Trens e produtores

Chegaram exaustos em casa, Minho esteve dando entrevistas, Jonghyun e Key foram fazer compras enquanto Onew ficou durante horas conversando com a produtora, afinal de contas, ele era o líder. Apenas o maknae tinha estado livre durante aquela fatídica tarde, entretanto não havia sequer sinal dele pela casa.

-Deve ter ficado entediado e resolveu sair. – concluiu Minho, estirando-se no sofá. – Logo ele aparece, não tem porque se preocupar. – falou diretamente para Key que se sentou ao lado do moreno um tanto quanto incomodado.

-É, logo Tae volta. – Jinki sorriu indo em direção ao seu quarto. – Vou tomar um banho, já volto.

Já em seu quarto, abriu a porta da guarda roupa procurando algo mais confortável para vestir, assim que localizou o que tanto procurava adentrou o banheiro. Enquanto a água caia pelo seu corpo sua mente perdeu-se me meio a devaneios, tantas coisas para se pensar, tantos problemas a serem resolvidos, afinal, todos tinham problemas. Terminado o banho enxugou-se e voltou já vestido para seu aposento.

-Que cansaço... – disse a si mesmo, deixando-se cair sobre sua cama, ouvindo um barulho diferente quando a cabeça chocou-se contra o travesseiro, o som de papel sendo amassado. Passou, sem se virar, as mãos pelo almofadado macio até achar a fonte de tal ruído.

Não se lembrava de ter posto papel algum sobre a cama. Assim, sem cuidado algum, abriu aquela folha branca que parecia ter sido tão bem dobrada. Conhecia a caligrafia e também o modo de falar e escrever do remetente, mas naquela carta ele tinha se tornado sério e preocupado, deixando o destinatário em estado de nervos bem pior ao ler o conteúdo da carta. Devia ser alguma brincadeira de Taemin, tentou se convencer, sem sucesso. Ele não brincaria daquela forma, ainda mais envolvendo sentimentos como aqueles.

Bastante atordoado, Onew foi até a sala tentando encontrar o maknae. Buscou por toda casa, percorreu o olhar atrás do mais novo por todo canto, nada. Voltou à sala, agora com um semblante mais sério do que o anterior, deixando os outros, até então alheios aos fatos, preocupados.

-Onde está o Taemin? Ele já chegou? – indagou tomando o celular em mãos e discando rapidamente o número do garoto, caixa postal. –Não atende, droga!

-Onew, o que que está acontecendo? Aconteceu alguma coisa com o Taemin? – Key, que já estava apreensivo desde o início ficava ainda mais, e só piorava ao ver o líder andando de um lado para o outro sem dar explicações concretas. – Será que dá pra você dizer logo?!

-...- Jinki se lembrou do que dizia a carta, todos os três ali presentes sabiam sobre os sentimentos que o mais novo nutria por ele, mas nunca o avisaram abertamente. –Por que nunca me disseram? Agora ele foi embora e nem sei pra onde!  - Jonghyun que até o momento nada havia pronunciado abriu a boca a fim de indagar sobre o que Onew estava se referindo, mas nem foi preciso, o mesmo jogou a carta em cima do mais baixo. Fazendo com que toda a atenção dos presentes fosse recaída sobre o papel.

-Quê?! Ele foi embora?! Assim, do nada? Sem ao menos se despedir? – Kibum estava em estado de choque, ainda não acreditava que o “filho” tinha ido embora e nem se deu o trabalho de dizer “tchau”.

-Olha, vou atrás dele, talvez esteja na rodoviária ou na estação, fiquem aqui, qualquer notícia me avisem. Tentem falar com os pais dele ou com pessoas mais próximas. E evitem que isso se espalhe, não precisamos de uma SM nervosa atrás da gente agora. Entenderam? – o mais velho do grupo tomou a iniciativa indo atrás do menor.

*****

Estava sentando num banco de madeira ao lado de uma velha que fumava soltando a fumaça em sua cara, esperando pelo próximo trem com destino ao interior da Coréia do Sul, onde o irmão morava. “Se arrependimento matasse.” Pensou. “Senhores passageiros, o próximo trem chega em vinte minutos, pedimos paciência pois as condições climáticas não estão as melhores...” Suspirou pegando os fones de ouvindo e colocando música. “[...] Her whisper is the Lucifer [...]” riu ao se lembrar o quão divertido foi a gravação dessa música.

-Lee Taemin. – chamou uma voz, num tom profundo. Seu corpo gelou e sua respiração acelerou, lentamente, sem muita coragem, encarou a figura a sua frente. – O que pensa que está fazendo aqui?

-Hyung. C-como me achou aqui? – o loiro perguntou surpreso ignorando a pergunta do maior.

-Você não é exatamente um gênio. O tempo está ruim para se pegar avião, os motoristas de ônibus estão de greve e essa é a estação mais próxima de casa. – falou esboçando um pequeno sorriso, mas logo se desfez. – E você, o que pensa estar fazendo? – repetiu, só que em tom mais amável.

-Eu... Estou indo embora, já te expliquei. –Taemin encarava o chão, de modo algum se arriscaria a olhar diretamente nos orbes do líder. “Dez minutos para o próximo trem” a voz feminina anunciou, fazendo o menor se levantar.

-Não pode ir. –Onew não pensou duas vezes antes de se pronunciar. O loiro tinha sua dúvida transparecida no rosto. –Não pode... – Jinki continuou, abaixando gradativamente a voz, com a mão no pulso do outro. – Como fica o SHINee sem você? Como... Como fica a gente?

-A gente? – repetiu o maknae ainda com o olhar voltado para o chão. Por mais que seu cérebro gritasse para não ter falsas ilusões, sem coração insistia em querer se machucar.

-É... – Jinki percebeu o que tinha dito, corando levemente. – A gente, eu, Key, Minho e Jonghyun. Estão todos procurando por notícias suas. – a sentença do líder fez Taemin quebrar por dentro, era claro que Onew continuaria o tratando da mesma forma, como um amigo, um irmão, nada iria mudar. Ou talvez mudasse. “Cinco minutos...” – Você volta comigo.

-Não. – respondeu simplista, ir embora era sua decisão, não iria voltar atrás, mesmo que no fundo não quisesse realmente ir. Jinki o fitou parecendo pensar numa forma de convencer o loiro a ficar. Ao longe ouviu o barulho do trem chegando e o farfalhar das pessoas se levantando. Inclinou a cabeça um pouco para o lado abrindo seu sorriso, sem aviso prévio pegou Taemin pela cintura jogando-o com bastante cuidado por cima do seu ombro esquerdo. –Ei! Me solta! – reclamou, parecia uma criança que se debatia incansavelmente, chamando atenção de algumas pessoas no local.

-Disse que não podia ir. – riu o levando de volta para casa, Taemin já tinha desistido de se soltar, Onew era mais forte que ele, e mais importante que isso, ele exercia muita influência sobre o menor.

Jinki abriu a porta soltando Taemin no chão. –Não pense em fazer isso novamente... – comentou fechando-a. Ao se virarem depararam não apenas com os três amigos, mas com dois produtores. Jjong murmurou um “desculpa” silencioso.

-Taemin, que história é essa de largar tudo? – disse sério quase que assustador e em suas mãos a carta.