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Capítulo 24: Um passado próximo: ser um samurai
No dia seguinte, um sábado, Hellt apareceu bem cedo na casa do menino, trazia espadas de madeira e uniformes, o levou até um lugar calmo a beira de um rio para treiná-lo.
- Isso se chama kendô, aprenda a manejar a espada de madeira para passar no exame entendeu? – o garoto respondeu positivamente.
Os dois primeiros dias foram mais difíceis, os outros fluíram naturalmente, Jonas se mostrou um aluno aplicado, treinava constantemente suas habilidades até que no fim daquele primeiro mês, depois daquela segunda-feira exaustiva, ele teve uma boa surpresa ao dormir, em seus sonhos uma voz feminina doce falou com ele.
- Jonas...
- Quem está aí? – o garoto respondia naquele lugar escuro com muita chuva, relâmpagos cortavam o céu, porém, incrivelmente, ele não temia.
- Enfim você pode me escutar! Venho te chamando desde que nasceu e nunca obtive resposta, queria tanto conversar com você, queria tanto te ajudar na escola, mas você nunca me escutava! – a voz feminina continua falando.
- Eu não sei quem está aí, por favor, apareça... – o garoto fala e qual é a sua surpresa, em meio aquelas nuvens um pássaro dourado com crista arrepiada azul aparece a sua frente.
- Meu nome é Galdara, eu sou seu espírito guardião, é um prazer poder falar com você! – os dizeres do pássaro.
- Você é incrível! Eu nem imaginava que meu guardião era “menina”... – observação curiosa do garoto que despertou um olhar tenro do espírito, quando o garoto foi tocar na ave um grande trovão os acerta e ele acorda. Com o passar do tempo e dos treinos sua capacidade de escutar o espírito foi evoluindo, ele começou a ver e a conversar com ele lúcido, Hellt se surpreendeu muito num treinamento quando um raio correu pela espada de Jonas e destruiu as duas armas de madeira.
- Muito foda moleque! Desde quando você fez contato com seu espírito guardião? – Célio pergunta muito entusiasmado.
- Faz um tempinho...
- Você tinha que ter me contado isso antes! Esse treinamento não serve mais pra você, agora você tem que treinar com espadas de verdade, katanas.
- Eu? Mas pra passar no exame eu precisava dominar a arte do kendô não era? – o garoto fala surpreso.
- Sim, mas todos que entram naquele dojo já sabem manejar uma katana, não quero que meu irmãozinho fique pra trás. – aquelas últimas palavras de Célio causaram muita felicidade no menino, irmão, ele nunca havia se sentido tão bem, começou a ensaiar umas lágrimas até que se recompôs e disse:
- Muito bem então! Traga as katanas, agora essa porra vai ficar realmente séria! – falou fazendo pose e sem camisa. Hellt se assustava com o quão rápido aquele menino conseguia tirar a camisa, o samurai só precisava arrumar uma espada menor para o loiro, ia ter que encomendar uma personalizada.
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Hellt pagara a inscrição do garoto na prova de admissão, presentes no local estavam o mestre Adamastor, o prefeito, o presidente e vários membros da elite. Jonas, melhor dizendo, Tay venceu primorosamente cada adversário, estranhamente o garoto teria bem mais adversários que os outros, Célio ficou furioso com tamanha injustiça, ele sabia que por melhor que o menino fosse ele não tinha o fôlego suficiente quanto alguém que treinou por mais tempo, era a grande desvantagem de quem começara a treinar tardiamente.
O garoto enfrentava seu último adversário, o gordinho favelado e azarão se tornou a sensação do exame por vencer pessoas de famílias tradicionais, porém aquele último adversário era muito preparado, facilmente ele quebrou a espada de madeira de Jonas, o garoto parecia sem chance alguma de vencer. O adversário o atacou com um golpe descendo que acertaria a cabeça, o menino recebe o golpe, porém foi de modo proposital para que seu adversário chegasse perto dele, ele então segura o inimigo pelo kimono e desfere um choque muito intenso, o inimigo cai inconsciente e o gordinho vence.
- Incrível! Ele consegue usar o poder do espírito protetor! – o presidente fala empolgado.
- Parece que é como meu filho mais novo disse, existem diversos talentos em nossos subúrbios, talentos que independem de sexo ou porte físico. – Adamastor falou com propriedade.
- Será que posso dizer que o sistema de bolsas está oficializado? – Hellt pergunta a seu pai e ao presidente.
- É óbvio que sim meu filho, não é senhor presidente? – o mestre máximo do dojo Ômega fala.
- Depois do que vi hoje não tenho dúvidas sobre isso! – depois da resposta do presidente Hellt se dirige a um microfone, fala em alto e bom tom:
- Vivemos uma era de mudanças meus amigos, uma era onde não existe espaço para o preconceito, uma era onde todos merecem chances iguais! É com muito gosto que falo que Jonas Cornelius Tayson é o primeiro bolsista do governo oficial do dojo Ômega e igual a ele muitos virão! – as palavras geraram palmas, a maioria falsas vindas da elite que acha absurdo misturar seus filhos a pessoas do subúrbio, entretanto isso não importava, o que realmente era importante era que Jonas havia conseguido, Hellt fez com que um garoto perdido nas circunstâncias encontrasse seu norte, Tay chorava de felicidade em meio aquela arena.
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Numa pizzaria próxima Célio, Tay, Gilbert e a mãe do gordinho comemoravam dois fatos importantes, a aprovação do loiro e seu aniversário de 9 anos.
- Eu sabia que sua ideia daria certo Célio, você é muito louco, louco o suficiente para que desse certo! Quem imaginaria alguém que não é de família rica estudaria artes samurais? – Gilbert falava. – Como prometi vou treinar seu garoto, espero que esteja preparado loirinho.
- Nunca estive tão preparado em toda minha vida! – o menino fala empolgado, nesse instante um grande bolo chega até a mesa deles e todos começam a cantar parabéns para o garoto.
- Desculpa moleque, eu esqueci de comprar um presente pra você. – Hellt fala meio sem graça.
- Ta falando sério? Você me deu o melhor presente de todos! Valeu irmão! – o loirinho fala se referindo ao fato de Hellt lhe devolver a esperança e a capacidade de sonhar.
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No dia seguinte o despertador de Tay toca, aquele barulho agora o deixava feliz e o acompanharia pro resto da vida, naquela batalha com seu amigo de infância aquele mesmo som chegava ao ouvido de todos, era o celular de Tay que tocava como seu despertador.
- Hellt... – o garoto fala se desequilibrando e caindo, as chamas corriam seu corpo e o sangue jorrava, Hellt se aproxima de seu colega caído, o barulho o incomodava, ele ergue sua espada.
- TAY...!!! – Latifa grita chorando tentando correr em sentido ao seu colega.
- Não Latifa! Não vai! – Du a segura firme.
Hellt desfere uma estocada, crava sua espada ao lado da cabeça de Jonas, ele se abaixa e abre um pouco a vestimenta superior do garoto, pega o celular que tocava muito.
- Só você mesmo pra benzer um celular e lutar o protegendo... – Célio fala olhando para o gordinho. – Alô?! – o mestre atende.
- Hellt?! Pelo amor de Deus onde está o Tay?! – era Alexandra que falava do outro lado da linha, estava desesperada com medo de seu amado ter morrido nas mãos do samurai de fogo.
- Não se preocupe Alexandra, eu não teria coragem de matar o Tay... – ele fala deixando o telefone cair no peito do loiro.
- Hellt... – o mais jovem fala com dificuldade.
- É quase impossível pra mim te machucar, eu só matei o Elias porque eu estava bêbado! – Hellt fala e continua: - Você me conhece há alguns anos, você sabe quem eu sou, já o Alaster você mal conversou e preferiu acreditar nele do que em mim que sempre te tratei como irmão!
- Hellt, vamos embora...? – Antony pergunta a seu mestre após se aproximar dele e de Tay.
- Vamos garoto. – Célio responde se afastando com seu discípulo. – Tay, meus discípulos não precisaram ver nada, eu só disse uma vez que foi Alaster quem matou o pai e eles acreditaram... – essas palavras soaram forte nos ouvidos do gordinho. – Eu só te peço para não tentar lutar comigo de novo, te peço por tudo que você mais ama! – depois de tais dizeres se foi, sua imagem se perdeu no horizonte, o loiro começa a chorar, finalmente aquela árdua batalha havia terminado.