Crônicas de Son Gohan

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    Capítulo 3

    O dia seguinte: Caras de enterro e flashbacks (Parte 2)

    Spoiler, Violência

    O dia seguinte: Caras de enterro e flashbacks (Parte 2)

    - Cadê o Gohan? ? o Rei Cutelo perguntou a Chi Chi.

    - Ele saiu.

    - Por quê?

    - Não sei... Acho que queria ficar só...

    - Talvez ele tenha sentido mais do que você a morte de Goku...

    - Será?

    - Sim. Mesmo que ele não tenha chorado naquela hora, acho que sentiu muito essa perda. Apesar de tudo, Gohan ainda é uma criança.

    - É verdade, mas acho que às vezes ele age como um adulto.

    - Ele já passou por isso antes, Chi Chi.

    - Claro, para um garoto que anda no meio de adultos... que são má influência pra ele...

    - Não precisa exagerar... Os amigos de Goku não são assim... Eles são ótimas pessoas e verdadeiros amigos.

    - Acho que tem razão, papai. Eles se preocupavam muito com o Goku...

    - Já vou! ? Chi Chi disse, ao ouvir baterem à porta.

    Não fazia nem meio minuto que tinha se sentado. Levantou-se e foi atender. Era Bulma, que viu o cansaço estampado em seu rosto.

    - Ele teve outra crise, não é?

    - Sim, Bulma... Ele só conseguiu dormir agora há pouco.

    A cientista pôs vários pacotes sobre a mesa.

    - Eu comprei os alimentos do mês para vocês.

    Chi Chi ficou surpresa:

    - Mas, Bulma... Não precisava...

    - Por favor, aceite. Fiz isso para você ficar mais tranquila.

    - Obrigada. Você está me ajudando bastante!

    As duas foram até o quarto onde Goku estava. Ele dormia tranquilamente, apesar de ter acabado de sofrer mais uma crise. Depois de o verem, voltaram à sala.

    - O médico veio? ?Bulma perguntou.

    - Sim, ele veio. ? Chi Chi respondeu.

    - O que ele disse? Descobriram qual é a doença?

    - Não. ? a morena disse, desanimada. ? Ninguém sabe o que o Goku tem.

    Abaixou a cabeça e suspirou. Depois, disse:

    - Eu tenho medo, Bulma... Tenho muito medo de perdê-lo...

    Bulma era uma das pessoas que mais visitavam a casa. Kulilin, também. Os demais, exceto Vegeta, apareciam de vez em quando para ajudar em alguma coisa. Sim, seu pai estava certo. Eles eram amigos de verdade.

    Chi Chi olhou para a sua mão direita. Ficou ainda mais triste. Outra recordação lhe vinha à sua mente. Essa foi um dia antes dele partir...

    - Goku, você está se sentindo bem? ? ela perguntou.

    - Um pouco melhor, quando não estou sozinho.

    Ele olhou para a janela. Deu um sorriso.

    - Eu gostaria de estar lá fora, treinando com o Gohan.

    Chi Chi fitou seu rosto, que estava um pouco pálido. Como ele conseguia sorrir, mesmo na situação em que estava? Ele já sabia que o seu mal era desconhecido, e que as chances de recuperação eram mínimas. Outros que tiveram sintomas semelhantes não conseguiram se salvar. Apesar disso, ele sorria.

    O seu rosto contrastava com o dela, abatido e cansado. Ele ficou um pouco mais sério.

    - Você deve estar sofrendo muito por minha causa. ? disse.

    Ela não respondeu. Apenas o fitou com mais atenção.

    - Por favor, Chi Chi, me perdoe. Eu não queria que você sofresse tanto.

    - Eu não tenho o que perdoar, Goku. Na verdade, eu é que tenho que pedir perdão pra você.

    - Por quê?

    - Porque sempre estou brigando com você...

    Nisso, ela pôs a sua mão sobre a dele. Os dois se entreolharam. Goku deu mais um sorriso.

    - Se é só isso, eu perdoo você, mas... Não precisava me pedir...

    Ele segurou a mão da esposa. Ela ficou enrubescida e olhou para seu rosto pálido. Não conseguia deixar de se preocupar com ele.

    - Não se preocupe tanto, Chi Chi... Eu vou me recuperar...

    Foi a vez de Chi Chi sorrir. Olhou para ele. Tinha um marido bem-humorado, bondoso e muito otimista.

    Goku a viu sorrir. Ninguém esteve tão próximo dele nos últimos dias, como a esposa. Ele a amava, mesmo ela sendo uma mulher autoritária, briguenta, neurótica e superprotetora. Nesses últimos dias, só a via preocupada, cansada e abatida. Mas aquele sorriso o fazia se sentir um pouco melhor, fazendo-o se esquecer, por alguns instantes, da impossibilidade de poder fazer o que mais gostava: lutar.

    Seus olhares se cruzaram. Chi Chi viu um sorriso se desenhar novamente no rosto pálido dele. Aquele sorriso sempre a cativava. Não resistia àquele jeito tão inocente de seu marido.

    Estavam cara a cara um com o outro. Os rostos já estavam bem próximos. Ele lhe acariciou a face e aproximou mais seu rosto do dela. Nisso, deu-lhe um longo e carinhoso beijo.

    Lágrimas rolaram de seus olhos. Aquele era o último beijo que havia recebido dele. Horas depois, Goku teria uma nova crise, à qual não resistiria...

    O Rei Cutelo viu que ela começaria a chorar de novo. Abraçou a filha para confortá-la. Sabia o quanto ela havia sofrido nesses dias. Deixou-a chorar tudo a que tinha direito.

    Mas o que mais doía nela era o quanto ele sofria em cada crise que tinha. Ardia em febre, faltava-lhe o ar, urrava e se contorcia por causa das fortes dores que sentia no coração. Não pôde fazer muito por ele, restava-lhe apenas amenizar o seu sofrimento e acalmá-lo. No entanto, na última crise que Goku teve nada adiantou. Ela tentou acalmá-lo, tomando a mão dele por entre as suas.

    - Por favor, Goku, resista! ? ela lhe disse.

    Ele tentava resistir. Lutava como podia, para não sucumbir à doença. Respirava com extrema dificuldade. Chi Chi fez a mão dele tocar-lhe o rosto. Ele encontrou uma lágrima que começava a rolar pela face e a deteve. Em seguida, deu um fraco sorriso e, acariciando novamente o rosto dela, deteve outra lágrima que surgiu. Mas logo o sorriso se desvaneceu e a mão, por inércia, foi abaixo.

    Nessa hora, o Mestre Kame e o Rei Cutelo apareceram e a viram. Ela estava paralisada, as lágrimas a escorrerem pelo rosto. Cabisbaixo, o velho mestre disse o que menos se queria ouvir:

    - Infelizmente... O Goku está morto.

    A ela, restou apenas chorar. Instantes depois, o filho apareceu e, ao entrar, ficou totalmente paralisado. As lágrimas começaram a cair dos olhos do garoto. Chi Chi o abraçou com força e chorou novamente.

    E agora, o que seria de Gohan?

    - Mamãe...?

    A voz de Gohan a fez voltar ao presente. Ele havia chegado naquele momento, acompanhado por Piccolo.

    Chi Chi enxugou as lágrimas e perguntou:

    - Onde você estava Gohan?

    - Eu estava lá perto do rio.

    - Treinando?

    - Não. ? ele disse cabisbaixo.

    - Ele não tinha condições de treinar. ? disse Piccolo, dando as costas e indo embora.

    Ela não podia dar bronca no filho. Ele estava tão abatido como ela. Não teria cabeça para treinar tão cedo. Mas pensava em ceder. Deixaria o garoto treinar com o namek, para não ficar tão desanimado.

    - Gohan, tome um banho e descanse.

    - Tá, mãe.

    Cabisbaixo, o garoto se retirou obedientemente. Chi Chi suspirou.

    - Em que está pensando, Chi Chi? ? o Rei Cutelo perguntou.

    - No futuro, papai... No futuro...


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