Capítulo 3: Desprezo
Desde então, passaram-se três anos, em meio a acontecimentos políticos que envolviam a aliança dos saiyajins com Freeza. À medida que o tempo passava, a desconfiança entre as duas partes aumentava cada vez mais. Freeza temia cada vez mais o poder dos saiyajins, principalmente porque ouvira falar de uma lenda entre os seres dessa raça: a lenda do Super Saiyajin. E esse Super Saiyajin, se de fato surgisse, poderia ameaçar o seu domínio intergaláctico.
Por seu lado, o rei Vegeta, durante esses três anos, desconfiava das verdadeiras intenções de Freeza. O ?imperador? requisitava cada vez mais os ?serviços? dos saiyajins, a fim de expandir seu império. Isso causava cada vez mais mortes entre os guerreiros, que iam cumprir as missões e podiam não voltar mais. Com isso, o poderio da raça saiyajin poderia estar ameaçado. O rei desconfiava que Freeza pretendia, sim, acabar com eles. Principalmente porque a lenda do Super Saiyajin havia chegado aos ouvidos do imperador.
Para tanto, dava atenção especial ao seu sucessor, agora com cinco anos de idade.
Enquanto cuidava de assuntos políticos, destacava os melhores soldados da elite real ? dentre eles Nappa ? para fazer com que fossem aprimoradas as surpreendentes habilidades do príncipe Vegeta. Este, à medida que o tempo passava, dava sinais cada vez mais claros de que não era um garoto qualquer. Tinha capacidade de superar os adultos mais fortes da guarda de elite. De admirado, o garoto passava a ser temido por sua personalidade extremamente forte. Nos treinos, se mostrava muito frio e calculista para tão pouca idade. Não estava sendo treinado apenas para ser um rei. Estava sendo treinado também para ser um Super Saiyajin, que futuramente poderia até desafiar o poderoso imperador Freeza.
O rei Vegeta tinha muito orgulho do seu filho mais velho. Mas não se podia dizer o mesmo em relação ao seu filho caçula...
Tarble era tratado com muita indiferença pelo pai. Até mesmo, era claramente, desprezado. Com três anos de idade, seu poder de luta ainda era muito abaixo do padrão recorrente nos guerreiros de primeira classe. Não chegava nem aos pés do guerreiro mais fraco da elite. Muito menos se aproximava da força de seu irmão Vegeta. O rei, desde o incidente no berçário, havia designado Raneban para ser o tutor do garoto. Mas nunca dava atenção ao filho mais novo, preferia ver a evolução do mais velho.
Tarble era tratado como se fosse um filho bastardo.
Aquilo chamava a atenção do ainda jovem Raneban. O garoto era ainda mais calado do que o irmão, e ainda mais recluso. Pouco falava e tinha um olhar triste. Quando o rei encontrava-se com o seu irmão, o pequeno Tarble olhava, paralisado, para a cena. O jovem tutor percebia que o garoto sentia-se abandonado. Por mais que ele se esforçasse, o pai jamais iria olhar para ele. Era como se ele nem existisse para o rei Vegeta. O garoto era desprezado pelo fato de ser fraco. Nunca conseguiria chamar a atenção do pai.
Raneban, ainda que não quisesse, sentia pena de seu pequeno amo.
Entendia a vergonha que o rei Vegeta sentia por conta do baixíssimo poder de Tarble. O próprio Raneban teve um filho, que nasceu tão fraco quanto o pequeno príncipe. Mas não havia chegado ao extremo de rejeitar o filho como o rei rejeitou. Sempre fora um homem mais centrado e ponderado. Se pudesse, teria impedido que o filho fosse enviado para outro planeta.
No entanto, uma pergunta ainda martelava na cabeça de Raneban... Por que o rei não mandou Tarble para um planeta de seres fracos, como os demais saiyajins com poder abaixo do padrão? Questionaria o rei, se não o temesse tanto.
A razão de tanto temor remontava de alguns anos atrás, quando testemunhou um motim. Um grupo havia desafiado a autoridade do rei, contestando a legitimidade de seu governo. Não foi preciso nenhum exército para enfrentar aqueles rebeldes. O rei Vegeta, sozinho, matou todos sem piedade, mas com muita crueldade. Torturava aqueles revoltosos um por um, de forma lenta e dolorosa, única e exclusivamente para demonstrar seu poder. Raneban fora testemunha de tudo o que havia acontecido naquele fatídico dia, e desde então, não só respeitava Sua Majestade, como também se policiava para não cometer nenhum deslize com o rei. Por isso, nem o questionava, guardava suas opiniões e convicções para si mesmo.
A simples idéia de receber uma punição de seu soberano dava-lhe arrepios.
Porém, achava que seria bem melhor para o pequeno príncipe ter sido enviado para outro lugar. Talvez sofresse menos com o desprezo do pai...
- Senhor Raneban? ? a voz de Tarble o tirou dos seus questionamentos.
- Sim, Alteza?
- Por que meu pai não treina comigo?
A pergunta o pegou de surpresa.
- Como? Desculpe Alteza, não prestei atenção na pergunta... ? despistou.
- Deixa pra lá... ? o garoto disse chateado. ? Não é nada importante...
Notou o olhar triste de Tarble e insistiu:
- Alteza, pode perguntar de novo.
O garoto se animou um pouco e refez a pergunta:
- Você sabe por que meu pai nunca treina comigo?
- Olha Alteza... Eu acho que é porque ele vive muito ocupado e...
- E ele treina mais com o meu irmão, porque ele é muito forte, não é?
- Digamos que sim... É que o seu irmão, quando crescer, vai ser rei no lugar do seu pai. E ele tem que ser muito forte... Como o seu pai.
- E eu? Se eu não vou ser rei, o que vou ser quando crescer?
- Bem... Vossa Alteza continua sendo príncipe...
- E posso ser forte como o meu irmão Vegeta?
- Talvez...
Nisso, eles avistaram Nappa e o garoto Vegeta. Tarble foi correndo ao encontro de seu irmão, sob o olhar de Raneban. Este suspirou:
- A quem estou enganando? O príncipe Tarble não vai conseguir chegar a tanto...
- Mano! Espera aí! ? disse Tarble, ainda esbaforido da corrida.
- Hã? O que você quer?
O pequeno Tarble parou na frente do seu irmão e tomou fôlego.
- Fala logo, Tarble! ? disse Vegeta com sua característica impaciência.
- Quero treinar com você! Vamos, Vegeta, diz que sim!!!
- Ele não tem tempo pra isso! ? Nappa interveio.
- Cala a boca, Nappa! Você não é o meu pai pra dizer o que fazer!
- O quê? ? o grandalhão disse, já indignado.
- Sou eu quem manda em você, e não o contrário! Sou um príncipe, esqueceu?
Nappa se calou. Se revidasse, seria pior.
- Mano, vamos treinar... Só um pouquinho... ? Tarble insistiu, puxando a capa do irmão.
- Não ouviu o que o Nappa disse? ? era a voz do pai deles. ? Seu irmão não tem tempo pra isso!
O rei não olhava para o filho caçula. Apenas dirigiu o olhar para o mais velho, enquanto Nappa e Raneban se ajoelhavam diante dele.
- Você não está sendo um bom tutor, Raneban... ? cochichou Nappa. ? Por que deixa o moleque do Tarble incomodar o irmão quando não deve?
- Cala a boca, Nappa! ? Raneban respondeu no mesmo tom. ? Ou vou dizer a Sua Majestade que você está faltando com respeito ao príncipe Tarble!
- Para de se enganar, Raneban... O rei pouco está se lixando com esse garoto. Esqueceu que ele é uma vergonha para a nossa raça? Ele jamais daria importância a um fraco... Ou você ainda não percebeu?
- Nappa, traga o meu filho Vegeta para treinar comigo!
- Sim, Majestade! Vamos, Alteza!
- Papai ? disse Tarble. ? Quando vou treinar com o meu irmão? E quando posso treinar com você?
- Ele não tem tempo para diversão! Não pode perder tempo com alguém tão fraco como você! ? disse de maneira cortante. ? E eu não quero desperdiçar nem meio segundo treinando inutilmente com alguém que é a vergonha da família real! Pare de se iludir e deixe de me importunar! E fique longe do seu irmão! Não quero que o contamine com essa sua maldita fraqueza!
Aquilo tudo deixou o pequeno petrificado. Balbuciou:
- Pa... Papai...!
As lágrimas começaram a brotar de seus olhos, apesar de tentar segurá-las. Raneban via tudo. Via como o rei podia ser tão frio a ponto de dizer uma coisa daquelas ao próprio filho.
- E não chore, moleque!
Não adiantou. Ele era um saiyajin, mas ainda era apenas uma criança. Uma criança que sentia que seu coração se destroçava naquele momento. Na sua inocência, pensava que o pai não era nenhum carrasco, e que ele só não demonstrava que dava atenção a ele, mas... Na verdade, o pai jamais gostou dele...
- Papai...! Por quê...? ? o garoto perguntou entre soluços. ? Por que você não gosta de mim...? Por quê...?
O rei Vegeta deu-lhe as costas. Achava asquerosa toda aquela cena feita pelo seu filho. Ia se dirigindo ao palácio, acompanhado do seu filho mais velho e de Nappa. Para ele, aquele moleque ficava cada vez mais repugnante.
Sentiu algo puxar-lhe a capa. Olhou para trás. Era Tarble, ainda chorando:
- Papai...! Por que você me odeia...? O que foi que eu fiz...? Eu fiz alguma coisa errada...?
O rei ficou ainda mais exasperado com aquilo. Puxou a capa com força e deu um chute, que jogou o garoto a alguns passos de distância, caindo perto de Raneban.
- Fez sim... ? ele disse. ? Você simplesmente nasceu... E isso já é o bastante pra te odiar... Verme desprezível...!
Nisso, ele se foi, acompanhado pelo príncipe Vegeta e por Nappa. Mas antes, disse:
- Raneban, não deixe esse fedelho chegar perto do Vegeta. Caso contrário, será duramente castigado...
Depois que os três se foram, Raneban apenas ficou vendo seu pequeno amo se banhar em lágrimas. Tudo aquilo fora demais para Tarble.
- Papai...!