Olá, leitor.
Terminado de editar, tá na hora de postar o novo capítulo ;)
Boa leitura XD
Debruçada sobre a mesa de centro, Homura assiste ao jornal na televisão de trinta e duas polegadas. Aparentemente o repórter entregava a notícia do desaparecimento de uma menina de cinco anos de idade, porém foi só o que conseguiu absorver, estava com a cabeça cheia por causa do encontro que tivera hoje à tarde para ficar se importando com alguém que nem conhecia.
Após saírem da cafeteria passearam pelo parque Shinbo sentindo a natureza próxima deles. A água transparente do enorme lago e as árvores que envolviam toda a alameda proporcionava uma ambientação deliciosamente agradável para os visitantes. Durante o passei reparara no desânimo de Tatsuya. Nem precisou pensar muito qual era o motivo, sabia que tinha pisado na bola quando fizera o pedido para visitar os pais dele. A partir daquele momento formou-se dentro dela um sentimento de culpa. Não só por ter frustrado o rapaz, mas por ter concordado em sair com ele para obter qualquer informação que seja sobre Kaname Madoka. Através de Kyubey, possuía o conhecimento de que Madoka não tinha mais nenhuma relação com a família Kaname, no entanto, era desconhecida a validade desse dado. De repente, após alguns anos da “investigação”, já que não se sabe o período exato, do alienígena, a mãe de Tatsuya poderia ter dado luz a uma menina. Nesse mundo existe extraterrestre, magia e criaturas do mal. Por que não poderia haver reencarnação ou mesmo, uma deusa que se materializasse entre os humanos? A resposta do rapaz, negando a existência de qualquer novo membro da família, não foi o suficiente para faze com que ela desistisse de conferir com seus próprios olhos esse fato.
O repórter meio baixinho e rechonchudo foi cortado para a apresentadora da previsão do tempo. Mulher alta, magra e com longos cabelos dourados. Por um momento, Homura pensa como ficaria se pintasse suas madeixas da mesma cor da “modelo” do outro lado da tela. Uma mudança de visual, talvez, deixasse-a mais animada para mudar de emprego e cidade. Ou fazer melhor ainda, sair pelo mundo conhecendo culturas e pessoas diferenciadas. Com um sorrisinho alto depreciativo, levanta da mesa e encosta no sofá atrás dela. Lentamente percorre a mão direita sobre o tapete de fio roselan branco, na qual ela se assentava, tentando sentir através de seus dedos a realidade do ambiente em que se encontrava. Durante anos ela tem fugido, tentando esquecer que um dia teve uma melhor e amada amiga. Claramente era um esforço inútil quando ouvia o seu coração resistindo com todas as suas forças a desmemoriar uma pessoa tão querida. Tendo que, dessa forma, conviver com lágrimas derramadas nas silenciosas e solitárias noites mal dormidas. Agora, depois de quase uma década, aquilo que ela abandonou para conseguir viver mais conformada está de volta, destrancando emoções cada vez mais violentas para correr atrás do que ela deseja. Sim, era inegável. Mesmo que desagradável, Tatsuya, para Akemi Homura, era somente o irmão mais novo de Madoka. Ultima esperança de uma mulher teimosa e lamentável.
Um suspiro paira pela sala de estar do apartamento demonstrando o cansaço que Homura estava sentindo. Chegara em casa antes do pôr do sol, ligou a televisão e ficou horas e horas observando o televisor sem prestar atenção em praticamente nada. O único movimento tomado que a tirara de seu estado foi o de ficar em pé para beber água ou ir ao banheiro, o resto passou debruçada sobre a mesa de centro ou encostada no sofá atrás dela. Só percebeu a noite chegar quando o jornal das nove anunciou seu início. Ergue a cabeça e observa o teto branco pensando que ainda tinha que tomar banho. Se ela fizesse parte de uma quantidade de japoneses que não tomavam um banho por dia, iria direto para cama e cair em um profundo sono para só acordar com o chamado do despertador. Mas como não fazia parte, uma ducha para se limpar do incômodo corporal era necessário.
Forçando o corpo fica de joelhos para se levantar. Misturado com o som da TV percebe seu smartphone vibrar em cima da mesa de centro. Na mesma posição, pega o aparelho e confere a mensagem que acaba de chegar. - “Domingo que vem está bom para você?” - Uma pergunta curta e simples enviada por Kaname Tatsuya. Não precisou nem de dois segundos para compreender do que se tratava. Sem dúvida alguma o rapaz queria confirmar o melhor dia para visitar seus pais. Mas o que mais chamou a atenção de Homura não foi a escrita fútil, e sim, o tom frio e indiferente da mensagem. Sentiu como se ele cumprisse somente um dever imposto por alguém, não envolvendo nenhum tipo de sentimento sobre aquele ato. Sem demora ela envia um - “Sim” – para o rapaz. Depois de alguns segundos o smartphone volta a vibrar novamente. – “Oito e quinze da manhã, na estação de trem.” – Dessa vez, nem se quer perguntava sobre a conveniência de seu horário. Mesmo assim, ela remente uma resposta. – “Tudo bem.” - Acomodando-se novamente no tapete, Homura espera por uma nova mensagem de Tatsuya durante alguns minutos. Passou pela cabeça em ligar para ele acertando os detalhes da viagem. Mas não conseguiu, sabia que Tatsuya não queria falar com ela, e esse fato a fez refletir sobre uma questão: “Por que preciso da companhia do Tatsuya?”. Se ela quisesse poderia sozinha pegar o caminho até Mitakihara e visitar a casa dos Kanames sem ele saber. Mesma cidade e casa, o tempo provavelmente modificou algumas características, mas não para deixa Homura confusa e perdida. A resposta era clara, não precisava do Tatsuya nessa viagem. Observando a tela do smartphone, ela repete a pergunta: “Por que preciso da companhia do Tatsuya?”.
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Com passos lânguidos Homura subia as escadas até a estação de trem. Era certo que estava ansiosa para voltar à sua cidade natal, mas o andar ficava cada vez mais hesitante quando pensava no fato de ter que encontrar com Tatsuya. Não estavam brigados, no entanto pairava entre os dois um desconforto, ou melhor, uma disparidade de sentimentos. A semana que seguiu teve vários momentos analisando o desentendimento existente entre eles, e qual o melhor modo de aliviar a tensão presente, construindo, dessa forma, uma relação como a de antigamente.
A expressão preocupada dela não condizia com o vestido xadrez de mangas longas combinado com os compridos cabelos negros que a deixava mais chamativa aos olhos do público. No pé a rasteirinha preta com detalhes dourados destacava as belas pernas por baixo da meia calça escura. A bolça que usara no encontro anterior parecia dizer que era acessível a qualquer look que a dona escolhesse.
No topo da escada estendia-se uma pequena praça onde podia ser notada uma construção, a entrada da estação de Akiyuki. Atravessando a multidão, Homura caminha até as proximidades da entrada, onde reconhecendo o rapaz encostado na parede, segue direto em sua direção.
“- Olá, Tatsuya-kun.” De modo contido, ergue a mão direita cumprimentando o rapaz.
Percebendo a presença dela, Tatsuya desencosta da parede e devolve o cumprimento com seu charmoso sorriso.
“- Bom dia, Homura-san. Veio mais cedo do que o combinado.”
“- Nem percebi.” Diz espiando o relógio colocado bem no centro da praça, que marcava sete e cinquenta e oito.
Por um momento, Homura não sabia o que conversar com o rapaz na sua frente. Algumas opções centelharam em seu cérebro, mas não achou viável, ou melhor, por ser tão banais não teve coragem de usa-las nesse instante. Depois de uma olhada rápida para ele, desvia o olhar para máquina de bilhete.
“- Vamos comprar logo os bilhetes antes que forme fila na frente das máquinas.”
“- Não se preocupe.” E retira do bolço da jaqueta jeans dois bilhetes mostrando-os para Homura. “- Comprei logo que cheguei.” Antes mesmo que ela pudesse dizer algo, ele indica a entrada da estação de trem com a palma da mão. “- Já está quase na hora do trem chegar. Vamos?”
Concordando, Homura segue na direção indicada pelo rapaz.
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Sentados um de frete para o outro, os dois observam a paisagem através da janela. Passou-se quase uma hora desde a partida da estação. No início da viagem o casal estava conseguindo comportar-se naturalmente conversando e dando rizadas de variados tipos de assuntos. Porém, depois de quase meia hora, olhavam o cenário fora do trem pensando no próximo tema capaz de animar o clima entre os dois. Mais cedo ou mais tarde, sabiam que as lembranças do encontro passado iriam interferir na comunicação entre eles.
Com a cabeça fixa na janela, Homura move somente os olhos na direção de Tatsuya e observa o rosto que guardava ainda um tom levemente infantil. Baixando a cabeça lembra dos sentimentos dele por ela. Kaname Tatsuya é apaixonado por Akemi Homura, e naquele encontro ela se esqueceu, ou melhor, ignorou o fato quando comentou sobre Madoka. E hoje, está fazendo-o acompanha-la em uma viagem que não tinha nada a ver com seus sentimentos.
Irritada com a sua insensibilidade morde os lábios furiosamente. Recompondo-se do stress, respira fundo e levanta a cabeça, dando de cara com o Tatsuya que a observava. Os olhos fixos e serenos na direção dela deixou-a nervosa sem conseguir desviar o olhar dele.
“- Homura-san... Quer ser a minha namorada?”
Do nada, com uma voz suave e circunspecta, Tatsuya faz um pedido de namoro. Sem reação Homura fica observando-o perplexa tentando entender a repentina e repetida declaração.
Sem tirar a expressão séria do rosto, continua.
“- Não precisa responder agora. Mesmo não sabendo o motivo dessa volta à Mitakihara, espero você organizar seus sentimentos.” Pintando novamente seu lindo sorriso branco com tons de tristeza, continua. “- Te amo.”
Exposta àquele sorriso, a culpa dentro de Homura tinha chegado ao seu limite. Não suportando manter contato visual com o rapaz, cabisbaixa, afasta o olhar dele. Começara a pensar a razão de tudo aquilo estar acontecendo. Era óbvio, o egoísmo dela criou a raiz disso tudo. Poderia esfregar a culpa na sua amiga que desapareceu, era o motivo que fundamentava as ações de Homura. Mas não conseguia considerar dessa maneira, pois ela é incapaz de desistir de perseguir as lembranças com a amiga, querendo ardentemente de volta aqueles dias que existia somente na mente dela. No fim, os atos dela feriram e continuarão feriando um jovem apaixonado.
A paisagem parecia um monte de colagem mal feita, não sendo possível identificar absolutamente nada da imagem original. O resto da viagem seguiu sem um único diálogo com os rostos virados somente para o lado da janela, evitando cruzar qualquer tipo olhar.