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Capítulo 27: O executor da polícia
Seguir, caminhar, lutar
As consequências de viver
Superar a dor insuperável
Vencer o inimigo invencível
Se tornar o mal que se repudia
Ser o samurai e ser a lei
Ser samurai e ser as trevas que se devoram
- Gilbert realmente nunca entenderia a sutileza do plano. – Adamastor fala sentado em sua cadeira, era alto, claro, cabelos longos grisalhos, barba que cobria todo o queixo da mesma cor, usava roupas largas toda branca, aquele senhor de 67 anos falava de seu filho friamente como se fosse algo dispensável.
- O plano corre perfeitamente meu pai. – Alaster fala ajoelhado a frente de seu pai.
- Onde está Eliéser? – o patriarca pergunta.
- Está caçando Célio. – Idília responde caminhando até o corpo de Gilbert. – Sempre quis ter um de meus irmãos em minha coleção. – ela fala com um sorriso medonho olhando para o corpo.
- Será que ele se encontrou com aquele homem? – Lilith pergunta fazendo referência a uma pessoa que causava temor até na família Ômega, um samurai de alto nível que serve apenas a polícia.
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Uma chuva fina cai na cidade, uma garoa que vai se tornando mais forte a cada instante, em meio a ela um ser anda calmamente com suas mãos no bolso e com um cigarro na boca, ele sabe que se a chuva aumentar ela apagará seu cigarro, pensar nisso o incomoda. Ele caminha em direção aos escombros de uma lanchonete, a mesma em que Eliéser enfrentara os discípulos de Hellt, sua feição era séria e de meia idade, seu cabelo curto e calvo na cor predominante castanho claro, mas havia fios grisalhos que dominavam mais a parte lateral, seu rosto mais alongado, seu nariz mais pontudo. Usava um sobretudo azul com o símbolo da polícia, calça nem larga e nem justa demais da mesma cor e coturnos pretos, carregava uma grande katana na sua cintura no lado direito.
- O que vocês viram? – ele pergunta a outros policiais que estavam nos escombros ao se aproximar deles.
- Quando chegamos aqui já havia acontecido tudo, só escombros e corpos, e ainda tem essa chuva para destruir nossas pistas, acreditamos ser Célio Ômega e seus discípulos que confrontaram outro samurai... – foi a resposta de um dos policiais.
- Samurais desgraçados! Acham que podem fazer o que quiserem por causa de seu alto posto... – Fala olhando para o céu, tinha um pesado sotaque. – A família Ômega... Sabem Adamastor não era ruim pessoa... O patriarca é morto pelo filho que foge em seguida, eu até imaginei essa possibilidade entendem? Os filhos daquele homem não tinham um pingo de caráter, pelo menos os que eu conheci, mas eu pensei sinceramente que Célio era diferente. Ele lutou tanto para implantar regras que incluíam as minorias no dojo da família, cheguei a pensar que a era dos samurais estava mudando para algo melhor, mudando para uma era de tolerâncias, mas parece que me enganei... – foram palavras meio desconexas daquele homem de meia idade.
- O senhor conhece os Ômega? – um policial pergunta.
- Não faça perguntas idiotas! Você sabe quem está aqui a nossa frente? – outro policial fala repreendendo. – Ele é Charles Grojan, um dos três executores da polícia, ele lutou com Eliéser Ômega e quase o matou! Alaster Ômega, o mais forte dos filhos de Adamastor Ômega, evitou uma batalha contra ele, esse homem talvez seja o mais poderoso samurai vivo desse país! – o espanto do policial que havia feito a pergunta inicial era notável, ele era jovem, porém já ouvira falar dos executores e de sua força.
- Não é pra tanto também, os outros dois executores são muito poderosos, também não acho divertido exibir meu cargo e força e gostaria que não fizessem isso por mim... – Charles fala repreendendo.
- Sim senhor, desculpe!
- Vou continuar procurando por pistas na cidade, se acharem algo não se esqueçam de me informar. – ele fala virando de costas e saindo do local.
- Escuta, é verdade que os executores têm total liberdade para matar? – um dos policiais pergunta.
- Sim. Diferente dos samurais comuns os executores podem matar em qualquer situação, os samurais comuns só tem esse direito se receberem a ordem direta do primeiro ministro. – o outro policial responde observando Charles se afastando.
- A situação deve ser bem séria se os executores estão no campo de batalha... – outro pergunta.
- O que eu sei é que se ele decidir capturar Célio Ômega nada o impedirá, os executores matam sem a menor piedade ou culpa! – outro policial exclama.
- Não acredito que você tenha algum envolvimento com isso Célio Ômega, eu li seus registros, Farfinir é um espírito de fogo e eu não vi queimadura nenhuma naquele local, com essa chuva deveria subir, pelo menos, uma fumaça pequena...
- O que você pensa que pode ser então Charles? – uma voz feminina fala.
- Hamian, te conheço há anos e ainda não me acostumei com você. – o samurai fala a seu espírito. – Eu vi sinais de mordida, vi mais água do que essa chuva fraca poderia ter trazido, tenho certeza Célio não lutou aqui, talvez tenha sido uma distração pra me tirar do caminho correto.
- Você é mesmo um idiota retardado! – uma voz masculina fala. – É óbvio que você deveria ter ido naquela cidade onde as chamas saíram dos esgotos... – o espírito fala novamente.
- Exatamente Hamian, não deveria ter me desviado daquela linha, Célio estava próximo e eu o deixei distanciar. – Charles fala com pesar. – O que houve aqui provavelmente foi obra de alguns samurais sem honra que aproveitaram da ordem de matar pra ferir pessoas inocentes, essa escória que tem se tornado samurais a cada geração me enoja!
- Sim, mas foi Célio Ômega que tentou mudar essa realidade trazendo os excluídos para treinar a arte samurai. – a voz feminina fala novamente.
- Por causa disso eu achei que ele era uma boa pessoa, entretanto ele vem matando pessoas inocentes a cada cidade que passa, ele tem que pagar com sangue todos os seus crimes. – de repente o raciocínio de Charles é cortado por uma voz feminina diferente que chega a seus ouvidos.
- Me deixem em paz, por favor! Eu só estou fazendo meu trabalho... – uma voz quase desesperada, vinha de um beco, Charles olha sorrateiramente e vê dois samurais do dojo Ômega falando com uma mulher.
- Você é uma vadia, você gosta de samurais não é? – um deles fala com um sorriso cruel e desfere um tapa na face dela, a mulher cai.
- Prostituta desgraçada tem que apanhar na cara! – o outro fala.
- A gente vai fuder com você, te matar e depois fuder de novo! – o samurai que desferira o tapa fala segurando forte o rosto da mulher.
- Por favor, eu faço o que vocês quiserem, mas parem de me bater... – ela fala chorando e desesperada.
- Quem disse que você podia falar vadia? – o samurai que a golpeara levanta sua mão fechada para bater nela novamente.
- Hei seu monte de merda! – a voz de Charles chega aos ouvidos dos dois samurais, eles o olham de baixo pra cima.
- Olha só, o tiozão quer pagar de heroi. – um dos samurais fala.
- Vamos matar ele também, assim esses merdas dos becos aprendem a respeitar os samurais do dojo Ômega, as famílias tradicionais... – dizeres do outro samurai, de repente uma luz se movimenta como se tivesse vida se enrola rapidamente no pescoço desse samurai, foi tudo muito rápido, subitamente o sangue jorra e a cabeça do samurai cai ao solo enquanto Charles continua, aparentemente, imóvel.
- Filho da puta o que você fez?! – o outro samurai diz em um misto de raiva e desespero, ele saca rapidamente sua espada e a usa, num movimento rápido, para atacar o executor.
- Pessoas como vocês não são dignas de empunhar uma espada! – ele fala desembainhando sua katana com a mão direita, a lâmina começou a brilhar, o samurai que atacara o oficial da polícia aparece atrás dele sorrindo.
- Você vai morrer cara! Não vai conseguir desviar do meu golpe duas vezes! – fala se virando, subitamente um corte reto aparece em seus dois braços e eles caem no chão segurando a espada. O sangue jorra e o samurai Ômega chora de desespero e dor enquanto Charles está de costas pra ele com sua espada, agora aparentando uma katana normal, na mão direita.
- Sabe garoto, o que mais me enoja em vocês e a total falta de respeito pela vida, se você vive como um verme então morra como um! – o executor fala e a luz toma conta de sua espada, ela se movimenta como se fosse uma serpente e golpeia o samurai Ômega de cima pra baixo, o corpo dele se divide em duas metades que caem uma de cada lado.
- Espero que eles não tenham te machucado muito moça. – Charles fala a mulher que se levanta e acende um cigarro.
- Eles iam me matar moço, eu não entendo por que esses samurais odeiam tanto as pessoas do gueto. – a mulher fala sem reação de surpresa, Charles conclui que ela já viu muitas outras mortes.
- Eles não têm respeito pela vida, na verdade acho que samurai nenhum tem... – ele fala com pesar e começa a andar saindo daquele beco.
- Hei, obrigada cara, precisando de alguma mulher eu posso te arranjar e por um bom dinheiro. – ela fala.
- Se cuida. – foram as últimas palavras dele com ela.
- Você ouviu isso Hamian? Eles me chamaram de tiozão... Me faz lembrar que já tenho 47. – falou calmamente a seu espírito e continuou seu caminho em meio à chuva fina.