Bom dia, boa tarde e boa noite.
Comprido de mais o cap. 10 XP
Mas é o cap. que eu mais gosto XP
Boa leitura.
Com o smartphone em mãos Homura lê uma mensagem tentando disfarçar o sorriso jubiloso no rosto. A mensagem do namorado Tatsuya convidava-a para um encontro na cafeteria “Magica” após o horário de trabalho.
Depois da visita na casa dos Kanames, a volta no trem emanava um ar de desconforto entre os dois, justamente pelo que ocorreu no parque. No entanto a chegada à estação de Akiyuki fez Tatsuya declarar-se novamente para Homura, pedindo-a em namoro. Onde, dessa vez, conseguiu obter uma resposta positiva. Desde então passaram três semanas, podendo ser notado, até então, uma satisfação mútua em relação ao relacionamento.
Homura passou o restante do dia na empresa com um sorriso no semblante, algo que aos olhos dos colegas de trabalho era totalmente incomum, chegando a acharem que ela poderia estar doente ou algo parecido de tão anormal que aquela situação fazia parecer.
Final do expediente, Homura desce até o estacionamento e monta na hiper sport e toma a direção direto para a cafeteria “Magica”, que ficava a alguns minutos do local da empresa.
Na frente do estabelecimento estaciona a moto e caminha para entrada, atravessando a porta transparente é recepcionada por uma das garçonetes. Antes mesmo de escolher uma mesa, vê Tatsuya com o braço direto erguido na altura do rosto acenando para ela.
Pedindo um café ali mesmo para garçonete, segue para a mesa em frente às gigantescas janelas.
“- Desculpe pelo atraso, Tatsuya-kun.”
“- Sem problemas. Eu acabei de chegar também.” Dito isso, Tatsuya mostra um feliz sorriso por ver sua amada.
Sentando-se à frente do rapaz, Homura coloca a bolça bege e o capacete na cadeira ao lado esquerdo. Percebe Tatsuya cortando o pequeno bolo de chocolate que pedira alguns minutos antes dela chegar. Com o pedaço do bolo no garfo leva-o até a frente da boca de Homura.
“- Sempre quis fazer esse tipo de coisa.”
“- Que eu me lembre, é a mulher que costuma fazer esse tipo de gracinha.”
“- Acho que seria divertido inovar.”
Ver seu namorando fazendo graça fez Homura desiste e com o rosto levemente vermelho abre a boca abocanhando o pedaço do bolo.
“- Muito bom.”
“- O que? O bolo ou receber comida na boca pelo namorado?” Tatsuya provoca a namorada que balançava a cabeça para os lados como se não acreditasse no que acabara de ouvir.
Um sorri sem jeito para o outro, quando percebem um olhar sobre eles. A garçonete que trouxe a xícara de café para Homura deu um flagrante no exato momento em que os dois “brincavam” de namoradinhos. De modo quase que instantâneo tiveram que desviar a visão para superfície da mesa, fugindo do sorrisinho discreto de deboche da mulher que os servia. Verificando que ela se encontrava o mais longe possível da mesa, o casal começa contar sobre os acontecimentos do dia um para o outro. Obviamente não ouve nenhum acontecimento diferente em comparação com os outros dias, porém esse momento tornou-se especial para os dois. Descobrir o que cada um fazia era algo confortante para ambos por estar conhecendo um lado do seu parceiro que não poderia ter acesso, ou simplesmente para se sentir seguro. Saber onde seu parceiro estava em um determinado horário e com quem, até que descubra ser uma mentira, será a garantia de sua lealdade. Mesmo considerando um ao outro como namorando, não significava o surgimento de uma confiança inabalável somente com algumas semanas de namoro.
Com um semblante que mostrava certo incômodo, Tatsuya, pedindo licença, levanta-se e atravessa os diversos obstáculos até o banheiro, ao fundo do estabelecimento.
“- Ele é um ótimo garoto, não acha?” Acompanhando o rapaz somente com o olhar Homura ouve uma voz que parecia vir do lado direito fazendo a pergunta. Distraída, sem identificar o dono da voz, responde animada.
“- Sem dúvida.”
Após alguns segundos da resposta, arregala os olhos e fica imóvel refletindo o que ocorreu nesse pequeno espaço de tempo, chegando à conclusão que a voz que ouvira era de Madoka.
Como se a imobilização fosse um engano, ela vira-se bruscamente para o lado direito atrás da amiga, porém na sua visão só entraram duas moças de terno feminino com a mesma quantidade de xícaras de café na mesa, olhando-a intrigadas pelo movimento brusco.
Lentamente, Homura percorre a cafeteria inteira a procura de algum sinal da amiga, e voltando novamente para as moças.
“- Vocês falaram comigo?” Pergunta.
“- Não...” Uma delas pensa um pouco antes de dar uma resposta hesitante.
Se desculpando Homura volta a olhar para a xícara de café na sua mesa. Levando as mãos até o rosto, cobre-o e começa pensar no que acabara de ocorrer. Já era a segunda vez que tinha a impressão de ter ouvira a voz de Madoka. E não era só isso. Sempre que estava sozinha tinha a sensação de sentir a presença de alguém. Uma presença familiar. Apesar de não achar normal, pensava que por ter visitado a cidade de Mitakihara fez trazer várias lembras a tona e estabelecer, de forma que, ficassem sempre presentes. Não era algo para se preocupar. Provavelmente irá passar depois de algum tempo. Mas se de repente essas vozes e as presenças fossem algo real? Que na verdade Madoka está naquele plano compartilhando o mesmo tempo e espaço que ela? Ou mesmo, de alguma forma, Homura adquiriu a habilidade de fazer contato com outras dimensões, afinal, os poderes de Mahou Shoujo podem ter voltado ou se modificado depois de tanto tempo.
Homura pode estar maluca pensando nessas possibilidades, ainda mais agora que tinha deixado tudo no passado e decidido seguir em frente para um novo futuro.
“- Tudo bem, Homura-san?”
Assustada pela repentina pergunta, comprimi os ombros e sai de seus pensamentos, voltando a identificar o ambiente ao redor. Devagar põe as mãos em cima da mesa e ergue a cabeça, fitando um preocupado Tatsuya.
“- Está tudo bem, Tatsuya-kun. Não precisa se preocupar.”
O rosto de Homura esboçava um sorriso, mas diferente do que ela está acostumada mostrar. Parecia uma mistura de felicidade com desespero, como se estivesse perante algo que desejara há muito tempo, mas que obtê-lo seria a escolha errada.
O diálogo, depois do ocorrido, não foi produtivo em nenhum aspecto, nem intelectual nem sentimental. Parecia que Homura estava no mundo da lua. Para qualquer conversa que Tatsuya iniciava ela não conseguia reagir e ficava observando a paisagem pelas gigantes janelas, pensando em algo que o rapaz não fazia a menor ideia.
“- Acho que está na hora de ir embora.”
Levanta da cadeira e avisa Tatsuya, em seguida, Homura pega a bolça bege, juntamente com o capacete, seguindo para a saída do estabelecimento. Pego de surpresa Tatsuya mantem-se em seu lugar observando sua namorada pagar o café que pediu. Logo fica de pé e corre para o caixa também.
Sai pela mesma porta que entrara e vai até a moto estacionada na frente do estabelecimento. Montando-a pega o capacete preto e leva acima da cabeça para coloca-lo, mas interrompe o processo quando vê Tatsiuya sair correndo pela porta.
“- Pelo menos posso ter um beijo de despedida?” Com um sorriso típico dele, aproxima se da moto e tenta beija-la.
Desviando o rosto ela dá um selinho na bochecha dele e coloca o capacete, criando uma barreira que impedia qualquer outra tentativa do rapaz.
“- A gente se vê.”
Mantendo o mesmo tom na voz, se despede de Tatsuya e avança pela estrada de Akiyuki, sem mesmo dar uma ultimo olhada para ele.
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O relógio em cima do criado mudo passava da meia noite. Homura já tinha enfiado se de baixo das cobertas fazia três horas.
Em seu apartamento, mal tomou um banho caiu na cama e dormira depois de alguns minutos. Comparado com os outros dias o cansaço não era nada de mais, dava para jantar e analisar alguns documentos relacionados ao próximo projeto da empresa. No entanto não estava a fim de pensar no que ocorreu na cafeteria. Não queria pensar em Tatsuya, muito menos em Madoka. Assim, o único modo fora enfiar-se entre as cobertas com o intuito de quando acordar de manhã a sua cabeça estar preenchida somente com a fome que estará sentindo, podendo trocar-se rapidamente de vestes e sair direto para um ótimo café da manhã na ‘Magica’.
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Deitada sobre a relva Homura observa o céu limpo de qualquer nuvem que pudesse atrapalhar o imenso azul na sua frente. Percebendo uma pressão na mão esquerda olha para o lado, onde, da mesma forma que ela, Tatsuya observava o céu e apertava carinhosamente a mão dela. O vento que sopra balança a relva, produzindo um som dançante, agradável aos ouvidos.
Levanta um pouco o corpo e observa ao redor. Uma planície se abria diante de seus olhos, sem nenhuma construção para impedir a visão daquele verde que esticava até o horizonte e se misturava com o azul, dando a sensação de estar dentro de uma caixa em degradê.
Respira fundo voltando à posição inicial e observa o céu, dizendo para si mesma que aquilo tudo não bastava de um simples sonho. Já fazia tempo que conseguia distinguir a realidade de um sonho, não se perdendo, empolgando ou desesperando dentro dele. Uma sensação desagradável por não poder fugir da miragem dentro de si, no entanto o cheiro do gramado, o vento fresco, a altura do céu e a presença do sujeito ao lado, comparado com as outras ilusões, possuía um realismo que, por um momento, fazia Homura pensar na possibilidade de estar no mundo real.
Lentamente olha para esquerda, dessa vez, Tatsuya observava-a com um olhar provocante, parecendo analisa-la da ponta dos pés até o topo da cabeça. Sob o olhar do rapaz tem a sensação de estar nua, com a temperatura corporal subindo a cada segundo, juntamente com o desejo de sobrepor seu corpo ao dele. Sopra um vento que fez levantar a parte de baixo do vestidinho preto que Homura usava. Surpresa com o repentino vento ela segura o vestidinho com as duas mãos. Mal o vento reduz sua força, um corpo enorme sobe em cima dela barrando a visão para o céu. Abrindo os olhos, que fechara por ter se assustado, Homura dá de cara com o rosto de Tatsuya, que estava de quatro sobre ela e a observava com o mesmo olhar sedutor. O rapaz mostrava-se levemente ofegante, não porque estava cansado, mas parecia se segurar para não ataca-la, libertado todo o seu desejo. Afetada, a respiração de Homura começa ficar mais rápida, um calor subia de baixo para cima, deixando seu corpo tão cálido que poderia sentir a grama ao redor queimar. Quando percebe, a coxa de Tatsuya fazia pressão contra sua virilha. Ela pega o rosto dele e com a voz ofegante, diz.
“- Beije-me.” E fecha os olhos, esperando a iniciativa do rapaz.
Controlando a respiração Tatsuya lentamente aproxima-se de Homura e, carinhosamente, sobrepõe os lábios com o dela. A primeira coisa que vem à mente dela foi a recordação do primeiro beijo com ele, mesmo estando em lugares e posições completamente diferentes. Talvez ela esteja desejando uma aproximação mais íntima com o rapaz e isso acabou refletindo no atual sonho.
Com os olhos fechados sente o peso dos lábios sumirem. Passando a língua por eles tenta saborear ao máximo a maravilhosa sensação proporcionada por um beijo. Lentamente, Homura abre os olhos à procura do rosto com traços infantis, porém muito sensual e atraente do seu namorado.
Uma menina de cabelo rosa, preso com dois laços vermelhos no estilo Maira Chiquinha, observava Homura com seus enormes olhos da mesma cor das madeixas. O rosto arredondado e macio combinava com as características anteriores, dando a impressão de uma garota que tinha no máximo dez anos de idade de tão fofa e inocente que aparentava.
Como se tivesse substituído Tatsuya, ela estava de quatro sobre Homura, sorrindo e acariciando com os dedos a bochecha da mulher, que estuporada, não conseguia dizer absolutamente nada, só observar a pessoa em cima dela. Não era para menos, a menina envolvida em um vestidinho, fazendo lembrar um anjo por causa do branco puro, era nada mais nada menos que Kaname Madoka.
“- Olá, Homura-chan.”
Ela cumprimenta, no instante seguinte, Homura arrasta-se de costas tentando tomar distancia de Madoka. Ofegante, não entende o que está acontecendo. Até alguns minutos atrás, beijava Tatsuya, saboreando um momento de total fantasia, e agora no lugar dele está sua amiga observando-a com um sorriso gentil, mas que dava a impressão de estar tentando seduzi-la. Começa até a duvidar se quem estava beijando era realmente o seu namorado. Até mesmo para um sonho faltava coerência nessa parte.
“- Não precisa fugir Homura-chan. Sou eu, Kaname Madoka. Já se esqueceu de mim?”
Realmente não tinha motivo para se assustar tanto, mesmo tendo sido em uma hora totalmente inapropriada para aparecer, Homura estava dentro de um sonho e ainda na presença da sua melhor amiga.
Colocando a mão direita no meio do peito respira fundo tentando se acalmar e olha para a garota de cabelo rosa, percebendo a contradição.
“- Não era para você estar aqui. Eu aceitei o fato de que você não está mais entre nós nesse mundo. Você, Madoka, faz parte de um proposito maior.” Apertando a barra do vestido preto, diz com a voz trêmula.
“- Homura-chan, do jeito que você fala até parece que eu morri.” O tom da voz de Madoka aparentava uma tristeza em relação ao comentário de Homura, mas o sorriso sedutor continuava estampado no rosto. “- Eu ainda faço parte do mundo. Mais especificamente, do seu mundo, Homura-chan.”
“- Você faz parte das minhas lembranças. Não tenho como negar que são lembranças de um passado triste, mas muito importante por eu ter conhecido você, mas isso não quer dizer que tudo na minha vida resumirá em Kaname Madoka.”
“- Então, por que você voltou para Mitakihara?”
“- Justamente para eu ter certeza dos meus sentimentos em relação à Tatsuya.”
“- Não minta para mim, Homura-chan.” O sorriso gentil, porém sedutor de Madoka, transformou-se em um sorriso maligno, esnobando a patética frase pronunciada por Homura. “- O Tatsuya só serviu de desculpa, um motivo para você voltar à Mitakihara e desenterrar o passado que deixou lá há anos. Voltar para o passado só fez você me sentir cada vez mais forte. Antes, eu era somente uma lembrança, agora, adquiri uma forma pungente dentro de você, Homura-chan.”
Engatinhando Madoka aproxima-se de Homura e pula em cima dela, agarrando seus pulsos com tanta força que a fez soltar um gemido de dor. Homura movimenta os braços tentando se soltar, porém se surpreende com a imensa foça da garota. Não conseguira sequer erguer os pulsos presos ao chão.
De cima, Madoka olha fixamente para o rosto assustado da mulher de cabelos negros e esboçando, novamente, um sorriso gentil.
“- Admita, se isso não for um pesadelo, no momento em que apareci no lugar de Tatsuya, esse sonho só indica a sua obsessão em relação a mim.”
“- Não! Você se tornou uma lembrança para mim! Eu aceitei isso!” Prestes a chorar, retruca com uma voz languida.
“- Você só tentou me substituir pelo Tatsuya. Trocar por alguém próximo a mim, um parente. Achou que dessa forma poderia me trancar dentro das suas lembranças como uma velharia do passado, mas se enganou Homura-chan. Eu estou mais viva do que nunca dentro de você!”
Ofegante a ponto de movimentar para cima e para baixo os ombros, observa sua amiga que está por baixo e, devagar, aproxima seus lábios na boca de Homura. Percebendo a intenção da garota, vira o rosto de lado tentando evitar um contato labial. Sem hesitação pega o queixo de Homura e força-a voltar o semblante na mesma posição. Com o braço que ficara livre tenta reagir, porém quando toca no rosto de Madoka, sente o calor, a maciez e volume da pele dela. Fica sem reação e acaba esboçando um sorriso no rosto.
“- Você parece tão real...” Mesmo sendo um sonho, era possível sentir tudo que uma pessoa de verdade possuía.
Percebendo que sua amiga não iria mais reagir, Madoka sobrepõe os lábios com os de Homura. Comparado com o beijo de Tatsuya, o de Madoka parecia mais lento, gentil e doce. Mesmo Homura nunca tendo beijado uma mulheres, o beijo da garota de treze anos parecia um dos melhores que ela já experimentara na vida.
“- Agora você nunca mais vai se esquecer de mim, Homura-chan.”
Afastando-se diz com um sorriso satisfeito, como se tivesse terminado um serviço importante.
Homura só conseguiu retribuir com um sorriso misturado de alegria e frustração. Ela sabia que tinha sucumbido a um pacto, ou maldição que a atormentará para sempre.
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No quarto escuro, no conforto da cama de casal, Homura acorda no meio da madrugada. Apoiando as costas na cabeceira, senta e começa a movimentar a cabeça para os lados conferindo onde estava. Solta um suspiro aliviada. O que ela tinha visto foi somente um sonho. O ambiente que estava agora era o seu já acostumado quarto, no seu apartamento. Passando os dedos pelas pálpebras, tenta deixar a visão mais nítida para ter certeza do que estava vendo. Deslizando a mão do rosto até o pescoço, repara que estava encharcada de suor. Pelo jeito, o sonho que tivera, na verdade, fora um pesadelo. Após mais um suspiro sai da cama seguindo para a porta do banheiro, logo à frente.
Abre a porta ficando de frente para pia, observa no espelho a mulher de cabelo bagunçado e com o semblante exausto. Girando a torneira, junta as duas mãos através dos dedinhos e leva até embaixo da água. Baixando a cabeça joga a pocinha no rosto tentando eliminar o excesso de suor, na verdade, estava resvalando suor por todo o corpo, mas não tinha ânimo para tomar uma ducha. Ainda cabisbaixa Homura fita a água escorrendo pelo ralo da pia e pensa, “Será que aquilo realmente foi um pesadelo?” Uma dúvida completamente oposta à resposta que chegara alguns minutos atrás. Suspirando sem força, levanta a cabeça para encarar novamente a si no espelho.
Do lado, um pouco atrás, encontrava uma garota de cabelo rosa, prendendo-o com dois laços vermelhos no estilo Maria Chiquinha. Inegavelmente, Kaname Madoka estava de pé do lado de Homura no espelho.
Não ficou surpresa, estava pressentindo que Madoka iria aparecer para ela. Virando a cabeça de lado, confere se não tinha ninguém atrás dela. A única coisa que pôde ver foi a porta aberta, com o quarto escuro e solitário, acrescentando o fundo da visão. Volta para frente e encara a garota de cabelo rosa. Madoka faz o mesmo e, sem que nenhuma das duas tire os olhos uma da outra, passam-se alguns segundos, minutos ou até mesmo horas. Nem Homura poderia dizer quanto tempo se passara desde que ficara de frente com a garota. Levantando o braço toca no espelho onde Madoka está e acaricia a garota de sorriso gentil.
O espelho só refletia a aparência de Homura. Sem mais nem menos, a garota de cabelo rosa sumira. Tirando a mão do espelho baixa a cabeça e começa chorar por sua amiga. As lágrimas que escorriam pela pele tomavam o mesmo rumo da água que saia pela torneira, espalhando a tristeza para onde pudesse ir.
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Na sua frente, uma xícara de café. O liquido preto parecia intocável, e continuava soltando o seu vapor quente juntamente com o ótimo aroma. Homura ocupa uma mesa na cafeteria “Magica”. Sem se mover observava a bebida à sua frente. Mesmo sendo de manhã, nas mesas da cafeteria notavam-se vários clientes que vinham comer a primeira refeição do dia, mas nenhum barulho ou movimento parecia afetar a mulher de cabelos negros. Não tinha cabeça para nada além de pensar no absurdo que estava prestes a fazer.
“- Bom-dia, Homura-san.”
A voz na qual esperou tanto chamou por ela. Tirando os olhos da xícara levanta a cabeça para olhar o rapaz que a chamou.
“- Tomei um susto quando o celular tocou às seis da manhã. Pensei que tivesse acontecido alguma coisa.” Dizendo isso Tatsuya senta-se na cadeira à frente de Homura.
“- Então, o que você precisa falar de tão importante?” Com o sorriso típico dele, pergunta de forma descontraída.
Homura baixa a cabeça novamente e, mordendo levemente o lábio inferior, fala com uma voz mais baixa que o normal.
“- Quero terminar com você, Tatsuya-kun.”
Por um momento, todo o som parecia ter sumido do ambiente, menos o eco da frase que Homura acabou de pronunciar. Tatsuya não conseguiu entender o que sua namorada estava dizendo, mas o eco repetitivo forçou-o compreender o significado da frase, como um mais um é dois. No entanto mesmo entendendo o significado, não entendia o motivo.
Com os olhos arregalados observa a mulher na sua frente, ainda cabisbaixa. Passa a mão no cabelo e desliza pela lateral do rosto. Olhando a porta de entrada durante alguns segundos, engole em seco e olha novamente para frente, perguntando com a voz trêmula.
“- Por quê?”
Não conseguiu perguntar nada além dessa pequena frase. Realmente não entendia o motivo do desejo repentino de separação dela. Mas foi nesse instante que Tatsuya parou e começou a lembrar do que tinha ocorrido ontem à tarde. Que Homura recusou beija-lo na boca. Não havia outra explicação se não essa. Mesmo assim, o romance que progrediu durante três semanas foi de uma felicidade mútua, pelo menos para ele. Não tinham brigado, as únicas discussões que tinham era relacionado a algum filme que assistiram juntos, ou seja, o fato de ontem não deveria ter uma força significativa para mudar o rumo do relacionamento entre eles.
“- Percebi que o afeto que sinto por você era por causa da Madoka. Vocês são irmãos, era o jeito mais fácil de conseguir uma presença similar à dela.” Homura continuava na mesma posição, com o olhar fixo nas suas coxas.
Novamente Tatsuya tenta compreender o que a mulher cabisbaixa estava dizendo. Não a pergunta passada, a incompreensibilidade vinha por causa de uma resistência em aceitar o que ela estava falando. Dessa vez, ele realmente não tinha compreendido nada. Não tinha irmãos para começo de conversa e isso Homura deveria saber, já que, visitou a família Kaname recentemente. E obviamente, tinha mais um fato incompreensível.
“- Que eu me lembre, Madoka é sua amiga que você não encontra há dezessete anos.”
De repente, com uma velocidade e força anormal, Homura ergue a cabeça e encara-o com olhos furiosos. Quando percebe, bate com as duas mãos na superfície da mesa de madeira, balançando a xícara de café sobre ela. Não dando a mínima para atenção que estava chamando, diz com uma voz agressiva em direção à Tatsuya.
“- Ela é a sua irmã mais velha! Como pôde se esquecer de uma pessoa que sempre foi tão carinhosa e gentil com você!?”
Tinha consciência do que estava falando, sabia muito bem que ele não lembra da irmã e o motivo que levou a isso. Que ele não tinha culpa. Mas não conseguiu conter-se. Anos e anos calada em relação a esse assunto. Podia cita-la ali ou aqui, mas nunca chegou entrar em detalhes, além de Kyubey, sobre Kaname Madoka. Homura estava no seu limite. Depois do que ocorreu noite passada, não tinha como negar seus sentimentos em relação à Madoka. Por isso, ter alguém, principalmente o irmão dela, negando a existência da sua amiga, era um fato que não conseguia admitir mais.
Levantando-se, Homura pega sua bolça e capacete na cadeira ao lado e pendurando no ombro, encara novamente o rapaz.
“- Eu amo Madoka. E preciso encontra-la para dizer isso a ela.”
Percebendo gotas de lágrimas acumulados nos cantos dos olhos, prestes a escorrer, enxuga-os com a mão direita e sem se demorar muito vira as costas para Tatsuya, seguindo direto para o caixa. Totalmente apática com os olhares intrigados da multidão, paga o café que nem bebeu e saí do estabelecimento.
Estuporado, Tatsuya só consegue seguir com os olhos sua ex-namorada. O fato de ter ouvido que ama outra pessoa fez com que ficasse completamente sem ação numa hora que deveria correr atrás dela e pedir explicações. Olhando para frente, onde ela se encontrava há alguns segundos, o café continuava a produzir o aroma viciante típico da bebida. Observando as cadeiras e as mesas ao redor analisa a posição dentro da cafeteria e percebe que o local na qual acabou de levar um fora, era a mesma mesa que tinha reencontrado Homura há algumas semanas atrás.