. Olhei em seus olhos claros, enxergando-me neles como uma miniatura à sua frente. Meu coração tomou um ritmo descompassado e meus braços arrepiaram, tão grande fora a sensação eletrizante inexplicável que passou por mim. Acho que ele sentira alguma coisa também, pois seus olhos pareceram se tornar um espelho dos meus.
E foi então que enxerguei atrás de Naruto algo que já havia tempo que sumira da minha rotina. Eu tinha certeza, via com clareza os longos cabelos púrpuros como os meus, a aparência jovial e amável e o sorriso maternal, mas ao mesmo tempo infantil. Arqueei as sobrancelhas, surpresa por estar vendo-a como se estivesse de fato ali, nos observando. Pisquei uma vez, emocionada pela imagem de Akemi ter voltado. Já havia tanto desde que vira os “seres especiais” que quase vinha me esquecendo desse estranho “dom”.
Eu acompanhei seu sorriso e os olhos pousados sobre as costas de Naruto e depois a imagem se dissolveu, deixando-me enxergar no fim do corredor o corpo de Mayumi andando para os portões. Meu coração se apertou, feliz. Era como se, por um momento, mamãe estivesse cuidando de mim. Seria possível?
- Aconteceu de novo? – Naruto murmurou, olhando-me com cautela. Expirei, tonta por estar me sentindo tão emotiva.
- H-Hai... – respondi baixo. Eu sabia que deveria correr ao alcanço de Mayumi se quisesse evitar conflitos, então me afastei do garoto. – Tenho que ir, ela... – tentei dizer, caminhando para longe dele. Estava tão atordoada por simplesmente tê-la visto!
- Ei! – ele chamou, confuso. Parei no meio do corredor e de repente me lembrei de que havia algo que eu deveria fazer. Virei-me, deixando o sentimento se espalhar pelo meu âmago. Eu estava...feliz, sim, eu estava. O sorriso nasceu em meu rosto, forte e saudável como se não quisesse deixa-lo.
Em passos apressados, cheguei até Naruto novamente e o abracei, deitando minha cabeça em seu peito. Senti-a quase uma criança diante de sua estatura, mas ao menos podia ouvir o som de seus batimentos cardíacos quando nos tocávamos daquele jeito. Ele demorou um pouco para entender, mas me abraçou de volta e acho que aquilo podia permanecer assim por horas e eu não me cansaria. Queria compartilhar com ele o sentimento, queria que ele também pudesse ter visto. Teria gostado de saber que Akemi fica sorridente quando olha em sua direção e talvez tivesse feito algum comentário sobre como somos parecidas.
Apertei meus braços ao seu redor, os dedos enroscando-se em sua camisa social, parte do uniforme formal que usávamos.
- Olha só, temos uma baixinha forte aqui! – ele zombou, afagando meu cabelo. Eu sorri, querendo lhe dar um tapa por me chamar de baixinha tantas vezes. Não saberia lhe explicar como me sentia por tê-la visto outra vez, feliz, como se estivesse de fato realizada por estarmos vivos e juntos naquele pequeno corredor de escola. Mas talvez um abraço lhe dissesse mais do que minhas palavras e eu queria acreditar nisso, porque eu sabia que era graças à ele que o sorriso de Akemi se fazia presente, assim como eu.
E pude pensar em uma coisa importante enquanto nos mantínhamos grudados um ao outro: as canções de minha mãe sempre foram as melodias que mais me agradavam, mas agora a única música ritmada que eu nunca mais desejaria parar de ouvir era o som produzido pelo coração do garoto grandalhão que havia curado o meu.
- Naruto? – chamei.
- Sim?
Corei antes de lhe fazer o pedido, mas ele merecia que eu o fizesse.
- Você poderia me levantar, como fez aquele dia na sua casa? – pedi. Ele não questionou, nem riu, apenas abaixou-se para enlaçar os braços ao redor de minha cintura e depois se endireitou, trazendo-me para a sua altura e deixando meus pés suspensos. Eu me apressei em fazer logo o que queria, envergonhada. Dei-lhe um beijo em sua testa e depois encostei a minha na sua, como fizemos anteriormente numa mesma situação. Eu havia prometido lhe fazer aquele gesto mais vezes, porque conhecia o carinho representado ali. O toque de nossas testas estava se tornando quase como uma marca registrada de nossa amizade, como toques de mãos em grupos nos filmes ou o velho tapinha nas costas entre amigos. Para nós era apenas aquele singelo encostar de cabeça, como uma junção dos pensamentos. Olhos nos olhos e sorriso no sorriso. Especial e diferente como tudo o que Naruto já fizera por mim.
- A gente se vê em breve. – murmurei.
Desci de seus braços e acenei, correndo para encontrar Mayumi e deixando para trás um garoto surpreso, mas que eu esperava que estivesse, assim como Akemi, feliz. Pois eles eram o motivo e real significado da felicidade para mim.
***
Cheguei em casa com o coração mais leve e menos enraivecido pelo ocorrido com Hiashi. De algum modo, voltar a ter essas visões não me assustava mais como antes e isso significava uma grande mudança dentro de mim. Era incrível como as coisas estavam diferentes desde que conhecera o loiro de olhos azuis, como me sentia mais forte, mais livre das amarras e mais confiante sobre mim mesma. Não era como se acordasse disposta a enfrentar um novo nascer do sol, mas com certeza estava sendo muito melhor do que eu havia planejado.
O motorista havia nos buscado outra vez e Mayumi parecia estranhamente quieta. Ela entrou antes de mim e subiu sem nem mesmo cumprimentar sua mãe e de repente me passou pela cabeça se o fato de ela ter me dedurado e causado essa confusão tenha sido repreendido. O que era no mínimo esquisito, já que Aiko não estava do meu lado. Mas analisando melhor, todo o clima dentro da mansão parecia diferente.
Fechei a porta atrás de mim, segurando meu casaco na mão. O calor leve da primavera estava dando as caras naquele fim de tarde e eu já não via mais a necessidade de me esquentar, nem de me esconder. A agressão de Hiashi não era segredo para ninguém ali, então nem fazia sentido que eu o fizesse.
Subi para meu quarto, tentando ignorar o olhar de Aiko por cima da revista que lia. Precisava me apressar em encontrar uma maneira de ter a permissão para viajar, mas não tinha nada em mente. Suspirei ao finalmente largar a mochila no chão e correr para um banho morno. Os dias de aula sempre eram longos, ainda mais no último ano, em que a pressão para entrar no mundo universitário assolava todos os alunos. Não que fosse o meu caso, já que eu nem havia imaginado que chegaria aos 18 anos. O futuro para mim ainda era como uma folha em branco e não tinha ideia nenhuma do que fazer com ele, exceto pelo fato de que só conseguia imaginar a presença de Naruto como essencial para que esse futuro realmente exista. Ou que faça sentido, ao menos.
Mas era também por isso que a viagem relâmpago de Tsunade vinha me incomodando. Quando o ano chegar ao fim, os sonhos de todos começarão a se tornar realidade. Muitos trocarão os trabalhos pequenos por outros fixos, outros herdarão empresas, mas com toda certeza no mínimo 90% entrarão em uma Universidade. Naruto seguiria sua vida, conheceria pessoas novas, talvez se apaixonasse e acabasse ficando ocupado demais para salvar o dia de uma garota perdida.
Eu não queria ficar para trás, apesar de já estar muito atrasada. Mas também não tinha o direito de atrasar ninguém comigo, muito menos Naruto, a quem eu devo a própria vida. Perder a chance de viajar com a turma não somente acarretaria em dias horríveis e muitos trabalhos escolares, mas também em experiências importantes a serem perdidas e a oportunidade de ser tutelada em um caminho de verdade, em uma escolha, algum lugar para eu seguir depois que terminar o colégio.
Agora que a vida estava voltando a ter cores, essas coisas começavam a se tornarem reais também. Ausências que antes eu não notava, mas que não me deixam mais dormir em paz. Eu já não sou mais uma garotinha e as responsabilidades, querendo ou não, bateriam em minha porta algum dia.
Soltei um suspiro pesado. Eu só desejava não estar tão perdida quando esse dia chegasse.
Me assustei com a presença de Mayumi quando voltei ao quarto. Ela estava sentada em minha cama, olhando para os próprios pés. Enquanto passava a toalha nos cabelos molhados, andei devagar, temendo o que ela estaria planejando ali. A garota ergueu a cabeça quando escutou meus passos e eu apenas a encarei de volta. Ela pigarreou baixinho, parecia incomodada em estar ali também e eu logo percebi que o motivo não era ruim. Se ela estivesse feliz com aquilo, sua expressão não seria tão irritadiça. Resolvi tomar a iniciativa e larguei a toalha na cama, sentando-me ao seu lado.
- Oi. – disse.
- E ai. – ela respondeu de volta, um pouco rouca.
- O que foi, Mayumi? – perguntei, indo direto ao ponto. Mantive o tom de voz desinteressado, mas não rude. Não queria brigar com ela, nem causar mais conflitos. Estar naquela casa já era pesado o bastante.
A mais nova suspirou, mexendo nos babados do short cor-de-rosa de seu pijama.
- Sei que ele te bateu. – cochichou. Encarei seu rosto, confusa. – Eu... Eu sei que tenho um pouco de culpa nisso.
- Você sabe? – repeti, estranhando. Mayumi ergueu os olhos castanhos para mim.
- Você deveria ser menos ingrata, Hyuuga. O jeito como ele olha pra você... Otoosan nunca olhou assim para mim. E apesar de eu detestar esse fato, mesmo que você não precise da gente, eu sei que ele sofreria se você partisse.
Sustentei seu olhar, surpresa por suas palavras. Aonde ela queria chegar com aquele discurso?
- O que está querendo dizer? – murmurei. Mayumi se levantou, fungando. Seus olhos estavam enchendo de água, como se dizer aquilo doesse.
- Estava tudo bem até você aparecer. Mas desde então as coisas mudaram, otoosan não é mais o mesmo. Eu vejo que tem alguma coisa incomodando sua consciência e eu tenho certeza de que o motivo é você. Eu não sei quem você é na vida dele, mas Hiashi é o meu pai, entendeu? Você pode não se importar, mas eu me importo. Então em vez de transformar essa casa num inferno, por que você não tentar fazer as coisas direito e para de afastar a gente? – ela acusou, os olhos castanhos pareciam em chamas. Abri a boca, estupefata pelo rumo da conversa. Não era como se Mayumi tivesse apenas ciúme, no fim das contas? Então por que ela parecia estar querendo me dizer algo?
- Mayumi... – comecei, sem saber direito o que dizer.
- Você não entende? – ela perguntou de repente, assumindo uma expressão raivosa. A garota apontou o dedo indicador para mim e deu um passo à frente. – Já que está nessa casa, seja a maldita filha dele. Só... Faça o que ele quer, faça o que ele precisa. Porque eu quero a minha família de volta. Então fique longe deles, Hinata! Fique longe dos Uzumaki! – ela quase gritou no fim, chorosa. Arregalei os olhos, absorvendo as palavras.
- Você está me culpando por algo que eu não fiz. – sussurrei, engolindo o nó que se formava em minha garganta. A garota soltou um riso sarcástico.
- Não se faça de sonsa. O que é? Está apaixonada por ele, não está?
- O quê? – perguntei de imediato, surpresa. A constatação de minha meia-irmã fez algo em meu estômago se revirar. Havia um certo ódio em suas palavras, como se isso fosse repugnante aos olhos dela. Eu só não entendi o porquê daquilo tudo. Por que Mayumi pensava que eu estava apaixonada? Por que ela odiava os Uzumaki? Teria ela um ódio generalizado ou apenas ódio por não poder estar perto de Naruto, como as outras garotas?
Mayumi balançou a cabeça, agitada como nunca havia visto.
- Esqueça. Fique longe de Naruto, Hinata, e cumpra o seu papel. Eu não sei o que otoosan quer com essa brincadeira de casinha, mas acho bom você andar na linha, porque eu não estou disposta a ver nossa vida desmoronar por uma desiquilibrada igual a você. – murmurou, ríspida. Em seguida, se retirou a passos duros, deixando-me com o coração martelando em meus ouvidos.
Meu rosto esquentou, meu corpo se arrepiou e um calafrio passou por mim. Ouvi passos voltando na direção de meu quarto e de repente Mayumi irrompeu outra vez, apontando o dedo diretamente para minha face.
- E faça a droga do favor de descer para o jantar ao menos uma vez na vida. – sibilou, fugindo como um cão raivoso logo em seguida. Expirei o ar de meus pulmões, afundando o rosto em minhas mãos.
Minha cabeça girava. As palavras de Mayumi haviam me acertado como flechas envenenadas. Não somente por terem me atirado um peso enorme, mas também porque me despertaram dúvidas que até então não haviam se enraizado. Ela tinha razão, aquilo parecia uma brincadeira de casinha. Não era como se eu tivesse desembarcado das férias de verão para passar um tempo com minha segunda família. E disso eu já sabia, eu era como uma intrusa por ali. Mas não havia levado minhas dúvidas por um caminho tão tortuoso. Preferia que Hiashi apenas tivesse tentado salvar a única coisa que restara de sua primeira mulher. Mesmo sob a mentira da traição, eu esperava que ele entendesse que a culpa não era minha.
Mas agora...
Olhei ao meu redor, vendo um quarto que não era meu, uma casa que não era minha e senti-me encurralada entre as paredes. Era como estar cega, mas ter como reverter a situação, embora sem saber como. A verdade deveria estar tão escancarada, mas o que eu entendia de tudo isso? Estivera por tanto tempo petrificada em meu próprio limbo espiritual que nem havia pensado em motivos reais para estar ali.
Olhei para minhas mãos, assustada. A sensação varria a poeira dentro de mim, forçava as engrenagens a voltarem a funcionar, pressionava-me para encontrar respostas. As palavras de Mayumi quase denunciavam que a garota tinha as peças de um quebra-cabeças, mas desconhecia as sequências e conjuntos.
E de repente, em meio a tantas perguntas, uma dúvida soou latente em minha consciência, abrindo meus olhos de um jeito novo:
Havia um significado em ser um Hyuuga. Havia uma tradição em ser um Uzumaki. Mas o que havia em ser um Sasaki?
***
Desci os degraus da escada querendo subir de volta. Apesar de estar nervosa depois doo discurso de Mayumi, sabia que precisava fazer alguma coisa logo. Havia um milhão de perguntas em minha mente, mas um sinal de alerta piscava fortemente, desviando a atenção de minha inquietação acerca das dúvidas: minha amizade estava ameaçada. Tudo o que construíra delicadamente até agora estava sob os olhos apurados de Hiashi e sua filha mais nova, o que, uma vez que eu não tenha para onde correr, pode realmente me acarretar problemas sérios. Ou para outras pessoas envolvidas.
Não sabia dizer ao certo o que me incomodava no fundo, mas algo me dizia que Hiashi não era um homem de negócios politicamente correto. E não digo isso sob influência do ponto de vista Uzumaki, mas por intuição própria. Talvez fosse sua atitude da noite anterior que despertara em mim uma desconfiança maior ou talvez fossem os seus olhos duros demais, frios demais.
Independentemente do que fosse, não poderia deixar que os Sasaki tivessem alguma razão na visão judicial. Sabia que eles fariam de tudo para me afastar de Naruto se soubesse o quão próximos estamos e se eu tentasse sair da mansão, com certeza Hiashi diria ao conselho que não sou apta para me virar sozinha, apontando meu comportamento e até mesmo mencionaria rebeldia, referindo-se ao episódio “baile”.
Os três escutaram meus passos e pude ver a cabeça do patriarca se esticar para fora da mesa, lançando-me um olhar curioso. Eu andei até eles com a cabeça erguida, encarando cada par de orbes que pousava sobre mim. Sentei-me de frente para Aiko, no lugar livre ao lado da ponta, onde Hiashi permanecia me encarando e peguei os hashis.
- Itadakimasu. – disse, olhando para minha madrasta. Ela arqueou as sobrancelhas, mas começou a me servir de oniguiris e peixe.
Notei o olhar convencido de Mayumi e apenas ignorei. Fingir lealdade era o primeiro passo para conseguir me desvencilhar das garras de todos eles.
- Estou surpreso. Positivamente, digo. – Hiashi murmurou, bebericando de seu chá. Mastiguei o salmão, sorrindo de canto.
Esperei que o jantar fosse agitado por minha presença, mas a família parecia quieta demais. Olhavam-me várias vezes, porém o diálogo não era muito comum por ali. Apenas me concentrei em comer para que aquilo acabasse o quanto antes.
E quando o jantar finalmente acabou e pude voltar ao quarto, Hiashi bateu à porta, deixando-me tensa. Convidei-o para entrar e ele o fez com uma postura menos dura, um tanto cabisbaixa, mas nunca vulnerável. Me sentei de volta à cama, olhando para meu dever de casa quase completo.
- Precisamos conversar. – Hiashi introduziu. Eu lhe encarei o mais inocentemente possível. Embora nem soubesse sobre o que ele iria querer falar. – Tomei uma atitude impulsiva ontem e não gosto de ser imprudente. Sou um homem muito sério com tudo o que faço, Hinata, acho que pode notar. Não quero que guarde uma impressão errada de mim, sei que é já é uma moça e tem personalidade forte, assim como eu, então creio que possamos conversar civilizadamente desta vez, certo?
Assenti, meu coração começou a acelerar e torci para que meu corpo não denunciasse isso de alguma forma.
- Pensei sobre tudo e decidi lhe deixar viajar com sua escola. Mas sob uma condição muito importante.
Arregalei os olhos, mal acreditando que a permissão partira voluntariamente dele.
- Que condição? – perguntei.
- Quero que use o que aprender com a Convenção para ficar ao meu lado nos negócios. Quero que fique conosco, que seja parte de nós também. Não quero jantares com minha esposa e filha te olhando como se estivéssemos abrigando um estranho. O tempo passou e é hora de encarar a sua vida, Hinata. Estou lhe propondo: viaje, conheça o que tem para conhecer, ganhe um pouco de experiência, depois volte e seja uma integrante da família de verdade. Estou recuperando o que gostaria de ter tido quando soube da sua existência. Temos um acordo?
Olhei em seus olhos, procurado algo por trás daquilo, mas eles eram tão sólidos que não pude ler nada. Ponderei um segundo, sabia o que significaria aceitar, seria enroscar-me mais ainda nos meios Sasaki, mas seria isso ou perder uma oportunidade de ter uma escolha. Pensaria numa maneira de me livrar desse compromisso mais tarde. A imagem de Tsunade me olhando com a súplica no olhar pintou-se em minha mente e eu tive a convicção de que precisava ir nessa viagem mais do que qualquer coisa naquele momento.
- Temos um acordo, otoosan. – respondi, exagerando no meu teatro, talvez, mas convencendo-o. Sempre que o chamava de pai, via a confiança lhe banhar o rosto e isso podia ser de boa ajuda.
Hiashi me estendeu a mesma mão que esbofeteou meu rosto horas atrás, mas eu não a temi. Apertei-a com a certeza de que esse acordo salvaria minha amizade de alguma forma. Naruto havia me trazido de volta à vida e em troca eu prometeria não deixar nada nos afastar.
Troquei um olhar sério com meu tutor e ele assentiu. Busquei a folha de autorização e roí uma unha enquanto o via assinar seu nome nela. Guardei com cuidado em meio aos meus materiais e depois que ele saiu, só o que pude fazer foi torcer para que isso me guiasse à um rumo feliz.
***
Caminhando com minha estimada autorização em mãos, driblei os inúmeros alunos que estavam pelos corredores do colégio. Havia chegado mais cedo e com sorte encontraria a diretora em sua sala. Queria lhe entregar pessoalmente, talvez ela desse mais alguma pista sobre seu estranho interesse sobre mim. Mas ao chegar à porta que antes eu temia, a voz séria de Tsunade me fez paralisar. Ela parecia estar ao telefone, em alguma ligação urgente. Olhei para os lados, me certificando de que não havia ninguém e depois colei o ouvido à porta, prendendo a respiração assim que o assunto da ligação veio à tona:
- Eu fui até aquela maldita sala porque senti que havia algo pendente, oras. Tenho uma intuição muito boa. Mas a passagem secreta estava arrombada e as pegadas na poeira eram claramente recentes, dois pares. Tenho certeza absoluta de que era um casal. E algo me diz que a invasão no colégio tem a ver com isso. Está pensando o mesmo que eu, não está? – ela esperou a resposta por um segundo, suspirando pesadamente. – Isso está mesmo acontecendo? É melhor agirmos logo e acho bom torcer para essa história ser só uma pegadinha, porque se eu estiver certa, as coisas vão começar a ficar complicadas.
Saí de perto da porta ao ouvir a ligação ser encerrada. Meu coração batia tão ligeiro que o podia sentir na garganta. As palavras de Naruto vieram como flashes em minha memória e a dúvida quase esquecida latejou em meu cérebro como se fosse uma emergência. A comprovação de nossas suspeitas fez algo doer dentro de mim, estranhamente, mas real. Tsunade sabia sobre a sala misteriosa e agora sabia também que ela havia sido invadida.
Corri para a escada, deixaria a autorização para depois. Só o que eu conseguia pensar era em como isso precisava ser dito imediatamente à Naruto. Eu sabia que meu amigo pensaria em algum plano para desvendar qual o envolvimento da diretora naquela bagunça e com quem ela estaria falando. Mas conhecendo nossos métodos, minha linha de pensamento tomaria rumos complexos quanto ao significado da minha existência. E mesmo que essa confusão implicasse em desenterrar memórias difíceis, eu sabia, mais do que isso, eu sentia.
Era hora de descobrir.