Jóia Rara

Tempo estimado de leitura: 16 horas

    18
    Capítulos:

    Capítulo 12

    Guia de Viagem

    Álcool, Hentai, Linguagem Imprópria, Sexo, Suicídio, Violência

    OHAYOOOO MEUS LINDOS E LINDAS!!! (to empolgada)

    Hoje venho aqui suuuuuper feliz trazendo o 12º capítulo de Jóia Rara, porque eu passei a noite escrevendo, gente e eu to muito ansiosa para postar kkkkkkkk desculpem-me pela demora, minna, eu juro que sou boazinha :(

    Queria pedir um favorzinho pra vocês, se vocês quiserem, claro. Eu queria add todos vocês como meus amigos aqui na conta, mas eu sempre esqueço de parar um tempo para procurar todo mundo e mandar o convite. Então pra quem quiser me add também, quando vir ler os capítulos aqui da fanfic, manda pra mim o convite! Assim quando eu postar outras coisas vocês vão poder receber também e a gente vai aumentando ai essa "corrente".

    É isso, muito obrigada, minna! Boa leitura para todos vocês

    Tsunade

         Coloquei Dan para dormir mais tarde naquela noite. Meu ilustre marido havia cansado o garoto com seus treinamentos prematuros durante a tarde inteira. Não que eu não gostasse da maneira como eles costumavam passar o tempo, Jiraiya era um mestre e queria que o filho seguisse seus passos (além de que isso entretia o menino durante boas horas para que eu pudesse descansar), mas ao mesmo tempo, Dan havia acabado de sair das fraldas. Imaginava se não seria ruim para uma criança de cinco anos ter tanto contato com a luta, mas era uma coisa inevitável, no fim das contas, todas as suas principais influências masculinas faziam parte do mundo das artes marciais.

    Logo Dan seria levado pelo mesmo interesse, mesmo que Jiraiya não o empurrasse. Então procurei relaxar, entrando em meu quarto. Precisava tomar um banho! Apesar de ser um dia fora da escola, tinha coisas demais pendentes e isso geralmente me ocupava corpo e mente por horas demais.

     Escorreguei o corpo na banheira e deitei a cabeça no encosto, procurando relaxar. Mas antes que eu pudesse me acostumar à ideia, ouvi o celular apitar um novo e-mail. Eu deixava o endereço da escola conectado ao aparelho, para que nunca perdesse nada que fosse enviado. Sequei as mãos na toalha pendurada acima de minha cabeça e estiquei o braço para alcançar o pequeno telefone.

    Abri o correio eletrônico e me assustei ao ver quem havia enviado. Endireitei-me na banheira e cliquei sobre o envelope minúsculo. O título do e-mail parecia urgente. Dentro do link, o arquivo se estendia como uma grande carta, deixando-me curiosa. Em geral, me irritava com e-mails grandes, mas vindo dela em seu endereço secreto, sentia que deveria ler com atenção cada palavra.

    Passeei os olhos pelos diversos links contidos no arquivo, pensando sobre o que significaria uma sugestão tão fora de época.

    “ Prezada Diretora Senju Tsunade,

         Sei que poderia evitar formalidades, mas venho através deste e-mail lhe pedir e também sugerir um sério projeto para os alunos do último ano de Konohagakure. Peço-lhe com a certeza de que isso é a melhor forma de proteger os alunos. Primeiramente, quero dizer que tenho listado abaixo todos os pré-requisitos para que este projeto tenha fundamentos e que, portanto, não precisa se preocupar em encontrar uma justificativa plausível.”

     Cliquei no primeiro link, que se tratava de um programa de turismo estudantil com acompanhamento de Guias Profissionais e monitores de recreação. A intenção seria levar os alunos em uma viagem para o Canadá para fazer uma parceria com uma escola-irmã de Konohagakure em uma Convenção de Guias Profissionais, a fim de entrevistar e auxiliar os alunos na escolha de uma carreira. O projeto ainda incluía passeio histórico e guia turístico pela região.

    Franzi o cenho, tentando decifrar alguma espécie de código morse naquilo tudo. Por que ela iria querer que eu tirasse os alunos de Tokyo, assim, de repente? Estava um tanto quanto longe das provas finais, eles ainda tinham tempo para participar de coisas do tipo. Mas então por que justamente agora?

    Abri o segundo link, onde caprichosamente vinha todas as informações sobre uma pousada perto do centro de Quebec, com números de flats separados entre ala 1 e ala 2, perfeitas para a definição de “dormitórios” masculino e feminino. Além de toda a tabela de preços promocionais, dias da Convenção, roteiro turístico e estudantil durante todos os dias de hospedagem. Parecia um cronograma preciso para o que ela queria, mas ainda assim não continha nenhuma informação que revelasse o real motivo desse interesse.

    De fato, o projeto era impecável. Elevaria o título do colégio, apertaria os laços com os negócios canadenses e ainda ajudaria uma leva de alunos indecisos. Mas de acordo com as datas, eu só tinha três semanas para avisar e promover aos pais dos alunos uma viagem desse porte. Apesar de ser uma instituição de luxo, Konohagakure abrigava bolsistas, inclusive no último ano. Como poderia lançar um preço, mesmo que não tão elevado (principalmente perto de 80% das contas bancárias) assim de última hora?

    Suspirei. Seria um problema encontrar uma solução, ainda mais quando o pedido veio de modo tão urgente. Ainda havia dois links com os títulos de “Justificativas e Propostas” e “Requisito Final”. Cliquei no penúltimo, revelando uma lista de razões para se promover um projeto como aquele – o famoso blá blá blá político para convencer os pais – e logo depois atividades escolares à serem cobradas após o término do programa (o que era o único fim que os pais realmente se preocupariam, em sua maioria).

    A lista era bem variada, incluía anotações das palestras, redações sobre a(s) profissão(s) escolhida(s) e outras tarefas que no final equivaleriam à 50% da nota do semestre. Era uma proposta alta, muito, considerando as circunstâncias. Teria de haver um plano B para aqueles que não pudessem ir à viagem e só restava três semanas contando com o dia de amanhã.

    Passei uma das mãos sobre o rosto, expirando pesadamente. Quando eu pensava que às coisas estavam correndo bem, uma bomba aparecia no meio do caminho. A intenção daquele plano parecia impessoal demais, mesmo depois de toda aquela porrada de informações. O que ela queria com aquilo?

    Lembrei do último link e já com medo de descobrir do que se tratava, o abri. Finalmente a impessoalidade chegou ao fim, junto com a formalidade excessiva. A longa carta tornou-se um ultimato inesperado:

    “Sei que tudo parece loucura até então e que não tenho como garantir que você promova o programa no colégio, mas espero que o que eu vá dizer agora mude um pouco sua visão. Os alunos estão em perigo, Tsunade. Você PRECISA tirá-los de Tokyo por alguns dias, ao menos para que possamos pensar em alguma coisa sobre isso. Peço encarecidamente que tome a decisão correta.

    Eu quero toda a informação que a escola tiver sobre a aluna Hyuuga Hinata. Ela é a maior envolvida nos riscos, juntamente com todos os outros alunos que estiverem em seu círculo de amizades. Hinata está sob custódia de Sasaki Hiashi. Peço que cheque todo o histórico que tiver deste homem em sua instituição e por que esta menina está sob sua custódia. Não posso lhe explicar o motivo por este e-mail, mas sei que entenderá.

    Declaro urgência no pedido. Obrigada.”

     Fechei o correio eletrônico, sentindo um arrepio percorrer minha espinha. Lembrei de ter pedido à Shizune os documentos de matrícula de Hinata assim que a vi sair da secretaria em seu primeiro dia de aula. Mas nos dias seguintes, com a invasão no colégio, não havia nem sequer aberto o envelope. Só o que Shizune havia comentado era que a matrícula havia sido efetuada por uma mulher chamada Aiko. Estávamos tão apuradas que eu mal me tocara de que o sobrenome da mulher era conhecido por ali. Sasaki Hiashi tinha uma filha matriculada, uma garotinha de 15 anos cujo nome eu nem me recordava, mas eu tinha certeza de que ele era o responsável por ela em todos os documentos. Todas as transações, renovação de matrícula, reuniões, tudo era enviado de Hiashi e para Hiashi. Se ele estava mantendo Hinata sob sua custódia e a matriculara ali, porque havia enviado a esposa para fazê-lo?

    Claramente, Hiashi desejava que o histórico de Hinata não fosse interligado ao dele, mas ao mesmo tempo, com certeza estava manipulando a esposa para que lhe entregasse toda a documentação e informação enviada de Konohagakure sobre a aluna. Hinata é filha de Akemi, como fora parar na mansão Sasaki?

    Como eu estava mantendo isso fora de meu conhecimento por tanto tempo? Será que a invasão ao colégio era plano de Hiashi para impedir que eu tivesse tempo de procurar informações sobre Hinata?

    Saí do banho, ele ficaria para depois. Troquei de roupa e marchei para a garagem com o celular colado à orelha. Ligaria para a segurança do colégio abrir as portas para mim. Havia definitivamente um programa de urgência para promover.

                                                     ***

       Hinata

        Caminhei no dia seguinte com os pingos da chuva encharcando meus sapatos. Era meu primeiro dia em meu primeiro castigo e isso me fazia sentir como em uma infância tardia. O guarda-chuva ajudava um pouco, mas ainda assim coloquei o capuz do moletom sobre minha cabeça, tentando evitar ficar ensopada. Chovia pesado, o céu protestava alguma coisa, as nuvens tremiam sobre o grande prédio do colégio e as pessoas andavam agitadas ao meu redor. Olhei para trás, vendo Hiashi em seu próprio guarda-chuva, plantado no portão como se fosse meu guarda-costas. A face severa do homem atraía muitos olhares furtivos, mas desviei o olhar, pronta para adentrar as grandes portas de madeira. Deixei o guarda-chuva no hall de entrada, em uma estante dedicada à guarda-volumes, peguei a chave de número 27 e guardei na mochila. A escola parecia ainda mais abarrotada quando todas as pessoas se amontoavam em um mesmo destino. Retirei o capuz, caminhando com os olhos em meus próprios pés.

    Pude ouvir burburinhos sobre mim, maldosos em sua maioria e curiosos em outras. Mal pude suspirar aliviada ao entrar na sala de aula, pois as conversas não mudaram o tom. Aquilo estava começando a me deixar estranha por dentro, uma sensação familiar querendo me fazer fugir de mim. Mas o pensamento logo se calou ao ouvir um estrondoso riso preencher meus ouvidos.

    Naruto entrou com Sasuke ao seu lado, os dois riam de alguma coisa que o moreno mostrava no celular. O loiro levantou os olhos e eles instantaneamente pousaram em mim. O sorriso pareceu só aumentar. Caminhou até a fileira de cadeiras, deixando sua mochila no chão, enquanto Sasuke apenas lançou um olhar risonho para nós e sentou-se em seu lugar.

    - Baixinha! – exclamou, abaixando-se para me dar um beijo na bochecha. Corei ligeiramente, sorrindo com o canto dos lábios. Naruto sentou-se sobre sua mesa, virado para mim, com um sorriso verdadeiramente feliz.

    - Ohayo. – respondi timidamente.

    - Você sumiu ontem à noite, o que aconteceu com o seu celular? – perguntou logo de cara. O loiro falava um pouco alto e isso atraía olhares. Temia que isso causasse mais burburinhos ruins.

    - Hiashi o pegou, ele ficou realmente furioso. – respondi, suspirando. Naruto coçou a parte de trás da cabeça.

    - Agora vou ter que te sequestrar de verdade, hein. – respondeu, olhando-me com um biquinho tristonho. Pisquei, constrangida. As conversas ao meu redor sessaram de repente e vi que Naruto lançava um olhar meio aborrecido para quem quer que estivesse atrás de nós. Ao que parecia, tê-lo por perto não só calava as vozes dentro de mim, mas também todas as outras externas que tentavam me ferir. Sorri, abaixando o rosto estupidamente corado.

    O loiro se sentou na cadeira, com as pernas grandes estiradas para o corredor. Sua mão tocou meu queixo, levantando-o. As sobrancelhas douradas se juntaram, mudando sua feição alegre para outra séria e preocupada.

    - Ele fez alguma coisa com você? – perguntou, baixo dessa vez.

    - Não! Quer dizer... ele... – balancei a cabeça, lembrando das palavras grosseiras que foram ditas. – Ele me deu um sermão, tomou meu celular e me deixou de castigo. Estava me vigiando entrar no colégio agora, acho que não era um blefe.

    Naruto franziu a testa.

    - Estranho. Ele agiu como um pai, do tipo errado, mas ainda como um. – murmurou, fitando o nada. – Achei que ele não fosse assim.

    - Ele não é. Pelo menos eu acho. – respondi. O garoto me olhou nos olhos, parecia desapontado.

    - É tudo sobre essa coisa de rivalidade então. – comentou, balançando a cabeça negativamente. Suspirei, vendo o professor Kakashi entrar na sala de aula com uma expressão preocupada.

    - Ei... – murmurei, um pouco envergonhada. Naruto olhou para mim, esperando. – Seus pais pareceram ficar surpresos quando viram quem é o meu pai. O que aconteceu depois?

      Ele coçou a cabeça, mordendo o lábio inferior. Acompanhei o movimento e corei, sentindo-me boba por estar tão envergonhada.

    - Minha mãe ficou meio esquisita. Ficou quieta por todo o restante da noite e depois foi até o meu quarto para perguntar se eu tinha notícias suas. Acho que ela ficou preocupada. – respondeu. Encolhi os ombros.

    - Gomennasai. – sussurrei. O loiro segurou minha mão, brincando gentilmente com meus dedos.

    - Você não tem culpa de ser filha dele, baixinha. Ninguém te odeia por isso. – respondeu, sorrindo.

      Kakashi-sensei pigarreou, chamando a atenção dos alunos após terminar de escrever o início da matéria no quadro. Naruto se virou para frente, a tempo de ver Ino e Sakura entrarem apressadas na sala. O professor lhes lançou um olhar reprovador, mas logo suspirou e esperou que elas sentassem. As meninas olharam em minha direção e acenaram, sussurrando um coro de “você está bem?” que eu só consegui identificar por leitura labial. Assenti, sorrindo e nós viramos para prestar atenção na aula.

    - Ohayo, minna. Antes de começar a aula de hoje eu quero dar dois avisos. Primeiro, vocês terão uma aula de ética com o professor Gai hoje no lugar do meu segundo tempo. O tema discutido será bullying e preconceito, devido aos maus frutos colhidos em nosso último baile. Essa aula extra é terminantemente obrigatória e a chamada será monitorada, caso algum de vocês tentem burlá-la. – ele interrompeu a fala, lançando olhares sérios aos cochichos irritadiços. Afundei me minha carteira, abaixando o rosto para que a franja sombreasse minhas bochechas enrubescidas. Mas que tipo de aula era essa? O que poderia ser pior? Ser cobaia para as piadas ou cobaia para palestras de “como não zombar do coleguinha”?

    Kakashi suspirou.

    - O segundo recado é que a diretora Tsunade tem um importante comunicado para fazer hoje e ela pediu um minuto da aula para fazê-lo. Enquanto ela não chega, continuem copiando o que estou passando na lousa. – terminou, virando-se para voltar a escrever. Os alunos se apressaram para copiar e eu peguei uma caneta, iniciando o conteúdo.

    Eu estava na penúltima linha quando a diretora entrou na sala, causando um pequeno tumulto pela forma como a mulher se apresentava. A loira tinha olheiras embaixo dos olhos e apesar da expressão cansada e um pouco preocupada, seu sorriso ainda soava confiante e autoritário. O barulho de seu salto ecoou pelo chão, fazendo-me acompanhar seus passos.

    - Você está horrível, obaa-chan! – Naruto soltou sem querer, preocupado com a fisionomia da mulher. Ela lhe lançou um olhar duro e bufou, irritada.

    - Urusai, Naruto! – berrou, recompondo-se logo em seguida para soltou um suspirou e ajeitar seu casaco verde. – Eu estou aqui para trazer um recado muito importante para vocês. Qualquer pergunta que tiverem, por favor, levantem a mão e aguardem para serem respondidos.

    Tsunade esperou o silêncio da turma e então prosseguiu:

    - O colégio Konohagakure é uma filial de outras escolas espalhadas por outros países, dentre eles, o Canadá. E lá, a nossa filial localizada em Quebec estará participando de uma Convenção de Guias Profissionais, que contará com palestras e atividades a fim de auxiliar os alunos na escolha de um curso superior. O programa conta com lazer também, passeios turísticos e recreações em uma pousada. Alguma dúvida até então? – disse Tsunade, passeando os olhos cor de topázio pela classe.

    - O colégio vai participar? – perguntou uma garota no fundo da sala.

    - É ai onde quero chegar. Sim, Konohagakure irá participar desse programa em Quebec. Ou seja, a partir de hoje estão abertas as inscrições que infelizmente são pagas. Nós enviaremos um boleto com todos os preços da viagem. Nós estamos cobrindo uma boa parte dos custos, devido à urgência do convite, pois nós partimos daqui três semanas, então o valor final não ficou muito alto. – respondeu. A data causou tumulto na sala. Arregalei os olhos, três semanas era tão próximo! Seria por isso que ela parecia tão exausta? Estaria ela esse tempo todo trabalhando para conseguir incluir a escola no projeto?

    - Mas Tsunade-sama, três semanas...

     A loira levantou um dedo, silenciando a pergunta.

    - Eu sei que está em cima da hora, mas isso não é culpa minha. Eu ainda não terminei. Prestem atenção no que vou dizer. O programa feito pelos Guias Profissionais é maravilhoso, irá ajudar todos vocês a ter um rumo na vida, a se conhecerem melhor e também para conhecer mais sobre as opções que existem fora da escola. Por isso, nós iremos unir metade das atividades desse semestre em atividades feitas durante os dias da viagem e outras após a volta, totalizando em 50% da nota final de vocês.

    - 50% da nota do semestre? Mas Tsunade-sama, e quem não puder ir? – perguntou um garoto, dentre tantas outras perguntas que se iniciaram como zumbidos de abelha. Kakashi-sensei suspirou, encostado à sua mesa. Talvez fosse por isso que ambos carregavam uma carranca de preocupação. Planejar um projeto desse porte com três semanas de antecedência certamente causaria discórdia.

    - Será feita uma reunião com os pais de vocês para discutir sobre isso. É de suma importância participar, será de total proveito para vocês, tanto como alunos dessa escola como pessoas na vida. Mas para aqueles que não puderem participar, a escola realizará atividades extracurriculares e trabalhos que valham notas suficientes para equivaler às dos alunos viajantes. Mais alguma pergunta?

    Naruto levantou a mão, ganhando atenção da diretora, que semicerrou os olhos na direção de seu quase parente.

    - Quantos dias ficaríamos fora, obaa-chan? – ele perguntou, sem perder a oportunidade de chamar a loira por seu apelido carinhoso. Ela apertou tanto o maxilar que uma veia pôde ser vista dilatando em sua testa. Eu reprimi um sorriso, a relação dos dois era extremamente engraçada.

    - Serão oito dias. – respondeu a contragosto. Naruto assentiu, soltando um riso baixo pelo modo como a diretora lhe encarava. Tsnudade suspirou.

    - A folha de inscrição estará pregada no mural do refeitório. Um monitor estará lá para organizar uma fila para que vocês escrevam seus nomes nela. Qualquer dúvida é só ir até mim em minha sala. Agora, professor Kakashi, gostaria de pedir licença para lhe tirar uma aluna da classe por uns minutos, sim?

    Kakashi-sensei assentiu e virou-se para voltar a escrever no quadro, imaginando que a mulher não fosse mais se demorar ali. Me preparei para pegar a caneta outra vez, mas então me vi paralisada quando a diretora se pronunciou novamente.

    - Hyuuga Hinata? Por favor, venha comigo.

    Levantei a cabeça devagar, surpresa. Tsunade parecia com a face serena ao dizer o meu nome, mas algo me dizia que aquilo era uma maneira de não me expor aos inúmeros comentários que já circulavam por toda a sala.

    - H-Hai. – gaguejei, um pouco rouca. Minha garganta se fechou pelo nervosismo, imaginava o que ela poderia querer comigo? Será que o ocorrido do baile me prejudicaria de alguma maneira ou Hiashi teria contatado a escola sobre meu sumiço no dia anterior? Me levantei da cadeira, lançando um rápido olhar para Naruto ao passar por sua mesa. Ele franziu a testa, mas sorriu para mim de modo tranquilizador, sussurrando um “tudo bem”. Assenti e acompanhei a mulher alta para fora da sala.

    Mais uma vez o som de seus sapatos de salto ecoou pelo corredor vazio, deixando-me nervosa.

    - Por aqui, querida. – disse ela. Nós andamos até o pátio interno principal e depois subimos a escada, seguindo mais uma vez até o fim do primeiro corredor e entrando na sala da diretoria. Tsunade indicou uma cadeira à frente de sua mesa de madeira e se sentou em seu grande assento de couro, do outro lado. Havia uma grande quantidade de papéis sobre a superfície, semelhantes a fichas e boletos. Sentei-me, ansiosa para saber o que me levara até ali.

    - Por que me chamou, Tsunade-sama? – murmurei, tensa. A loira sorriu suavemente, folheando alguns papéis à sua frente.

    - Você parece tão nervosa, o que houve, querida? – ela desviou, olhando-me. Sua voz e rosto pareciam carinhosos, mas eu ainda não conseguia me sentir confortável. Pigarreei, brincando com os dedos debaixo da mesa, fazendo uma nota mental de que precisava cortar um pouco as unhas.

    - Só estou curiosa. – menti. Ela assentiu.

    - Eu te chamei aqui porque estava analisando as fichas dos alunos e percebi que há uma pequena incógnita na sua. Talvez você possa me ajudar a juntar as peças respondendo algumas perguntas, tudo bem? – disse, olhando para os papéis. Engoli em seco, tendo um mau pressentimento.

    - H-Hai. – murmurei.

    - Ótimo. – ela respondeu, parando de mexer em minha ficha e encostando-se na cadeira reclinável. Os topázios me analisavam atentamente, o que me deixou mais tensa ainda.

    - Parece tudo ok, até então. Seu tipo sanguíneo, médicos da família, idade e documentos, alergias, telefones para contato e etc. Tudo como deve ser. Exceto pelo fato de que sua matrícula foi efetuada por uma mulher chamada Sasaki Aiko, aliás ela também corresponde como sua mãe aqui. Mas não tenho informação sobre quem é o seu pai. O que é muito peculiar, afinal, pensei que você fosse filha de Hyuuga Akemi. Além disso, de acordo com fontes, essa mulher, Aiko, é esposa de Sasaki Hiashi, que inclusive tem uma filha matriculada nessa escola também. Agora me diga, Hinata, que bagunça é essa?

    Meu corpo parecia estático, o sangue havia congelado em minhas veias e meu queixo despencou, tremenda era a surpresa. Senti meus olhos arderem e meus dedos se fecharem em punhos. Reconheci a raiva nadar em meu âmago e eletrizar-me de sensações difíceis de administrar.

    Como... Como puderam apagar minha mãe dos principais documentos de identificação que eu tinha em Tokyo além dos meus próprios? Por que Hiashi mandaria Aiko fazer a minha matrícula se é ele meu tutor legal? Afinal, não era só ele quem me desejava dentro daquela casa?

    - Hinata? – Tsunade chamou. Eu engoli o nó que surgiu em minha garganta e pisquei os olhos, tentando me situar no momento presente.

    - E-Eu... não faço ideia do que está acontecendo. – respondi. Tsunade suspirou.

    - Sasaki Hiashi é seu pai? – perguntou sem delongas. Me limitei a assentir. – Você... tem guarda compartilhada, isso foi um erro de digitação ou o quê? – continuou a perguntar. Sua voz estava estranha agora. Ergui os olhos.

    - O quê? – perguntei.

    - Onde está sua mãe de verdade, Hinata? Onde está Akemi?

     Abri a boca, sem ter o que responder. Lembrava-me do primeiro dia de aula em que a diretora havia me reconhecido e perguntara sobre minha mãe. As duas tinham estudado juntas ou algo do tipo, isso eu sabia. Ela mencionara que tinha perdido Akemi de vista ainda no último ano da escola, o que era previsível, afinal minha mãe era só uma menina como eu quando engravidara.

    Não poderia dizer que ela havia morrido. Detestava ter que falar sobre isso seja com quem quer que fosse. Geralmente, isso multiplicaria perguntas que eu não queria responder. Reviver o pior dia da minha vida era como espetar feridas com lâminas afiadas.

    Abaixei os olhos, tentando desesperadamente buscar uma solução. Se eu mentisse, ela deixaria de investigar ou continuaria até encontrar as respostas?

    - Hinata. – chamou outra vez. Pensei em fingir um desmaio, qualquer coisa. Ainda que o nervosismo poderia me sucumbir à escuridão por si só, sem precisar de teatro nenhum. Podia sentir meu coração palpitar quase audivelmente e minhas mãos suavam frio. Respirei fundo, decidindo optar por uma mentira mais fácil.

    - E-Eu só estou surpresa, senhora. Não sabia que isso estava em minha ficha, minha madrasta não gosta muito de me ter em sua casa. Acho que ela fica irritada pelo ciúme da minha irmã mais nova. – respondi, engolindo em seco. Tsunade inclinou o rosto de lado, avaliando minha resposta como se fosse uma detetive profissional.

    - Ah, é? Então é um erro de digitação? – perguntou. Assenti.

    - Sim, senhora. Apenas um erro de digitação. – confirmei. Ela assentiu, pegando uma folha em branco e uma caneta.

    - Vou anotar as mudanças para poder imprimir sua ficha novamente. Então vamos lá, Aiko é só sua madrasta e Hiashi é seu pai. Correto? – ela perguntou, sua voz soando estranha novamente.

    - H-Hai.

    Ela escreveu no papel rapidamente.

    - E Akemi é sua mãe, que compartilha sua guarda com Hiashi. Correto, Hinata? – perguntou, reforçando a frase toda como se estivesse tentando me persuadir a dizer as mesmas palavras com exatidão.

    - Correto. – respondi, minha voz falhou um pouco e eu tossi, tentando disfarçar. Tsunade me lançou uma olhadela, mas sorriu.

    - Tudo bem, acho que agora estamos com tudo em seu devido lugar. – disse ela, pregando a folha na ficha e guardando-a novamente no envelope bege. – Só mais umas coisinhas, querida. Você saberia me dizer por que seu pai enviou sua madrasta para efetuar sua matrícula?

     Neguei com a cabeça.

    - Talvez estivesse ocupado no dia. – chutei, dando de ombros.

    - Talvez, não é? – repetiu. Olhei para a porta sugestivamente e ela percebeu. – Só mais um pouquinho. – disse, levantando-se e caminhando até uma grande janela atrás de sua mesa. A vista dava para o campus esportivo. Ela se escorou ao beiral e inspirou o ar úmido da manhã.

    - Você veio para terminar o ano letivo em uma escolha melhor, presumo. – começou. Apertei a barra da saia, desejando poder sair dali antes que as perguntas começassem. – É uma coisa um tanto comum receber alunos novos no último ano. Mas me diga, onde você mora com sua mãe quando não está passeando por aqui? – perguntou, virando-me para me olhar. Suspirei pesadamente e me levantei. Ela teria que me desculpar, mas eu não era obrigada a ficar de conversa com ninguém em horário de aula.

    - Senhora, estou perdendo aula. Se importa se nos falarmos outra hora ou dia? – perguntei. Pensaria em uma história plausível para caso ela voltasse a me chamar. Tsunade franziu os lábios e assentiu.

    - Tudo bem. Arigatou... por me ajudar a arrumar sua documentação. – respondeu, hesitante. Andei até a porta, assentindo. – Hinata!

    Virei-me com a mão na maçaneta.

    - Você vai se inscrever para o projeto em Quebec?

           Ponderei sobre o assunto. Ainda não havia decidido, teria de perguntar aos outros. Não gostava da ideia de passar oito dias longe de Naruto, mesmo que nossa amizade ainda fosse nova. E eu sabia que o loiro já estava animado para viajar. Por isso, respondi:

           - Creio que sim, só preciso convencer meu pai. Estou de castigo por chegar tarde. – menti parcialmente. Ela assentiu.

           - Tenho certeza de que conseguirá. É muito importante que vá, Hinata, você compreende? – perguntou estranho novamente. Encarei seus olhos e dei de ombros.

           - Acho que sim. Com licença, Tsunade-sama. – respondi, apressando-me para sair da sala. Caminhei com passos ligeiros para longe de sua porta e quase tropecei nos degraus da escada. Meu coração ainda batia forte e eu me sentia esquisita. As paredes de meu estômago ardiam em uma sensação vertiginosa. Suspirei. Ao menos conseguira escapar de lá. Agora só precisava encontrar uma maneira de descobrir o que Hiashi queria quando armou todo aquele circo em meus documentos.

                                                                  ***

     Irrompemos as grandes portas do refeitório e logo percebemos uma fila se formar no grande mural. Shizune estava monitorando a folha de inscrição para viagem e isso fez meu grupo de amigos se lembrar desse curioso fato.

    - O que acharam dessa viagem relâmpago? – perguntou Sakura, sendo abraçada por Sasuke nos ombros.

    - Eu achei meio repentino mesmo, mas faz sentido, eu com certeza quero ir. – respondeu Tenten.

    - Meus pais comentaram sobre eu precisar decidir uma carreira. Eu tenho as floriculturas como herança, mas eles não querem que eu me limite à administração. – disse Ino.

    - Vamos nos inscrever então. – manifestou-se Naruto, parando de mexer no celular. Ele estivera pendurado nele durante todo o caminho, segurando meu ombro com a mão livre enquanto andava. – Eu acabei de falar com minha mãe por mensagem, ela achou uma ideia ótima. Vai conversar com meu otoosan, mas disse que posso colocar o nome na lista.

    O grupo começou a se mover em direção à fila, já iniciando os planos para a viagem e quem dividiria o quarto com quem. Fiquei para trás, olhando. Naruto virou-se e percebeu que eu não me mexi.

    - Você não vem, baixinha? – perguntou, apontando com o polegar para trás.

    - Não sei se Hiashi dará a permissão. – admiti. O loiro suspirou, aproximando-se.

    - Vou te sequestrar. – brincou, balançando a cabeça. Provavelmente se lembrando da grande confusão armada à toa do dia anterior. – Vamos pensar em algo para convencê-lo. Mas enquanto isso você pode deixar seu nome na lista. – sugeriu. Assenti, pensando que ao menos indicar meu interesse poderia ser útil para a contagem de alunos.

    Ele sorriu, passando um braço sobre meu ombro enquanto me escoltava até a fila. Reparei em como muitos olhares caíam sobre nós e me perguntei se isso não o incomodava. Era claro que muitas pessoas não aprovavam nossa amizade, algumas por envenenamento das idiotices inventadas no baile e outras por simplesmente não ter mais o que fazer. Olhei em volta, a maioria dos olhares que recebíamos eram femininos e isso me deixou curiosa.

    - O que foi? – Naruto perguntou.

    - Isso não te incomoda? Eu já estou meio saturada de ver a pessoas cochichando sobre mim ou rindo de qualquer coisa que eu faça, mas e você? Não gosto da ideia de te puxar para o buraco negro. – respondi, sincera. Ele soltou um riso baixo e tocou meu queixo, fazendo-me olhar para cima e capturar seus olhos azuis.

    - Não é você quem está me puxando para o buraco negro, sou eu quem estou lhe trazendo para a luz. Falem o que quiserem, deem risada, xinguem ou o que for, você continuará intacta. Eu não vou deixar ninguém te atingir. – murmurou. Seus olhos derreteram no carinho daquelas palavras e isso me fez sorrir. Naruto abraçou minha bochecha com sua mão e eu involuntariamente inclinei a face contra ela.

    Um grupo de garota passou por nós e eu ouvi sua conversa voltar-se para um tema que ainda não havia imaginado: “Você acha que eles estão juntos mesmo?”. Arregalei os olhos e ajeitei a cabeça. Não havia pensado no que o carinho de meu amigo poderia significar aos olhos de alguém desinformado.

    Naruto pareceu ter ouvido também, pois seguiu as garotas com o olhar e uma sobrancelha arqueada. Ele retirou sua mão e sorriu para mim, parecendo um pouco constrangido.

    - E-Eu não imaginava que pudessem pensar coisas assim, gomen, Naruto-kun! – respondi, nervosa. Corei por ter usado o sufixo. Eu raramente usava com ele, mas quando às vezes escorregava e isso sempre o divertia. Como previsto, ele riu.

    - Isso te incomoda? – perguntou. Desviei os olhos, sentindo as bochechas arderem. Em meu campo de visão, pude enxergar várias olhadelas desgostosas em nossa direção.

    - Parece que isso incomoda todo mundo. – respondi. Naruto suspirou. Ergui o rosto, encarando-o de novo. Ele tocou a ponta do meu nariz com seu dedo indicador e deu uma piscadela, sorrindo divertido.

    - Deixa disso, esquece. Vamos, está chegando nossa vez na fila. – disse, apontando para o mural. Os dois garotos à nossa frente escreveram seus nomes e depois nós o fizemos. O grupo já nos esperava na mesa de novo e finalmente fomos almoçar.

    Apesar disso, não estava com fome. A conversa com Tsunade ainda martelava em minha cabeça e eu precisava desabafar. Sentei à mesa com meu prato intacto de legumes e peixe. Naruto se pôs ao meu lado e começou a tomar sua sopa.

    - Naruto? – chamei, girando o hashi no prato. Ele tomou um gole de sua tigela e olhou para mim. – Posso te contar agora o que Tsunade queria.

    Ele havia perguntado assim que voltei à sala, mas disse que não podia conversar. Agora não estávamos em aula e eu sentia que precisava expor aquele peso. Ele se aproximou, prestando atenção.

    - Minhas documentações estavam erradas. – cochichei.

    - Como assim erradas?

    - Hiashi não se declarou meu pai na ficha de matrícula e mandou Aiko efetuá-la. O pior: Aiko estava como minha mãe na papelada. Mas Tsunade sabia que isso era mentira, ela sabe que Akemi é minha mãe. Ela ainda me perguntou por que Hiashi não fez minha matrícula se ele sempre respondeu por Mayumi. – contei. Naruto arqueou as sobrancelhas.

    - Esse... gomen, Hinata, mas esse cara não faz sentido. Eu não entendo aonde ele quer chegar com toda essa novela. – disse. Suspirei.

    - Ela começou a deduzir coisas sobre Akemi. Perguntou onde ela estava e deduziu que eu ela divide minha guarda com Hiashi. Foi tão estranho, ela parecia uma detetive me interrogando. E-Eu não pude dizer a verdade, eu disse que eles têm guarda compartilhada e agora eu não sei como sustentar isso. Eu fugi das perguntas, mas tenho certeza de que Tsunade não vai desistir. – expliquei, arriando os ombros. Naruto encarou sua sopa, pensativo.

    - Posso falar com ela, acho que hoje à noite vou ficar com Dan depois do treino com Jiraiya. Posso dizer que perguntei o que ela queria e você contou um pouco. Talvez se eu aliviar um pouco da curiosidade, obaa-chan não te procure mais. – sugeriu. Olhei para ele e assenti, sorrindo. Não sabia como agradecer aos céus por ter alguém assim.

    - Arigatou. Você é melhor amigo que existe. – respondi, corada. Naruto abriu um sorriso amplo.

    - E o melhor guia também. A propósito, espero ser promovido à guia de viagem agora também! Já pensou nisso, baixinha? – brincou. Eu ri, balançando a cabeça. Fui surpreendida por sua mão grande e quente, que buscou a minha por baixo da mesa. Seus dedos entrelaçaram-se nos meus e isso, juntamente ao seu sorriso, assegurou-me de que apesar de toda a zombaria, ele me guiava de verdade. A confiança que depositei naquele aperto de mão me fez sentir o corpo relaxar da enorme tensão e eu sorri, grata.

    - Meu guia de viagem. – repeti, concordando. Mal sabia ele que sua promoção estava mais para “guia de vida”.  Levantei os olhos e encontrei os de Sakura. Ela me avaliou com um sorriso calmo e gentil, seu rosto bonito como o de uma boneca emoldurado por seus cabelos rosados, assim como os lábios, a transformava em uma espécie de Afrodite japonesa. Eu sustentei as esmeraldas e ela se inclinou.

    - Você está bem, Hina-chan? Você parece tão melhor hoje. – murmurou. Percebi o olhar de Naruto para ela e vi a amizade forte entre eles. Dava para ver como podiam se comunicar pelo olhar.

    - Estou, gomennasai por assustar você e as meninas no baile. Eu só precisava sair de lá, precisava de ar. – desculpei-me, envergonhada.

    - Eu fiquei morrendo de raiva daquela vaca da Shion. Não sei como você ficou com aquela garota, Naru, sério. – disse Sakura, olhando feio para o amigo. O loiro suspirou, revirando os olhos.

    - Passado, Saky, passado. – respondeu. Não deixei de reparar naquilo e algo estalou em meu cérebro. Se aquela garota, Shion, fora namorada do Naruto, teria ela feito todo aquele circo apenas por pensar que ele estivesse comigo agora?

    - Oh! – exclamei alto, encaixando as peças – Isso faz sentido agora. O porquê de toda aquela armação... você entendeu, não é? – disse para o loiro. Naruto começou a rir, balançando a cabeça.

    - Só se lembre que a gente não dá a mínima para isso e relaxe, Hina. – respondeu, apertando minha mão outra vez.

    - E o pior é que ela magoou mais gente com essa palhaçada. A coitada da Temari ficou arrasada depois do baile. – disse Sakura, revirando os olhos.

    Lembrei-me de Temari e olhei para a loira. Ela estava distante na mesa hoje e lançava olhadelas para Shikamaru discretamente, mas com a face tristonha. Enquanto o moreno parecia irritado e quieto.

    - Ela não se contenta em estragar o romance de um, tem que estragar de dois? – reclamava a rosada. Naruto soltou um riso constrangido.

    - Tudo bem, Saky, hora de acabar o assunto. – respondeu. Os dois cochicharam alguma coisa, mas eu não ouvi. Só mantive os olhos em Temari e senti que deveria conversar com ela. Na noite em que nos arrumamos na casa de Sakura, notei o quanto poderíamos nos dar bem e algo me dizia que naquele baile, seu alvo era justamente o garoto que se atirara em cima de mim. Balancei a cabeça, irritada por ter que consertar tantas coisas por causa de uma suposição errada e infantil de alguém que nem conhecia.

    - Vou conversar com ela depois da aula. – respondi e vi Sakura assentir. O horário do almoço acabou e eu mal havia comido. Voltamos para sala, teríamos a aula extra de ética agora e essa eu não queria nem pagar para ver.

                                                       ***

    - Temari-chan! – chamei a loira assim que o sino soou e todos começaram a guardar seus materiais. Ela fora tão ligeira que quase a perdi de vista. Virou-se lentamente e eu a alcancei.

    - Hinata? – ela perguntou, surpresa. Sorri, tímida.

    - Ohayo, eu posso conversar com você um minuto?

    Ela assentiu, ainda tinha a face tristonha.

    - Gomennsai pelo o que aconteceu no baile, eu não sei se você está triste por isso, mas eu não tinha nada a ver com Shikamaru, aquilo foi um acaso infeliz e ele parecia bêbado. Foi aquela garota, Shion, ela disse para eu falar com ele e então aconteceu tudo aquilo. Por favor, não acredite nessas baboseiras. – pedi, abaixando o rosto por vergonha. Ainda estava me acostumando à vida social e o meu incrível dom de avermelhar as bochechas.

    Temari sorriu.

    - Eu sei, Hinata, não se preocupe com isso. Gaara me contou, sabe, ele é bem próximo do Shikamaru. É uma história meio longa, você sabe... os garotos podem ser incrivelmente bakas, às vezes. – respondeu, suspirando. Cocei o queixo, confusa.

    - Sinto muito. – murmurei.

    - Não se preocupe, Hinata, eu vou superar esse preguiçoso. – disse, melhorando o humor em sua voz. Assenti, sentimento inútil por não ter nenhum conselho de garota para lhe dar. Mas fui salva pelo gongo, ou melhor, pelo meu guia.

    - Hinata-chan! – chamou, quase correndo até nós. – Você saiu da sala com teletransporte?

    Nós duas rimos.

    - Eu tenho que ir. Arigatou, Hinata, por se preocupar. – disse Temari, sorrindo. Ela acenou e se afastou. Acompanhei seus passos lentos, sentindo pena de sua situação. A garota parecia tão inteligente, tão forte e determinada, não merecia ficar tão frágil aos próprios sentimentos. Queria poder entender um pouco disso para poder ajuda-la, mas o fato era que eu não passava de um fracasso na vida social.

    - Como ela está? – perguntou Naruto. Olhei para ele.

    - Acho que bem. Ela parece forte. – externei meus pensamentos.

    - É sim. Mas e você, só vou te ver amanhã? – disse, fazendo um bico teatral. Eu ri.

    - Você sobrevive. – brinquei. O corredor foi esvaziando e pude ver Mayumi passar por nós, olhando-nos como quem correria diretamente para o carro e contaria tudo. Suspirei.

    - Tenho que ir, minha irmã já está armando seu próximo movimento no jogo “como infernizar a Hinata”. – resmunguei. Naruto coçou a cabeça, olhando para as portas de madeira. – Bom, até amanhã. – disse, virando-me.

    - Ei, ei, ei. – protestou, puxando-me pela mão. Voltei meu corpo para sua direção, confusa. O loiro tinha um sorriso sapeca nos lábios, mas logo o desfez e sua expressão tornou-se diferente. Como um conflito interno. – Abraço de despedida pra eu pensar que você vai sentir minha falta até amanhã, afinal, como o turista sobrevive sem seu guia, no meio da cidade? – disse, querendo fazer piada, mas parecendo... tímido?

    Arqueei as sobrancelhas, achando aquela cena engraçada. Naruto lembrava muito sua mãe e em seu modo de agir. Totalmente entregues àquilo que seus corações determinarem, mesmo que os momentos não sejam oportunos. Mas nesse aspecto, a bipolaridade de Naruto era adorável.

    Juntei nossos troncos em um abraço leve, encostando minha bochecha em seu peito. Ele passou as mãos em meu cabelo, fazendo um carinho e beijou o topo de minha cabeça, afastando-se em seguida.

    - Sayonara, amiguinha. – brincou, rindo.

    - Sayonara, guia de viagem.

    Andei para o hall e peguei meu guarda-chuva, apesar de não estar chovendo, talvez poderia precisar dele amanhã. Corri para o carro de Hiashi e constatei que, para a infelicidade momentânea de Mayumi, hoje era um motorista quem nos buscava. Sorte minha, talvez, ou apenas era finalmente o karma decidindo me devolver a parte boa da vida que um dia eu plantara. 


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