Promessa Vazia

7 anos depois

Ao longe, ele viu seu irmão o esperando com um sorriso discreto nos lábios finos. Ao lado de Itachi, estavam Yui e o pequeno Haru, que mantinha os olhinhos fixos no homem alto que se aproximava, arrastando sua mala mediana atrás de si. Um sorriso sem dois dentes da frente se formou nos lábios do pequeno, que saiu em disparada, exclamando:

-Tio Sasuke!

Sasuke se abaixou para ficar na mesma altura de seu sobrinho de seis anos, recebendo o abraço carinhoso de Haru. Ele sentia saudades do sobrinho, que tinha crescido consideravelmente desde a última visita que Itachi fizera.

-Como vai, Haru? –ele perguntou, bagunçando os cabelos negros que Haru tinha herdado do pai.

-Bem. Eu senti a sua falta, tio Sasuke!

-Eu também, baixinho –Sasuke se pôs de pé, observando Itachi se aproximar com Yui ao seu lado.

-Finalmente –o Uchiha mais velho disse, abraçando o irmão mais novo –O Haru não parava de perguntar de você.

-O tio Naruto também! –Haru falou, cruzando os braços na frente do peito, completamente indignado por seu pai dizer uma coisa tão desnecessária na sua frente, ainda por cima.

-Onde está aquele idiota? –Sasuke perguntou, olhando para os lados, à procura de seu melhor amigo, mas sem encontrar nenhum sinal sequer daquele loiro escandaloso.

-Ele não pôde vir. Está acompanhando a Hinata no médico –Itachi respondeu.

-Médico? Ela está bem?

-Você não sabe? –Yui perguntou, rindo um pouco –A Hinata está grávida.

-Aquele imbecil não me contou nada! –Sasuke exclamou, abismado com a notícia.

-Você vai para o seu apartamento? –Itachi  indagou, sorrindo.

-Vou. Depois eu vou ligar para aquele idiota.

Itachi retirou do bolso de seu casaco a chave do carro de Sasuke e a entregou ao irmão, junto à outra chave, esta do novo apartamento. Eles saíram juntos do aeroporto e Sasuke seguiu para seu carro, logo após se despedir de Haru, Yui e Itachi.

No caminho para o apartamento, ele sorriu. Naruto seria pai. Ele não podia pensar em algo mais insano. Mas então, uma súbita percepção o acertou como um soco direto em seu rosto. Ela não fora espera-lo no aeroporto. De todas as pessoas que fizeram parte de sua infância e adolescência, ela era uma das poucas que ele tinha certeza de que iria espera-lo no aeroporto quando ele voltasse. E no entanto, ela não estava lá.

Enquanto adentrava em seu apartamento, tratou de meter em sua cabeça que ela provavelmente teve algum compromisso inadiável e por isso, não tinha ido recebê-lo. Olhou ao seu redor, analisando o apartamento amplo e elegante, apesar de um pouco sombrio, frio como o dia em que ele fora embora de Konoha. A solidão o acertou em cheio e ele desejou que sua mãe ainda estivesse viva, de preferência ali, com ele.

Decidiu não pensar mais sobre o acidente que tirara a vida de sua mãe e seu pai e pegou o celular do bolso da calça jeans, discando o número de Naruto. O loiro idiota atendeu no terceiro toque.

-Quer dizer que você vai ser pai e nem me contou?

-Sasuke! Hinata, o idiota do Sasuke já chegou! –ele gritou e Sasuke pôde ouvir um risinho ao fundo, que ele sabia pertencer à Hinata –Desculpe não ter ido te receber, mas eu fui acompanhar a Hinata no ginecologista.

-Tudo bem. O Itachi estava lá com a Yui e o Haru...

-Já até imagino o que você quer saber.

-Sakura. O que aconteceu com ela?

-Ela está bem, não se preocupe. É só... bem, não sei bem como te explicar isso...

-Apenas diga o que tem que dizer logo, idiota!

-A Sakura está viajando. Com o noivo dela.

-Noivo?! –Sasuke se exaltou, se levantando do sofá em que estivera sentado.

-Não fique tão surpreso. Ela não podia te esperar pela vida toda, idiota. Além do mais, é perfeitamente natural que ela tenha se interessado por outro cara nesses sete anos. Sasuke... Me prometa que você não vai fazer nada para interferir nesse casamento. A Sakura está feliz com o Sasori. Então, por favor, deixe ela viver a vida dela.

-Desculpe, Naruto... Mas eu não posso prometer isso.

Ele ouviu um longo suspiro do outro lado da linha.

-Imaginei que fosse dizer isso. Sua teimosia é uma coisa que nunca vai mudar, não é, Sasuke?

-Pode ter certeza disso.

-Bem... –houve um breve silêncio, mas logo Naruto voltou a falar –Hinata acabou de me dar uma ideia. O que acha de nos encontrarmos com a turma do Ensino Médio hoje à noite, no Ichiraku’s Ramen?

-Ok. Nos vemos hoje à noite –Sasuke desligou o celular, jogando-o no sofá.

Suspirou pesadamente, passando as mãos pelo cabelo negro, bagunçando-o ainda mais. A todo momento, as memórias do dia em que partira de Konoha lhe vinham à cabeça e ele tinha vontade de gritar, como um louco.

Eu vou te esperar. Eu prometo.

Promessa. Aquela promessa aparentemente vazia, em que ele se agarrara durante os anos que passou longe de Sakura, pensando em como seria quando eles se reencontrassem, quando ela dissesse com sua voz suave que cumprira aquela promessa. Ele fora realmente tolo.

*

O aroma do ramen invadiu o ar no instante em que Sasuke adentrou no restaurante junto de Naruto e Hinata, procurando pela mesa onde os outros amigos se encontravam. Não foi muito difícil. E, como o esperado, Sakura não estava ali.

Em compensação, quase todos os seus amigos do Ensino Médio estavam reunidos naquela mesa, onde as risadas eram audíveis mesmo de longe. Naruto se apressou, acenando energicamente, sendo seguido por Hinata e Sasuke. O casal se sentou lado a lado e Sasuke sentou ao lado de Shikamaru, que mantinha o braço apoiado no encosto da cadeira onde Temari estava sentada. Aparentemente, eles estavam em casais e Sasuke era o único sem companhia.

-E então? –ele perguntou, rindo de uma piada idiota de Naruto –O que eu perdi nesses sete anos?

-Eu e a Hinata nos casamos, como você sabe, e ela está grávida, como você também já sabe –Naruto falou, entrelaçando sua mão à de Hinata, que corou.

-Me diga alguma novidade, idiota!

-Eu e o Shikamaru estamos namorando –Temari falou, olhando para Shikamaru, que parecia que ia dormir a qualquer momento.

-Finalmente –Tenten comentou, arrancando algumas risadas.

-E você, Tenten? –Sasuke perguntou, lançando uma olhadela para Neji, que estava calado até então.

-Ela está muito bem, obrigada por perguntar –o Hyuuga respondeu no lugar dela.

Tenten deu um tapa não muito forte no braço de Neji, que fez uma careta.

-Não seja um idiota, Neji! Ele está perguntando o que eu tenho feito da vida nesses sete anos! –em seguida, ela voltou seu olhar para Sasuke e respondeu, com a voz suave: –Eu me casei com esse idiota ciumento –ela fez um aceno com a cabeça indicando Neji.

-Isso não me surpreende nem um pouco –Sasuke comentou, com um sorriso de canto.

-Não foi surpresa para ninguém –Ino falou –Mas aposto que todos ficaram chocados quando eu disse que estava namorando o Gaara, não é, meu amor? –ela passou o dedo indicador pela lateral do rosto de Gaara, que permanecera calado até o momento.

-Pode apostar –ele deu um sorriso acanhado.

-Mas no quesito surpresa, a testuda ganhou, com certeza –a loira falou, referindo-se á Sakura.

-Por que? –Sasuke indagou, fingindo-se de desinteressado.

-Ela conheceu o cara na faculdade de medicina. Ele se chama Sasori no Akasuna e é uns quatro anos mais velho que ela. Quase da idade do seu irmão, Sasuke. Ele é bonito, romântico... Fico imaginando se ele é tão quente quanto o Gaara...

-Você o que? –Gaara indagou, a face tão vermelha quanto seus cabelos.

-É brincadeira, meu amor –Ino o acalmou, sorrindo.

No fundo, Sasuke gostou de ouvir mais sobre o tal noivo de Sakura. Era bom saber quem era o homem que lhe roubara a mulher da sua vida.

Mas ninguém tocou mais no assunto “Sasori no Akasuna”, preferindo conversar sobre a viajem que Gaara, Ino, Shikamaru e Temari fariam para Suna, onde iriam conhecer os pais de Gaara e Temari, que eram irmãos. Naquela ocasião, o irmão mais velho deles também iria comparecer, o que deixava Temari mais animada, pois sentia falta do irmão.

Também comentaram sobre a gravidez de Hinata, que já durava cinco meses. Naquela tarde, quando Naruto a acompanhara no médico, eles tinham ido para saber o sexo do bebê. Seria um menino e eles já haviam decidido o nome: Boruto.

Sasuke ficou verdadeiramente feliz por todos os seus amigos terem encontrado suas metades e estarem tão felizes. Ele apenas lamentava não poder dizer isso de si mesmo.

Mais tarde, já em casa, ele pegou uma garrafa de uísque e se serviu, bebendo quase tudo de uma vez. Ele nunca pensara que quando voltasse, as coisas estariam daquele jeito. Ele nunca, nem em um milhão de anos, poderia sequer considerar a ideia de que Sakura estava noiva de outro homem. Era quase surreal.

Se serviu de outra dose, desejando que beber ao menos aliviasse mesmo que minimamente a dor aguda em seu peito. Por um segundo assustador, ele desejou não ter voltado à Konoha.

Desejou ter se esquecido daquela promessa vazia que Sakura lhe fizera e não cumprira.