As lembranças da amiga

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  • Mrk
  • Capitulos 15
  • Gêneros Drama

Tempo estimado de leitura: 3 horas

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    Capítulos:

    Capítulo 7

    Capítulo 07 ? O quarto escuro

    Bom dia, boa tarde e boa noite.

    Cap. 07 disponível ;)

    Destaque do capítulo - Sakura Kyouko XD

    O som do pé batia as escadas a cada degrau subido. Com um andar firme Tatsuya seguia à frente de Homura como um guia turístico que mostrava o caminho correto para os visitantes. No topo, o rapaz logo levou a mão até uma maçaneta ao lado do longo corredor e abriu a porta, entrando no cômodo sem hesitações.  

    Não veio a acontecer o mesmo com Homura. Antes de entrar dá uma observada da entrada esperando algum tipo de autorização do dono. Sem jeito, o rapaz ergue o braço com a palma da mão para cima e mostrando o ambiente convida.

    “- Entre Homura-san.”

    Com um aceno positivo da cabaça, Homura pisa com o pé esquerdo no quarto de Tatsuya. O ambiente meio escuro logo foi clareado pela luz do sol que invadia através da janela, bem na frente da mesa de estudos. Largando a cortina azul que acabara de abrir, Tatsuya puxa a cadeira de rodinhas e oferece para mulher de cabelos negros na sua frente.

    Indica com o balançar da cabeça para ele não se incomodar e analisa o aposento. O que mais chamou a atenção foi a estante branca bem ao lado da mesa. Estreita comparada aos convencionais, as cinco prateleiras que a estruturava encontravam-se cheias de livros. Interessada pelo tipo de leitura do rapaz começa pela parte de cima examinar as lombadas da pequena biblioteca. Não conhecia nem um título em específico, mas presumia que o conteúdo tratava-se da arte em geral, clássica ou moderna. Na terceira prateleira arregalou, por um momento, os olhos por causa do título que encontrara. “Dragon Ball”. Famosa obra de Akira Toriama misturava-se entre os variados tipos de livros. Mais a diante notava-se mais títulos de mangás, que no caso, Homura não conhecia por não se interessar pelo tipo de leitura. Nos outros níveis achavam-se light novel e artbook de autores dessa área.

    Admirada com a coleção na sua frente, Homura vira para Tatsuya e diz.

    “- Eu sabia que você gostava de artes, mas não que desse tipo também.”

    “- Não escondo, mas evito falar sobre isso para as pessoas.” Com o rosto vermelho desvia o olhar dela.

    “- Não vejo nenhum problema nisso, mas já que você não gosta...” E volta o olhar para as lombadas. “- Há quanto tempo coleciona esse monte de livros?”

     “- Quando entrei no ginásio, comecei a me interessar pela área, então junto com os mangás, juntei o material.”

    “- Apesar de não entender muito bem, esses tais de light novel não são romances?”

    “- É, mas tem algumas ilustrações no meio. Comprava mais por causa disso. Na verdade, apesar de não falar para os outros, essa área da arte pop japonesa, me atrai muito. E...” O embaraço em seu rosto mostrou como não gostaria de continuar falando sobre esse assunto. Porém percebendo o olhar fixo de Homura engole em seco prosseguindo com o rosto todo rubro. “- Ando esboçando algumas páginas para um mangá.”

    Por um momento ela lembra da primeira vez que encontrou-o, “nesse mundo”, o pequeno Tatsuya. Ele estava desenhando a figura de Madoka no chão com um pedaço de graveto. Nostálgica, acaba erguendo as pontas dos lábios demonstrando um sorriso carinhoso.

    “- Não se preocupe, eu não conto para ninguém.”

    Recebendo a resposta o rapaz sorri e baixa a cabeça para não manter contato visual com ela.

    Desvia o olhar da estante de livros e, dessa vez, sua atenção vai parar na cama de colcha azul. Como se quisesse conferir a qualidade, ela senta no colchão impulsionando-o para baixo. Olhando o piso laminado vem um pensamento em sua cabeça, em seguida, ergue o rosto com um sorrisinho travesso perguntando.

    “- Você costuma esconder ‘revistinhas’ em baixo da cama?”

    Estupefato diante da pergunta, o rapaz fica sem dizer absolutamente nada por alguns segundos. Percebendo a graça no rosto da mulher de cabelos negros, respira fundo e tentando recriar o mesmo tipo de sorriso diz com convicção.

    “- Sem problemas, levei tudo para o meu apartamento em Akiyuki.”

    Trêmula, Homura esconde a boca esforçando-se para que o rapaz não perceba que ela estava rindo daquela situação. Com a cabeça virada para baixo Tatsuya arrepende-se da resposta que deu e fica com o semblante corado de vergonha. Não sendo possível mais aguentar, Homuara solta o riso achando o jeitinho do rapaz engraçado, mas fofo ao mesmo tempo. Ainda constrangido observa-a e não aguentando também mostra os dentes e acompanha a mulher com as gargalhadas.

    “- Qual é a graça?”

    Os dois olham para entrada conferindo de quem veio essa pergunta e encontram Junko observando-os com uma das sobrancelhas arqueada.

    Tatsuya, ainda sorridente, tenta disfarçar o ocorrido.

    “- Não foi nada, mãe.”

    “- Sabe meu filho, você nunca foi de rir sem motivos.” Com a mesma expressão no rosto retruca.

    “- Posso dizer para você, Junko-san. Não encontrará algo desagradável nesse quarto.” Continua Homura com o sorriso travesso.

    “- Algo desagradável?”

    “- Ignora mãe. Homura-san está falando bobagem. Aliás, vamos descer até a cozinho para tomar uma xícara de café.” Desviando o assunto, Tatsuya tenta conduzir sua mãe para fora do cômodo.

    Satisfeito com o resultado final, Homura segue os dois. Uma olhada para o lado direto, confere o que poderia haver se seguisse em frente aquele longo corredor. A consequência da sua curiosidade é a existência de duas portas. As pernas travam de repente, e observando as portas cria uma suposição na mente.

    “- De quem são aqueles quartos!?” Elevando, sem querer, a voz interrompe a conversa dos dois para fazer a pergunta.

    Surpresos, Tatsuya e Junko olham um para o outro e conferem as portas que Homura dizia.

    Com um dedo apontado para porta mais próxima Junko responde.

    “- Esse é o quarto que eu e Tomohisa-san usamos.” Movendo o braço indica a outra porta. “- E aquele é de ninguém.”

    Uma sensação ardente começava subir de baixo para cima, deixando Homura inquieta. Como se tentasse conter esse fenômeno aperta firmemente a palma da mão e fita Junko, perguntando novamente, dessa vez, com uma voz controlada.

    “- Posso entra naquele quarta?” Mostra a porta no final do corredor.

    “- Claro...” Mesmo não conseguindo entender o motivo desse pedido, Junko concede permissão.

    Mantendo o controle sobre suas pernas vira as costas para os dois e segue a passos normais até o término do corredor. Junko afirmou a situação por trás daquela porta, mas não conseguia ignorar a esperança que existia dentro de Homura. A minúscula possibilidade de Madoka estar lá esperado por ela.

    Na frente da enorme tábua de madeira, pega na maçaneta. Uma paralisia ataca repentinamente Homura sem conseguir girar o objeto de metal que segurou firmemente. Percebe uma gota de suor raspar a superfície do rosto. O coração tão acelerado que proporcionava a sensação de que iria explodir. As pernas tremiam mesmo estando, ou achando, estarem paralisadas.

    A luz que entrava pela janela ao lado da porta, onde terminava o corredor, a fez conferir o céu azul sem uma única nuvem atrapalhando a sua visão. Por algum motivo, olhar para o céu deixou-a mais calma e quando voltou o rosto para maçaneta conseguiu gira-la como se nada tivesse acontecido.

    Devagar abre a porta, e diferentemente do quarto de Tatsuya, não hesita em adentrar. Avista o ambiente que era só iluminado pela luz que vinha do corredor, deixando Homura com um vazio no peito. No aposento havia um estrado com um colchão, mas sem colcha. Logo ao lado uma cortina branca, sem nenhuma característica, impedia a entrada da luz natural ao local. E na parede oposto à cama encontrava-se algumas caixas de papelões uma encima da outra.

    Como se as ultimas esperanças evaporassem de seu corpo, Homura baixa a cabeça e encara seus pés. Uma gota de lágrima cai no chão. Surpresa ergue a cabeça enxugando com a mão direita o canto de cada olho. Não esperava ficar tão abalada com um fato que já conhecia a resulta. Pelas palavras de Tatsuya e Junko, sabia que não teria como haver outro fim se não aquele. Na verdade, o fato já era algo concreto desde dezessete anos atrás, quando teve seus últimos momentos com sua amiga.  

    “- Tudo bem Homura-san?”

    Toma um susto com a voz que a chamava e vira-se em direção à porta. Tatsuya observava-a com um semblante preocupado. Sob o olhar sério do rapaz fica imóvel pensando qual seria a palavra mais adequada naquele momento. Com vontade de passar os dedos pelos olhos para conferir se continuavam cheios de lágrimas, aperta a palma da mão impedindo o impulso. E construindo uma voz alegre diz sorridente.

    “- Está tudo bem.”

    Aquele sorriso não foi capaz de convencer o rapaz, e ainda que não soubesse o motivo, a voz minimamente trêmula entregou a tristeza sentida por ela. Tatsuya não soube o que dizer, queria ajuda-la, mas não fazia ideia de como. Provavelmente, ela negaria qualquer tipo de resposta para essa pergunta. Com semblante frustrado, só conseguiu ficar calado junto dela.

    “- Geralmente, quando um parente vem passar alguns dias aqui em casa, ele fica nesse quarto.” Atrás de seu filho, Junko diz observando o quarto praticamente vazio. E com um sorrisinho sarcástico continua. “- Quando é mais de um, eles dormem no sofá lá em baixo.”

    Os dois olhavam para Junko, em silencio. Acharam melhor do que ficar um encarando o outro, pelo menos alguém construindo algum tipo de som era capaz de retirar a tensão existente no ambiente.

    Percebendo ou não a intenção dos dois, Junko continuou falando, dessa vez, com um tom melancólico na voz.

    “- Mas no começo eu e Tomohisa-san achávamos que esse quarto seria ocupado por um filho, ou filha.” Fala com um sorriso triste e os olhos fechados como se estivesse imaginando um futuro que poderia ter acontecido.

    Homura podia compreender os sentimentos da mulher na sua frente. Sempre se pegava sonhando como seria o presente e o futuro com sua amiga, mas no fim das contas acabava com a mesma expressão de Junko.

    Abrindo os olhos, Junko continua com o discurso.

    “- No entanto, como podem ver algumas coisas saíram diferentes. E como os parentes só vêm de vez em quando, uma parte do quarto tornou-se um depósito.” Aponta a pilha de caixa de papelão no canto do quarto. Baixando o braço dá mais uma olhada pelo quarto e, dessa vez, leva a mão atrás da cabeça dizendo com uma voz inconformada. “- Ai, ai. Devia ter feito mais um. Esse quarto cheio de coisas de menina iria ficar a coisa mais linda.”

    Quebrando totalmente a tensão existente, Tatsuya acaba soltando uma risadinha.

    “- Espera um momento, e se fosse um menino?” Um semblante totalmente descontraído, tenta provocar sua mãe.

    “- Nesse caso, tentaria até conseguir uma. E se faltar quarto, nós mudamos daqui.”

    “- No fim das contas, aqui não teria função nenhuma.” Sorri de forma forçada e retruca o comentário de sua mãe.

    No centro do quarto Homura observava os dois saírem, discutindo como há alguns minutos atrás. Suspirando, dá uma ultimava olhada no ambiente escuro com o objetivo de reafirmar e registrar em sua mente a realidade daquele aposento.

    Com uma expressão levemente satisfeita sai do cômodo sem olhar para trás e fecha a porta tomando cuidado para não fazer barulho, como se estivesse evitando acordar alguém.

                                                                    #

    Após tomarem a xícara de café, Homura e Tatsuya saem de casa para um passeio pela cidade, decidindo no meio da caminhada visitar o ginásio Mitakihara.

    Homura andava com a cabeça para cima de olho no céu azul sem nuvens. Pensava no acontecimento de alguns momentos atrás. Aquela frustração que sentira no quarto era algo que deveria ter ocorrido dezessete anos atrás, prorrogando-se, de alguma forma, até os dias de hoje. Quando recomeçou uma nova relação com a família Kaname, veio a visitar aquele lar diversas vezes, mas pensando bem, naquela época, o que mais queria era ficar perto do que fez parte da vida de Madoka. O que ainda fazia lembra-la nesse mundo. O ano que conseguiu matrícula em uma faculdade fora de Mitakihara fora o momento para deixar – ou pelo menos tentar – o passado para trás e seguir em frente. Obviamente nem por um momento se quer conseguiu esquecer o que vivera com Kaname Madoka, e a declaração de Tatsuya fora a melhor desculpa para voltar, tentando uma ultima procura pela sua amiga. Mas como já sabia e fingia não saber, Madoka não mora mais naquela casa. O quarto dela está vazio e ela nunca veio a existir nesse mundo.

    O leve vento da tarde acaricia o rosto de Homura e por um breve momento ela fecha os olhos sentindo os seus cabelos balançarem. Quando volta a abri-los, o céu na sua frente parecia algo diferente de alguns instantes atrás, mesmo não tendo mudado absolutamente nada. Observando o infinito azul como se algo estivesse lá, ela sorri satisfeita e levantando os braços espreguiça, sentindo a calmaria e paz do dia. Baixando-os, percebe estar sob um olhar protetor e olha para o lado, encontrando Tatsuya observando-a com um gentil sorriso. Por algum motivo fica envergonhada, e quase desvia o rosto dele. Porém em vez disso, continua olha-lo.

    “- O que foi?” Pergunta.

    “- Nada. Só reparei que você parece estar melhor.”

    Não conseguindo permanecer exposta ao sorriso dele, Homura volta o cenho para frente, onde já podia se ver a construção do ginásio Mitakihara.

    Tatsuya olha para escola que já não entrava há seis anos e com olhar nostálgico começa falar com uma voz serena.

    “- Quando eu era pequeno, meu primo vinha nos visitar e ficava hospedado naquele quarto. Saíamos para brincar e quando voltávamos cada um podia ir para o seu quarto. À noite, brincávamos um no quarto do outro até minha mãe nos mandar dormir.” Sorridente olha para o céu sem erguer a cabeça, como se estivesse lembrando do passado. “- Era como ter um irmão.”

    O ginásio Mitakihara não tinha mudado nada desde a formatura de Homura. Aparentemente ouve algumas reformas, na cor do portão principal, novos modelos de janelas e uma mudança no layout do pátio, no resto a construção futurística com as grandes janelas que mais parecia vitrines continuava o mesmo.

    Homura observava a escola pelo portão fechado e puxava da memória os últimos anos que passara lá. Tatsuya também parecia estar no mesmo processo. 

    “- Seu irmão, ou mesmo irmã, teria sido muito feliz com vocês.” Depois de um breve silencio, ela acrescenta. “- Não, ela ‘foi’ feliz com vocês.”

    Ainda com os olhos fixos na construção, Tatsuya só sorri sem dizer nada. Não importava sobre o que Homura estava falando, provavelmente nunca saberia ou mesmo entenderia, mas sentia que algo mudara dentro dela, fazendo-a libertar-se desse pesadelo.

    De olho na janela da escola, Homura começa passar o dedão pelos dedos suados. Achando esquisito esse ato encara a palma da mão direita. A estação era outono e apesar de não sentir frio também não estava quente a ponto de suar, mesmo depois da pequena caminhada. Para conferir passa a mão pelo pômulo, ficando impressionada com o rosto quente. E como se um fato atraísse outro percebe a acelerada respiração. Com a mão ainda sobre a maçã do rosto, fica imóvel por alguns segundos. Devagar, somente com os olhos, olha para o lado. Quando Tatsuya entra na área de visão, escorrega a mão até o meio do peito verificando a rapidez e força com que seu coração batia.

    Um sorriso espontâneo surge em seu rosto rubro. Pensando bem, ela decidiu vir para cidade de Mitakihara atrás de uma resposta, para si própria e, talvez, para o rapaz que se encontrava ao lado. Respira fundo trocando o ar dos pulmões e, lentamente, vira o corpo para Tatsuya. Depois de uma ultima inspirada, abre a boca com o intuito de falar.

    “- Akemi Homura!?”

    Interrompida por uma voz familiar, Homura vira-se para conferir quem a chamava. Uma mulher mais ou menos da altura dela, olhava-a com seus olhos castanhos avermelhados. Os longos cabelos ruivos presos no alto da cabeça no estilo rabo de cavalo balançavam por causa do passageiro vento. A blusa fina cor azul que usava por cima de uma camiseta preta lembrava muito o estilo dela há alguns anos atrás, porém a calça jeans e as sapatilhas pretas nos pés mostravam que não era mais aquela garotinha comilona. Sua expressão era de surpresa, mas notava-se o sorriso charmoso por causa do seu dente canino destacado.

    Arregalando os olhos arroxeados Homura diz com uma voz surpresa.

    “- Sakura Kyouko!”

    E repara logo em seguida em um indivíduo bem ao lado de Kyouko, na altura da barriga dela. Era uma menina de cabelos vermelhos que chegava até o pescoço. Um rosto arredondado e olhos castanhos avermelhados que nem os de Kyouko, envolvida em um vestidinho azul simples, mas que acrescentava um charme adulto. Escondia atrás de Kyouko observando Homura com um olhar curioso.

    Reparando no fixo olhar de Homura na garota, Kyouko diz.

    “- Ela se chama Yuma. É a minha filha.” E coloca a mão na cabeça da menina. “- Vamos filha, cumprimente a amiga da mamãe.”

    “- Muito prazer. Sou a Yuma.”

    Tímida, baixa a cabeça cumprimentando Homura.


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