Bandages

"Faixas podem ser como máscaras, tirando de vista aquilo que nos incomoda e escondendo a verdade dos olhos alheios."

Natsu acordou sobressaltado e ofegante. Olhou ao redor e viu que nenhum de seus companheiros havia acordado. O que era bom. No momento ele não queria perguntas, pelo simples fato de que ele mesmo não tinha respostas para elas.

Mais uma vez, aquele pesadelo. Uma criatura envolta em chamas, ou melhor, que estava confortavelmente envolta em chamas dizendo coisas que ele não compreendia.

Normalmente a criatura apenas o provocava ou tirava sarro dele. Dessa vez, ela portava um sorriso sádico e tinha um relógio na mão.

"Tic Tac. Tic Tac. O tempo está passando, Slayer. Seu prazo está quase no fim."

As palavras ditas pela criatura perturbavam sua mente e seus pensamentos. Natsu não entendia o que ela queria dizer, mas a menção de um prazo o deixava inquieto.

Sentiu um incômodo no braço. O mesmo que estava enfaixado. Ele se perguntava como os outros não haviam percebido ainda. Ele esperava que nesse ponto Lucy já tivesse perguntado sobre a estranha faixa.

Natsu foi desenrolando a faixa lentamente. O estado de seu braço não parecia ter piorado. As estranhas marcas negras que cobriam uma parte dele estavam brilhando, como sempre acontecia depois de um pesadelo.

Ele não tinha certeza de quando as marcas começaram a aparecer, mas suspeitava que tinha a ver com os pesadelos. No início, a sensação era de ter o seu braço queimando, o que era bastante irônico, considerando que o Dragon Slayer era imune ao fogo.

Ninguém sabia da existência das marcas. Nem mesmo Happy. E depois de ouvir o que acontecera com Gray, as marcas o preocupavam cada vez mais. Elas podiam ser um efeito tardio do ex-conjuro que os atingiu durante a luta contra Mard Geer. Memento mori. Não há escapatória, todos um dia encontram seu fim. Seria esse tipo de prazo ao qual a criatura se referia?

Ainda perdido em pensamentos, ele não notou que sua companheira havia acordado. Lucy notou o quão inquieto Natsu estava e finalmente estranhou o comportamento do Slayer.

— Natsu? — Chamou ela ainda meio sonolenta — O que foi?

Natsu foi pego de surpresa e com isso ele logo estava quase que petrificado, sem reação. Mas não demorou muito para recuperar um pouco da compostura.

— Não é nada, Lucy. Volte a dormir.

Aquela resposta a incomodou. Natsu tentou se afastar, mas Lucy o segurou pelo braço e insistiu.

— Não me venha com essa, Natsu. Tem algo errado sim.

O clima entre os dois ficou mais pesado. Natsu estava tenso. O braço que Lucy segurava era o mesmo que portava as marcas, que apenas por um acaso ela parecia não ter notado... Até aquele momento.

— O que são essas marcas? Natsu, o que está acontecendo?

— Eu não sei, Lucy. — Ele respondeu sentindo tudo desabar — Eu...Eu não sei...

Ver Natsu desabando daquela maneira em sua frente deixou Lucy sem palavras. E ela bem percebeu que aquele não era o momento para perguntas.

Aquelas faixas haviam sido uma máscara, disfarçando o verdadeiro estado em que ele se encontrava. Pois no fundo, no fundo, ele estava tão quebrado quanto qualquer outro.