Fanfic postada inicialmente no Spirit e no Nyah no dia 16/04/2015.
Fui descobrir a beleza de se observar estrelas há pouco tempo, mas sinto que já o fazia à tantos anos... Não tive a oportunidade de admirar este vasto lençól negro com infinitos pontos brilhantes quando ainda morava na cidade subterrânea. E admito que se não fosse graças à ele nunca teria parado para refletir sobre o que aquilo significava para mim, sobre o quão pequenos e insignificantes somos.
Nesse momento, sentado no topo da muralha Sina, lembro das vezes em que nos encontrávamos para conversar e ligar as estrelas para formar certos desenhos. Às vezes conversávamos o tempo inteiro, outras vezes apenas ficávamos deitados um ao lado do outro em silêncio, olhando para aquela imensidão tão bela e tirando nossas próprias conclusões sobre ela.
Eu gostava daqueles momentos em que realmente entendia o que significava a felicidade, principalmente por estar ao lado da pessoa que me mostrou um lado da vida no qual jamais havia visto. Eu me sentia livre com ele, capaz de fazer qualquer coisa. Quando estava ao seu lado não existiam titãs, não existia a tropa de exploração, não existia o caos que enfrentávamos dia após dia. Era apenas eu e ele, e aquele era o nosso segredo.
O segredo entre um Ackerman e um Zakarius.
.,.-'*'-.,. Contando Estrelas, primeiro capítulo .,.-'*'-.,.
"A tropa de exploração não é um lugar para fracos e eu não o tirei daquela cidade imunda para que se deixasse levar por uma realidade que não existe. Seja maduro o suficiente e assuma suas responsabilidades, seus companheiros morreram por sua causa. Foi você quem fez a escolha errada."
Minha cabeça ainda girava violentamente mesmo dias depois do término daquela maldita expedição. Não conseguia dormir, pois sempre que fechava os olhos a imagem do campo de batalha se fazia presente, mostrando-me em detalhes repetidas vezes os olhos esverdeados de Isabel arregalados e seu belo rosto ensanguentado, seguido do rosto distorcido em dor de Farlan.
Doía saber que não pude fazer nada para salvá-los daquele destino terrível e por repetidas vezes me peguei imaginando o porquê de não ter sido eu a vítima daquele titã anormal.
Apenas tinha aceitado a proposta daquele maldito capitão por causa deles. Sabia que, assim como eu, os dois ansiavam para conhecer o mundo exterior. Sair da fétida, imunda, enferma e criminalizada cidade subterrânea é o sonho de muitos, por isso não pensei duas vezes antes de aceitar tal proposta, submetendo-me às vontades do capitão da tropa de exploração mesmo após ter sido violado pelo mesmo durante horas.
Pensava que valeria a pena e durante os primeiros dias em que estivemos fora daquele buraco, realmente pensei que o fato de ser chamado quase todas as noites ao quarto de Erwin e me submeter aos mais humilhantes tratamentos não seria nada comparada à felicidade que estava estampada nos rostos de Farlan e Isabel.
Ledo engano.
Creio que seja nesses momentos em que as pessoas querem voltar no tempo para corrigirem seus erros e, no entanto, conseguem apenas fingir estar tudo bem e continuar em frente, custe o que custar. Mas nem sempre é assim tão fácil.
- Erwi-n... - Deixei escapar sem querer e então abaixei mais a cabeça, fechando os olhos com mais força enquanto meu corpo era lançado para frente e para trás com uma força absurda. - Isso... Dói...
Eu me recusava a ver o olhar de satisfação dele sempre que o dizia, por isso ficava de costas para ele a maior parte do ato, tentando ao máximo não deixar gemidos altos demais escaparem. O que era difícil, levando-se em consideração os golpes que recebia dele durante o sexo.
- Se não quiser que te ouçam, sugiro que morda os lençóis. - Disse Erwin antes de estocar com mais força.
Precisei morder o lábio inferior com extrema pressão para impedir que algo mais alto que o aceitável escapasse dos meus lábios, e também fiz o que ele pediu enquanto praticamente implorava em pensamentos para que aquele maldito ato chegasse ao fim. Tanto que realmente arfei satisfeito quando o senti chegando ao clímax, o que significava que me deixaria em paz por algum tempo.
Não sei ao certo se Erwin ficou ao meu lado enquanto recuperava o fôlego perdido, mas quando o vi parcialmente vestido e ajeitando a pedra azulada que carregava no pescoço, resolvi fazer um esforço para me levantar, mesmo que meu corpo implorasse por descanso.
- Preciso trabalhar agora. Arrume o quarto antes de sair.
- Certo...
Continuei o observando durante todo o tempo em que demorou para se vestir decentemente para sair do quarto, deixando-me mais uma vez sozinho ali. Era sempre assim e isso me cansava imensamente.
Levantei com certo esforço e fiz o que me foi pedido. Deixei o quarto impecável antes de sair mancando na direção do meu próprio para pegar uma nova muda de roupas. Ansiava por um banho para tirar o maldito cheiro de Erwin do meu corpo. No início até que era suportável, mas com o passar do tempo simplesmente não conseguia mais disfarçar o meu desconforto quanto àquilo.
É nojento e repulsivo. E simplesmente me sinto o pior dos seres humanos por ter continuado com isso após a morte de Farlan e Isabel.
Ao chegar no banheiro, deparei-me com uma bacia com água já pronta, o que me pouparia o trabalho de ir até o poço buscar. Livrei-me daquelas roupas sujas e mais do que depressa tomei o necessitado banho, voltando a me vestir e me certificando de secar os cabelos o máximo possível. Detestava quando ficavam pingando e molhando meu uniforme.
Voltei ao quarto assim que terminei, tentando ao máximo caminhar sem mancar. Ainda era de manhã e provavelmente teria trabalho à fazer. Treinar com os outros cadetes ou auxiliar na cozinha, por exemplo. Aquilo me tranquilizava de certa forma, era divertido treinar com meus companheiros, mesmo que fosse obrigado à aturar alguns devaneios de Hanji sobre seus sonhos em estudar os titãs um dia.
Precisei fechar os olhos ao chegar ao lado de fora. O sol estava forte demais naquela manhã e isso machucava meus olhos um pouco. Ainda não estava acostumado com a claridade normal do mundo superior, mas não era nada que um pouco de força de vontade não desse um jeito.
Em seguida corri pela parte externa até chegar próximo aos estábulos, onde alguns de meus companheiros cuidavam de seus respectivos cavalos, escovando o pelo e alimentando-os. Percebi que Hanji retirava o esterco e, ao seu lado, dois cadetes espalhavam o feno. Não acho que seria demais ajudar a quatro olhos, portanto, logo me aproximei, tomando-lhe a pá.
- Ah, Levi! - Ela disse animada para mim. - Pensei que não fosse mais aparecer!
- Estava ocupado. - Respondi apenas, batendo nos baldes de esterco com a pá. - Vá levar esses para fora que irei encher o resto.
- Tudo bem. Só não se esforce demais. - Vi quando ela pegou dois dos baldes, chutando os vazios na minha direção.
Suspirei um pouco quando ela saiu, começando a fazer o trabalho que antes era dela. Ainda não tinha certeza do que faria naquele dia. Provavelmente seríamos ordenados à fazer a limpeza da base pelo nosso comandante ou então faríamos as compras dos suprimentos na cidade. Não que eu me importe com o tipo de trabalho, muito pelo contrário, qualquer coisa que me fosse ordenada a fazer seria cumprida com gosto. Era a melhor forma de se distrair afinal.
Quando Hanji voltou com os baldes já vazios, entreguei à ela os que havia enchido com os restos que haviam ali e me ocupei em varrer o local para que colocassem ali o feno. Deixaria que outro companheiro limpasse os baldes e, após terminar, procurei pelo meu cavalo.
Acabei deixando um riso nasal escapar ao me lembrar da primeira vez em que montei no animal assim que deixei a cidade subterrânea. Lembro das risadas exageradas de Isabel, que precisou me ensinar passo a passo como montar e guiar o cavalo e das delicadas palavras de Farlan, que comparou a situação à um salmão tentando montar em um urso.
Gostava mesmo de lembrar desses momentos, mas infelizmente eles sempre me traziam os malditos sentimentos que não gostaria de ter. Raiva, fraqueza e tristeza...
"Eu gosto demais de vocês para deixá-los morrer."
E no entanto não fui capaz de proteger as únicas pessoas nas quais eu me importava de verdade. Tudo por causa da minha maldita escolha.
Ouvi o cavalo reclamar e só então percebi a pressão que fazia na escova contra o seu corpo, afastando logo em seguida para recomeçar com movimentos mais suaves. Não era o momento para se pensar em coisas como essas, tinha trabalho a fazer.