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Capítulo 22: Um passado próximo: conhecer um samurai
O som inconfundível do despertador toca naquela manhã, Jonas leva a sua mão para desligá-lo, sem sucesso, toda a manhã ele tenta desligá-lo, mas é em vão pelo simples fato do despertador estar longe.
- Você sempre tem que me acordar na melhor parte do sono não é seu estraga prazeres?! – o garoto fala para o relógio que continuava tocando, ele se levanta e o desliga, em seguida pega um uniforme escolar e o veste, vai até o banheiro e penteia o cabelo, não o arrepia como estamos acostumados a ver, apenas o penteia pra trás, também naquela época ninguém arrepiava o cabelo, Jonas era apenas um garotinho de 8 anos que tentava não se atrasar para aula.
- Já vou mãe...! – ele fala quase gritando saindo pela única porta de sua moradia, agora precisava correr para não perder o ônibus que passa na parte de baixo do morro. Descer correndo todo o aglomerado não é fácil ainda mais pra ele com aquela barriga notável.
Por sorte chegara até o ponto antes do ônibus; contudo, por azar, aqueles garotos mais velhos estavam no ponto, eles adoravam maltratar Jonas. Naquele dia o gordinho se atrasaria por perder o ônibus de propósito, ele deixaria os garotos que o tratavam mal irem e pegaria o ônibus seguinte, o problema é que o ônibus seguinte passa somente cinquenta minutos depois.
- Oi Jonas, perdeu a primeira aula de novo cara... Vai acabar se ferrando muito assim... – um colega fala ao ver o gordinho entrando em sala depois do professor do primeiro horário sair e antes do professor do segundo entrar, teve sorte porque nesse dia havia uma carteira e uma cadeira para ele sentar, normalmente ele precisa rodar toda escola para achar uma.
- Ta de boa, eu me garanto! – ele fala sorrindo ao mesmo tempo em que tira a camisa, é fato que desde pequeno ele odiava camisas, em sua sala as pessoas até eram legais com ele, os problemas começavam no intervalo.
Jonas conversava com seus colegas comendo um prato de sopa quando um daqueles garotos maiores o segura na cabeça, o garoto gelou na hora.
- E aí esquisito?! Como vai nosso leitãozinho favorito?! – o garoto fala debochando, é um dos mesmos estudantes que estavam no ponto de ônibus.
- T-to legal... – responde gaguejando e suando frio.
- Você deve estar com muita fome não é? Vou te ajudar a encher essa sua barriga enorme! – o garoto fala empurrando o rosto do loiro no prato e o esfregando com força, outros dois garotos que estavam no ponto pegaram outros pratos de comida e despejaram nele, depois o soltaram e saíram debochando, falando coisas como: “aposto que ele come do chão” e “Esse gordo de merda não serve pra nada!”
- Jonas... – um de seus colegas pergunta preocupado, Jonas ainda não havia erguido seu rosto do prato.
- Eu to legal, eu só preciso ir no banheiro, é coisa rápida... – ele responde tirando seu rosto da comida com um sorriso falso, o garoto se dirige até o banheiro e lava seu rosto, olha bem para o espelho e depois sai, pensava: “eu sobrevivi de novo.”
Fato que a melhor hora da aula para aqueles alunos era a hora da saída, todos quase que corriam para ir embora, alguns ficavam na porta da escola, outros iam direto pra casa, o segundo caso é o de Jonas, o problema é que naquele dia aquelas pessoas que o maltrataram não estavam satisfeitos, o loiro percebeu que estava sendo seguido, tentou correr, mas não adiantou, naquele fim de tarde apanhou muito daqueles três que repetiam inúmeras vezes “gordo filho da puta!”, “tem que apanhar pra aprender a ser gente!”, “nasceu fudido vai morrer fudido!”
Ele apanhou como nunca havia apanhado antes, seu nariz sangrava, seu olho estava inchado, por sorte não havia quebrado nenhum osso ou dente, seu material escolar estava espalhado pelo chão, cortesia daqueles garotos, ele apenas recolheu o e voltou para casa, foi andando porque aqueles garotos lhe roubaram o dinheiro que usaria para passagem, chegou tarde em casa o que era inevitável naquela situação.
- Mãe, cheguei... – não falou muito alto, falar doía.
- Demorou garoto, to com fome... – a mulher falou em meio a frases desconexas, estava notavelmente bêbada, mas quando não estava bêbada?
O garoto foi até o fogão e preparou a comida serviu sua mãe que comeu muito pouco e jogou a maior parte no chão, depois ele mesmo comeu um pouco, comia devagar por causa das dores que sentia.
Gostaria ele de sair para brincar um pouco, porém estava muito cansado e muito dolorido para tal coisa, decidiu tomar um banho, com um canivete abriu o ferimento em seu olho para tentar desinchá-lo, conseguiu, depois notou regiões em seu corpo roxas que ele nem imaginava que haviam sido acertadas. Foi um banho demorado, passou a maior parte dele sentado e pensando.
Saiu de seu banho e vestiu sua melhor roupa, escolheu a dedo as melhores peças, olhou com cuidado pra ver se não havia nenhum buraco e por sorte teve êxito, saiu de casa e desceu o aglomerado, no caminho cumprimentou a todos.
- Oi Jonas, como foi a aula hoje? – uma vizinha pergunta querendo ser amistosa, ele abaixa a cabeça e levanta com um sorriso largo e falso:
- Eu não lembro de muita coisa, não sou bom em guardar as matérias de escola sabe?
- Se for assim a escola não vai te servir... – disse em meio a risos, o garoto em sua cabeça compreendeu aquilo como: “não tem como mudar sua situação...”
Continuou seu caminho até o ponto de ônibus, esperou um bom tempo até que ele passou. O garoto seguiu até depois da escola, foi até um ponto na marginal de uma rodovia, ele a atravessou e foi até a beirada da rodovia, esperou até avistar uma carreta e foi pro meio da estrada, abriu seus braços como se quisesse abraçar a morte, não havia tempo de reação do motorista, como frear uma carreta? Como desviar naqueles segundos? Aquele homem não tinha escolha, iria atropelar uma criança.
“Enfim acaba aqui, acaba agora...” Jonas pensou com um leve sorriso e olhos fechados ao perceber a luz dos faróis em si, até que sente uma pressão na lateral de seu corpo como um abraço, ele abre os olhos e vê o caminhão passando, se enxerga no alto e alguém o segurando, esse alguém pára as margens da rodovia.
- Puts foi quase! Quando você for atravessar uma rodovia tem que prestar atenção... – aquela pessoa fala ao soltar o garoto, era um samurai, Jonas nunca havia visto um de tão perto, o garoto sentiu uma reação incontida devido ao misto de sentimentos, não conseguiu segurar seu choro.
- Por que você não me deixou morrer moço? Por quê... Ia ser mais fácil...Tudo ia se resolver... Tudo ia... – falava em meio a soluços até sentir a mão do samurai em sua cabeça.
- Chorar é bom garoto, desabafar... – o samurai falou com um sorriso gentil, o garoto o abraçou forte e continuou chorando muito.
- Hei garoto, escuta eu to com muita fome, não quer que eu te pague algo pra comer e depois a gente conversa? – o samurai perguntou, Jonas se afastou e acenou positivamente com a cabeça. – E como você chama menino?
- Jonas, e você moço?
- Moço?! Me senti velho agora... Me chamo Célio, mas pode me chamar de Hellt. – foram as palavras daquele samurai, aquele garoto loirinho não imaginava o quanto aquele encontro mudaria sua vida.