Every single night

tudo o que eu sempre conheci sempre foram putas, ex-prostitutas,

loucas. vejo homens com mulheres calmas e

gentis - vejo-os nos supermercados,

caminhando juntos na rua,

eu os vejo em seus apartamentos: pessoas em

paz, vivendo juntas. sei que essa paz

é apenas parcial, mas

existe paz, muitas horas e dias de paz.

tudo o que eu sempre conheci foram boleteiras, alcoólatras,

putas, ex-prostitutas, loucas.

quando uma vai

outra vem

pior do que sua antecessora.

vejo tantos homens com garotas calmas e limpas em

vestidos de algodão

garotas com rostos que não são de predadoras ou de

feras.

preciso de uma boa mulher. preciso de uma boa mulher

mais do que da máquina de escrever, mais do que de

Mozart; preciso tanto de uma boa mulher que posso

senti-la no ar, posso senti-la

na ponta dos dedos, posso ver calçadas construídas

para seus pés caminharem,

posso ver travesseiros para sua cabeça,

posso sentir a expectativa da minha risada,

posso vê-la acariciar um gato,

posso vê-la dormir,

posso ver seus chinelos no chão.

eu sei que ela existe

mas em que parte deste planeta ela está

enquanto as putas continuam me encontrando?

(Bukowski)

Jonghyun's POV

                Dizem que todo artista - seja um escritor, pintor, músico, escultor ou dançarino - tem uma musa inspiradora. Alguém que dá um nó na garganta só para deixar a arte fluir depois. Que está presente nos versos, nos personagens, nos títulos, nas cores e nos passos de dança. Todo artista tem suas paixonites. Eu tive um libriano de tipo sanguíneo B. Combinação filha da puta para um ariano tipo AB. Os opostos complementares. Malditas estrelas.

                Quem me ouve falando esse tipo de coisas deve pensar que sou um grande artista, no mínimo um escritor com um livro de sucesso publicado. Bom, prazer, sou Kim Jonghyun, faço faculdade de letras, trabalho em uma livraria e estou escrevendo um projeto de livro que parece nunca sair do lugar. Apesar do ego inflado que não nego ter, sou apenas um cara normal indo atrás de um sonho.

 - Mais quinze minutos... - murmurei impaciente, consultando o relógio pela quinta vez em menos de dez minutos. Francamente, quem gostaria de estar preso em uma sala de aula em plena sexta-feira?

                Para vencer a impaciência comecei a rabiscar meu caderno, pensando no que eu tinha na cabeça quando escolhi cursar letras. Mas apesar do tédio dessa aula, eu sabia a resposta: escrever era a única coisa que eu fazia bem. Desde que me entendo por gente, ler e escrever são meus maiores hobbies.  

                A única certeza que tive na vida foi a de me tornar um escritor, apesar dos constantes bloqueios que eu sofria.

                Quando saí de meus devaneios a aula havia acabado. Guardei meus materiais e saí da sala, louco para sentir o ar puro. Fui para o estacionamento da faculdade e no caminho avistei meu melhor amigo, Jinki. Acenei para ele, entrei no carro e fui para casa. A noite seria muito, muito longa.

                Mais tarde naquele dia eu me arrumei da melhor forma possível, peguei meu carro e dirigi até umas das melhores baladas da cidade. Jinki havia me convidado para conhecer alguns amigos dele, e uma desculpa para sair e aproveitar a noite é o que eu sempre procuro. Chegando lá, logo avistei Jinki sentado no bar com um grupo de jovens, então me aproximei.

  - Jonghyun, finalmente! - Jinki levantou e passou um braço pelos meus ombros - Galera, esse aqui é Kim Jonghyun, o futuro melhor escritor de Seul.

                Eu ri, meio envergonhado, enquanto todos sorriam pra mim. Notei que uma das garotas manteve o sorriso por mais tempo que os outros, então sorri de volta, dessa vez a olhando nos olhos, até que ela corou e desviou o olhar, balançando os longos cabelos castanhos. Sentei-me ao seu lado e pedi uma bebida para mim e outra para ela, e comecei a puxar papo. Notei o olhar de Jinki sobre mim, como quem diz "de novo não, cara", mas fingi não ter visto e continuei a aproveitar a noite ao lado da garota.  Havia encontrado o motivo pelo qual saí de casa aquela noite.

                Acordei sentindo uma dor de cabeça horrível e uma vontade enorme de voltar a dormir. Olhei em volta e vi uma garota dormindo ao meu lado, em um quarto branco, aconchegante, que só podia ser o dela. Admirei seus traços bonitos por alguns minutos, antes de me levantar, pegar minhas coisas e sair sem fazer barulho algum.

                E era assim que minhas noitadas terminavam. Eu saía, achava alguma garota bonitinha e passava a noite com elas. A maioria eram garotas tristes, que buscavam esconder as dores com álcool e sexo. Tudo o que eu fazia era oferecer conforto a elas. Uma noite. Era tudo o que eu podia prometer. Às vezes alguma mexia comigo e eu deixava meu telefone ou pegava o delas, e eu sempre ligava.

                Tive algumas namoradas, mas nenhuma que durasse muito. Muitas garotas passaram pela minha vida, mas eu só lembrava os nomes de algumas. Eu não era assim por diversão, mas porque nunca encontrei alguém que conseguisse me prender. Todas as mulheres que tentei me relacionar eram uma bagunça, e faziam da minha vida uma bagunça. Mulheres assim sempre me rendiam boas estórias depois. Como um escritor, eu aproveitava.Eu sabia que, mesmo inconscientemente eu procurava alguém que pudesse me fazer querer ficar depois de passar a noite, e não ir embora logo pela manhã como eu sempre fazia. Fui para casa pensando nisso, mas logo me distraí pensando que mais tarde teria que trabalhar.