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Abri os olhos rapidamente sem saber onde estava. Era escuro e não tinha noção do espaço, mas toquei em uma parede assim que me levantei, era uma sala abafada. Um porão, deduzi. Tateando pelas paredes procurei até encontrar uma porta, mas uma sensação horrível tomou conta de mim. Fome, era o que sentia, e de forma violenta meu corpo protestava. Estava fraco, a ponto de sentir dores insuportáveis. Além disso pecebia todo meu corpo diferente, porém, mesmo fraco e em agonia fui capaz de arrombar a porta com um chute.
A fúria por estar preso pareceu me dar forças. Não me lembrava de muita coisa, além de ter sido atropelado pelo carro escuro naquela estrada maldita. Me lembrei de Rose, e que tinha algo para fazer assim que pudesse sair dali. Então percebi. Não estava mais respirando. Hesitei, mas contei os segundos em que o ar não me parecia necessário. ''O que diabos é isso?'', pensei, pois não sentia a necessidade alguma de puxar o ar para dentro. Mesmo assim o fiz, e pude ouvir meu pulmão se encher num chiado abafado dentro de meu peito, o que de certa forma me fez sentir mais dor.
Assim, notei pela primeira vez aquele cheiro forte e doce. Segui a direção do aroma, sem saber ao certo o que era. Apenas sentia muita fome, e aquilo me pareceu ser a coisa certa a fazer. Foi puro instinto.
Um recipiente grande, como um prato fundo de metal estava ali no chão, poucos metros da porta em que acabara de arrombar. Aquela sala por sua vez; era mais iluminada. Velas nos candelabros póximos a cada parede clareavam o bastante para ver o caminho. Então, antes que pudesse me dar conta do que estava fazendo, me joguei ao chão como um animal e comecei a beber o líquido do recipiente. Era de um gosto doce, forte mas agradável, e estranhamente familiar. Não parei de beber e em poucos instantes esvaziei a bebida e minha sede foi saciada. Quando larguei a tigela de metal no chão e me afastei, foi que percebi que o que acabara de consumir era sangue.
Num salto, me afastei e me aproximei de uma parede, não senti repugnância por isso, apenas me assustei com o fato. Limpei a boca com a mão e com a luz das chamas ali acesas pude ver minhas mãos pálidas. ''O que está acontecendo aqui?'' pensei, e cai sentado deslizando pela parede. Havia algo muito estranho comigo. Decidi fugir dali imediatamente. A próxima porta encontrei destrancada, e então subi por uma escada que veio do mesmo corredor. Subi correndo mas de modo incrivelmente silencioso. Meu peso sequer fez a madeira da escada ranger.
Saindo por outra porta vi que tinha razão, era mesmo um porão. Havia sido trancado em um porão, e agora eis que me deparo com uma grande casa, mobília antiga, com pouca decoração. Nada daquilo fazia sentido, como havia chegado ali?