Capítulo 5: Kyoudai (Irmãos)
Dia seguinte. Tarble estava literalmente aprisionado em seu quarto. Dois guardas vigiavam a porta desde o momento em que fora arrastado para lá. Nem parecia que era de casa. Parecia mais um prisioneiro do que um príncipe. Um pequeno príncipe de castigo. O que ele tinha feito de errado? O que havia feito, em sua inocência, pra ser castigado?
?Papai...! Por que você me odeia...? O que foi que eu fiz...? Eu fiz alguma coisa errada...??
?Fez sim... ? ele disse. ? Você simplesmente nasceu... E isso já é o bastante pra te odiar... Verme desprezível...!?
Simplesmente havia nascido. Segundo seu pai, o simples fato de ele ter nascido era o suficiente para todo aquele ódio, para todo aquele distanciamento. E não tinha o direito de sequer se aproximar de seu irmão mais velho. Por vezes, chegava a ter medo não só do pai, mas dele também. Mesmo criança, percebia que eles se pareciam muito. Mas, na véspera, viu que algo o diferenciava do pai. Bem naquele momento em que seria atingido pelo ataque do pai...
E seu irmão o protegeu... Deixando-se atingir nas costas...
?Ve... Vegeta...? Por quê...? Mano, por que me protegeu?!?
?Porque... Porque você é meu irmão...!?
Não esperava algo assim do irmão. Ele era muito fechado e muito distante. Além disso, o pai não queria que o mais velho se contagiasse pela ?fraqueza? de Tarble. Não era só isso que o havia impressionado. Mas o que chamara a sua atenção fora o fato de Vegeta desafiar o pai por causa dele.
?MOLEQUE IDIOTA!!! ? esbravejou o rei. ? EU NÃO ACABEI DE DIZER PARA VOCÊ NÃO SE MISTURAR COM ESSE FEDELHO?! POR QUE DEFENDEU ELE?!?
?Eu... Eu defendi o Tarble... Porque ele é o meu irmão!!?
?Não seja insolente, Vegeta!! Deveria me obedecer, e não me desafiar!?
E, por sua causa, seu irmão estava ferido.
Olhou para a porta do enorme quarto, e viu os dois guardas que o haviam levado até ali. Eles estavam vigiando a entrada. Mas, nisso, viu que mais dois guardas chegaram e começaram uma conversa entre os quatro. Tarble calculou que era hora da troca. O papo entre os guardas seguia animado. Enquanto isso, o garoto aproveitou a brecha para sair bem de fininho. Já sabia aonde ir.
*
- Eu gostaria de ver Sua Alteza.
Ninguém liberou o acesso ao quarto de Tarble.
- Acesso negado. ? um dos guardas disse. ? Ordens do rei.
Observou bem os guardas e percebeu que eles não eram os mesmos do dia anterior. Resolveu dar sua ?carteirada?.
- Sou o sargento Raneban, tutor de Sua Alteza.
- Bom ? disse o outro guarda. ? Aí as coisas mudam de figura...
Nisso, os dois guardas liberaram sua passagem. Raneban entrou no quarto do garoto, para avisá-lo da hora de partir. Não o viu ali. Será que estaria escondido em algum canto do grande quarto? Procurou Tarble por todo o lugar.
- Príncipe Tarble...? Onde está Vossa Alteza...?
Nada. Nem sinal do garoto.
- Alteza...?
Onde ele estaria? Acionou o rastreador, à procura de Tarble. O aparelho emitiu vários bipes, até que Raneban leu o visor, que apontava a localização exata.
- Como ele conseguiu sair daqui?
*
No outro quarto, ouviam-se gemidos de um garoto. A mesma voz de garoto berrou furiosa:
- SERÁ QUE VOCÊ NÃO SABE TIRAR UM CURATIVO DIREITO, VERME INÚTIL?!
- Desculpe Alteza, vou tomar mais cuidado...
- Bom mesmo... Ou vou me encarregar de te fazer em pedacinhos!
Tomou mais cuidado ao retirar o curativo. Quando terminou, viu o ferimento e disse:
- Impressionante...
- O que é tão impressionante? ? perguntou o garoto com impaciência.
- É a velocidade da cicatrização do ferimento, príncipe Vegeta. Já está na metade do processo. Creio que amanhã mesmo Vossa Alteza já pode retomar os treinamentos.
O novo curativo foi posto no ferimento e, em seguida, foram colocadas faixas em volta das costas e do abdome do garoto. Logo depois, Vegeta ficou sozinho no quarto. Desceu da cama e, com a camiseta na mão, pronta para vestir, viu o pai chegar.
- O que quer? ? perguntou sem olhar para o rei.
Fez uma cara de dor. O ferimento nas costas ainda o incomodava. Encarou o pai com seu típico olhar frio. Não estava muito a fim de papo, pois seu pai havia causado aquele ferimento. Graças a isso, ficaria sem treinar por um dia.
- O que te disseram a respeito do ferimento? ? perguntou o rei.
- Só vou voltar a treinar amanhã... Que tédio! Esses treinos estão me enchendo! Quando posso ter uma missão?
- Peça ao grande Freeza te designar uma missão. Também acho que já está na hora de pôr em prática o que você treinou.
- E o Tarble? Vai mesmo partir hoje?
- Vai. Ainda hoje.
Nisso, o rei Vegeta saiu. O pequeno príncipe vestiu a blusa e olhou para a sua direita.
- Pode sair daí, Tarble! Eu sei que é você!
O outro saiu da penumbra. Parecia tristonho.
- Então é verdade... ? Vegeta encarou o irmão, mas sem aquela frieza toda. ? Você vai mesmo ser mandado para outro planeta...
- Sim, mano...
- Por quê?
- Porque eu sou fraco... E o papai disse que aqui no planeta Vegeta os fracos não têm vez...
O príncipe Vegeta se lembrou do que aconteceu na véspera. Mais precisamente, a conversa entre o rei e Raneban.
?... Por que o príncipe Tarble não foi para outro planeta??
?Eu o mantenho aqui porque quero mostrar a todos que neste planeta os fracos não têm vez, e que eles não passam de estorvo.?
Seu irmão era considerado um estorvo pelo pai, mas ele não o via assim. Apenas achava que ele era muito ingênuo. Mas...
?... Eu odeio o Tarble desde que ele nasceu...?
Notava que, toda vez que o pai e o irmão se cruzavam pelo caminho, o rei olhava Tarble com um ódio indescritível. Esse ódio ficou ainda mais evidente quando o viu agredir o garoto pela primeira vez, só porque Tarble queria treinar com o irmão.
?Quero treinar com você! Vamos, Vegeta, diz que sim!!!?
Olhou mais uma vez para o irmão caçula, que ainda estava cabisbaixo. Tudo o que queria era apenas treinar com ele.
- Tarble ? Vegeta disse. ? Vamos treinar?
O outro hesitou:
- Mas, mano, você tá ferido!
Vegeta pegou a armadura para vestir, mas sentiu uma dor forte e não aguentou fazê-lo.
- Viu só? ? Tarble disse. ? Você ainda não está bom...
- Esquece! Vamos treinar, antes que o papai descubra...
Assim, Vegeta saiu com o uniforme azul (igual ao que usaria depois de adulto na Saga Boo) sem a armadura; Tarble foi logo atrás. Os dois saíram de fininho para não levantar suspeitas.
Finalmente, os dois irmãos iriam treinar juntos.