Latejar

Hinata

Depois do que eu disse ao Naruto, eu realmente pensei que ele nunca mais fosse querer me vez novamente. Era o que eu queria que acontecesse. Mas ou ele era burro demais para não perceber minha intenção, ou se recusava a me deixar em paz.

Porque no dia seguinte, ele me seguiu para todo lado. Surgiu do nada quando eu ia para a escola com Sakura. Durante as duas primeiras aulas, ele mexia em meu cabelo, como de costume. Mas na hora do intervalo ficou pior. E aquilo já estava me deixando mais irritada do que eu já estava antes.

Era sufocante. Ele não saía do meu lado e, para a minha completa infelicidade, Sakura achava aquilo tudo muito fofo. Ria da minha cara bem na minha frente e Naruto se segurava para não acompanha-la. E cada minuto parecia ser muito mais extenso do que uma hora.

Mas eu suportei. Já me comparava minha paciência a um elástico. Se esticava e esticava, difícil de se arrebentar.

E quando deu meio-dia e o sinal bateu, eu esperei voltar para casa tranquilamente, mas aparentemente eu realmente não tenho sorte. Naruto continuou me seguindo, como se fosse perfeitamente normal. Idiota. Como sempre.

-E então, Hina...

-Hina?

-Sim! A Sakura te chama assim, não é?

-É, mas ela é minha amiga. Você não.

-Tem razão. Não sou sua amiga -ele fez uma pausa e depois completou: -Sou seu amigo. Sou um garoto, portanto é meio impossível que eu seja sua amiga. Você sabe, amiga é feminino.

-Idiota...

-Ei, Hinata! -aquela voz sempre simpática chamou-me, fazendo com que eu me virasse em sua direção.

-Oi, Kiba -respondi, ainda um pouco encabulada pela forma como me portei na noite anterior.

-Naruto -ele cumprimentou Naruto acenando com a cabeça, sem receber o mesmo. Na verdade, Naruto não poderia ter sido mais rude. Mostrou o dedo do meio para Kiba, que apenas deu de ombros. Autoestima impressionante, eu tinha que admitir.

-Algo aconteceu, Kiba? -perguntei no meu tom de voz mais amável, tentando aliviar aquela tensão que Naruto impunha ao ambiente.

-Só queria saber se você não gostaria de almoçar comigo.

-Agora? -Naruto e eu perguntamos ao mesmo tempo.

-Sim.

-Então vamos! -eu falei e em seguida ve voltei para Naruto -Vá embora. Prometo que passo no seu apartamento mais tarde.

Ele bufou novamente, se dando por vencido. Então, se abaixou para diminuir a diferença de altura entre nós e beijou minha testa.

-Vou te esperar -disse e foi embora em seguida.

E então, Kiba e eu fomos a uma lanchonete. E ele pediu hambúrgers. Aceitei, não querendo criar mais um problema entre nós. E acabou que Kiba era uma companhia agradável e muito fácil de se conversar. Falava sobre coisas idiotas e coisas sérias. Talvez realmente pudéssemos nos dar bem.

Quando terminamos de comer, ele foi gentil e pagou a conta, me levando a uma sorveteria logo em seguida. E jogamos mais conversa fora num parque ali perto. Foi somente às 15:30 que eu me toquei que tinha dito que is visitar Naruto.

-Kiba, eu tenho que ir. Você viu mais cedo. Vou ver o Naruto.

-Ah. O Naruto.

-Sim.

-O que há entre vocês dois?

-Para falar a verdade, nem eu mesma sei -falei a verdade. às vezes eu tinha vontade de enforcar Naruto. Em contrapartida, grande parte do tempo nós éramos como melhores amigos. Era estranho, mas ao mesmo tempo eu gostava disso.

-Então não seria um problema?

-O que?

-O fato de eu gostar de você.

Aquilo era uma surpresa. Era a primeira vez que um garoto dizia que gostava de mim. E eu tinha uma sensação de que era daquele jeito. Isso me assustava um pouco, mas decidi não demonstrar.

-Acho que não. Naruto não tem nada a ver com isso. Quem decide com quem vou sair sou eu.

-Bem... então até logo! -ele sorriu, veio até mim e depositou um beijo no canto da minha boca. Pela primeira vez, corei. E achava que havia grande probabilidade de isso acontecer mais vezes.

Sorrimos um para o outro e nos viramos, indo em direções opostas.

Assim que cheguei, Kakashi disse para eu subir para o apartamento, pois Naruto estava me esperando. E assim eu fiz. Só sei que antes mesmo de  minha mão tocar na porta, Naruto já a tinha aberto e me puxado para dentro do imóvel.

-Ei, fica calmo! -eu o repreendi, fitando seus olhos azuis que faiscavam como chamas.

-Por que você saiu com ele, Hinata?

-Porque o Kiba é uma pessoa legal. E ele não tenta controlar meu círculo de amizade. Também não fica puxando meu cabelo durante todas as aulas...

-Eu não puxo seu cabelo. Eu apenas tento fazer carinho em você, já que você nunca me dá uma chance de ser seu amigo. Afinal, você não pode gritar e me bater na sala de aula, não é?

-Idiota.

-Já me chamaram de coisas piores, acredite.

-Por que me perseguiu o dia inteiro?

-Não te persegui nas últimas três horas. Espera aí, eu nunca te persegui!

-Tem certeza?

-Tenho! Eu apenas queria te fazer companhia.

-Eu tenho a Sakura.

-Quero dizer uma companhia diferente.

-Não tem nada de diferente.

-Então admite que sou seu amigo?

-Ok, eu admito.

-Já é um grande passo. Agora me diga porque me ignorou a manhã inteira.

-Estou irritada.

-Com que?

-Com você! -minha voz se elevou um pouco, deixando transparecer o quanto eu estava incomodada -Como eu tenho certeza de que já te disse, você não tinha o direito de arruinar meu encontro como fez ontem.

-Quer dizer que era mesmo um encontro? Digo, um encontro romântico.

-Sim.

-O almoço de hoje também era?

-Era.

-E o que vocês fizeram? -Naruto parecia realmente interessado, o que era estranho. E mais estranho ainda seria contar a ele como fora o encontro.

-Ele me levou para comer alguma coisa, depois tomamos sorvete.

-Só isso?

-O que mais poderia ter acontecido?

-Ele te beijou?

Pela segunda vez naquele dia, fiquei vermelha, mas eu tinha certeza de que desta vez, fora de forma muito mais intensa.

-Não exatamente...

-Como? Sem essa, Hinata! Ou ele te beijou ou não!

-Ele me deu um beijo no canto da boca e só! Agora por favor, podemos não falar sobre isso?

Naruto deu um soco na parede com força, mais irritado do que eu jamais tinha visto.

-Naruto, fica calmo! Não foi nada demais!

Ele veio até mim, segurando meu rosto entre suas mãos, encarando-me com uma intensidade surreal. Em seus olhos, aquelas chamas azuis ferozes se acalmavam.

-Hinata, não diga que não foi nada demais! Ninguém sabe quais foram as reais intenções dele ao quase te beijar.

Retribuí seu gesto, tomando seu rosto entre minhas mãos, da mesma forma que ele fazia comigo. Pude ver que ele ficou surpreso com o gesto, mas não falou nada sobre isso.

-Fique tranquilo. Eu sei me cuidar, ok?

Aos poucos, as feições de Naruto relaxaram e ele colocou uma de suas mãos sobre a minha, acariciando-a com o polegar. Estávamos tão próximos. Meu corpo foi puxado contra seu peito quente e eu tive a sensação de que a minha própria temperatura corporal tinha subido.

A respiração pesada dele perto de minha orelha me causava arrepios, mas eu me esforcei para controlar minha respiração, que teimava em se alterar.

-Me perdoe, Hinata -ele sussurrou.

-Está tudo bem -respondi, sentindo algo diferente dentro de mim. Aquela ansiedade, aquela súbita timidez.

E aquele latejar em meu peito, que eu não conseguia compreender.