Ohayo, minna! Quero pedir desculpas à vocês por ter demorado para aparecer de voltar. Estive muito agitada nos últimos dias e não conseguia escrever, estava mal, muito pilhada. Pensava o tempo todo sobre continuar, mas precisava de um tempo. E bem, estou melhor! Por isso quero dizer, o capítulo de hoje é MUITO importante. Um fato sobre ele é que hoje a narração é inteiramente em terceira pessoa. Peço desculpas se vocês não gostam dessa oscilação na forma de narrar e, caso prefiram que eu não mude algumas vezes, comentem para eu saber. O motivo de eu ter usado esse tipo de narração é porque especialmente neste capítulo, eu precisava narrar vários pontos de vista ao mesmo tempo e achei que mudar de narração tantas vezes ficaria cansativo. Dessa forma, em terceira pessoa, tenho uma visão mais ampla e deu certo. Bom, o capítulo nove marca um momento muito importante. Percepções antes não percebidas serão realizadas e muitas dúvidas irão pairar no ar. Mas será um ponto de partida para questão sobre Hinata que nós ainda não trabalhamos muito em cima e será a partir daí que o coração da moça se tornará mais visível. Então, por favor, sejam minuciosos e prestem atenção. Ah, temos trilha sonora! kkkk A primeira música é mais de apoio, mas quero que ouçam. Ela é bem breve e canções como essa não aparecerão muito por aqui porque eu não gosto do gênero, então não tem como se encaixar no enredo que, inevitavelmente, carrega minha essência. Com exceção, hoje, desta canção. O nome é Bad Day e é do cantor Justin Bieber. A segunda música é importante, mesmo. Não exatamente pela letra, embora também, no quesito essencial do que a música quer dizer. Espero que possam ouvi-la! O nome é Try do cantor Zack Berkman. Os links estarão nas notas finais. Boa leitura e até lá embaixo! :)
PS.: A palavra "celibato", é GERALMENTE usada para apontar abstinência sexual, mas não é isso que significa, especificamente. Celibado é abster-se de relações amorosas, em todo o sentido.
Narração em 3ª Pessoa
Corpos balançavam num frenesi adolescente em busca do esquecimento. Copos tilintavam, líquidos giravam e gelos descongelavam em meios alcoólicos. Havia um Dj sobre o palco, alheio ao público que tinha, concentrava-se em fazer seu trabalho e mal parava para aderir à indicações e pedidos. No final daquilo tudo, talvez o esquecimento fosse inevitável. Se a mente estivesse em paz, não haveria por quê lastimar consequências. Era desse modo efêmero que o evento social poderia ser descrito na visão introspectiva e fragilizada de uma garota na flor da idade como Hinata. Ela não entendia o que era gostar de estar em bailes, mas conhecia a procura pelo esquecimento. Em meio àquelas pessoas, sentada em um banco à frente do bar, a menina sentia que apesar de todos os motivos ali presentes não serem tão obscuros quanto os dela, ainda assim, esquecer era um desejo comum. Ela era uma pessoa, um ser humano, afinal. E humanos são efêmeros.
Mas a eternidade aguardava suas memórias.
Olhou para os lados e viu o grupo distraído de seus novos amigos conversando alguma coisa realmente animada. Ela estava com um copo de whiskey na mão, que fora ofertado por Ino e seus discursos sobre "deixar rolar" e "fuga aos panos que nos escondem da diversão". Riu, baixo e tímida. A bebida estava intocada, mas a Yamanaka desencanara dela, então estava tudo bem. Beber a fazia lembrar das inconsequências que fazia no passado para tentar se livrar de decepções e psicoses. Quase podia sentir o cheiro de seu antigo quarto e a textura suja dos restos de cigarro que ficavam em suas roupas noites e mais noites.
Era uma parte da vida dela que não se envergonhava, na verdade, mas ao mesmo tempo não sentia necessidade de expor. Hinata não era viciada nos meios de se esquecer, nos refúgios ou seja lá como chamar. Só o que obtinha seu vício era o efeito, independente de como havia o alcançado. Poderia ter apenas dormido, e estaria tudo certo. Tinha consciência da efemeridade de cada meio que escolhia, mas não importava, pois supria o que desejava por um tempo.
Voltou os olhos para o loiro que naquele lugar representava o papel de seu par. O garoto bebera pouco, mas apresentava uma alegria indiscutível. O sorriso amplo e branco dele estava estampado incessantemente, sua linguagem corporal o denotava como um dos garotos mais interessantes dali. Os olhos azuis escondiam o paraíso, o corpo longo e esbelto exibia saúde e disposição para qualquer coisa. Parecia uma passagem ambulante para o que havia de melhor na diversão, como se estar acompanhada dele representasse copos sempre cheios, assuntos em dia, risos altos, status e muita energia jovialmente sexy. Talvez jovial não fosse bem o adjetivo correto. Tampouco puro. A aura sensual não era imposta propositalmente e isso era um veneno doce para as garotas daquele baile. O Uzumaki era como uma garrafa de inocência no inferno. Todos desejavam de um gole ilícito.
Para Hinata, isso passava sem efeito sobre a zona de sua percepção feminina enferrujada. Mas era um fato desconhecido para outras pessoas, o que estava prestes a gerar novos problemas para a Hyuuga já atolada neles. Era um triste destino para uma amizade, ser levada pela correnteza das desavenças causadas por interesses maldosos alheios. Mas segundo o karma da garota, talvez isso já fosse esperado para as linhas de sua trajetória complexa neste mundo.
E era por isso que, do outro lado do salão, olhos enfurecidos faiscavam na direção do grupo.
A garota loira observava atentamente como se não pudesse perder nem sequer uma troca de olhares aleatória. Seus olhos violeta transmitiam um paradoxo entre fogo e gelo. Queimava pela raiva que se alastrava pelo seu coração gélido. Durante todo o evento, ela só conseguia pensar no quanto odiava aquela visão que tinha. Lembrava do ano anterior e de como estava próxima de conseguir conversar novamente com o Uzumaki, mas desde que aquela misteriosa garota apareceu, nunca mais encontrou o loiro desocupado. Havia alguma coisa estranha ali, os dois não flertavam, mas ela sabia que era uma questão de tempo para o garoto tentar galantear a esquisita.
Expirou, irritadiça. Perder não fazia parte de seu vocabulário, então por que sentia que isso estava acontecendo? Precisava encontrar uma maneira de afastar a novata ou então acabaria assistindo ao espetáculo de mais um casal indesejado, assim como sua melhor amiga.
- Vai acabar queimando o campus inteiro com esse olhar. - brincou Karin. A loira bufou.
- Adoraria que tudo isso explodisse, assim eu não teria que me tornar perdedora como você. - devolveu.
- Fala sério, Shion, o que queria que eu fizesse? Matasse a Haruno? - disse Karin, emburrada pela resposta ofensiva. A loira apenas abriu um sorriso sarcástico. Na verdade, não era lá uma má ideia. Apesar de ter tido um pequeno interesse por Sasuke, nunca tinha realmente mantido um contato com ele, portanto a rosada nem lhe afetava. O que sentia por ela era puramente uma rivalidade inevitável. E além disso, o grupo de amigos compartilhado pelo casal sempre lhe irritara. Mas Karin era enlouquecida pelo Uchiha e fora esse o fator que mais delimitara as linhas rivais entre os dois lados. Com duas garotas competindo pelo mesmo cara, muitos conflitos foram gerados. Mas até então, Shion nunca tinha entrado na linha de frente por interesse próprio. Não havia muitas garotas que competiam contra ela quando o assunto era o Uzumaki, afinal. Além dos amigos do loiro, que insistiram em odiá-la, não havia empecilhos em sua aproximação.
Exceto o próprio garoto.
Quando Shion era apenas uma pré-adolescente, ela fazia parte da mesma zona de amizade do Uzumaki. Os dois tinham sido amigos e colegas de classe por anos, mas a garota sempre nutrira um sentimento frustrado pelo loiro de olhos azuis. Aos quinze anos, a paixão não correspondida começou a despertar coisas ruins na jovem. Até que Karin mudou-se para o colégio e as duas começaram a ser amigas. Na época, a ruiva ajudara Shion a administrar a raiva que estava sentindo por não poder ser correspondida e a incentivara à contar para o garoto, a fim de descobrir se ele só não era um idiota.
Mas o plano foi como uma bola de neve despencando de um penhasco quebradiço. Desencadeou uma avalanche que travara em Shion uma guerra em sua personalidade. Havia caminhado corajosamente até a casa do Uzumaki, nervosa por suas intenções, mas elas foram destruídas quando ao se aproximar da residência, avistou o loiro de dezesseis anos dando seu primeiro beijo debaixo de uma cerejeira com Fuu, uma garota mestiça de mãe australiana e pai japonês, que atraía muitos olhares devido à sua coloração azul do cabelo e a pele bronzeada. Fora somente um selinho dado por ela, nada muito íntimo, mas Shion lembrava do sorriso sapeca que o loiro exibiu um segundo depois. E desde então, ela nunca mais fora a mesma.
Mais tarde, aos dezessete anos, Shion e Naruto trocaram o primeiro contato romântico. A loira tinha voltado a falar com o garoto e conseguiu atraí-lo como tanto almejava. O problema era que ela não imaginava que o que fosse sentir ao alcançar seu desejo se resumisse à uma ambição vingativa. Pensou que voltaria a gostar dele ou coisas nostálgicas do tipo. Mas a jovem apenas decidiu que o faria desarmar aquele sorriso sapeca para inclinar os lábios negativamente, assim como ela fizera no passado.
Após um término traumático, Shion gostara de ver o Uzumaki se fechar para o mundo romântico. O sentimento possessivo que tinha sobre ele lhe proporcionava lágrimas e risos maléficos, ao mesmo tempo. Uma reação doentia e seu maior segredo. Não havia perdido muito do seu tempo espantando candidatas para ocupar seu antigo lugar ao lado do garoto. Ele próprio fazia o trabalho de dispensá-las, uma por uma, com seu sorrisinho de príncipe e sua educação perfeita.
Irritante. Sempre tão irritante.
E isso parecia uma coisa certa na vida de Shion, de que pelo menos por um tempo, não teria que ver os olhos azuis de Naruto brilhar para outra garota. Até agora.
Com esse pensamento, voltou seus olhos na direção da garota nova que estava sentava no bar, com os olhos perdidos em algum ponto aleatório. Ela segurava o copo de whiskey há tanto tempo intacto que Shion sentia arrepios só de pensar em ingerir aquilo quente. Esquisita. Suspirou, revirando os olhos. Era até inacreditável que alguém como o idiota do Uzumaki sinta atração por pessoas sem graça como a morena de olhos estupidamente claros. Lembrava-se da aula de educação física em que a derrubara para tentar de alguma forma lhe mostrar quem mandava ali, mas havia dado tudo errado e isso só aproximou os dois. Ah, como Shion odiava aquela novata. Como era mesmo o seu nome, aliás? Ela quase nunca dava a porcaria de um sorriso, e com exceção daquela noite, nunca havia visto uma cor sequer naquele rosto pálido. Era certo que a garota possuía sua beleza incomum, mas Shion nunca admitira isso, muito menos para alguém que deve somente levantar da cama e vestir o uniforme enquanto ela passava uma hora em frente ao espelho corrigindo suas falhas.
Droga de garota irritante.
- Ei, Shion, você ainda tá ai? - perguntou Karin, balançando a mão em frente ao rosto da amiga.
- Que é? - devolveu emburrada.
- Olha, sei que você não vai gostar de ouvir isso, mas parece que o Uzumaki desencanou do celibato. - disse a ruiva.
Shion faiscou seus olhos na direção dela.
- Nunca! Ele não vai ficar com mais ninguém! - exclamou enfurecida. Karin cruzou os braços sobre a fantasia de Ariel Mermaid.
- Então o que você vai fazer? - perguntou.
- Eu vou acabar com essa palhaçada. - disse Shion, expirando pesadamente. Ela tomou o gole de sua própria bebida alcoólica e largou o copo sobre a bandeja de um garçom. - Vamos destruir corações, Karin, eu já até tenho uma ideia de como fazer isso.
***
Temari mexia ansiosa na barra de seu kimono. Expirou algumas vezes e até bebericou de uma bebida, mas nada a fazia se sentir aliviada. Shikamaru tinha chegado à festa um pouco depois do que os outros amigos e estava vestido com a farda militar de seu pai. O jeito como ele parecia sério naquele traje a deixou corada, o que já era um fato bem raro. A loira não costumava ficar envergonhada, era muito durona para isso. Mas por um acaso, o destino a fizera se apaixonar pelo moreno preguiçoso. Desde que saíra da casa de Sakura, ela vinha pensando no que dizer à ele quando o visse. Ensaiara o discurso um milhão de vezes, mas nada saía natural o suficiente.
"Ohayo, Shikamaru, gostando da festa?". "O que acha de dançarmos um pouco?". "Aceita uma bebida?".
Suspirou. Sentia-se idiota. Idiota por gostar dele e idiota por não conseguir administrar esse sentimento teimoso. Devido à frustração em que se encontrava, a loira já havia despejado todo o líquido de quatro copos de whiskey garganta abaixo. Sentia idiota por isso também, mas ao menos ela poderia fingir que estava curtindo o baile. Bufou discretamente, aquilo era uma piada. Como uma mulher de dezenove anos podia ser tão patética? Uma garotinha de 14 já teria agarrado o seu objetivo e estaria na pista de dança enlouquecidamente animada. E realizada! Mas apesar da inexperiência, Temari sabia que o amor não era um campo seguro. Tinha de ser cuidadosa ao se aproximar e mais ainda sobre onde iria pisar. Pessoas como ela tendiam à decadência em seus sentimentos. A introspectividade induz à tendências soturnas. Talvez a única que possuía o mesmo olhar melancólico de Temari ali fosse Hinata. Mas a menina parecia ainda mais fechada do que ela. No fim das contas, não poderia pedir conselho à Ino ou Sakura, pois ambas dariam gritinhos histéricos e dariam o jeito menos discreto de todos de jogá-la diretamente nos braços de Shikamaru. Da mesma forma, nada arrancaria de Tenten. Se Temari já era uma leiga em relacionamentos, Tenten não devia nem mesmo saber o que é um beijo na boca. Apesar dos dezoito anos bem crescidos, a Mitsashi nunca demonstrara um sentimento romântico para com outro garoto ou garota. Mas não era caso de timidez extrema ou falta de libido. Ela apenas achava desnecessário, uma perda de tempo, uma dor de cabeça.
De certa forma, Temari a invejava por isso. Mas este fator a desqualificava como conselheira, definitivamente. Tudo o que ela menos precisava no momento era de alguém que lhe desencorajasse ainda mais. Suspirou outra vez, talvez pela milésima vez seguida. Foi quando seus olhos caíram sobre Shikamaru novamente, que vinha na direção dela de modo preguiçoso e suave. O coração apertado da jovem começou a bater dolorosamente e sua garganta se fechou ao redor das palavras. Uma gotícula fria de suor ameaçou surgir em sua nuca e ela se arrepiou.
- E ai, Sabaku. - disse o moreno, escorregando para um banco ao seu lado. Ele encheu um copo com ponche de frutas vermelhas e bebericou. Temari ainda estava congelada em choque por tê-lo tão perto. Pigarreou, disfarçando. Manter sua pose durona era essencial para omitir seus problemas ridiculamente femininos.
- Hm, e ai. - respondeu. Soara tedioso, ela sabia disso, mas Shikamaru gostava de coisas preguiçosas.
- Tsc, está uma encheção, não é? - ele murmurou, apontando com o copo para o grupo de amigos que ria sem parar. Temari viu Naruto lançar olhares para a melancólica Hinata de tempos em tempos e aquilo também já estava lhe irritando. Qual era o problema dele? Ainda estaria inseguro por causa da Shion? Ela reprimiu seus olhos de girarem em órbita. O Uzumaki poderia ser mais melodramático ainda. Até onde Temari sabia, Shion fora o primeiro amor mais estúpido e inocente de todos. Os dois nunca foram um casal apaixonado e Naruto mal tagarelava sobre a garota como supostamente deveria ter feito. Já havia se passado mais de ano, em suas contas, então o que o impedia de seguir em frente? Como se ninguém tivesse percebido o olhar dele sobre a Hyuuga. Cada vez que ele direcionava aqueles orbes azuis na direção da novata, tatuava mais forte em sua testa "bobão apaixonado".
- É só mais um pretexto para engolir garrafas de alcoól como se não houvesse a porcaria do dia seguinte. - a loira respondeu, dando de ombros. Shikamaru riu e as mãos dela suaram.
- Olha só quem fala. - ele apontou ligeiramente para o copo que jazia vazio na mão da garota pela quarta vez. - Está entediada, Temari?
A Sabaku deu um sorriso com o canto do lábio fora da visão do moreno. Ela gostava da pronúncia de seu nome revestida pela voz do Nara.
- Não mais do que você. - respondeu, olhando-o nos olhos negros. Shikamaru arqueou uma sobrancelha. - Falando com as pessoas? Sendo social? Onde está sua preguiça? - explicou. O garoto riu outra vez. Duas vezes em tão pouco tempo e Temari já estava em êxtase.
- Ponto! Bem, é que eu estava achando aquele papo um porre. Gaara já está meio bêbado e fazendo piadas sobre acompanhar Ino ao banheiro... se é que você me entende. Fala sério, quem é o idiota que vem vestido de caixa de areia? - disse Shikamaru, coçando a cabeça com uma expressão entediada. Temari soltou um riso baixo.
- E eu achava que eles seriam um dos casais mais improváveis. - comentou, balançando a cabeça.
- Casais improváveis? Nunca pensei sobre isso. - disse o moreno. Temari o olhou de canto, sorrindo. Deu de ombros.
- É coisa de gente observadora. - respondeu.
- Quem são os casais improváveis?
Temari parou para pensar um pouco, dançando os olhos pelo seu grupo de amigos.
- Começando por Tenten com qualquer pessoa. - iniciou. Shikamaru soltou um riso mais longo, compreendendo a piada. - Depois, acho que Naruto e Sakura, porque os dois são praticamente irmãos. Mas uma vez que Sakura já forma um casal com alguém, deixamos ela de fora. Ainda sobra a novata, Hinata, que definitivamente não tem nada a ver com o Lee, por exemplo. Kami! Imagina essa junção, nunca daria certo! - ela parou de falar, balançando a cabeça. - E bom... acho que eu me aplico ao caso de Tenten.
Shikamaru bebeu de seu ponche sem tirar os olhos da Sabaku. Deu um sorriso de canto após engolir e balançou distraidamente o líquido em círculos no copo.
- Discordo. - disse enfim. Temari virou a cabeça para ele, encarando-o surpresa.
- Como é?
- Discordo um pouco. Você tem razão quanto à Hinata, porque ela não parece do tipo namorável. Embora isso represente um desafio bem tentador na visão masculina generalizada. E sobre você e Tenten, bem, isso não é verdade. Ninguém fica sem opções. Relacionamentos são inevitáveis. - respondeu. Temari abriu a boca, querendo aproveitar a brecha.
- Dê exemplos. - pediu. O Nara terminou sua bebida e depositou o copo no balcão.
- Tenten daria certo com Sai, talvez. Os dois são meio geeks e a explosividade dela quanto aos jogos se encaixaria no fanatismo dele por super-heróis. Imagine uma partida de Kombat com personagens da Marvel e entenderá do que estou falando. E você, bem, muitas pessoas ficariam contigo.
- Tipo quem? - Temari perguntou com um nó no lugar do coração.
- Sei lá, eu poderia sair perguntando por esse salão e receberia muitos sims.
- Faria isso? - insistiu, sentindo o nó apertar mais ainda. Shikamaru abriu um sorriso.
- É, não. Mas eu diria sim pra você. - respondeu.
Temari precisou de um minuto para processar aquilo. Todo o seu corpo se acendeu como se suas terminações nervosas estivessem sendo eletrizadas. Era sua deixa, mas em nenhum de seus discursos pré montados ela imaginara que fosse o garoto à tomar uma atitude. A ofensiva direta do moreno fez sua pernas amolecerem. O que responderia? Flertaria? De repente, Temari não tinha nem ideia do que era flertar. Engoliu em seco e lamentou seu copo estar vazio. Tamborilou as unhas médias no vidro e arqueou as sobrancelhas.
- Isso me pegou de surpresa. - admitiu. O Nara a avaliou com um sorriso preguiçoso.
- Foi mal, Sabaku. Mas é a verdade, né. - respondeu, pausando por um segundo. - E não é grande coisa. Eu queria mesmo ficar com alguém.
- Como? - Temari perguntou, sentindo seu coração oscilar. O Nara deu de ombros. Sua postura evasiva e indiferente fez os olhos verdes da loira arderem. Agora ela se sentia idiota e suja.
- Você diria sim? - ele devolveu com outra pergunta. Ela inflou as bochechas, tentada, mas não perderia sua honra.
- Não gosto de coisas efêmeras. - disse. Virou o banco giratório para o lado contrário ao do Nara e pediu outra bebida. Depois voltou a bebericar, tentanto a todo custo esquecer que estava passando por algo assim.
- Isso é problemático. - disse Shikamaru.
- Hai, é. - ela respondeu de imediato, cortando-o. Seus olhos encheram-se de lágrimas, mas não ousou derramar um só gota. Continou olhando para frente e forçou um sorriso simples. Ouviu um suspiro partir do garoto e ele se levantou. Esticou as costas preguiçosamente e lançou um sorriso sem mostrar dentes para Temari antes de começar a andar e sumir na multidão.
Temari tentou não chorar.
Shikamaru tentou não voltar lá e agir como um homem.
Havia estragado tudo e sabia disso. Não tinha experiência com mulheres e Temari o deixava tão nervoso! Soara estúpido o que fizera, mas ele não queria pressioná-la, não queria parecer de cara uma passagem direta para o amor. Isso era problemático. Ele tinha razão.
Mas não se referia à resposta de Temari. Nem antes, nem agora. O único problema ali era que ele também não gostava de coisas efêmeras. E não gostava de gostar demais de nada. Mas por incrível que pareça, Shikamaru gostava dela.
Irritado, o Nara sentiu seus olhos arderem e algo quente escorrer por sua bochecha. Balançou a cabeça, afastando aqueles pensamentos. Tomou de cima de uma bandeja que passava por ali um copo com ponche e o virou num gole só.
- Inferno. - resmungou.
- Precisando de um empurrãozinho, Nara? - perguntou alguém atrás dele. O garoto se virou e o que viu o fez ficar tão surpreso a ponto de nem se lembrar de esconder as lágrimas. Tudo o que menos imaginava naquele instante era que seria abordado por alguém como ela. Em meio à confusão, Shikamaru apenas piscou, atônito e finalmente pigarreou para poder falar alguma coisa.
- Shion?
***
Naruto havia resolvido deixar sua amiga à vontade. Depois de tê-la levado para dançar, ele a direcionou para seu grupo de amigos e achou que a garota estivera entretida com as outras damas da noite. O loiro viu Ino despejar sobre ela um discurso animado enquanto tentava a convencer de aceitar um copo de bebida alcoólica. Tinha achado graça antes, mas agora podia ver que ela mal havia tocado os lábios rosados na borda do recipiente. Manteve uma distância segura por um tempo, tentando não importuná-la, nem persegui-la demais. Era bom que Hinata sentisse sua ausência e quisesse tê-lo por perto, seria saudável para manter a amizade ativa. Além de que ele não gostava, apesar de toda a sua paciência, de ser o único responsável pelas investidas.
Suspirou baixo. Seu coração tolo já havia caído aos pés da morena, mas ele compreendia a importância de ir devagar. Hinata poderia ser como um gatinho assustado, em que qualquer movimento brusco o afastaria. Portanto Naruto decidira se manter assim. No fundo, era também uma questão de autodefesa. Não desejava partir o próprio coração e, embora já estivesse apaixonado pela garota, ele não conhecia grande parte de sua vida. Tudo o que envolvia histórias sobre Hinata, ela agia de modo melancólico e ele acabava por deixar para lá sua curiosidade. Mas o Uzumaki sabia - ou pelo menos sentia - que havia alguma coisa errada.
Após algum tempo mantendo aquela situação indiferente, mas natural, o garoto decidiu se reaproximar. Apontaria o copo cheio e quente como uma introdução à conversa e depois daria um jeito de entender por que ela estava tão quieta. Esperou Gaara tirar sua atenção de cima de si e voltar para Sasuke e então caminhou até onde ela se encontrava. Talvez a convidaria para dançar outra vez, tentaria animá-la.
- Vai deixar isso aí secar? - brincou ao sentar num banco ao lado dela. Hinata sorriu, abaixando os olhos para seu copo.
- Era só um pretexto para fazer a Ino esquecer seu plano de me tornar social. - respondeu. Naruto soltou um riso gutural.
- Certo, acho que eu percebi isso. - murmurou, pausando para olhá-la de canto. - Você está bem?
Hinata deu de ombros e olhou para o garoto. Ela estava se sentindo um tanto diferente estando ali, mas a melancolia que ameaçava a invadir se dissipara quando o loiro se pôs ao seu lado. A Hyuuga não costumava pensar muito sobre sua relação com outras pessoas, mas ultimamente o fazia em se tratando do Uzumaki. Pensar nele como um amigo agora soava algo bom. A jovem não queria desapontá-lo, ele havia feito todo o esforço de convidá-la e diverti-la até ali, então deveria tentar continuar assim sem depender tanto dele.
- Estou sim. Um pouco deslocada, mas acho que é a surpresa. - respondeu. Naruto sorriu brandamente.
- Por que não conversa um pouco com as pessoas ali? Ou quer dançar de novo? - disse o loiro. Hinata ponderou, pensando sobre o que queria. Ela se sentir aliviada por tê-lo por perto, pois era, de fato, guiada como ele brincava em fazer. E ela não tinha ideia de que direção seguir naquela nova vida. Mas o garoto, não, ele parecia conhecer cada pedacinho da trilha que percorria. E isso era uma coisa invejável, principalmente na situação em que a menina se encontrava. Suspirou baixinho, olhando do grupo agitado e à caminho da ressaca matinal e para a pista de dança onde várias pessoas curtiam o som.
Ela não queria nada, realmente. Mas achava que se saía melhor apenas com o garoto em quem confiava do que no meio de um monte de pessoas. Será que ele se importava em apenas ficar ali com ela ou estaria deixando-o entediado?
- O que foi? - ele perguntou, vendo-a quieta demais. Hinata balançou a cabeça e seus cachos balançaram ao redor de seu rosto. O garoto tomou uma madeixa entre os dedos e sorriu, emitindo um som gutural positivo semelhante à um soluço.
- Gostei do que fizeram com o cabelo. Ficou bom em você. - disse sincero. A garota corou e ele também, mas sua pele bronzeada camuflava melhor.
- A-Arigatou. - ela respondeu. Olhou de relance para o loiro e decidiu fazer algo por ele e sua gentileza ininterrupta. - Tudo bem, vamos dançar outra vez.
O Uzumaki pareceu surpreso, mas abriu um sorriso amplo e brincalhão. Isso a deixou aliviada e apenas se deixou ser levada até a pista de dança. As músicas que tocavam já não eram mais tão agitadas e se encaminharam para algo mais suave além das batidas. E então uma canção nova começou para que eles pudessem dançar.
"E naquele momento foi tão difícil respirar
Porque você levou embora a maior parte de mim, sim
A vida é tão imprevisível
Nunca pensei que um amor como o seu
Poderia me deixar completamente sozinho"
Naruto ficou surpreso outra vez, mas apenas segurou na cintura da garota e a puxou para si. Hinata parecia um pouco tensa e apenas apoiou as mãos no peito dele, sem saber como reagir à uma música calma. O loiro não deu passos, realmente, mas balançou o corpo sutilmente de um lado para o outro. Ele tentou não prestar atenção à letra, nem nas mãos da morena, mas era impossível. Algo se agitou dentro dele, algo como um aviso de que talvez dançar não fosse boa ideia. Não para ele.
Hinata estava se sentindo estranha, sentia que não estava fazendo aquilo certo. Involuntariamente, pensando que fosse natural, deslizou as mãos para cima e as apoiou na nuca do rapaz. Ele já não usava aquele chapéu, então seus dedos tocaram os fios dourados. Sentiu o peito dele tremer ligeiramente, mas não ligou. Estava começando a se sentir nervosa. Seus cachos estavam sob um de seus ombros e o pescoço alvo estava à mostra para o lado do rosto do garoto. Naruto não deixou de notar este fato e de repente, ele afastou o rosto para poder vê-la melhor. Pela forma como estavam envoltos, ambos não perceberam estar com as faces tão próximas e isso assustou Hinata. Ela olhou diretamente naquelas íris azuis e sua voz morreu na garganta. Os olhos a encaravam de um jeito novo, que nunca tinha visto. Pareciam... como se fossem derreter. Os lábios cheios dele se entreabriram e o hálito quente e levemente alcoolizado soprou de encontro ao rosto da morena.
Ela se sentiu zonza. Que sensação era aquela?
Ele se sentiu enebriado. Por que não podia simplesmente enterrar a boca na dela?
Mas a reação seguinte não fora de acordo com nenhum deles. Hinata prendeu a respiração e Naruto deixou o azul líquido de seu olhar endurecer. Voltou daquela névoa que o rondava e a música se encaminhou, foi finalizando tal como aquele momento efêmero de romance. O Uzumaki engoliu em seco e abaixou os olhos, envergonhado por ter demonstrado o poder que ela exercia sobre ele. Mas Hinata nem imaginava que o exercia, muito menos havia identificado isso. Tudo o que ela podia sentir era a confusão que se apoderava de seu ser, num paradoxo entre suas dúvidas. Havia magoado seu amigo ou magoado a si mesma? Por que sentiu um aperto no peito quando viu aquela expressão morrer no rosto dele. Era como ver uma flor perder o encanto de suas pétalas. Ela podia ver que não era uma coisa boa, pelo modo como o loiro pareceu melancólico.
Sentindo-se afogada em questões, ela se afastou e colocou o cabelo atrás da orelha. Pigarreou e fechou os olhos, apertando-os.
- E-eu... eu preciso de um pouco de ar. - murmurou, tímida. Inspirou um segundo e depois, já caminhando às pressas para longe do garoto, disse: - Gomennasai.
Fora baixo, mas Naruto ouviu. Ele ficou parado ali, seus braços pareciam vazios e tolos quando não sentia o calor do tronco daquela garota que quase corria para longe dele. Suspirou, sentindo-se idiota. Caminhou de volta para o grupo de amigos que não havia notado aquele pequeno desentendimento. Ele tomou um copo de whiskey nas mãos e torceu para que a letra estúpida da música que compartilharam sumisse de sua mente paranoica.
Do outro lado, Hinata caminhava apressadamente em busca do banheiro. Não tinha ideia de como se localizar, apesar de conhecer o campus. A decoração do baile e as pessoas amontoadas fazia o lugar parecer totalmente diferente. Foi quando esbarrou em alguém. Levantou os olhos e enxergou uma garota ruiva mais alta que ela. Já havia visto em algum lugar, mas com a fantasia, a maquiagem e o nervosismo, não conseguia se lembrar. Apenas se preparou para lhe pedir desculpas, mas a moça tocou o ombro dela e a olhou de uma forma estranha.
- Você tá legal ai? - perguntou. Hinata ergueu os olhos, atordoada. Assentiu ligeiramente com a cabeça. A ruiva riu um pouco, estranha. - Não parece. Mas ei, eu conheço uma coisa perfeita para te ajudar.
***
Shikamaru não acreditava muito no que Shion havia dito, mas imaginava que talvez garotas entendessem melhor uma da outra. E apesar de também não acreditar que a loira quisesse redenção por ter azucrinado seu amigo no passado, ele não podia deixar passar o fato de que o sorriso dela parecia realmente sincero. Ou Shion era uma atriz muito boa ou queria mesmo desencanar de sua perseguição eterna pelo Uzumaki. Mesmo assim, o moreno ponderara várias vezes sobre o que ela havia proposto. Tinha uma chance de dar certo, mas também poderia dar muito errado. Muitas pessoas estariam envolvidas e ele não tinha certeza se queria fazer aquilo. Apesar da preguiça, o Nara sempre fora muito inteligente. Mas o caso era que estar apaixonado por Temari tirava-lhe a razão.
Ela ainda aguardava uma responda à sua frente e então ele suspirou.
- E se der errado? - perguntou pela terceira vez. Shion revirou os olhos.
- Se Temari ficar brava, é porque também gosta de você. Ela não ligaria se não gostasse. E aliás, isso vai ser bom para aquela menina acordar um pouco. Imagine, ela não notou ainda que o Uzumaki está a fim dela. - disse a loira. Shikamaru mordeu o lábio inferior. - Vamos, Nara. Karin já a avistou e está a atraindo. Isso vai dar certo, acredite.
O moreno olhou para os lados e viu Hinata acompanhada da ruiva. A menina parecia confusa, apesar de ela nunca estar parecendo realmente qualquer coisa positiva. Imaginou que se ele estava com problemas, seu amigo Naruto estaria ainda pior. Será que o que faria ajudaria de alguma forma? Hinata acordaria deste transe infeliz que a impedia de enxergar as coisas? Shikamaru tinha certeza de que o Uzumaki ficaria nervoso e era impossível que a garota não se desse o trabalho de questionar o porquê. Simples amigos não tentam matar outros caras que se aproximam de sua garota. A não ser que o "sua" esteja se referindo à posse romântica. Shikamaru suspirou novamente e resolveu arriscar. Se no fim estivesse apenas sendo usado por Shion para tentar zombar de sua cara ou da cara de Naruto, sabia que de alguma forma sua atitude desempacaria a relação da jovem Hyuuga com seu amigo.
Ele caminhou devagar, leve, aproximou-se de Hinata e então parou à sua frente. Karin olhou para ele e lançou uma piscadela para Hinata. A morena ficou um tanto atônita e só então deu-se conta de quem estava à sua frente.
- Err... Shikamaru, certo? - perguntou. O garoto assentiu, lembrando-se que deveria soar interessado.
- Hai. O que você faz aqui tão distante dos outros, gatinha? - perguntou, sentindo-se completamente estranho por usar tal palavreado. Mas Hinata não o conhecia, então ele não ligou.
- Eu estava procurando o banheiro. - respondeu. Ela não entendia muito bem por que a ruiva que encontrara dissera que havia alguém que podia ajudá-la. Imaginou que talvez estivesse mais pálida do que o normal e que a garota a estivesse levando até algum médico de plantão ali para socorros imediatos. Ela nem sequer sabia se isso existia em bailes, mas era a única coisa que passava por sua mente confusa. No final, jamais imaginara encontrar-se com um dos amigos de Naruto. Será que ele entendia de primeiros-socorros?
- Ah... bebeu demais? - o Nara perguntou, aproximando o rosto dela com um sorriso brincalhão. A morena piscou, surpresa.
- H-Hã... não. O que você está fazendo? - perguntou nervosa. O garoto ficou mais próximo, deixou o sorriso aumentar até colar seu tronco no dela, abraçando-a com uma das mãos.
- Que pena, por que não? - sussurrou em seu ouvido. A Hyuuga estava congelada. Um minuto atrás tinha tido essa proximidade com Naruto e a sensação fora totalmente diferente. Afastar-se dele tinha sido estranho, ruim, ela não queria magoá-lo e nem sabia se ele queria estar perto dela, na verdade. Mas o abraço de Shikamaru a assustou, a fez entrar em choque. Por que um estranho a estava segurando daquela forma?
De repente, um holofote se focou nos dois ali e um microfone soou estridente demais para uma Hinata apavorada.
- Ei, aqui está a rainha do baile! Espere, mas este não é o candidato escolhido. O que está acontecendo? - perguntou a voz de um homem. Hinata sentiu todos os olhares em si e suas pernas começaram a tremer. Shikamaru afastou o rosto um centímetro e então enterrou a boca quase dentro da sua, tocando os lábios no canto da curvatura, sem realmente beijá-la.
O Nara não tinha a intenção de afogar-se no gosto da Hyuuga. Não eram lábios que ele desejava. Mas Hinata havia paralisado, toda a turma de expectadores dividiram-se entre vaiar e aplaudir. Ela prendeu a respiração e sabia que desmaiaria. Suas orelhas queimavam e seu corpo amoleceu. Shikamaru foi empurrado para longe, mas Hinata nem viu quem havia feito isso. Ela estava zonza quando ouviu uma segunda voz soar por todo o campus.
- Ora, ora. Eu estava prestes a ceder meu cargo anual para uma impostora? - Hinata conhecia a voz de algum lugar e Shikamaru sentiu seu peito inflar. Ele havia sido enganado. - Vejam só, pessoal. Pensávamos que ela estivesse junto com o Uzumaki, mas foi só ficar sozinha que já é pega aos beijos com outro. Você não tem vergonha, garota?
Hinata sabia que estavam falando dela. Mas seus ouvidos zuniam.
- O que foi, garotinha esquisita? De repente perdeu a língua? Achei que a estava usando. - a voz continuou sarcasticamente.
Foi quando todo o público começou a rir. As risadas foram de encontro à garota como tiros. Zombavam dela e a vaiavam como se ela fosse um boi velho à leilão. Sentiu seus olhos arderem. Seu corpo parecia arder, mas em quê? Vergonha? Por que sentia vergonha de algo que nem fizera? Hinata inflou as bochechas, lançou um olhar para Shikamaru, que a olhava com uma expressão de pesar. Ela desviou os olhos na direção de Naruto, que estava ao lado do Nara. Ele a olhava com os olhos azuis levemente escurecidos, duros como vidro, mas trincados pela mágoa. Sim, mágoa. Por quê?
A jovem conseguiu forças para, entre os risos e zombarias, entre os xingamentos e palavreados ruins, correr para longe. Seus olhos foram para o bar onde tinha esquecido sua bolsa. Ela correu até lá e lembrou-se do passado, de quanto enterrava as lágrimas em garrafas. Lágrimas causadas por dores como a que estava sentindo. Perdida, a garota pagou por um litro de whiskey e disparou para a saída do campus. Tropeçou algumas vezes por conta do salto e caiu um tombo feio, mas não ligou. As risadas eram tantas que enchiam seus ouvidos de picadas. As lembranças do passado a tomavam como uma onda mortal.
Hinata saiu para a noite fria e correu para a rua, mancando e arfando. Havia quebrado o salto estúpido. Mas não ligava, tinha coisas demais na cabeça. Avistou um táxi por perto e adentrou-o impetuosamente. O motorista a olhou assustado, mirou os olhos no litro em suas mãos e no rosto banhado por lágrimas.
- Senhorita? - chamou.
- Me leve para o mar. - disse ofegante. O senhor hesitou, sabia que ela não estava em uma situação boa. Hinata se irritou pela demora e jogou bruscamente várias notas na direção do homem. - Me leve agora.
- H-Hai. - ele disse, assustado.
Quando o carro iniciou a corrida, Hinata se permitiu debulhar-se em lágrimas dolorosas. O som de seu choro preencheu o carro e ela desesperadamente arrancou o lacre da garrafa. Para falar a verdade, a garota odiava o gosto da bebida, mas apreciava o efeito. Sim, com aquilo que tinha em mãos, ela poderia dormir em paz. Pelo menos por um tempo. E foi com esse sentimento que ela bebeu o primeiro gole, forçando o bico contra os lábios e despejando o conteúdo de forma irresponsável garganta abaixo. Tossiu e chorou ao mesmo tempo e quando o litro estava perto da metade, ela parou. Estava com o estômago implorando por ajuda e a garganta quente demais. Abriu a janela, recebendo olhares furtivos do taxista. O vento soprou o rosto dela e congelou suas lágrimas em sua bochecha, junto com o rímel que começava a escorrer. Ela viu as luzes da ponte Rainbown e começou a sentir o cheiro salgado do mar aos poucos. Quando finalmente chegou à baía, mal agradeceu ao motorista. Ela só queria o mar, o barulho que ele fazia, o cheiro que exalava e a escuridão que oferecia.
Hinata arrancou os sapatos e o jogou num lixo da rua antes de continuar a andar. Cambaleou até a areia gélida e se jogou sobre ela, sentindo gotículas do mar voarem de encontro ao seu corpo. Ali mesmo, sob a luz da lua e o frio da noite, a garota chorou. Chorava e bebia, procurava o esquecimento sobre o que pensara antes como se fosse a última coisa no mundo. Tudo o que precisava era esquecer, era bloquear estas memórias de se infiltrarem em sua mente, a assombrarem com as antigas faziam. Hinata não entendia e embora soubesse que aquele fato em especial ela não merecesse, não conseguia se lamentar. Não, ela não lamentava. Não queria sentir pena de si mesmo. Ela deitou-se na areia e estremeceu. Sentiu o mundo girar sobre seus olhos. Nada mais passava de um borrão. As lágrimas se misturavam ao efeito alcoólico e ela já não enxergava mais nada. Nada além do que restava de si mesmo: escuridão. E assim, ela adormeceu, desejando que o sono lhe embalasse por anos.
Ela só não sabia que havia sido seguida.
Naruto estava atrás de uma árvore. A havia seguido, pegado um táxi logo atrás e não imaginava que ela fosse parar ali. Ele ainda sentia o coração apertado no peito pela cena que vira, mas de alguma forma sabia que a garota nunca teria feito isso. Estava prestes a desmaiar ali mesmo, afinal. O medo estampava-se em seus olhos. Naruto socou o tronco da árvore, irritado. Era para ser uma noite boa, especial para ela. Mas agora tudo o que via na frente era uma garota destroçada. Quando a viu desmaiar na areia, segurando um litro quase vazio, ele resolveu se aproximar. Andou cautelosamente, com medo do que estava para presenciar. Nunca havia visto Hinata ser descuidada e se assustou, de verdade, ao ver o rosto borrado marcado por lágrimas. O garoto se sentou devagar e a analisou. O corpo dela tremia um pouco, mas mesmo sob um sono alcoolizado, sua expressão era profundamente triste. Entretanto, não era uma tristeza normal. Hinata parecia... perdida, como se ela conhecesse aquela dor de longa data.
O loiro suspirou e olhou para o mar. Seu coração ardia por uma sensação estranha. Uma impotência avassaladora. Ver aquela expressão no rosto de uma garota tão frágil o fez oscilar. Nunca havia parado para pensar, nem havia de fato imaginado que os problemas da Hyuuga fossem além da dor de perder sua mãe. Mas ali, ao lado dela numa situação tão complexa, Naruto se lembrou de momentos atrás. O modo como Hinata estava mais quieta e como sempre era reservada, o fato de nem ter tocado no whiskey antes e o modo como reagiu quando o show de Shion começou. Ela estava em um estado emocional que evidenciava horror. Mas não agira como uma pessoa normal. Ela decididamente agarrou o litro de bebida como se sempre fizesse isso para afogar as mágoas. E de fato, era ao que parecia. A garota nem evoluíra para o estágio da embriaguez, apenas fechou os olhos, mergulhou do penhasco em direção às próprias lágrimas e ali ficou, demonstrando consciência da dor, mesmo sob tanto efeito do álcool. E então o Uzumaki percebera que havia uma coisa errada ali.
Ele não a conhecia.
O passado obscuro de Hinata não se resumia à perda de sua mãe. A obscuridade já fazia parte dela. Existia muito mais por trás das tristes pérolas. E perceber isso o fez se sentir estranho. Como não havia percebido antes? Mas a resposta não era fácil. Ele a amava, isso já era um fato. Porém... desejaria ver essa escuridão? Algo no fundo de sua mente sempre insistia que se ele esperasse e ambos tentassem, eles poderiam viver juntos, como um casal. De algum jeito, Naruto sentia que poderia conquistar o coração frágil da garota. Mas agora... será que ela ainda possuía um?
O que havia acontecido com Hyuuga Hinata?
Em meio aos questionamentos internos, o silêncio que se instalara fora quebrado pela morena. Ela soluçou, chorosa, deixou lágrimas escorrerem de olhos fechados. Os dedos pequenos apertaram a areia como se buscassem abrigo ali e os lábios se curvaram, tremendo levemente assim como seu corpo. A respiração ainda indicava que ela não estava acordada, mas Naruto podia sentir a dor fluir de sua linguagem corporal. Isso lhe causou dor também. Doía ver seu amor morrer daquele jeito, dentro dela mesma.
- Só... - ela murmurou com a voz embargada. - Só... Sozinha.
"Me resolva e à todos os meus problemas você me chama
Tarde da noite em Harlem, a rua fala
Como se fosse um fantasma estrelado
E sempre que você está lançando olhares em minha direção
Você me olha como se você pudesse me salvar
Você poderia, você sabe
Oh, olha como você brilha
E eu sei que eu poderia te amar se tentássemos
Então, tente..."
O loiro olhou para ela e então algo lhe invadiu. O choro subiu por sua garganta, transformou-se num som gutural estranho e então saiu sem que ordenasse. Um soluço abafado, contido, mas que desencadeou o sofrimento que ele guardava. Deixou que seus olhos chorassem juntamente com os dela, enquanto a confusão se alastrava por sua mente. O que ele faria agora? A questionaria? Continuaria a agir da mesma forma ou imporia seus sentimentos? Por que... por que, pela primeira vez, ele sentia medo? Não entendia, não conseguia enxergar o que o assustava. Se era o que sentia ou o que ela escondia.
Hinata estremeceu e ele esticou os dedos trêmulos para tocar seu braço. Estava frio como gelo. Assustado, o garoto lembrou-se que possuía um paletó e o tirou para cobri-la. Puxou o corpo pequeno para si, deitando em suas pernas esticadas como se fosse uma criança de colo. A cabeça dela repousou mole sobre seu peito e seus cabelos roçaram seus braços. Naruto a cobriu novamente e por fim a abraçou. Não ligou que talvez fosse impróprio ou contra a vontade da garota. Tudo o que queria fazer era ajudá-la, era desesperadamente livrar-se daquelas sensações e da expressão que se tatuara no rosto bonito que ela tinha. A escuridão não combinava com feições de anjo.
Naquela noite fria, Naruto deixou sua dama adormecer mais profundamente em seus braços. Ele sabia que era uma coisa efêmera, tê-la ali daquela forma. Inspirou o cheiro doce e floral dos cachos já se desmanchavam em seus fios teimosos. A sensação enebriante agora tinha um gosto diferente de antes, porque Naruto só a enxergara como uma garota frágil que sofreu uma grande perda e agora precisa se encontrar de novo no mundo. Agora ele a via como um amor impossível. Haviam mais cicatrizes do que imaginava, mas não sabia se todas estavam devidamente suturadas. Não tinha esperanças de que Hinata fosse aprender a amá-lo, mas de certa forma, Naruto não se sentia egoísta quanto à isso. Apenas a manteve ali, em seu abraço, como se pudesse lhe arrancar todas as dores. E ele o faria, se houvesse um jeito. Mas tudo o que podia fazer por aquela garota, era continuar ao seu lado, do jeito que ela precisasse.
E no final das contas, por ora, bastava para ele também.
Após um tempo, sentiu gotículas de chuva e resolveu se levantar. Carregou a garota como já fizera duas vezes antes e acenou para um táxi. Pegou o caminho de casa, sem soltá-la em momento algum. Não estava pronto para deixá-la, como sabia que teria que fazê-lo. Não no sentindo físico, mas psíquico dele mesmo. Naruto não podia amá-la. Não, não agora. Chegou em casa e inevitavelmente fez barulho. Sua mãe desceu as escadas apressada e estancou no último degrau ao ver a cena diante de seus olhos. Naruto suspirou, fungando.
- Não... não pergunte. - murmurou, rouco. Ele subiu até seu quarto e a depositou sobre sua cama. Uma lágrima solitária escorreu do olho maquiado da garota e ele sentiu a perda outra vez. Os braços caíram flácidos e vazios ao lado de seu corpo. Virou-se para a mãe que já estava parada à porta sem entender do que se tratava aquilo. O loiro limpou os olhos molhados e apontou ligeiramente para a jovem.
- Você pode vertir ela com algum pijama seu, por favor? - disse, baixo. A matriarca assentiu e ele o fez de volta, caminhando em direção à escada novamente. Desviou da ruiva confusa e desceu, direcionando-se para a sala. Jogou seu corpo pesado sobre o sofá, arrancou a camisa estúpida e então fechou os olhos. Um flashback da noite se alastrou em seu interior, doendo em cada ponto. Ela estava tão linda, tão frágil, tão doce...
Mas tão impossivelmente fora do alcance.
Como ele poderia alcançá-la, afinal, quando ela estava perdida até de si mesma? Suspirou. Desejou que o sono lhe desse o sossego merecido e aconteceu.
Logo, ambos caíram nos braços da escuridão.
Hinata em busca de seu próprio abismo.
E Naruto em busca de salvá-la dele.