Pra mim o show tinha acabado, junto com a noite. Dei partida no carro, agradecendo a Deus por eu ter ido com ele para o show, e rezando para que as ruas estivessem liberadas e assim eu chegasse em casa o mais rápido possível.
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Antes de ir dormir, resolvi assistir um pouco de TV para melhorar minha agitação. Dez minutos após eu ter saído correndo de lá já tinha 20 chamadas não atendidas e 10 mensagens dele no celular. O desliguei, desejando também poder desligar o meu cérebro e conseguir dormir mais uma noite.
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Cap. 20
- Lucy? Lucy! – um rapaz bonito se aproximou de mim. – Você tem que lembrar! Eu te amo! – ele disse, e, assustada, dei um passo para trás. Eu nunca havia visto aquele homem antes.
- Anne! – gritou outro homem atrás de mim. – Eu sabia que íamos nos encontrar de novo! – ele disse, com os olhos marejados, vindo na minha direção.
- Não! Não cheguem perto de mim! Eu não sei quem são vocês!
Os dois homens se olharam, confusos. E quando voltaram a olhar pra mim, não eram mais os dois homens que eu não conhecia. Era um rapaz de olhos azuis do qual eu o reconheci na hora.
- Rebecca, lembre-se de nós dois. – David disse, e quando se virou, tudo escureceu.
Acordei assustada. Em parte pelo sonho, em parte pelo som estridente do despertador. Olhei a tela do celular: 60 chamadas não atendidas e 30 mensagens não lidas. Todas enviadas por ele.
Não queria ouvi-las, nem lê-las, mas também não consegui apagá-las. Aquilo que aconteceu foi tudo uma loucura. Estava tudo bem em um momento, e no outro ele simplesmente me chama de dois nomes diferentes e diz que alguma coisa é culpa de arcanjos? Não queria que tudo tivesse acabado do jeito que acabou, mas não tive escolha: ele com certeza estaria completamente louco.
Me levantei, tomei banho e troquei de roupa. A chuva que caía lá fora era um pouco mais forte que o normal, mas ainda assim resolvi sair pra tomar café. Fiquei feliz – a primeira vez no dia – ao encontrar um guarda-chuva preto na sala – do qual eu não me lembrava de onde havia saído – que iria me servir completamente esta manhã.
Saí em direção a delicatessen que eu sempre tomava café antes de ir pro hospital. Minha mente não parava de rodar, mostrando-me as faces dos homens no meu sonho. Sentei-me, um pouco tonta, e fiquei olhando pra baixo por uns segundos. O guarda-chuva preto havia deixado uma marca de água no piso de madeira, e quando o olhei novamente senti uma grande familiaridade ali. Era como se eu soubesse de quem ele era.
Pensei que fosse desmaiar quando minha mente girou mais uma vez. Mas tudo ficou mais claro. As memórias vinham numa velocidade quase feroz – eu e David na delicatessen, ele me dando o seu guarda-chuva; David na mesa de cirurgia; o nosso beijo no quarto do hospital; as memórias voltando novamente; minha parada cardíaca; o problema com os arcanjos; minha perda de memória e tantas outras coisas – mas principalmente o fato de eu ter sido Lucy e Anne antes de ser Rebecca.
Liguei para ele, mas o celular dava desligado. Talvez a bateria não tivesse aguentado a uma noite como aquela.
Voltei pra casa correndo e peguei o carro para ir direto pro hospital. Enquanto isso, coloquei o celular para reproduzir as mensagens que ele me deixara durante toda a noite:
“Rebecca, por favor, eu não quis te assustar. Me perdoe, mas nós precisamos conversar. Atenda as minhas ligações.”
Essa foi a primeira de muitas outras mensagens em que ele me pedia desculpas pelo modo em que havia se comportado ontem e que queria conversar e me contar tudo. E quando a última que ele me enviou terminou com ele dizendo “eu amo você”, meu coração se apertou e as lágrimas começaram a cair. Eu precisava encontrá-lo.
- Laura! Laura! – gritei na recepção, me esquecendo completamente que estava no hospital.
- Shhh! Tá doida? Porque tá gritando assim? – Laura veio correndo, e me repreendeu com o olhar.
- Eu preciso... preciso do endereço do David! – disse, buscando um papel e caneta dentro da bolsa com as minhas mãos trêmulas.
- O que houve? Porque está assim? Ah não... não vai me dizer que você acordou e ele não estav...
- Claro que não, Laura! – gritei, sendo minha vez de repreender seus pensamentos malucos. – E me consiga logo o endereço!
Me debrucei sobre a mesa da recepção enquanto ela buscava no computador o que eu queria. Anotei no papel e lhe dei um abraço de agradecimento antes de sair correndo porta a fora.
Eu finalmente iria encontrar o amor das minhas vidas.