O Imperfeito Desejo de Natal

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    16
    Capítulos:

    Capítulo 1

    Capítulo Único

    Homossexualidade

    Fanfic inicialmente postada no Spirit em 25/12/2013 para o concurso de Natal. Espero que gostem.

    Abri a porta daquele apartamento relutante. Não queria que ele soubesse que havia finalmente chegado, ao mesmo tempo em que queria lhe fazer uma surpresa. Talvez ele estivesse descansando deitado na cama como sempre, ou então estaria jogando algum jogo online como de costume.

    Ah, como eu gostaria que ele estivesse realmente fazendo a segunda opção.

    Fechei a porta com cuidado para não fazer barulho, correndo os olhos em seguida pela paisagem artificial e assustadoramente aconchegante daquele local. A grande árvore de Natal já estava montada no canto ao lado do sofá de pano preto, com suas luzes coloridas a chamar a atenção de qualquer pessoa que entrasse naquela sala. Coladas a estante, se encontravam as meias natalinas decoradas com os caracteres ocidentais "Feliz Navidad" e, além disso, sobre a estante se encontravam alguns bibelôs em formatos de boneco de neve e renas.

    Permiti-me sorrir com isso. Ele sempre gostou dessas decorações e da forma como os espanhóis se pronunciam.

    Caminhando lentamente, meus olhos repousaram sobre os diversos quadros pendurados sobre a parede ao lado do corredor que levava ao nosso quarto. Nossas imagens ali retratadas me traziam boas e más lembranças. Sua figura sorridente para a câmera ocupava a maior parte daquela bela parede branca, os fios loiros repicados e definidos com a ajuda de um laquê cheiroso, seus olhos e face levemente maquiados que lhe davam uma beleza feminina indescritível, seus lábios... Ah, aqueles lábios que formavam involuntariamente um bico que originou seu apelido de patinho. Sua voz marcante que nunca saía de minha mente em momento algum e sua personalidade eram coisas que eu nunca esqueceria, por mais que o tempo passasse, ele sempre estaria comigo.

    Não percebi quando lágrimas involuntárias começaram a correr pela minha face e acabei levando uma das mãos até o rosto, sentindo aquele líquido quente molhar meus dedos magros.

    Será que borrei minha maquiagem? Ele não vai gostar.

    Sacudi levemente a cabeça de um lado para o outro. Aquele não era o momento para se preocupar com essas coisas, era uma data comemorativa afinal. Uma de muitas que ainda passaríamos juntos.

    Abri um grande sorriso no rosto e, movimentando o braço direito, lembrei-me do embrulho no qual estava carregando sobre ele. Voltei meus olhos escuros para aquela direção, segurando com ambas as mãos atrás das costas aquele embrulho colorido. Espero que ele goste do que trouxe, afinal, combina bastante com ele. Caminhei até me aproximar da porta de madeira de nosso quarto, batendo algumas vezes antes de entrar.

    - Uruha-san? - chamei, segurando a maçaneta com uma das mãos e abrindo a porta, pondo apenas a cabeça para dentro daquele quarto escuro. - Está acordado?

    Não houve resposta e isso me magoava. Há anos que não ouvia sua voz claramente e sentia falta disso.

    - Fico chateado quando não me responde Uruha-san. - disse, cantarolando uma música do Sex Pistols enquanto adentrava àquele quarto, levando uma das mãos até o interruptor e acendendo as luzes. - Sabe que dia é hoje, amor?

    Mais uma vez não tive a resposta, mas encarei aquele silêncio como um "não". Com um grande sorriso esboçado sobre os lábios, aproximei-me de seu corpo deitado sobre a cama. Seus olhos tão artificiais olhando para um ponto fixo do teto de nosso quarto aparentavam um ar curioso ao meu ver. Corri os olhos por seu corpo, coberto apenas por uma camisa branca que o havia emprestado. Toquei levemente seu joelho artificial e gélido, apertando levemente sobre ele, observando o leve movimento que aquele corpo fazia àquele toque e ouvindo o barulho de esforço e da ferrugem trabalhando naquela região.

    - Hoje é véspera de Natal, Uruha-san. - respondi, voltando o olhar para seu rosto inexpressivo. - Trouxe um presente para você, quer ver? - Movimentei-me sobre a cama de forma a me sentar na posição flor de lótus, de frente para ele. Retirei o embrulho das costas e coloquei sobre a cama, olhando-o em expectativa em seguida. - Feliz Natal amor, quer que eu abra 'pra você? - Peguei mais uma vez aquele embrulho, abrindo-o com ambas as mãos. - Gostou? Acho que essas roupas combinam com você! Quer que eu te vista? Posso fazer isso!

    Coloquei aquelas roupas de lado e debrucei-me sobre seu corpo, segurando-o pela cintura e o erguendo assim, de forma a deixá-lo sentado de lado para mim e então retirei sua camisa, tendo uma visão completa de seu peitoral plástico, rígido e brilhante à luz fluorescente do quarto. Crispei levemente os lábios antes de pegar a camisa preta que havia comprado, passando por sua cabeça e então erguendo aqueles braços artificiais em seguida, de forma a conseguir passar as mangas daquela vestimenta e então abaixava tudo completamente, observando a estampa no formato de um pentagrama roxo.

    Essa cor sempre combinou com suas feições.

    Deitei novamente seu corpo e levantei suas pernas, o tempo inteiro ouvindo o barulho do ferro enferrujado trabalhando naquele corpo. Sentia lágrimas mais grossas descerem pelo meu rosto enquanto pegava a calça preta com alguns detalhes rasgados, estava sendo cada vez mais difícil conviver com aquilo. Deixei que o pano da calça deslizasse por suas pernas antes de ajeitá-la sobre sua cintura e fechar devidamente o zíper. Abaixei suas pernas mais uma vez e o olhei por inteiro.

    Lindo, gracioso.

    Daria qualquer coisa para sentir o calor de seu corpo mais uma vez.

    Segurei em sua mão gélida - não podendo entrelaçar nossos dedos por conta do material do qual eram feitos - e ergui novamente seu corpo, levando a mão livre até suas costas e acariciando levemente antes de levar sua mão artificial até meus lábios, depositando um leve beijo ali e levantando a cabeça em seguida. Com a mão que estava em suas costas movimentei seu pescoço para que olhasse para mim e depositei um breve beijo sobre seus lábios, acariciando seus cabelos de fio Kanelon em seguida.

    - Por que você teve que me deixar aquele dia Uruha-san? - perguntei com um sorriso nos lábios, mas sem conter a onda de lágrimas que desciam pelo meu rosto e umedeciam suas mãos plásticas. - Sabia muito bem que não suportaria te ver sendo enterrado então... Por que amor?

    Afastei a mão que segurava a dele e aproximei de seu rosto, acariciando-o e fitando seus olhos que continuavam a encarar o vazio.

    - Por que não me chama mais de Aoi-kun? - murmurei, selando nossos lábios mais uma vez antes antes de encurvar o corpo e apoiar a cabeça sobre a superfície gélida de seu corpo, abraçando-o em seguida. - Oh Deus... Por que?

    Não me importava em controlar a quantidade de soluços que insistiam em escapar de minha garganta. Por mais que aquele corpo pudesse me dar o conforto necessário diariamente, não era o mesmo do que ter uma pessoa de verdade ao seu lado, te amando e sendo retribuída. A minha pessoa me deixara para sempre e não teria como voltar atrás.

    A única coisa que eu queria, durante toda a minha vida, era que ele voltasse para mim. Por muitos anos ouvi as pessoas falaram coisas sobre o famoso milagre de Natal, que coisas aconteciam quando desejávamos algo com toda a nossa fé e vontade. Isso nunca aconteceu comigo.

    Apertei o corpo de meu Uruha artificial com mais força, soltando um urro desesperado.

    - Deus... Se esse milagre de Natal existe por favor... - murmurei, afundando a cabeça sobre aquele peito artificial. - Traga meu Uruha de volta... Ficaria feliz até se o espírito de meu amor voltasse no corpo desse manequim... Por favor...

    "Aoi..."

    Arregalei os olhos, erguendo o corpo rapidamente e olhando em volta. Por um momento, por um breve momento... Imaginei ter ouvido a voz do...

    - Uruha?

    Voltei os olhos para o manequim, que permanecia na mesma posição que o havia deixado inicialmente. Suspirei pesadamente, levando ambas as mãos até seu rosto, acariciando-o com leveza e delicadeza antes de selar seus lábios mais uma vez.

    - Feliz Navidad... Uruha-san.


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