Olá, pessoal.
Como podem ver disponível capítulo 06. Enfim a participação de Junko e Tomohisa.
Boa leitura ;)
O trem faz sua parada na cidade de Mitakihara antes dos ponteiros atingirem o número onze no relógio da estação. Homura parecia estar visitando pela primeira vez o local, olhando de um lado para o outro tentando identificar o ambiente que não via há muito tempo.
A caminhada pela cidade, pouco a pouco, começou trazer a tona as lembranças distantes de um passado que ela tentara esquecer. As árvores que ladeava o caminho de concreto, o centro comercial próximo mais movimentado por ser domingo de manhã, até mesmo o ar fresquinho do outono parecia completamente diferente de onde ela partira hoje cedo. Em pouco tempo, dentro de sua mente formava-se o mapa com toda estrutura da cidade.
Minutos de passeio se passam fazendo-os concentrarem no verdadeiro objetivo somente quando avistaram uma construção. Para Tatsuya a casa da sua família, para Homura da sua melhor amiga. Em tempos, aparecia, em segredo, na moradia dos Kanames apenas para verificar a segurança de Madoka, tranquilizando-se ao ver o doce cenho adormecido da gentil garota nas calmas noites. Em outros, atravessava a porta como uma simples visitante.
Conforme o lar da amiga aproximava-se, as batidas do coração de Homura ficavam cada vez mais rápidas. As gotas de suor que deslizavam pelo corpo e as pernas trêmulas intensificavam-se a cada passo que dava. Na fachada da casa, em fim, se tocou que estava prestes a encarar tudo aquilo que achara ter deixado para trás. O reencontro com Tatsuya na cafeteria “Magica” não seria nada comparado com o que vivenciaria dentro daquela construção futurística de dois andares.
Sem perceber a reação dela, Tatsuya segue direito para porta de entrada, e abrindo-a, grita.
“- Tadaima!”
Um homem alto envolto em um avental branco recepciona-os com um sorriso bondoso no rosto.
“- Okaeri.”
Diz Kaname Tomohisa, pai de Tatsuya.
A aparição de Tomohisa fez Homura recompor-se e seguir até a entrada da casa. Percebendo a visitante atrás do filho, Tomohisa cumprimenta-a.
“- Olá, Homura-san, já faz um bom tempo que não nos vemos.”
“- Há quanto tempo, Tomohisa-san. Obrigado por ter concedido a permissão para minha visita hoje.”
E devolvendo o cumprimento, curva-se para ele.
“- Sem problemas. Junko-san estava ansiosa para revê-la. E você fez Tatsuya voltar para casa. Já fazia meses que ele mal dava notícias.”
“- Deveriam ficar felizes, significa que estou cada vez mais independente.” Retruca com confiança o jovem Kaname.
“- Pode ser, mas os pais tentam atrasar o máximo a saída dos filhos de seus ninhos.”
“- Assim fica parecendo que você não mora na sociedade japonesa, meu pai.”
De frente com uma discussão divertida entre pai e filho, Homura acaba soltando uma risadinha discreta junto com uma pergunta.
“- Aproposito, onde está Junko-san?”
“- Dormindo no conforto da cama.”
Responde o patriarca da família com o mesmo sorriso.
“- Final de semana ela só acorda na hora do almoço. Não muda mesmo.”
“- Melhor você acompanhe Homura-san até a sala de estar enquanto vou lá em cima acordar sua mãe.”
“- Tudo bem. Vamos?”
Assentindo com a cabeça, Homura tira a rasteirinha preta e coloca as surippas preparadas para os visitantes.
Segue Tatsuya por um corredor reluzente, onde podia ser notada a habilidade como dono de casa de Kaname Tomohisa na parte da faxina.
A sala de estar, como no apartamento de Homura, era junto com a cozinha dividido por uma mesa de madeira com seis cadeiras do mesmo material. Logo à frente, o balcão de granito escondia por traz o fogão de seis bocas em pleno vapor com panelas sobre ela. Entre as duas áreas, uma porta de correr transparente proporcionava visão para o quintal de gramado verde com uma pequena horta de minis tomates e mesa redonda para quintal.
Sem jeito, Homura assenta no sofá na frente da televisão e permanece imóvel enquanto espera Tatsuya voltar da cozinha com algum tipo bebida.
“- Você gosta de coca, Homura-san?”
Por cima do encosto do sofá, olha em direção ao rapaz e responde positivamente. Enchendo dois copos com o refrigerante, entrega um dos recipientes para Homura, em seguida toma o assento do lado oposto o da mulher de cabelos negros.
Com o copo em mãos, presta atenção no barulho que o relógio de parede emanava pelo ambiente, deixando um ar desconfortante, pelo menos para Homura. Nada indicava que uma conversa entre ela e Tatsuya estava para iniciar. O rapaz, em silencio, bebia o líquido marrom com o olhar em direção ao quintal, sem demonstrar qualquer tipo de interesse pela mulher bem na sua frente. Cabisbaixa, ela só conseguiu voltar os pensamentos para o que ocorreu durante a viagem e permanecer calada, aguentando o som dos ponteiros em seus ouvidos.
O discreto ranger da porta na sala de estar fez com que todos lá prestassem atenção na entrada do cômodo. Uma mulher segurava a maçaneta da porta e observava a visitante de cabelos negros acomoda no sofá. Um sorriso espontâneo formou-se no rosto da mulher, que seguiu em direção à Homura, e com força, agarrou os ombros aproximando as faces de ambas.
“- Finalmente pude ver esse seu rostinho, garota. Você não mudou nada.”
“- É bom vê-la de novo, Junko-san.”
Kaname Junko não mudara praticamente nada. O rosto arredondado mantinha o mesmo tom infantil do passado, onde o batom vermelho nos lábios proporcionava a coloração adulta enfatizando o belo rosto que possuía. Os cabelos arroxado na altura dos ombros continuavam lisos e sedosos, podendo observar uma mecha branca, que partia do canto da franja e prendia-se atrás da orelha. Único indício da sua atual idade. A camisa social branca sem prender alguns botões deixava amostra seu decote, e junto com a justa calça jeans que destacava as finas coxas, Junko poderia ser confundida com uma mulher que mal chegara aos trinta anos de idade.
“- Posso lhe dar um abraço?” Colocando ainda mais força nas mãos que seguravam os ombros de Homura, pergunta com uma gentil e doce expressão.
“- Claro.” Sem hesitar, Homura concede permissão à Junko.
Apertando o seu corpo contra o dela, Junko acaricia os longos cabelos de Homura.
“- Bom te ver, minha querida.” Diz a mãe de Tatsuya, como se estivesse diante de sua filha.
No conforto daquele abraço, o sorriso de Homura dizia o mesmo. Era impressionante o que o tempo podia fazer com sensações tão agradáveis. Já não conseguia, até aquele momento, lembrar-se de como era querida pela mulher que a envolvia em seus braços.
“- Bom, acho que já exagerei no drama.” O sorriso sem jeito de Junko na hora em que se afastou de Homura, parecia ter misturado a vergonha pelo atual ato, mas também a felicidade por, em fim, ter sentido aquela pessoa perto de si.
“- Tomohisa-san, o almoço já está pronto?” Pergunta para o marido.
Ele, com o mesmo sorriso gentil, responde.
“- Está sim, Junko-san. Só falta colocar na mesa.”
“- Certo. Pelo que vi, o clima parece estar bom para comermos lá fora. Se importa Homura-chan?”
“- Não, para mim está tudo bem.”
Responde surpresa, não esperando ser consultada.
“- Enquanto carregamos os pratos para fora, Tatsuya, acompanhe Homura-chan até a mesa.”
“- Eu posso ajudar.” Junto de um tom apressado na voz, Homura diz para o casal.
“- Você é convidada, nesse caso, quem trabalha é o Tomohisa-san.” Sorri maliciosamente, apontando o dedo indicador para o marido.
“- Isso mesmo Homura-san, o dono da casa tem tudo sobre controle.”
Entrando na onda da esposa, a expressão gentil do bom homem, acaba convencendo Homura.
“- Se é assim tudo bem. Então Tatsuya-kun, leve-me até a mesa.”
“- É só me acompanhar, Homura-san.” Dizendo isso, Tatsuya sai em direção à porta de vidro.
Acomoda-se em uma das cadeiras da mesa redonda e tira as surippas pisando na grama com os pés descalços. O suave espetar da grama faz com que Homura olhe ao redor e repare no quintal limpo e bem tratado. O vermelho dos minis tomates proporcionava àquele ambiente um toque único, deixando a sensação de estar em outro lugar distante dali. E mesmo a estação de outono mostrando sua beleza para o mundo, a árvore próxima à mesa criava uma sombra magnificamente perfeita para um almoço ao ar livre.
O cheiro maravilhoso de molho de tomate dominou o olfato de Homura fazendo-a voltar para realidade. Tomohisa aparece no quintal com uma bandeja em mãos e retira dela o número de pratos e talheres por pessoa. O macarrão avermelhado no prato de cada indivíduo tomava a forma de uma torre em espiral enfeitada com uma folhinha de manjericão o topo como a estrela na árvore de natal. Em seguida, aparece Junko trazendo quatro taças de vinho, muito bem colocadas entre os dedos, e o vinho tinto. Distribuindo as taças, enche com o líquido cada um, menos o de Homura.
“- Gosta de vinho?” Pergunta Junko com a boca da garrafa sobre a taça.
“- Não é sempre que bebo, mas gosto, sim.”
“- Ótimo, se tem macarronada, o vinho tem que acompanhar.” E com uma expressão satisfeita enche a taça de Homura.
Verificando se todos tomaram seus lugares à mesa, Junko junta às palmas das mãos e diz.
“- Itadakimasu.”
E seguido dela, os três agradecem pela refeição.
Pegando o garfo de prata ao lado do prato, Homura enrola a macarronada, tentado não desfazer a forma da torre. Leva à boca o pequeno bolo de massa e percebe junto com o sabor de tomate algo a mais. Tenta analisar o ingrediente que forma um par perfeito com o molho, mas sem conseguir distinguir o que é, leva mais uma garfada à boca. Percebendo a dificuldade de Homura em desvendar o ingrediente, sorrindo maliciosamente Junko revela o “truque”.
“- Esse sabor que dá um acréscimo ao molho é atum, Homura-chan.”
“- Exato! Sabia que já tinha comido algo com esse sabor, era atum então.” Concordando com o que Junko dissera, Homura dá mais uma garfada na macarronada. “- Mas parece que tem algo a mais, ou é engano meu?”
“- Acho que é engano seu.”
Diz Junko, verificando na macarronada de seu prato.
“- Tem sim.”
Do nada, Tomohisa fala olhando para sua esposa ao lado.
“- Quê? Mas você nunca me contou.”
“- Um dono de casa que se prese tem os seus segredinhos na hora de cozinhar.” E dá uma piscada de olho para esposa.
“- Não acredito que meu marido tinha algo a esconder de mim.”
“- Você que não sabe mãe. O pai, com essa cara de bom moço, tem segredos que você nem imagina.”
Após um gole no vinho, Tatsuya diz para sua mãe.
“- Até tu, meu filho!?”
Exagerando na reação, Junko pergunta para o próprio filho.
Um momento diferente e prazeroso estendia-se na frente de Homura. Mesmo ela não participando da conversa dos três, aqueles minutos, de imediato, se tornarão uma linda lembrança no futuro.
E, como se quisesse detalhar melhor essas futuras lembranças, olha para uma Junko sorridente, aparentemente sem nenhum rancor ou raiva de Homura. Não era possível que Kaname Junko não tenha sentido oito anos de ausência de uma pessoa, então o que ela estava fazendo era fugir do assunto, não perguntar o porquê do fato. Ou seria Homura que não tenha percebido que Junko já a perdoou? O abraço que recebeu foi tão forte e carinhoso que poderia estar envolvido com diversas emoções, inclusive a do perdão. Pensara muito, mas a verdade é que a matriarca da família Kaname poderia estar sentindo absolutamente nada em ralação ao desaparecimento. Só se percebe a culpa quando a pessoa se arrepende de seus atos. E com certeza, Homura tomou consciência.
Desvia o olhar em direção à Tomohisa. O sorriso gentil que recepcionara na porta, fez lembra-la dos velhos tempos quando ele brincava com o pequeno Tatsuya. O mesmo sorriso podia ser visto naquele momento, junto com a família. Homura sempre achou que aquele sorriso significava a felicidade e amor dele pelos dois.
Por fim, entra na sua visão Tatsuya, aquele garotinho fofinho e bonitinho, agora era um homem bonito e charmoso que saboreava bebidas com álcool, como o atual vinho tinto.
Engraçado como o tempo muda e mantem os elementos que compõem o ambiente e as pessoas. Essa família que Homura tanto adora, sofrera as consequências do tempo. Todos envelheceram e mudaram o modo de viver, no entanto, suas características mais pessoais mantiveram-se intacto e forte, como se suas vidas dependessem desse elemento. Ocorreu o mesmo com Akemi Homura, sua vida não é a mesma de dezessete anos atrás. Mas a presença de Madoka parecia que sim.
Hoje chegou o dia de arrebentar com as correntes que a prendiam no passado. Não gostaria, viera para Mitakihara, no lar dos Kanames com a ilusão de procurar indícios da sua querida amiga, mas o reencontro com todos da linhagem de Modoka, dizia que era hora de seguir em frente sem as dolorosas lembranças com a amiga.