As lembranças da amiga

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  • Capitulos 15
  • Gêneros Drama

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    Capítulos:

    Capítulo 14

    Capítulo 14 ? Juntos para sempre

    Bom dia, boa tarde e boa noite!

    Penúltimo cap. disponível! XD

    Boa leitura!

    O vento sopra balançando os galhos das árvores, constituindo um coral com as águas deslizantes do rio e as discretas sacudidas da grama. Passando pelo banco que conversara com Kyouko há algumas semanas, pode se ver a ponte formando um caminho de madeira até o outro lado do parque Yuuki.

    Desta vez, o vento gelado balança as madeixas negras da mulher que estava sobre a ponte, iluminada pela luz do poste posicionado nos cantos. Apoiando a mão na barra de proteção, observa o fluxo calmo do rio. O terceiro sopro do vento atinge seu rosto arredondado, e acaba levantando a mão até o lado do semblante, protegendo-se contra a fúria da natureza. Uma arrumada na franja bagunçada e coloca a mão no bolso direito do sobretudo retirando um objeto oval. Era uma joia roxa ornado com detalhes dourados por toda circunferência. Colocando-a de pé na palma da mão, Homura observa a Soul Gem sem demonstrar nenhuma emoção.

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    Depois que a discussão com Kyubey terminara, Yuma recebeu uma ligação de sua mãe dizendo para ela vir embora. O sol já tinha escondido atrás do horizonto, forrando o pano escuro da noite, hora em que as mães mais preocupadas começavam a procurar por suas crias.

    Homura foi até a esquina da casa de Yuma. Não ousou conhecer a moradia da ruivinha. Se soubesse onde morava, iria impedi-la que voltasse para o lar e sairia novamente à procura do extraterrestre, elaborando um novo desejo que o convencesse.

    Balançando a mão para os lados, Yuma diz um pequeno “tchau”. Antes de dobra a esquina, ela olha para Homura com um semblante preocupado. Sem dizer nada a mulher de cabelos negros também a observa e balança a mão até a garota sumir de sua visão. Sem a presença da ruivinha, a única coisa que veio a mente foi que esquecera de avisa-la para não contar nada à Kyouko sobre o ocorrido, mas logo não deu a mínima. Não importava se um dia qualquer desses Kyouko aparecesse em seu apartamento para tirar satisfações. O fato era que sua mente estava a mil procurando uma nova solução para reencontrar a amada amiga, e determinada a usar Yuma novamente se fosse necessário.

    No fim das contas, depois de zanzar pela cidade, acabou no parque Yuuki, observando o rio que passava por dentro do parque.

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    A Soul Gem na palma da mão não tinha mais o brilho de antigamente. O roxo rústico sem o seu brilho representava a perda de seus poderes, onde sua única e ultima função era manter vivo o corpo de Akemi Homura.

    “- Mas para quê viver?”

    Foi a pergunta que acabou saindo.

    Na sua mente tinha a imagem dela quebrando a Soul Gem em mil pedaços e, claro, a continuação: ela caindo morta em cima da ponte.

    Era uma ideia atraente, mas que tinha medo de executar. Não pelo medo da morte, afinal de contas, quebrar um objeto é bem mais fácil do que executar a pena de morte no próprio corpo. O que Homura temia era para onde iria. Poderia morrer e ser conduzida até o ‘Enkan no Kotowari’, ou simplesmente um lugar totalmente diferente. Não importava céu ou inferno, mas o fato de que ficaria longe de Madoka para sempre, deixava-a aterrorizada. Essa possibilidade existia desde que deixara de ser uma Mahou Shoujo. Tinha a impressão que, a força exercida sobre ela, era completamente diferente agora que não era mais uma possuidora dos poderes mágicos.

    Tirou o olhar do objeto oval e voltou, novamente, para o rio. A suave transição das águas, mesmo que mínima, aliviava o coração cansado dela.

    Devagar, ergue o rosto olhando para a joia roxa na mão direita e, sem demora, volta mais uma vez para a correnteza. Na sua mente borbulhava uma nova possibilidade. Não tinha fundamento nenhum, mas talvez Madoka pudesse vir busca-la caso ela ficasse condenada a passar a eternidade no fundo de um rio, ou quem sabe no fundo do oceano.

    Com certeza ela iria ser considerada morta se jogasse a Soul Gem no rio. A joia não consegue produzir o seu efeito se o objeto ficar mais que cem metros de distância do corpo. Descumprindo essa regra, a pessoa cai onde estiver como um cadáver. Nesse caso o mais importante não está no fato do corpo, mas o que aconteceria se a Soul Gem ficasse muito tempo distante de uma carcaça. Pensando dessa forma, mesmo que Homura não fosse mais uma Mahou Shoujo, poderia chamar a atenção de Madoka, a final, Madoka é uma deusa, mais que isso, fora uma menina bondosa enquanto vivera entres os mortais. Não teria coragem de abandonar a mulher que chamara de melhor amiga no fundo das águas geladas.

    Mesmo desejando que tudo o que pensara se realizasse, não conseguia ter um pingo de confiança na ideia que acabou de ter, mas a única coisa capaz naquele momento era analisar as duas possibilidades e escolher a melhor. Na sua cabeça não tinha a opção: voltar para o conforto de seu apartamento e esquecer toda aquela confusão.

    Homura estava determinada a terminar com aquele desespero ali e naquele instante.

    Não suportava mais conviver com a tristeza de estar sem sua melhor amiga, e a frustração de ter desistido dela durante dezessete anos, fingindo estar tudo bem quando, na verdade, o amor por ela só encontrava-se oprimido e mascarado por boas e más lembranças do passado.

    Fechando o punho, aperta a Soul Gem. Descendo as pálpebras, respira e solta o ar bem devagar como se estivesse esvaziando, cautelosamente, o pulmão. Reabre os olhos e ergue o braço direito na altura do ombro. A mão esquerda apoiada sobre a barra de madeira e jogando o corpo um pouco para frente, deixa o braço erguido para trás. Posicionando-se como um jogador de basebol quando vai arremessar uma bola, Homura aperta a Soul Gem como se fortalecesse uma decisão.

    Ela decidira apostar no resgate no fundo das águas pela onipotente garota chamada Kaneame Madoka.

    Homura acreditava na sua melhor amiga, que ela não seria abandonada se estivesse em uma situação desesperadora. Ironicamente, naquele instante, encheu o coração de esperanças, mesmo sendo somente uma maneira de alimentar a coragem para arremessar a joia arroxeada.

    O vento bate no corpo da mulher de cabelos negros, imobilizando o braço por causa do frio. Parecia que a natureza tentasse impedi-la de fazer uma besteira. Talvez uma força maior tivesse olhando por ela e usou seus poderes para interferir no mundo real.

    “- Não tente me impedir, Madoka.”

    Soltando palavras para o nada, aperta a Soul Gem, joga o braço direito para trás e traz de uma só vez para frente com a intenção de arremessar o objeto.

    “- Homura-san.”

    O braço de Homura para no meio da trajetória acima da cabeça. Devagar, baixa o braço e vira somente o rosto, olhando para o lado esquerdo.

    Bem na ponta da ponte tinha um rapaz, provavelmente o que chamara por ela. Ele tinha alguns centímetros a mais de altura que Homura, se ela não calçasse botas com salto. Usava uma jaqueta jeans preta que misturava se com a camiseta de manga comprida lisa de mesma cor. No pescoço, um cachecol vermelho que destacava a sua existência acima de todas as outras peças de roupa. A calça jeans normal era o ultimo reforço para destacar a boa forma do rapaz: fina, porém que podia notar a discreta carnadura bem definida. O all star em seus pés indicava um ar jovial. Nas costas, a pequena mochila preta parecia a única coisa fora na composição visual. O cabelo castanho curto deixava visíveis os traços infantis e delicados do rosto como se, de alguma maneira, o tempo insistisse em deixar registradas as feições de quando ele era criança.

    “- Tatsuya-kun.”

    Com uma expressão de surpresa, Homura diz o nome de seu ex-namorado tentando entender o porquê dele estar naquele lugar àquela hora. Ou melhor, como soubera que ela estaria lá?

    “- Minha mãe me ligou querendo saber o que tinha acontecido entre nós. Contou que você tinha vindo para Mitakihara. Logo em seguida saí à sua procura.” Como se lesse pensamentos, responde à pergunta pronunciada somente na cabeça de Homura.

    Desviando o olhar do rapaz, olha para o rio, e com uma voz que envolvia um desconforto em relação à presença dele, diz.

    “- Não precisava ter vindo até aqui.”

    “- Senti um mau pressentimento.” Tatsuya olha para sua ‘ex’ com um olhar preocupado. “- Achei que você poderia cometer alguma besteira.”

    Homura guarda a Soul Gem no bolso no sobretudo.

    “- Você se preocupou atoa.” Dá uma pausa, e construindo um sorriso falso, volta a olhar o rapaz. “- Que besteira eu poderia cometer?”

    Sem responder à pergunta, Tatsuya estende a mão direita na direção dela.

    “- Vamos embora, Homura-san.”

    Uma olhada na palma da mão do rapaz e volta o olhar para o rio na sua frente.

    “- Pode ir. Vou ficar mais um pouco.”

    Erguendo a perna direita, Tatsuya dá o primeiro passo em direção à Homura.

    “- Não deixarei você aqui!” Disse, pegando no braço esquerdo da “ex”.

    Com uma expressão incrédula, volta a olhar o rapaz que segura seu braço. Homura dá uma veloz sacudida no braço tentando libertar-se, mas Tatsuya pressiona com mais força determinado a não solta-la.

    “- Me Larga!” Vociferou Homura.

    “- Então vamos embora!” Repetiu Tatsuya.

    Cerrando os dentes, Homura franze a testa demonstrando sua ira e com uma voz agressiva, mas ao mesmo tempo controlada, fala.

    “- Acho que você já se esqueceu, não sou mais sua namorada, e está me incomodando muito essa sua mão me tocando.”

    Esboça uma expressão de frustração e baixa a cabeça olhando para os seus pés. Fora atingido pelas palavras da ‘ex’, no entanto, quando ergueu a cabeça para encara-la, os olhos de Tatsuya demonstravam uma determinação nunca vista.

    “- Não precisa evidenciar esse fato, eu sei muito bem a nossa atual situação.” Tatsuya dá uma pausa para observar a mulher na sua frente.

    Ela o olhava com seus olhos negros cheio de ira.

    Balançando a cabeça, o rapaz retoma o que tinha para falar.

    “- Mas sou apaixonado por você. Um sentimento que perdura desde criança não será, agora, porque nos separamos que deixará de existir!”

    “- Já disse, eu amo a sua irmã. Você só estava substituindo Madoka por ser o indivíduo mais próximo na matéria e em espírito dela!”

    Tatsuya diminui a força sobre o braço de Homura.

    Percebendo o alívio, mais uma vez ela sacude o braço e liberta-se da mão do rapaz.

    Desliza a mão direita na parte superior do braço com o intuito de verificar algum dano. Encara Tatsuya, que estava olhando para palma da mão dele pensando em algo. Erguendo alguns centímetros a cabeça, ele observa Homura, não com olhar de tristeza ou arrependimento, mas com olhar de surpresa.

    Arqueando a sobrancelha, Homura fica confusa por alguns instantes. Já declarara seu amor por Madoka na vez que anunciou a separação, ou seja, não é algo que ele deveria ficar surpreso.

    Levando as mãos na alça, Tatsuya tira a mochila das costas e pressionando entre o seu peitoral e o braço esquerdo. Abre o zíper retirando de dentro um caderno A3.

    O caderno A3 de capa dura branca tinha escrito na parte superior: ‘ArtBook’. E encadernado por uma espiral preta.

    Colocando a mochila no chão, começa folhear algumas páginas parecendo procurar algo no caderno. Pelo título na capa e o gosto de Tatsuya pelos desenhos, Homura logo supôs que aquele caderno estava relacionado com o assunto. No entanto ainda a intrigava. Não entendia o que ele pretendia fazer abrindo um caderno na frente dela.

    As páginas param de movimentar-se. Tatsuya olha atentamente para o conteúdo da folha e, dobrando o caderno no meio, entrega para ela.

    Com a mesma expressão intrigada, pega o caderno.

    No momento que olhara para o que tinha na página, Homura arregala os olhos. A mão que segurava o caderno tremia discretamente, e começara arquejar. Vagarosamente, ergue a mão esquerda até a superfície da página e, delicadamente, passa a mão pela folha como se estivesse acariciando.

    Na página entregue havia um desenho de uma menina. A cor rosa preenchia seus cabelos amarrados em forma de Maria Chiquinha com dois laços vermelhos, e o sorriso delicado criava uma combinação perfeita com os olhos rosados gentis, emoldurado no rosto arredondado da garota. A blusa branca com gola alta envolvia o fino pescoço dela e logo abaixo, na área do peito, uma gravata borboleta vermelha contrastava somente com o suposto blazer cor bege, já que, o desenho terminava um pouco abaixo do peitoral da menina sorridente.

    Homura continuava acariciar a menina como se tentasse obter mais informação para confirmar o que estava vendo. A mão passava pelo rosto e cabelos como se estivesse sentindo algo além daquela superfície lisa. Esboça um sorriso discreto e pronuncia com uma voz trêmula o nome da garota desenhada no papel.

    “- Madoka.”

    Tatsuya assente com a cabeça dizendo.

    “- Sempre que referia a um indivíduo chamado Madoka, vinha à minha cabeça a imagem dessa garota. O interessante que, lembro-me desenhando essa menina no dia que nos encontramos pela primeira vez.”

    Ainda acariciando o desenho, Homura recorda-se do dia que encontrara Tatsuya desenhando o rosto de Madoka na terra com um pedaço de graveto. Naquela época, quando ele tinha somente três anos de idade, aquele desenho no chão era a única prova mais consistente que Madoka existira nesse mundo, no entanto, ela sabia que o desenho não passava de mais um amigo imaginário de uma criança. Mais cedo ou mais tarde iria ser interpretado dessa forma. Porém o desenho nas mãos dela não era rabiscos feitos por um garotinho. As formas eram quase exatas à modelo quando frequentava o ginásio Mitakihara. Um perfeito desenho de sua amada amiga. Uma prova de que suas lembranças não são frutos de alucinações ou insanidade. Não importando se na cabeça de Tatsuya era somente uma personagem, para Homura, o que importava, era que a imagem daquele papel batesse com que ela tinha na cabeça.

    De leve, Tatsuya apoia sua mão direita na mão esquerda de Homura, em cima do caderno.

    Homura olha para o dorso da mão do rapaz e fecha os olhos sentindo o calor aquecer sua pele.

    Escorregando os dedos para o lado, Tatsuya segura a palma da mão de Homura e, com o maior cuidado, tira de cima do caderno, trazendo-a para sua frente e apoiando a mão esquerda em cima dela, segura firme, mas delicadamente.

    “- Homura-san. Não importa quem você ame ou deixe de amar, eu obedecerei à minha paixão por você e te desejarei para sempre.” Balançando a cabeça para os lados, nega suas próprias palavras. “- Não. Essa minha paixão, aquele sentimento puro e ingênuo, se tornara uma obsessão. Nunca deixei de pensar em você, e conforme os anos passavam percebi que algo estava faltando na minha vida. O reencontro na cafeteria ‘Magica’ me fez perceber o que era essa falta; vazio dentro de mim.” Tira o olhar da mão na sua frente e volta-os para o semblante de sua amada. “- Nunca mais deixarei que você suma da minha vida, não importa o que aconteça. Isso... é uma promessa!”

    Podia se notar que os olhos castanhos do rapaz estavam sem brilho, fazendo Homura perceber que ele estava determinado a cumprir o que acabara de dizer.

    Sem respostas, Homura volta sua mão para perto de seu corpo como se tivesse tentando soltar-se das mãos do ‘ex’. Reparando no intuito dela, Tatsuya libera a mão direita bem aquecida de Homura. Em seguida ela coloca-o novamente em cima do desenho de Madoka.

    Acariciando a garota de cabelo rosa com uma expressão carinhosa, volta a lembrar dos momentos que vivera com Madoka, reafirmando a si mesmo a preciosa existência dela na sua vida, não podendo mais viver sem ela ao seu lado.

    Parando a mão no meio da página, fica observado o desenho e com o mínimo tom de voz, fala para ela.

    “- Me desculpe Madoka, mas preciso que você espere mais um pouco pelo nosso encontro.” Esboçando um sorriso, continua. “- Prometo que não vai demorar.”

    Erguendo a cabeça da página, Homura olha para o rapaz à sua frente, que parecia esperar por alguma reação dela. Lentamente leva a mão esquerda ao lado do rosto dele segurando-o, e com um sorriso gentil, mas ao mesmo tempo inexpressivo de emoções, diz.

    “- Eu aceito o seu amor, Tatsuya-kun. Você será a minha esperança para realizar o meu desejo.”

    Aproximando-se de Tatsuya, ela beija-o na boca, concretizando um pacto que duraria para o resto de suas vidas.


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