Três anos eu vivi afastadado da cidade, em um lugar só meu, sem pagar imposto, comprando minha própria comida, vivendo a minha vida sem incomodar os outros.
Naquela noite, sem rumo, sem saber onde tinha deixado meu caminhão, andei até minha antiga cidade do lado do lugar deserto onde eu morava.. Parece tudo tão igual, as mesmas lembranças inúteis que correm pela minha memória.. Eu acabei de chegar e já me arrependi, eu tinha prometido que não voltaria mais aqui, mas estava tão bêbado que não tinha controle dos meus atos.
Sigo um labirinto que me leva de volta ao hotel, meu quarto empoeirado continua exatamente no estado em que eu deixei.. E só naquela hor aeu perbebi que na verdade eu nunca tinha saído daquele quarto, o homem um dia que largou tudo e sumiu, ficou preso lá dentro, realmente, das lembranças que eu odeio as piores são as que trago daqui.
Na minha infância, eu vivia rodeado de amigos, família e amor.. Quando fui ficando adolescente, comecei a cansar de tudo ,eram as mesmas obrigações, as mesmas tarefas chatas, as mesmas pessoas enchendo o saco, já estava cansado de viver, depois da minha primeira namorada, fiquei vazio, e assim estou até hoje.
Ao perambular pela cidade, lembrei do bar da esquina onde eu jogava poker, ando em circulos até chegar ao destino.. Tudo quebrado, vazio, o bar faliu um tempo depois que eu sai da cidade, naquele tempo eu era relaxado, vivia falando coisas como: "Estou melhor sem vocês, capitalistas fudidos do caralho, a bebida basta pra mim". Com aquela voz de bêbado na sarjeta.
Quando vi um homem deitado na sarjeta do bar, logo reconheci o homem, era o antigo dono do bar, rapidamente disse:
-Ha, as coisas não estão muito fáceis pra você também, não é?
-Estou na mesma situação que você, João. - Sussurou com a cara na calçada.
Não tenho filhos, e meus sobrinhos estão na cidade próxima daqui, nunca fui vista-los e nem pretendo, odeio parentes. Assim como meu amigo agora na sarjeta, eu sou um bebum acabado.
Hoje a noite eu não sei onde vou, mas sei muito bem onde vou parar. Mas não pense que é fácil pra mim se ninguém me vê reclamar, eu vejo meus antigos amigos se divertindo, enquanto quando eu tinha 14 anos, eu já ficava trancado na frente do computador jogando, sem ligar para a vida, acho que estou assim até hoje.. Acho que vou ser assim pra sempre, não se conserta o que já nasce com defeito.
Logo cedo, já estava voltando para a estrada, sem fome, afinal, já tinha me acabado nos bares da cidade, me arrependo de ter relembrado várias memórias irritantes.
Ao chegar em casa, ver meu trailer do mesmo jeito de sempre me fez ficar feliz, saber que não tinha ninguém pra bagunçar ou mexer nas minhas coisas.. e não demorou muito até que meu ouvisse uma batida na minha porta, logo gritei:
-Quem é? Se quer informação veio pro lugar errado, infeliz.
-Sou eu, João, abre a porta.
Reconheci a voz, meu antigo melhor amigo, Lauro, e fui abrir a porta.
-O que você quer aqui? E como descobriu onde eu moro?
-Tem gente sentindo a sua falta cara, você já tá fora a quase 4 anos, seus pais estão preocupados, cara.. - Respondeu com uma tom alto e de raiva.
-Como se eu tivesse prometido alguma coisa pra vocês, eu nunca disse que faria o que é direito, se manda logo daqui.
-Será que todos os anos que passamos juntos, nós e nossos amigos, não significou nada pra você?
-Moloque, aqui eu vivo isolado, e muito bem, obrigado. Se eu vim morar pra esses lados, o que eu não quero é ser importunado, o passado passou, as coisas são como devem ser, se escolheu vim aqui pra me reconquistar, escoleu um pessímo dia.
-Ressaca de novo, ok.. Não vou mais te importunar, mas saiba que todos nós gostamos de você.
Com aquela ultima frase, um aperto no meu coração surgiu, mas eu não demostrei, aguentei forte como o brutamontes que eu era, eu sabia que minah vida já estava vazia, não ia adiantar recomeçar, pelo menos, até aquele dia, não.