Bom dia, boa tarde e boa noite.
Ultimo cap. ! Até que enfim!
Boa leitura!
Oito anos depois.
O outono começava ceder lugar para o inverno que já algum tempo se mostrava impaciente com a estação que o antecedia, podendo sentir os sopros dos ventos cada vez mais gelados e as folhas das árvores pairando pelo chão, expulsas do seu lugar de direto.
Centro comercial de Mitakihara, mesmo com o frio que estava fazendo, parecia emanar calor suficiente para aquecer a população da cidade inteira. As lojas estavam enfeitadas para o natal com verdes representando o pinheiro conífero, o vermelho do bom velhinho e a cor branca da casta neve. Os pisca-piscas, junto com a multidão de casais que saíram de suas casas para aproveitar a data considerada romântica, produzia o calor dito anteriormente, iluminando e enfatizando a felicidade de cada indivíduo a vista.
No entanto, a data vinte e cinco de dezembro, para os Kanames tinha outro motivo para ser considerada especial. Já iria fazer cinco anos que a família se reunia na casa em Mitakihara para comemorar a ocasião.
A casa de dois andares construída em um bairro comum de Mitakihara notava-se a nova pintura com tinta branca para apagar as manchas da velhice. Fazia mais de dois anos que a casa dos Kanames passara por uma pequena reforma com o intuito de manter em bom estado o imóvel para as próximas décadas.
“- Faltam somente alguns dias...”
O celular emanava uma voz cansada, mas ao mesmo tempo com certo tom de esperança.
“- Vai dar tudo certo Kyouko. Foi a mesma coisa com a gente.” A voz de Homura era o mais gentil possível para reforçar a crença de Kyouko.
“- Até que em fim esse pesadelo vai acabar...” Uma pausa para recordar os acontecimentos que ocorreram durante os oito anos de pesadelo. “- Não sei qual foi o desejo que Yuma pediu para realizar. Depois de oito anos... sinto que ainda não conheço a minha filha.” Claramente notava-se a insegurança como mãe naquela curta frase pronunciada com tanta tristeza.
Yuma voltou a se encontrar com Kyubey para tornar-se uma Mahou Shoujo. E como Homura e sua mãe, teve que enfrentar os Majuus, sempre com a morte posicionando sua foice no pescoço para tirar a vida da garota na hora que considerasse a melhor.
O reencontro foi depois de quatro anos, com um telefonema de Kyouko pedindo ajuda de Homura. A velha amiga não aguentava mais enfrentar a situação sozinha. Conseguiu segura a barra sempre com a esperança de que tudo ficaria bem. No entanto, quando viu a filha com o braço direito quebrado e a dificuldade para regenerar-se, foi ao desespero.
Conversara com Yuma: primeira conversa desde a despedida na esquina da casa dela. Ela não aparentava possuir rancor nenhum por ter usada uma criança de dez anos para realizar um desejo tão patético, sabendo das consequências do ato. Porém a garota que estava se transformando em uma mulher - cada vez mais parecida com a mãe – não confiou o suficiente na ‘onee-chan’ para revelar o pedido feito ao extraterrestre.
Mesmo com a culpa esquecida recriada em seu peito, Homura manteve-se perto das duas para poder ajuda-las, com a crença de um dia obter o perdão pessoal que tanto venerava. Mas ela sabia muito bem que essa paz só viria com a confissão à Kyouko do seu pecado. Algo que a própria Yuma gostaria de ver para revelar o desejo para as duas. Sem mentiras. Somente a pura e real verdade para as três Mahou Shoujos.
“- Desculpa. Não queria incomodar com isso de novo.”
“- Não tem problema.” Homura devolve com uma voz suave.
“- Vou desligar. Dá os meus parabéns à sua filha.”
“- Darei sim.”
“- Obrigada...”
E com uma voz aliviada, Kyouko desliga o telefone.
Homura encontrava assentada no sofá azul na sala de estar com Junko, que ocupava outro sofá ao lado dela, onde além da mesinha de centro à frente de Homura, notava-se um terceiro da mesma cor. A televisão de cinquenta polegadas encontrava-se desligada, mesmo assim, sua colossal presença na parede não deixava passar despercebido para quem entrava no aposento. O lado oposto da sala de estar localizava a cozinha. A mesa de jantar tabaco com seis cadeiras e o balcão de granito preto criava a fronteira entre as duas áreas, porém proporcionando um ambiente perfeito para a família passar junto os momentos livres e refeições.
“- Tudo bem com a Kyoko-chan?”
“- Sim. Os problemas de sempre com a filha.”
“- Ela vai completar dezoito anos, não é? Ainda deve ser difícil para uma mãe.” Concorda com a resposta de Homura, lembrando da época que o filho tinha a mesma idade da ruivinha.
Com uma bandeja de prata redonda nas mãos, Tomohisa cobrindo a frente de seu corpo com o avental branco, sai da cozinha passando na frente da porta de correr de vidro, podendo notar-se lá fora, a grama verde e a plantação de minis tomates ornando o exuberante quintal. Atravessando entre os dois sofás, coloca na mesinha de centro duas xícaras, uma de café e outra de chá na frente de cada ocupante do assento, em seguida pega a ultima xícara de chá na bandeja e senta-se ao lado da esposa.
Aproximando se da mesinha de centro, Homura pega sua xícara e após sentir o aroma da bebida favorita, dá um golo tentando aproveitar o máximo do sabor. O mesmo faz Junko, só que com a xícara de chá.
“- Para onde vocês pretendem viajar o ano que vem Homura-chan?”
Equilibrando o utensílio no pires, Homura responde a pergunta de Junko.
“- Estamos discutindo sobre isso. Eu estou querendo visitar o México dessa vez, mas o Tatsuya-kun quer voltar à França.”
“- Tatsuya parece ter se encantado por aquele país.” Diz Junko tomando mais um gole do chá.
“- Bom, ultima vez que viajamos para lá foi na nossa lua de mel, talvez seja hora de registra novamente a beleza da Torre Eiffel nas nossas memórias.” Com um sorrisinho, Homura relembra a viajem que fizera para comemorar o casamento.
“- Pensando bem, já faz oito anos desde o anuncio do noivado de vocês. Foi uma surpresa. Mal namoraram para tomarem a decisão de casar.”
“- Não víamos motivo para esperar, era algo inevitável.” Responde Homura para sogra um tanto quanto indignada.
“- Eu acredito no amor, mas desse jeito é exagero.” Continua Junko a criticar o argumento da mulher ao seu lado.
“- Algum problema com a sua bela nora?” Pergunta com um tom jubiloso.
“- De jeito nenhum. Só estou dizendo que foi rápido de mais. Tatsuya só tinha vinte anos na época.”
“- Para mim já estava tarde, Junko-san.”
“- Que tarde, você ainda parece àquela mesma garota de vinte e cinco anos atrás. Dava para continuar solteira por mais algum tempo.”
“- Não precisa bajular. Mesmo assim, obrigada.”
“- De nada minha querida.”
E as duas dão mais um gole nas bebidas.
Mas de fato, o tempo foi generoso com Homura. Mesmo que não seja como Junko disse, a aparência de Homura parecia praticamente à mesma comparada com oito anos atrás. As discretas rugas em seu rosto arredondado serviram para dar um acréscimo à beleza de mulher mais velha e madura, que combinavam com uma pequena mecha de cabelo branco preso atrás da orelha direita, destacando-se no mar negro dos lisos e sedosos cabelos.
A blusa listrada em preto e branco na horizontal fazia um casamento perfeito com o blazer de mesma cor, sem esquecer da calça jeans preta destacando as longas pernas na hora de cruza-las. Mesmo tendo uma combinação enfatizando as curvas de modelo, as surippas cor de rosa que colocara na hora de entrar na residência estragava toda a harmonia existente entre as peças de roupas.
“- Você também não está nada mal Junko-san.”
Recebendo as palavras da nora, Junko com a xícara em uma das mãos e o pires na outra, baixa a cabeça para verificar sua vestimenta. A blusa preta de mangas longas, que cobriam metade das mãos, destacava através da gola ‘v’ o fino pescoço. As clavículas, juntamente com a entrada do decote, proporcionava uma sensualidade involuntária de quem vestia, realçando a pele branca lisa dissonante com a idade da dona. Podendo dizer o mesmo das curvas do corpo, onde o bege da calça jeans favorecia mais ainda para complementar a sensualidade da cabeça aos pés, enfatizando o forte esmalte escarlate nas unhas dos pés, ultimo toque de uma bela mulher que não aparenta a idade que tem.
Em seguida, Junko equilibra a xícara no pires e com a mão que ficara livre meche no rosto com o intuito de visualiza-lo através do tato a situação de sua feição. Na verdade, não precisava preocupar com nada, as rugas pareciam se recusar em se reproduzir naquela pele cremosa de dar inveja a qualquer menina adolescente cheia de espinhas, igualmente o cabelo liso que cortado na altura dos ombros. A diferença de oito anos atrás estava na cor. Deixara de lado o roxo claro para substituir por preto bem escuro com o intuito de disfarçar os fios brancos que ficaram cada vez mais nítidos com o passar do tempo.
“- Verdade. Acho que posso passar por uma mulher de vinte e cinco anos.”
“- Não precisa exagerar.” Com um sorrisinho sínico, Homura retruca a resposta de Junko.
“- Aproposito, cadê aqueles dois?” Pergunta Junko, olhando para o marido ao lado.
“- Tatsuya levou-a para o quarto dele. Parece que ela adora mexer naquela estante de livros dele.”
Disse o marido mais perfeito do mundo, com o sorriso de bom moço que parecia cada vez mais encantador conforme o tempo passava. Na verdade, Tomohisa, mais que a sua esposa e nora, não mudara nada durante oito anos. Parecia até que ficara congelado durante todo esse tempo e fora despertado de seu sono gelado só agora. O passar dos anos rejeitava a possibilidade de uma mudança.
Ouve se a maçaneta girar e a porta da sala se abrir entrando dois indivíduos. Um era o marido de Homura, Kaname Tatsuya. Usava uma camisa azul com calça jeans e nos pés, surippas azuis. As características infantis nas feições do rosto permaneciam. Provavelmente, algo que não iria mudar pelo resto da vida. Diferente do cabelo que cobria toda a nuca com aquele castanho claro tão chamativo.
A outra era uma menina com mais ou menos cinco anos de idade e, passando primeiro pela porta, saiu disparada em cima de Junko e Tomohisa. Com seus enormes olhos cor de rosa, olha para os dois e esboça um sorriso ingênuo, típico da criança na idade dela.
Junko passa a mão pelos cabelos cor de rosa amarrados no estilo Maria Chiquinha com dois laços vermelhos da garota. Em seguida, deslizando a mão até as bochechas avermelhadas, pega-as e aperta com delicadeza, deliciando-se com a pele de bebê da menina.
Gargalhando com o ato de Junko, ela foge das mãos dela e vira-se para Tomohisa, que observava as duas com o mesmo sorriso de bom moço, mas com um olhar paterno, não visto há um bom tempo.
“- Vovô! Quero comer bolo. Tem, não tem?” Pergunta a garota, com a maior inocência do mundo.
“- É claro que tem. O vovô não esqueceu desse detalhe tão importante.”
Recebendo a resposta desejada, ela sorri e diz um “oba”, com uma alegria descomunal.
“- Vem Madoka, enquanto o vovô traz o bolo, vamos nos preparar para cantar os parabéns.” Junko diz para neta, colocando novamente a mão nos cabelos rosa da garota.
“- Então vamos, vovó.”
E pega a mão da avó, seguindo para a mesa de tabaco na frente do balcão de granito, enquanto o avô Tomohisa seguia para a geladeira para obter o doce.
Terminando de beber o café, Homura coloca a xícara sobre o pires em cima da mesa de centro. Levanta e segue em direção à entrada onde se encontrava o marido.
“- Pensando bem, estou sentindo saudades da cidade de Paris. Vê se deixa sua agenda livre para nossa viagem.”
O típico sorriso infantil pôde ser visto no rosto de Tatsuya quando ela pronunciara aquelas palavras.
“- Isso amor! México pode esperar até o ano que vem. O mais importante agora é a nossa filha conhecer o país maravilhoso que é a França.” Admirando Madoka, diz todo contente com a viagem que os espera.
“- Realmente, não seria nada mau ela conhecer o país em que passamos a nossa lua de mel.” Igualmente o marido, ela olha para a filha com um olhar carinhoso.
Percebendo que estava sendo observada pelos pais, Madoka ergue o bracinho e balança-o, chamando pelos dois.
“- Mamãe, papai, vem cantar os parabéns.”
Logo volta a olhar para avó, que com uma câmera digital tenta registrar o máximo possível dos momentos felizes da netinha.
Obedecendo a filha, os dois aproximam se da mesa de jantar. Enquanto os três adultos posicionavam-se um ao lado do outro na frente da mesa, Madoka ocupava o centro, do outro lado. De pé em uma cadeira, a garota parecia um tanto quanto eufórica por causa da altura.
Logo em seguida, Tomohisa traz nas mãos o bolo de aniversário, branquinho cheio de creme de leite com morangos gigantescos avermelhados e um tablete de chocolate escrito “FELIZ ANIVERÁRIO MADOKA” no centro, rodeado por cinco velhinhas cor de rosa.
Ascendendo as velhinhas, o avô de Madoka vai para frente da mesa junto dos outros. Junko puxa a orquestra e começam cantar o famoso “happy birthday to you” para neta, que com as mãos escondidas atrás das costas, sorria envergonhada para plateia.
Com um sopro, a garota de cabelos rosa apaga as cinco velhinhas, ovacionada por mais aplausos e fleches da câmera. Depois dos momentos de fama, ela pula de cima da cadeira e vai em direção à mãe, abraçando os seus quadris, e erguendo o rosto para mostrar o sorriso ingênuo e puro para Homura.
Dobrando as pernas, Homura agacha-se para olhar de perto a filha sorridente e, com delicadeza, segura o rosto dela com as duas mãos, sentindo a pele macia e a linha arredondada da face.
A pessoa que Akemi Homura, agora Kaname Homura, tanto queria encontrar, estava esboçando um sorriso maravilhoso na sua frente. Demorara três anos para concretizar o desejo de reproduzir, reencarnar ou recriar a existência de Madoka no mundo físico. Isso tudo por causa do desenho que Tatsuya mostrara para ela há oito anos. Aquela página no caderno A3 acendeu a ultima chama de esperança de realização do seu desejo. Ela percebeu que só necessitava da existência física, ou melhor, uma prova da existência de Madoka. O desenho criou dentro dela uma nova sensação; um novo sentimento; um alívio por Madoka existir de alguma forma nesse mundo. Assim, o melhor jeito de trazer a amiga para mais próximo, onde os cinco sentidos pudessem avisar e garantir a presença de sua amada, era recria-la em outro corpo.
Para realização desse processo, Homura escolheu Kaname Tatsuya para ser o seu parceiro sexual. O DNA do irmão seria fundamental na criação de um novo ser humano para ser chamado de Kaneame Madoka. Isso era o que Homura imaginava. Não tinha fundamento nenhum que com ele poderia dar luz a uma garota com as mesmas características físicas e psicológicas da amiga que conhecia, mas na cabeça dela não havia outro jeito e outra lógica nesse processo. Na verdade, passou pela cabeça de Homura usar os reprodutores originais, nesse caso Junko e Tomohisa. No entanto, era algo que o tempo provavelmente já não permitia mais à Junko. E seria quase impossível seduzir o seu agora sogro para concretizar um relacionamento carnal. Assim, sobrou, ou melhor, restou apostar as fichas no único herdeiro de Junko e Tomohisa.
Dentro de possibilidades quase nulas, o milagre aconteceu. Dois anos após o casamento, depois de uma gravidez de risco, nasceu o bebê que substituiria, ou representaria Kaname Madoka nesse mundo. Homura jamais esquecerá a primeira vez que pegou sua filha no colo e conferira juntamente com os vinte dedinhos, os finos fios de cabelos rosados. A alegria que sentira quando viu os olhos da mesma cor das próprias madeixas. E a realização quando amarrou com os laços vermelhos da amiga, o cabelo da filha.
Observando Madoka, Homura esboça um sorriso carinhoso de mãe, que ao mesmo tempo podia perceber algo doentio e “quebrado”, como se aquela garota na frente dela, era o único ser vivo importante. Mesmo a morte da sogra, sogro ou marido, não abalaria o seu psicológico se a filha estivesse viva.
“- Eu te amo. Te amarei para sempre minha querida.” Diz, com uma voz trêmula, mas alegre.
Expondo a dentição de leite, Madoka retribui o amor.
“- Também te amo, mamãe.”
Não importava se a garota de cabelos rosa, envolvida em um vestidinho vermelho de mangas compridas e cheio de babadinhos, não fosse a sua amada amiga que conheceu. O importante era que ela estava ali, e as palavras ingênuas de amor vindas dela, era o maior prazer que Homura poderia sentir na vida.
“- Querida, vem pegar o pedaço de bolo, antes que a vovó coma tudo.”
Ouvido a ameaça de Junko, Madoka dá as costas para mãe e saí correndo em direção à avó.
Observando a filha às risadas com os avôs, Homura percebe alguém ao seu lado. Tatsuya estendia a mão em sua direção. Segurando na palma da mão do marido, levanta-se e olha para ele esboçando um sorriso para demonstrar o falso amor que sentia. Deixando-o para trás, segue para mesa a fim de ficar mais perto da filha.
Homura não ama ninguém e jamais voltará a amar. Esse sentimento é restrito e reservado somente para uma pessoa, ou que possa representa-la. Seu amor por Madoka é algo completo, nunca perdendo o significado, mas podendo se modificar conforme Madoka modificar-se. Não importa se ela é amiga, amante ou filha. Homura sempre a amará incondicionalmente enquanto existir uma existência para ela amar. E se deixar de existir, ela criará.
Hoje é dia vinte e cinco de dezembro. Dia em que Kaname Madoka “renasceu” nesse universo.