Pokémon Ree laii

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    12
    Capítulos:

    Capítulo 9

    Capítulo 007 - A senhora da noite

    Álcool, Nudez, Violência

    Capítulo 007 ? A senhora da noite

    Esferas de luz esverdeadas rodearam as garras sombrias, gerando um contraste nebuloso contra o pelo marrom. Em um rodopio de trezentos e sessenta graus, um anel ameaçador estabilizou-se em uma redoma protetora e destruidora.

    - Muito bem! ? Isis gritou animadamente. ? Teddiursa e Budew formam uma ótima dupla.

    - Você acha mesmo? ? disse apreensiva.

    O anel se desfez evaporando-se no ar. Estávamos treinando há horas uma combinação entre nossos pokémons, pois queríamos sincronizar nossos movimentos de batalha, para sermos imbatíveis nas batalhas em dupla.

    - Sinto que há muitos pontos falhos. ? rodeei a campina empalidecida. ? Temos de nos aperfeiçoar. Teddiursa e Budew ficam confinados dentro do anel, e isso limita os seus movimentos.

    - Julli se você acha isso. ? Isis sorriu indo de encontro a Teddiursa. ? Vamos modificá-la!

    - Tedd! ? Teddiursa abraçou Isis carinhosamente.

    - Budew. ? gritei para que se aproximasse. ? Talvez mais tarde. ? respondi a Isis.

    - Buuu. ? coloquei Budew em meu ombro esquerdo enquanto acariciava suas ramas. Parecia gostar disso.

    - Natu e Larvitar estão em perfeita sincronia, mas ainda temos de melhorar com Eevee e Mudkip. ? constatei.

    - Isso leva tempo. ? Isis disse sentando- se na terra fofa. ? Tivemos ótimos resultados para um primeiro treinamento.

    - Você tem toda razão. ? ficara exausta. Excedi-me a ponto de quase desmaiar. Desabei no chão, sentindo-me extremamente mal e trêmula. ? Acho melhor descansarmos.

    - Julli? ? Isis apressou-se a me socorrer. ? Eu disse que não era uma boa idéia.

    - Buu... ? Budew encolheu-se temerosa.

    Sorri. Não queria que elas se culpassem ou se preocupassem demais comigo. Agoniava-me deixá-las naquele estado de nervos, elas já se tornaram deveras importantes para mim.

    - Isis, não acha que está exagerando?! ? disse descontraidamente.

    - Ah? ? seus movimentos demonstravam certo constrangimento. ? Você pode me perdoar por isso?

    - Não seja boba. ? disse. ? Amigos se preocupam com o bem estar um dos outros, mas você às vezes extrapola.

    - Certo. ? Isis se ergueu. ? Tentarei reprimir isso daqui em diante. Eu prometo.

    Suas palavras não convenceram. Ela era do tipo sentimental. Nesse sentido era idêntica a minha mãe. Eu não poderia dizer muito. Percebia que era mais parecida com a minha mãe do que eu imaginava.

    - Vamos voltar para o nosso cantinho improvisado? ? Isis tentou mudar de assunto.

    - Porque não? ? levantei com o apoio de Isis.

    Havíamos conseguido nos instalar em um singelo casebre de uma fazenda próximo a costa. O senhor Montblanc nos acolheu e fora muito gentil, disponibilizando um lugar para passarmos a noite. Ele viera de Jotho, montando uma nova fazenda de criação de pokémons ovelhas. Sua esposa, a senhora Montblanc, nos recebeu com alegria e carinho. Sentimo-nos realmente acolhidas em seu lar.

    - Apesar de terem nos convidado para jantar em sua casa, não sei se devemos. ? não queria abusar da hospitalidade do gentil casal.

    - Mas mesmo assim teremos de passar lá, para dizermos que não poderemos participar. Isso não vai dar nem um pouco certo. ? Isis tinha razão. Eles não iriam permitir que fizéssemos alguma desfeita em seu convite. ? Além disso, o cheiro está maravilhoso. ? O aroma já era perceptível aquela distância.

    Um odor leve extasiante invadiu minhas narinas. Se o sabor fosse tão bom quanto o aroma iríamos tirar a sorte grande. Meu estômago roncou vorazmente. Isis deu uma risada contida, me fazendo enrubescer.

    - Hora do jantar! ? disse descontraidamente.

    - Hahaha! ? Isis estendeu a mão para um cumprimento. ? É isso aí garota.

    ***

    Nuvens de fumaça surgiam da chaminé de tijolos avermelhados, desaparecendo no céu enegrecido, repleto de pontos brilhantes luminosos. As estrelas eram bem mais visíveis em locais com pouca luminosidade, demonstrando toda a beleza e brilho de sua luz.

    Pelo caminho estendiam-se fileiras de flores de diversas formas e cores que se complementavam e se harmonizavam. Uma escada improvisada fora construída, a partir de troncos presos no terreno, facilitando à subida. O gramado a perder de vista em um verde vivo como os olhos daquele garoto da estância. A casa de campo, simples em sua formação, mas com um charme e romantismo enriquecedor.

    A porta da frente personalizada com flores talhadas a mão, a tinta fosca e detalhes de ouro em alto relevo. As janelas arqueadas, venezianas de madeira branca, fixadas a parede de forro delineado na horizontal. O telhado vermelho carmesim rendado combinando com a cerca de carvalho envernizado construída para o interior, resguardando a criação Pokémon do doce casal.

    Havia dois cães pastoreios que se alternavam nas guardas. As diurnas eram encarregadas por um exemplar dócil de pelo rajado e creme e as noturnas por um intimidador e feroz cão negro com características cadavéricas. Podia se notar os roncos tranqüilos do guarda diurno na casinha de cachorro lateral, e em constante vigilância no pasto trepidante ao vento com um aglomerado de lã repousante na região central, o guarda do turno da noite. Apontei a pokédex para ele, e instantaneamente se virou rosnando. Assustei-me com sua atitude descomplacente, contudo as informações começaram a ser ditas.

    Houndour, Pokémon cão noturno. Costumam andar em bandos para caçar, contudo as matilhas possuem um sistema de comando complexo e cruel. Os líderes do grupo são definidos em combates violentos e bárbaros, com a deserção ou morte dos derrotados.

    - Julli, não enrola. ? Isis se pôs contra a porta, dando três batidinhas leves.

    De súbito a porta se abriu, revelando um gentil senhor. As rugas bem demarcadas pela face, os olhos negros e cintilantes, ocultadas as sobrancelhas grisalhas em compensação a falta de cabelo, a barba longa enchendo as maças do rosto, a pele clara e vívida as orelhas enormes e as unhas corroídas e por fazer. Vestia um casaco de lã creme, a camiseta preta dentro da calça jeans larga e botinas de couro.

    - Recebemos uma grata surpresa hoje. ? o homem disse alegremente. Seu tom de voz grave era doce e gentil. A barba movimentava indicando que o senhor Montblanc estava falando. ? Minha netinha veio nos fazer uma visita. Estamos muito felizes em encher nossa casa de juventude. Então entrem, entrem!

    - Obrigada. ? disse timidamente.

    - Ah! ? Isis falou com um sorriso estampado. ? Que bom. Devem estar realmente contentes que sua neta veio visitá-los.

    - Muito mesmo. ? o senhor apontou para que entrássemos sem cerimônia.

    - Olá moças! ? a doce senhora segurou em nossas mãos de maneira amorosa. Sua voz era melodiosa, extremamente agradável. ? Nossa! Suas mãos estão frias, está mesmo um tempo horrível lá fora. Não podem pegar friagem, ficar no sereno faz muito mal.

    Ela tinha a cor dos olhos entre a prata e o jade, indescritível; iam se alternando magicamente, era o que poderia dizer. O cabelo curto grisalho em ondas elegantes, as rugas levemente aderidas ao pescoço, os lábios pintados de rosa claro, resplandecendo o tom de sua pele negra. As unhas bem feitas, embora não estivessem esmaltadas. Os contornos de sua face, suaves e delicados demonstravam sua beleza natural. Usava uma blusa rendada em laranja, a saia linho, com formas geométricas de hexágonos nas laterais em diferentes cores e tamanhos e uma sandália branca de bico arredondado.

    - Prometo que irei seguir suas recomendações. ? disse seriamente. Isis levou à mão a cabeça.

    - Bem. ? ela não conseguiu compreender a minha reação, mas deixou de lado. ? Venham conhecer minha netinha. Ela é um amor!

    - Vovó! ? uma voz energizante e empolgante veio do cômodo dos fundos. ? Já pedi que não fizesse esse tipo de coisa.

    Pelo corredor, uma moça não muito mais velha que eu e Isis, surgiu impactando. Ela andava quase dançando, daí notei os fones de ouvido. O cabelo afoito e rebelde, em estilo Black Power, os lábios carnudos em tom dourado, os olhos negros em uma sombra laranja e a pele negra lisa e sem imperfeições, até aí tudo bem. O que ocorre são os excessos, a começar a coloração amarelo berrante do cabelo, a intenção era ficar semelhante a trovões, mas exagerou nos efeitos. As roupas não eram ruins, mas abusavam da combinação de cores fortes. A mini saia estilo colegial xadrez rosa choque e amarelo, a blusa verde água com desenhos infantis e escandalosos, a bota vermelha, uma explosão de colorações vivas e intensas, que chegavam a incomodar a visão. Apesar disso, nada poderia negar a sua beleza avassaladora.

    - Olá. ? ela era bastante rápida. Em poucos milésimos de segundo já estava a minha frente. Seus movimentos sincronizavam-se instintivamente. ? Me chamo Li.

    - Julliane, mas pode chamá-la de Julli. ? Isis interrompeu-me. ? Eu me chamo Isis.

    - Isis! ? disse fazendo cara feia para ela.

    - Você precisa ficar mais informal. ? Isis resolveu falar com seus botões. ? Não precisa ser tão séria. Se solta. ? disse jogando o seu corpo carinhosamente contra o meu.

    - Isis, já chega! ? estava envergonhada.

    - Vamos comer já que estávamos esperando apenas vocês chegarem. ? o senhor disse acalmando os ânimos. ? Essa juventude de hoje que não tem horário pra nada. Vive procurando por novas aventuras ao bel prazer, sem se preocupar com mais nada. Hohoho! ? até sua risada era briosa. ? Vamos aproveitar este momento com alegria.

    - Está certíssimo. ? disse enchendo meus pulmões com o aroma delicioso que se espalhava no ar. Queria tirar o foco de mim. Não queria entrar em detalhes da minha falta de habilidade para as relações sociais.

    - Escapou dessa, mas depois... ? Isis balançou o dedo indicador vigorosamente.

    Eu sabia que Isis iria continuar a me cutucar para ser mais comunicativa e ter um comportamento digamos mais ?normal?, próximo do comum. Até que gostaria disso, mas a educação que foi dada pelos meus pais foge a regra, e isso já foi impregnado em meu ser, fazia parte de mim.

    Caminhamos pelo corredor até chegarmos à sala de jantar. O papel de parede com estampas de bambus dava à sensação de estarmos mais próximos a natureza, a lareira fumegante, aquecendo toda a casa, sobre ela, um conjunto de louça fino e requintado e um quadro pintado assinado pela amável senhora Montblanc demonstrando a elegância e bom gosto do casal para decoração. A mesa abarrotada de comida forrada por um caminho de mesa bordado a mão de coloração verde. Estava impressionada com a fartura e o visual dos alimentos, poderia ser servido para dez a doze pessoas, e ainda poderia sobrar, mas o aroma, o aspecto e a aparência abriram meu apetite e sentia que poderia comer tudo que se encontrava ali.

    - Que lindo! ? Isis disse maravilhada ao se sentar. ? Vocês sabem mesmo como preparar uma boa comida. Estão de parabéns.

    - Então aproveitem! ? o senhor disse entregando um prato a Isis.

    Isis colocava porções generosas de cada travessa, e no final mal conseguia segurar o seu prato devido ao peso. Eu não consegui conter uma risada tímida, que passou imperceptível por todos. O senhor passou outro prato para mim, e fui servindo porções mais modestas. Sentei-me ao lado de Li, que já estava com seu prato feito.

    - A comida dos meus avós é a melhor que irão provar, tenho certeza disso. ? Li disse abocanhando um pedaço de carne com shoyu. ? É di-vi-no. ? falou pausadamente.

    - Não exagere. ? a senhora estava ficando encabulada com os elogios.

    Ao provar um pouco de aspargos, senti um misto de sabores incríveis, que iam sendo reconhecidas pelas minhas papilas gustativas e a cada experiência, ia ficando mais deslumbrada.

    - Você tem toda a razão. ? Isis disse antes de mim. Desta vez ela não tentou expor a sua maneira o que eu sentia.

    - Senhora, você deveria abrir um restaurante. ? disse contidamente. ? É realmente delicioso.

    A doce senhora não sabia o que dizer diante de tantos elogios. Apenas conseguiu sorrir, um sorriso de orelha a orelha.

    - Então, minha neta, continue o que estava contando. ? o senhor falou limpando o bigode.

    - Ah, sim. ? disse animadamente. ? Eu vim hoje aqui especialmente para contar uma novidade incrível.

    - Diga então. ? a senhora estava ansiosa para saber. Não poderia negar que também ficara curiosa.

    - Fui convidada pela Liga Pokémon a ser a nova líder de ginásio de Vermilion. ? fiquei abismada e chocada de estar jantando tranquilamente com minha próxima adversária, que acabei engasgando sem querer. ? Os boatos de que o antigo líder fazia contrabandos de pokémons se confirmaram, infelizmente. Nesse momento estão fazendo uma avaliação de todos os meus pokémons. Em breve irei ser apresentada oficialmente.

    - Que maravilhoso. ? a senhora foi de encontro à Li para um abraço amoroso.

    Latidos ferozes soaram do quintal e um estrondo poderoso estragou o momento.

    - De novo não. ? o senhor disse levantando-se rapidamente e dirigindo-se para os fundos.

    - O que aconteceu? ? disse seguindo-o.

    - Mareep! ? ele disse inconformado. ? Há alguns dias recebi um novo lote e é comum alguns deles estranharem o local e ficarem arredios e irrequietos por algum tempo, mas uma delas não deu sossego. Não sei mais o que posso fazer. Eu sei que não é culpa dela. Cada ser vivo possui uma personalidade que a determina. E não é responsabilidade dela se não consegue controlar seus impulsos e se sente deslocada.

    - Será que não tem nada a ser feito? ? disse incomodada.

    - Não se preocupe com isso. ? o homem disse sorrindo. Apesar de suas palavras meu coração não se aquietou. ? É quase impossível alterar os traços que compõem a personalidade principalmente os mais marcantes. A personalidade é algo que nos torna únicos, e dificilmente mudamos. Na maioria das vezes os traços que estavam adormecidos afloram e pensamos que estamos diferentes, mas apenas aceitamos como realmente somos. Aquela Mareep não pertence a esse ambiente e não há nada de errado nisso, sua personalidade não permite se encaixar nesse clima calmo e ameno. Apenas isso.

    - Eu gostaria de fazer algo. ? estava preocupada com o destino que ele poderia dar aquele Pokémon.

    - Isso é admirável. ? os olhos dele brilharam. ? Nunca mude isso.

    - Modificar o quê? ? disse sem entender.

    - Nada. ? ele sorriu e continuou a caminhar. ? Um dia você perceberá.

    - Espere. ? disse apreensiva.

    - Julli, faça aquilo que tem vontade. ? Li apareceu ao meu lado. ? Não espere que façam algo por você. Se acha que deve ajudar vá.

    Resolvi seguir meu coração e as recomendações de Li, então fui em frente. Ao chegarmos ao gramado, o vento frio e congelante adentrou pelos meus ossos fazendo-me gemer de frio.

    - Julli, cuidado! ? Isis gritou desesperada.

    Quando percebi um relâmpago atravessou meu corpo, em uma sensação eletrizante. O calor inundou-me, contudo as descargas elétricas afetaram minhas terminações nervosas, forçando a emissão de neurotransmissores em meus músculos travando-os e alterando meus movimentos, tornando-os descoordenados. Minha visão sumiu em um clarão e voltou embaralhada e confusa.

    - Julli, você está bem? ? ela tentou me tocar, mas levou um choque. ? Julli!

    - O que eu disse pra você mais cedo? ? falei olhando nos olhos da Mareep que liberou aquela descarga. Apesar de não conseguir definir as formas daquele Pokémon, percebi algo em especial.

    - Certo. ? Isis entendeu o recado.

    - Reeeeep... ? a fofa ovelha elétrica aquietou-se.

    Uma estranha ligação se formou entre dois seres vivos que não conseguiam se encaixar. O seu olhar semelhante ao meu, ao menos era o que parecia naquele momento. Procurando algo que pudesse corrigir um vazio dilacerante, sem realmente saber o que se busca apenas querendo encontrar.

    - Acho que isso resolve. ? o senhor pegou uma garrafa de coloração amarela e borrifou em mim, relaxando meus músculos, permitindo me movimentar normalmente. ? Parlyz heal. É um item essencial quando se trabalha com pokémons elétricos. Hohoho!

    - É verdade. ? comecei a rir, ainda observando aquela Mareep. ? Hihihihi. ? como o gentil senhor acabara de dizer, dificilmente mudamos apenas expomos aquilo que éramos na realidade. Eu estava começando a me tornar aquilo que tentaram conter.

    ***

    - Você parece que tem um imã para confusão. ? Isis estava na parte superior do beliche refletindo sobre os últimos acontecimentos que se abateram a minha pessoa. ? Mal saiu de uma e já se meteu em outra situação arriscada e perigosa.

    - Não é minha culpa. ? disse com a cabeça cheia de preocupações. Tentei focalizar em um em especial. ? Você poderia me falar o que sabe sobre o ginásio de Vermilion? ? Naquele momento precisava de informações.

    - Posso contar uma história? ? Isis falou animadamente.

    - Vai em frente. ? adorava quando ela me contava sobre o passado da região de Kanto, distraía-me dos problemas.

    - Em um tempo onde as mulheres eram submissas e obedientes as ordens dos homens, uma revolução se levantou e formou-se o início de um novo ciclo. ? Isis conseguia narrar de uma maneira lúdica e envolvente. ? No ano sete abutre, uma época muito tortuosa em meio a embates mortais em defesa de suas vilas, os senhores da noite tiveram de passar por diversas provações, dentre elas, a aceitação de uma exímia guerreira e seu Pokémon, o guardião do movimento, que estavam se destacando na defesa de uma pequeno vilarejo da costa. Naquela época era uma afronta uma mulher ocupar uma posição de comando, e foi ainda mais grave quando elas se infiltraram no posto mais alto possível, o de um senhor da noite.

    Estava maravilhada com o que Isis estava me contando. Sequer imaginava que ela iria transpor uma pergunta inocente em um acontecimento formidável ocorrido em eras passadas.

    - De início ela fora proibida de freqüentar as reuniões realizadas a cada lua cheia. Ela ficava aguardando que um representante reportasse o que havia sido discutido e não era permitida que ela tomasse a palavra ao seu representante. A maneira que ela encontrou para ser respeitada e tratada como igual entre os senhores da noite, foi desafiá-los em uma batalha de reconhecimento de valores. Estes desafios eram propostos quando alguém queria provar a sua força diante de suas vilas. Foi desta maneira que ela se tornou o senhor da noite em seu vilarejo devido a essa abertura, já que homens e mulheres poderiam solicitar de tal artimanha para ganharem vantagens e benefícios importantes. Os senhores da noite não se sentiram ameaçados diante da provocação e concordaram em batalhar. Ela viajou a cada um dos vilarejos derrotando cada um deles de maneira justa e honrosa. Ela encontrou maiores dificuldades quando teve de lutar contra o guardião da cabeça da morte, considerado um predador poderoso do movimento, mas mesmo assim o derrotou.

    - Como assim? ? disse curiosa.

    - Atualmente definimos as resistências e fraquezas considerando o tipo que o Pokémon apresenta. Isso nos auxilia na hora de montarmos uma estratégia de batalha. Naquela época funcionava de outra maneira, mas com os mesmo princípios que utilizamos hoje, considerando como treze predadores naquela época: cana, ocelote, águia, abutre, movimento, faca de sílex, chuva, flor, crocodilo, vento, casa, lagarto, serpente, cabeça da morte, veado, coelho, água, cão, macaco e erva, o que hoje já foi confirmado ser dezessete: água, fogo, gelo, terrestre, dragão, venenoso, noturno, metálico, pedra, lutador, psíquico, voador, normal, planta, inseto, elétrico e fantasma. Eles entendiam que havia pokémons que eram mais perigosos, e esses foram chamados de predadores. Para que houvesse um nivelamento, cada senhor da noite deveria ter um predador que pudesse ameaçar o seu posto e mantê-lo contido quanto a sua sede de poder. Claro que mesmo com essas precauções, muitas tentativas de golpes se sucederam. Daí entrava o líder dos senhores da noite, para controlar a situação. Ele era o único senhor da noite que não modificava o seu guardião, sendo sempre representado pelo vento considerado o maior predador do continente de Kanto.

    - Então com a ameaça imposta pelo senhor da noite do guardião do movimento, ele teve de exercer sua função. ? continuei o seu raciocínio.

    - Correto. ? Isis deu uma risada singela, mas continuou logo em seguida. ? Contudo ele havia sido informado de uma tentativa de golpe, sendo enganado pelos senhores da noite que se sentiram despeitados e irados por perderem uma batalha para uma reles mulher. Mas o líder dos senhores da noite era reconhecido por seu senso de justiça e guiado por ele, conseguiu descobrir a verdade por trás do complô formado pelos outros senhores da noite, orquestrado pelo guardião da serpente. Como ele ainda não chegara a conhecer o senhor da noite do guardião do movimento, resolveu investigar. Esse desencontro entre eles se deu no período em que ela se tornou o novo senhor da noite, isso porque o líder dos guardiões da noite não estava comparecendo as reuniões e se ausentou por um longo período por estar em missões diplomáticas para tentar acabar com os constantes massacres que assolavam a região.

    - Então ele tinha de confirmar pessoalmente com quem ele estava lidando. ? não consegui segurar o raciocínio apenas em meus pensamentos.

    - E para isso, ele se disfarçou de um simples aldeão e ouviu o povo que vivia no vilarejo do senhor da noite do guardião do movimento e constatou que na realidade ela queria ser respeitada como igual diante dos outros senhores da noite e também descobriu que pela sua liderança eles se sentiam mais resguardados do perigo e que a qualidade de vida daquela população estava melhorando a cada dia. Ele resolveu se apresentar para o senhor da noite do guardião do movimento e colocá-la a par dos últimos acontecimentos, o que ele não esperava era o que se sucederia ao conhecê-la.

    - O quê? ? disse agoniada pela curiosidade crescente. ? Não faz suspense.

    - Hahaha! ? ela não conteve o riso. ? Isso deixa as coisas mais emocionantes.

    - Anda logo. ? saiu quase como um grito.

    - Tá bom. ? ela pigarreou um pouco insatisfeita, mas continuou. ? Ao ver a beleza magnífica do senhor da noite do guardião do movimento ele se apaixonou instantaneamente. Ela já o admirava, por conhecer muitos de seus feitos heróicos e altruístas, e foi quase inevitável que esse sentimento também se transformasse em amor. Apesar do sentimento recíproco ambos se calaram.

    - Mas por quê? ? não compreendera o que levaria a tal atitude.

    - A revelação de um possível romance entre os dois confirmaria a derrocada do senhor da noite do guardião do movimento. ? Isis continuou sem se importar com minhas interrupções. ? Os outros senhores da noite poderiam alegar que ela enfeitiçou o líder dos senhores da noite para agir sob seus comandos malévolos, o que desencadearia em morte imediata.

    - Que crueldade. ? aquilo não era justo.

    - Por saberem disso preferiram reprimir suas emoções concentrando-se no bem estar um do outro. Além disso, a única forma do senhor da noite do guardião do movimento ser aceito como igual perante os outros seria pela palavra do senhor da noite do guardião do vento. ? Isis disse com a voz doída, conseguia transparecer uma tristeza sufocante. ? Na próxima lua cheia o líder dos senhores da noite pronunciou seu veredicto final. ?Em frente aos senhores disponho o senhor da noite do guardião do movimento os meus cumprimentos e alegria em recebê-la como a primeira senhora da noite. Seja bem vinda.? Alterar uma simples palavra fez toda a diferença diante dos senhores da noite. A colocação feita pelo líder dos senhores da noite obrigou que ela fosse aceita como a primeira senhora da noite eleita e reconhecida como tal. A partir daquele momento as mulheres começaram a ganhar espaço e serem aceitas em outros locais antes restritos e o líder dos senhores da noite e a senhora da noite do guardião do movimento nunca expuseram seus sentimentos um ao outro, permanecendo assim intocável.

    - Isso deve ter sido tão doloroso. ? disse inconformada. Apesar de isso ter ocorrido em um período tão distante de mim, senti um aperto desgastante em meu peito. ? Não poder sequer expor aquilo se sente.

    - Espero que isso ajude em sua próxima batalha de ginásio. ? Isis disse bocejante.

    - Tenho certeza que sim. ? deveria ser corajosa como à senhora da noite do guardião do movimento e não esperar a aprovação de ninguém sem sofrer as conseqüências pelos meus atos.

    O cansaço me fez adormecer, contudo percebi que a história que acabara de ouvir servira a mim e não necessariamente algo relacionado ao ginásio de Vermilion. Isis sempre sabia me animar.

    ***

    - Eu gostaria de agradecer pela hospitalidade. ? disse sorridente.

    - Eu que agradeço a presença de moças tão simpáticas em minha humilde residência. ? o senhor segurou nossas mãos em sinal de despedida.

    - Aproveitei para preparar um lanchinho para vocês no caminho. ? a senhora entregou um pacote embrulhado em um pano de seda azul marinho. ? Espero que gostem.

    - Não precisava se preocupar. ? Isis disse recebendo o embrulho. ? Muito obrigada.

    - Como poderemos devolver depois? ? falei quase como um sussurro.

    - Quando passarem por Vermilion vão ao ginásio, e aí podemos aproveitar para batalharmos. ? Li sorriu. ? O que acham?

    - Seria ótimo. ? disse nervosa.

    - Seria uma satisfação terem vocês como minhas primeiras desafiantes. ? ela continuava a sorrir.

    - Espero corresponder à expectativa. ? disse afastando-me, acenando para eles.

    - Tenho certeza de que irá. ? aos poucos eles desapareçam no horizonte.

    Sorri para Isis e ela correspondeu. Seguiríamos agora pela rota doze, banhada pela costa leste de Kanto.


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