Cartas Para Um Cantor Pervertido

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    16
    Capítulos:

    Capítulo 1

    Capítulo Único

    Homossexualidade, Linguagem Imprópria

    O rapaz chegava de mais um dia frustrante da gravadora, largando a pasta sobre o sofá da sala de qualquer maneira mesmo e adentrando o corredor que dava para os quartos, ignorando as tentativas de sua esposa de dar-lhe as boas vindas depois de um longo dia de trabalho. A última coisa de que precisava naquele momento era ouvir a voz daquela mulher que o estava tirando do sério há alguns meses. E o motivo para isso apenas o irritava ainda mais.

    Cansado, abriu a porta de seu quarto e deparou-se com aquele ambiente escuro e solitário que era assustadoramente acolhedor naquele momento. Trancou a porta atrás de si e aproximou-se da cama de casal, permitindo-se lançar o próprio corpo contra aquele confortável colchão, respirando profundamente antes de se perder em devaneios. Não aguentava mais aquela rotina na qual era obrigado a viver todos os dias desde que fora obrigado a se casar devido a um mal entendido.

    Trincava os dentes e rolava na cama, deitando-se de barriga para cima e apoiando um dos braços sobre a testa, lembrando-se dos únicos momentos em que podia dizer que era verdadeiramente feliz. Na verdade, se não fosse por uma única pessoa, não saberia dizer o que teria feito até o presente momento.

    Aquela pessoa era o seu único porto seguro, mesmo sabendo que nunca poderia confiar verdadeiramente nessa pessoa.

    Lembrou-se da quantidade de vezes em que se trancava naquele mesmo quarto e perdia horas de seus dias de folga para escrever cartas e mais cartas para ele. Também perdeu as contas de quantas vezes fora obrigado à suportar a imprensa divulgando suas constantes saídas e escândalos com os mais variados tipos de mulheres.

    Ah, meu moreno! Quando iremos nos ver novamente? Nunca mais me telefonou e não nos encontramos mais. 

    Está me evitando, meu moreno?

    Não quero acreditar nisso.

    Os dias aqui estão demorando demais para passar e não consigo pensar em mais ninguém, apenas em você.

    Minha vida está monótona demais desde que você partiu. Ah, quando você voltará? Tenho tanto a dizer!

    Essa turnê está demorando para terminar, não é?

    Ah, como é a Tailândia? Sei que vai muito para lá... As pessoas estão te tratando bem, meu moreno?

    Meu moreno.

    Meu.

    Sorriu ao se lembrar da última carta enviada. Não podia negar que sentia falta de seus abraços, de seus beijos e de suas grandes e másculas mãos que percorriam seu corpo sem pudor algum, queimando onde quer que tocavam. Oh, era incrível como apenas tais pensamentos traziam tantas emoções e sensações à tona! Simplesmente sentia falta de tudo, até mesmo do ar que o outro respirava, da sensação proibida quando chegavam à peculiar sensação de êxtase, quando o ápice daquele ato pecaminoso se apoderava de ambos os corpos... Era um prazer único, uma sensação única que não estava ao seu alcance há exatos três meses.

    "Ele poderia ter, ao menos, telefonado..." pensou, fechando os olhos e suspirando mais uma vez. "Talvez ele esteja se divertindo com uma garota muito mais interessante que eu...". Sentia um arrepio percorrer sua espinha com aquele pensamento. Nunca gostou de imaginar o seu moreno com outra pessoa a não ser ele. Tal pensamento egoísta era errado e o rapaz compreendia isso, mas precisava de tal egoísmo para se manter nos eixos.

    Caso contrário, já teria provavelmente surtado.

    Um estranho barulho na janela daquele quarto o fez despertar de seus devaneios. O rapaz abriu os olhos, voltando-os para a armação de madeira e vidro coberta pela cortina vermelha daquele ambiente, ouvindo mais claramente as batidas sobre a janela. Ergueu uma sobrancelha com isso, levantando-se da cama de uma forma preguiçosa. Não era possível ser um simples galho de cerejeira, já que o calor infernal de Tóquio não permitia que uma mínima corrente de vento passasse por aquele local. 

    Dando de ombros, aproximou-se daquela janela, separando rapidamente as cortinar e semi-cerrando os olhos devido à iluminação excessiva do local. Quando suas pupilas finalmente se acostumaram com a iluminação repentina, a face de um rapaz moreno e com um grande óculos de sol preto surgiu, fazendo o outro dar alguns passos para trás enquanto separava os lábios em pirronismo.

    O rapaz, que até aquele momento estava parado do outro lado da janela, abriu um suave sorriso antes de bater contra a janela mais uma vez, fazendo o outro pigarrear alguma coisa do lado de dentro e abrir a janela, permitindo ao misterioso rapaz adentrar em seu quarto.

    Ainda catatônico, o rapaz apenas observou o misterioso homem apoiando ambas as mãos sobre o batente inferior da janela, dando o impulso necessário para que conseguisse pular aquele pequeno obstáculo. Em seguida fechou novamente aquele objeto de decoração e puxou as cortinas, virando-se para o rapaz estagnado à sua frente enquanto um outro sorriso crápula brotava em seu belo rosto.

    - Feliz em me ver? - perguntou baixinho, aproximando-se do rapaz - que era mais baixo - e retirando-o daquele transe repentino.

    - Você... É você mesmo? - questionou, aproximando-se rapidamente do homem à sua frente e erguendo ambas as mãos, retirando aqueles óculos escuros de sua face oval, deparando-se com o par de íris azuis falsas que tanto admirava. - Gackt?

    Ainda sorrindo, o moreno levantou ambas as mãos, segurando as delicadas do rapaz que o olhava de baixo surpreso, acariciando-as levemente antes de assentir com uma coordenação quase lírica.

    - Hyde... - murmurou, abaixando levemente a cabeça, selando seus lábios sobre as mãos do menor à sua frente, que assistia à tudo aquilo com um misto de sentimentos que não saberia como descrever no momento.

    O menor, fechando os olhos, permitiu-se deleitar com aquela simples carícia. Ah... Como sentia falta da textura daqueles lábios contra sua pele! Deveria estar sonhando naquele momento, afinal, não era para seu moreno estar ali naquele momento.

    Tal pensamento o fez despertar e, mesmo em desprazer, afastou as mãos das palmas de seu amado, afastando o corpo e entregando-lhe o óculos que ainda segurava naquele momento.

    - O que está fazendo aqui? - perguntou, abaixando o olhar.

    - Eu vim te ver. - O moreno respondeu, aproximando-se mais uma vez e levantando a palma esquerda, acariciando a face de Hyde. 

    - Não estava em turne? - Dessa vez levantou o olhar, encarando os azulados de Gackt encararem seus orbes negros. - Não poderia simplesmente voltar, assim, do nada...

    O maior ergueu uma sobrancelha, provavelmente sem entender o verdadeiro rumo que aquela conversa estaria tomando naquele momento.

    - Quer que eu saia Hyde? - perguntou sem rodeios. Sabia que o menor iria negar uma pergunta direta como aquela.

    - N-Não foi isso que... - tentou se explicar, acabando por se complicar com as palavras. - Ah... Gackt! Estou confuso!

    Hyde levou ambas as mãos até os próprios cabelos, puxando-os levemente enquanto caminhava de volta para sua cama, sentando-se sobre o colchão. O moreno maior suspirou, aproximando-se em passos lentos do outro, sentando-se ao seu lado.

    - Por que? - quis saber.

    - Você não respondeu minhas cartas. - respondeu direto. - Todo esse tempo em te enviei cartas para a Tailândia e você nunca respondeu. Pensei que tinha desistido de mim.

    - Como você pôde pensar uma coisa dessas? - perguntou indignado, atraindo a atenção do menor para si. Gackt então levou uma das mãos até o bolso traseiro da calça, retirando de lá um pequeno envelope de carta, levemente mais grosso que o normal, erguendo-o na altura dos olhos de Hyde. - Eu guardei todas as suas cartas por todo esse tempo, apenas não as respondi.

    - Por... Que? - perguntou, sem saber o que dizer na realidade. Observou o moreno suspirar cansado, deitando-se sobre o colchão, fazendo-o balançar.

    - O que eu tenho para te falar não pode ser simplesmente escrito. - respondeu simplesmente, fechando os olhos e fazendo um leve bico com os lábios. - Você é idiota ou o que? Achou realmente que iria fazer uma sacanagem dessas contigo?

    O rapaz não respondeu, apenas continuou a fitar o rosto do moreno mais alto, surpreso com tais palavras.

    - Você sabe a fama que tenho, mas, por favor, você me conhece! - desabafou, voltando os olhos para Hyde. - Sabe que nunca faria isso com você, simplesmente porque é de você que eu gosto. Fim de papo.

    - Mas... E seus escândalos contínuos com as mulheres? - devolveu, cruzando os braços em seguida.

    - Sabe muito bem que isso é fácil de se resolver. - respondeu, levantando-se novamente. - É só nos assumirmos publicamente. Nós dois somos cercados por escândalos mesmo, mais um não faria mal algum. E aproveitando o embalo do momento, nos pegamos em público com direito a mão lá e cá para fechar com chave de ouro!

    Hyde erguia o punho, socando levemente o braço de seu moreno com aquela afirmação sem escrúpulos. Gackt resmungava alguma coisa, levando uma das mãos até o local, acariciando levemente.

    - Babaca! - exclamou Hyde, tendo como resposta as risadas de Gackt, que movia o corpo rapidamente e se posicionava acima do menor. Com uma de suas mãos sobre o peito coberto pela camisa do rapaz o empurrava lentamente contra aquela cama, enquanto posicionava o joelho entre as pernas de Hyde, friccionando propositalmente o membro ainda adormecido do rapaz, que corava levemente com aquela ação e apenas enlaçava os braços no pescoço do moreno. - Babaca e pervertido.

    - É, e você ama esse babaca pervertido. Lide com isso. - finalizou, rindo em seguida e erguendo uma das pernas de Hyde, apoiando-a sobre seu ombro enquanto desferia um tapa sobre a nádega esquerda do menor.

    Hyde mordia levemente o lábio inferior, trazendo com ambos os braços o rosto de Gackt para mais próximo do seu, tomando aqueles lábios tentadores para si e sendo imediatamente correspondido pelo rapaz, que não perdia tempo em começar a explorar aquele pequeno corpo abaixo de si com as mãos.

    Ah... Como sentira falta daquela libido que sentia apenas com o seu moreno! Este que havia voltado apenas por ele.

    Talvez realmente seguisse o louco pensamento de seu amante, talvez realmente assumisse o que sentia em público. Se existisse um mundo onde pudesse viver livre ao lado daquele que amava, talvez, só talvez, valesse a pena cometer loucuras por ele.

    Afinal, estamos falando de Gackt. O seu moreno e apenas seu.


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