O doce veneno da vingança

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  • Capitulos 9
  • Gêneros Ação

Tempo estimado de leitura: 3 horas

    16
    Capítulos:

    Capítulo 9

    Encontro inesperado

    Heterossexualidade, Linguagem Imprópria, Mutilação, Nudez, Violência

    Selena correu para seu quarto e passou o resto da noite acordada. Em seus pensamentos só havia culpa. Ela já devia ter aprendido a não cometer os mesmos erros vez após vez, no entanto a atração que sentia pelo moreno fazia com que seus sentidos e sua consciência desaparecessem.

    Suspirou inconformada – Quando vou aprender a lição?

    Não gostava de admitir, mas sempre que via seu sorriso se esquecia do passado.

    Viktor não havia mudado nada desde a última vez que se viram fora dos muros de Sweet Amoris.

    A ruiva sentou-se na cama e apoiou seu queixo nos joelhos.

    - “Eu também não mudei” – Lembrou de quando saiu correndo, tudo porque o garoto a estava tocando. Era muito semelhante às outras vezes. Selena não sabia o motivo, mas sempre que Viktor tentava “avançar o sinal” ela não conseguia permanecer perto dele.

    Contudo, passar mais um dia evitando o moreno não ia ajudar em nada.

    Os raios do sol entraram por uma pequena fresta na cortina. Aquilo a ajudou a ter ânimo. Precisava falar com Vik, ele era acima de qualquer coisa seu amigo e não o deixaria ir novamente.

    ***

    - Não vejo muita diferença nesses treinos Nathaniel.

    O loiro ficou visivelmente contrariado, mas Selena prosseguiu.

    - Continuar com isso só esta me estressando, tia Agatha devia estar louca quando sugeriu que eu treinasse meus poderes. – Evitou os olhos do colega transferindo sua atenção para o café da manhã.

    - Fale baixo. – Repreendeu. – Não somos os únicos aqui. – Fez um sinal discreto para alguns inquisitores que andavam pelo local.

    - Eles estão com o humor pior que o de costume. – Comentou Rosalya.

    - Eu também estaria se tivesse sido torturado por Dimitry.

    Elas se voltaram para o representante. – Dimitry?!

    - Shhh – Repreendeu às garotas.

    Os três olharam discretamente para os inquisitores, felizmente nenhum deles parecia ter a audição suficientemente apurada.

    Nathaniel tocou a testa e fechou os olhos, era uma expressão típica dele e o mais próximo de irritação que chegava. – Bem, como eu dizia... Ele voltou ontem, soube hoje pela manhã que algo o irritou muito e alguns dos inquisitores pagaram por isso.

    - Será que tem algo a ver com a Peggy?

    - Provavelmente, Rosa.

    - Bem feito. – Seus olhos dourados brilharam com ressentimento. – Aposto que doeu menos que o merecido.

    Nesse momento Lysandre chegou com um bloco de notas e sentou-se.

    O loiro olhou para a outra direção e fez sua expressão costumeira ao ver Castiel. – Pensei ter dito que ele era perigoso.

    Lysandre deu de ombros e apenas respondeu – Ele gosta de música.

    Rosa riu. – Bela justificativa.

    O loiro balançou a cabeça de modo reprovador - Vou tentar descobrir mais alguma coisa. – Não escondeu o desagrado na voz. – Vejo vocês depois.

    Rosalya suspirou e apoiou o queixo na mão - Ele não ficou nada feliz com a nova amizade do Lys fofo.

    Selena observou o rapaz sair do local. - O Castiel é tão perigoso quanto ele.

    - Ainda não confia no Nath, não é?

    A ruiva deu de ombros, mas Rosalya sorriu. – Ele é legal apesar de tudo.

    - Não acho. – Mexeu com o garfo em seu prato vazio.

    - Posso me sentar? – Viktor sorriu ao surpreender à garota.

    Rosalya franziu o cenho. – E você é?

    - Viktor. Amigo de infância da Selena.

    Ela o analisou por alguns momentos e então se levantou da cadeira puxando Lysandre. – Vem Lys, algo me diz que estaremos sobrando aqui.

    O rapaz se retirou calmamente, mas esqueceu o bloco de notas.

    O moreno riu. – Gostei da sua amiga.

    - É. – Respondeu.

    - Está brava?

    - Não, só confusa.

    Ele respirou fundo e cruzou os braços. – O que eu fiz te incomodou?

    - Sabe como eu me sinto.

    - Sei. – Se acomodou na cadeira. Precisava ser direto com Selena. – Não vou me desculpar...

    - Certo. – Ameaçou se levantar, mas ele a impediu.

    - O que eu quero dizer é que... – Seus olhos se encontraram – Não quero me desculpar porque não foi errado. Eu quero voltar com você e quero fazer tudo isso de novo.

    Selena corou. – Não é tão fácil assim. Você sabe que já terminamos.

    O moreno fechou o punho tentando apagar as lembranças do passado. – Foi minha culpa, não devia ter te deixado, mas agora é diferente.

    - Não é, Vik. – Tentou segurar suas lágrimas.

    Viktor segurou suas mãos e olhou bem fundo dos olhos rosáceos dela. – Dessa vez, eu prometo.

    Dentro de Selena acontecia uma guerra interna. Ela devia ouvir o coração ou a razão? Ainda não sabia a resposta para essa pergunta.

    - Você não é nada romântico falando isso aqui. – Sorriu.

    Ele encolheu levemente os ombros. – Se eu fosse mais romântico e gritasse para todo mundo você me matava.

    A ruiva não pôde contrariá-lo. – Você me conhece bem.

    - Estamos de volta? – Os olhos do rapaz brilhavam de expectativa.

    Selena se levantou. – Vamos deixar as coisas desse jeito por enquanto, ok?! – Apanhou o bloco de notas na mesa. – Agora vou devolver isso para o Lys.

    O moreno assentiu e seu coração ficou bem mais leve. Sabia que Selena não o aceitaria de volta na primeira tentativa, mas o mais importante era que seu coração ainda pertencia a ele e Viktor a traria de volta a qualquer custo.

    ***

    Passaram três dias desde a volta de Dimitry e o que a ruiva não conseguia parar de lembrar era do conselho da sua tia de não chamar atenção.

    Ela olhou em volta lembrando-se da luta com Debrah, desta vez, no entanto não estava ali para lutar.

    Viktor, Lysandre, Nathaniel e Rosalya permaneciam de um lado da sala de vidro, enquanto Dimitry os analisava com a expressão de poucos amigos.

    Selena culpava sua tia mentalmente. A causa daquela situação era nada mais, nada menos que as pulseiras que ela deu. Com aqueles objetos seria impossível não chamar a atenção.

    - Então – O supervisor mestre andou de um lado ao outro observando suas presas. – Parece que Agatha deixou mais uns presentinhos para me fazer lembrar ela. – Ele tocou o bracelete de Nathaniel. – Agora até mesmo meu poder esta sendo desafiado, quem diria, não? – Seus olhos encontraram os de Rosalya e esta foi ao chão com a cabeça latejante.

    - Pare! – Selena gritou.

    Dimitry soltou uma gargalhada. – Pare? – ergueu a mão e fez o corpo da ruiva se aproximar dela. Agarrou o seu pescoço cortando o ar que enchia seus pulmões. – Você me ordenou parar? – A raiva em seus olhos ardia. – Acha que só porque eu não consigo acessar suas lembranças pode me vencer? Pois tente! – Ordenou, jogando a na parede.

    Selena ergueu seus olhos com uma raiva incontrolável. Dimitry gargalhou. – Não pode nem ao menos vencer aquela prostituta e quer me enfrentar?

    Todos se espantaram.

    Virou sua cabeça com sarcasmo. – Qual a surpresa? Acham que eu não sabia que Debrah ganhou a luta e não você?

    Viktor cerrou os punhos. – Sabia e não fez nada?

    O supervisor girou os olhos. – Esse lugar está cheio de gente estúpida. O que eu ganharia com isso? Limpar o nome da sobrinha querida da Agatha? – Riu. – Vocês não sabem de nada mesmo!

    Aproximou-se de Rosalya e Lysandre. – Foi bom ver a amiguinha de vocês morrer?

    A respiração da garota acelerou e ela voou para cima de Dimitry, este a segurou no ar. – Com raiva Rosalya? Pensou que eu não soubesse disso também? Ora, por favor, usem mais a cabeça. Aqueles imbecis do Dylan e da diretora tem viseiras, mas eu posso ver tudo.

    - Se já sabia como ainda estamos vivos?

    O supervisor soltou Rosalya e Lysandre rapidamente a segurou. Ele se aproximou de Selena, seus olhos escarlates traziam lembranças que ela odiava. – Tem razão, se o governo suspeitasse do envolvimento de vocês em qualquer uma dessas situações, incluindo essas pulseiras. – Apontou para o objeto no pulso da garota. – Estariam mortos, mas... – Sorriu triunfante. – Eu não dou minhas presas para ninguém.

    - Monstro!

    O supervisor a olhou com indiferença. – Chame do que quiser, mas é graças a mim que vocês estão vivos.

    - Tudo isso para nos torturar?

    - Não Viktor, eu não sou tão mesquinho. Tenho outros objetivos. Entre eles saber o que descobriram com a morte da amiguinha de vocês.

    O silêncio na sala foi mortal.

    - Parece que não vão me falar. – Riu. – Mas eu gosto de desafios. Vou descobrir mais cedo ou mais tarde... Com ou sem essas pulseiras.

    Sem mais palavras ele ameaçou sair, mas logo voltou sua atenção para a ruiva. – E a propósito Selena, é melhor cuidar com suas escapadas depois do toque de recolher. – A garota cerrou a mandíbula. - Os inquisitores são estúpidos, mas nem tanto.

    Sem receber mais nenhuma resposta o supervisor mestre se retirou.

    - Você está bem Rosa? – Lysandre finalmente demonstrava alguma expressão.

    - Sim, mas acho que a partir de agora nenhum de nós estará tão bem. Maldita hora! – Praguejou. – Por que tinha que ter mais uma dessas sessões do Dimitry logo hoje?

    - Novos herdeiros. – Respondeu o loiro. – Sempre que chegam novos herdeiros nós temos essas sessões.

    - Só posso dizer que foi no pior momento. – Viktor cruzou os braços. – O que faremos?

    - Por enquanto nada.

    Selena olhou para Nathaniel como se ele fosse a criatura mais exótica do mundo. – Nada? Estamos nas mãos do Dimitry, podemos ser mortos a qualquer momento e você quer que eu não faça nada?

    - É. – Respondeu com firmeza. – E mais tarde, acho melhor termos aquela conversa, Selena.

    - Ok. – Seus olhos foram desafiadores. – Mas, é melhor que eu não perca meu tempo.

    Viktor ficou visivelmente incomodado.

    ***

    Koji - Choramingou a menina. – Já estou cansada, esse lugar é muito chato. – Fez biquinho.

    O oriental a ignorou. Tinha que lidar com seus próprios pensamentos no momento. Seu foco era a missão em Sweet Amoris e nada, absolutamente nada o faria falhar.

    Debrah apareceu entre as árvores. – O que fazem aqui? – Esbravejou.

    Kara sorriu. Amava irritar Debrah, enfim ela teria algo para distraí-la.

    - Ordens do Ci, quer ligar para conferir? – Seus grandes olhos castanhos desafiavam à outra.

    Debrah cerrou a mandíbula. Não esperava por isso. – Como entraram?

    - Deixamos que nos capturassem. – Respondeu o garoto.

    Kara suspirou com grande alegria. – Foi tão legal! Matei seis inquisitores. Apenas aquele Tyler não parava quieto para eu matá-lo. – Fez um bico e seus lábios formaram um perfeito coração.

    - Que seja. – Resmungou. – Andem na linha aqui, se o Ci mandou vocês significa que a evolução do plano está mais rápida.

    - Quem sabe? Só posso dizer que a presa dele vai ter uma surpresinha esta noite.

    Debrah bufou. – Não sei o que tem de tão especial nessa garota.

    - Para ter perdido para você não deve ter nada de interessante. – O sorriso debochado da garota de franja Pink irritou profundamente à morena.

    - Quer conferir minha força?

    Kara sorriu extasiada e seus cabelos se transformaram em armas mortais e elásticas. – Vou adorar brincar!

    Os punhos de Debrah se moveram rapidamente em direção a outra e numa velocidade impressionante, mas Koji absorveu a força e jogou a morena à quilômetros de distância arrancando diversas árvores no local.

    - Ah! Kojiii! – Choramingou. – Assim eu não posso brincar.

    - Não viemos aqui para brincar. – Disse ríspido.

    Debrah voltou minutos depois. Como esperado ela estava enfurecida e de bônus seu corpo repleto de folhas. – Vocês...

    - Guarde sua raiva para outra hora. Temos uma missão, se dá valor ao que chama de vida é melhor não me atrapalhar. Isso vale para você também Kara.

    - Koji-kun, você é tão másculo! Vamos brincar...

    Debrah olhou para os dois com repugnância. Seu ódio por eles aumentava cada dia. Mas logo provariam do próprio veneno.

    -Ah! Isso é muito chato. O Ci me disse que eu ia poder brincar bastante por aqui.

    - Vá atrás da presa do chefe antes que eu te mate.

    Kara brilhou com as palavras de Ren. – Sim!  - Saiu saltitando.

    - Vocês me adoecem.

    - Tanto faz! – Respondeu o garoto demonstrando sua total indiferença. – Volte antes que sintam sua falta.

    Ela se virou. – Vou sim, mas só porque aquele curupira idiota não sai do meu pé.

    Kojiro voltou para o que estava fazendo e nem se importou ao sentir a presença de outra pessoa no bosque.

    Dali a algumas árvores Dake podia ouvir tudo, tinha acabado de chegar, mas pode escutar claramente a aversão na voz de Debrah ao falar de seu namorado.

    - “Hum”. – Pensou. – “Muito interessante”.

    ***

    -Entre rápido. – Falou o loiro. – Não que seja proibido você estar aqui, mas é melhor ninguém ver.

    Selena revirou os olhos. Não era como se ela realmente quisesse estar ali.

    Nathaniel encostou a porta do escritório do grêmio. A última garota que aparecera ali estava morta, aquilo dava calafrios nele, mas não era hora de pensar naquelas coisas.

    - Sente-se.

    A ruiva cruzou os braços. – Você é formal demais.

    Ele a ignorou e sentou em sua cadeira. Ela fez o mesmo a contragosto.

    - E então, o que quer comigo?

    O garoto colocou os braços em cima da mesa e juntou as pontas dos dedos. Parecia estar fazendo um grande esforço para dizer, suas bochechas coraram um pouco. Selena se assustou, o coração acelerou. Ele não podia estar planejando se confessar, não é?! A ruiva sentiu o rosto aquecer também, era impossível não ficar nervosa com uma situação dessas.

    Nathaniel deu um grande suspiro. – Eu só queria dizer, quer dizer... Erm... – Limpou a garganta. Tomou coragem e olhou bem no fundo dos olhos da garota na sua frente. – Preciso que você saiba...

    - “Não, por favor, não” – Pensava. – “Não se confesse!”

    - Preciso que saiba que eu realmente não gosto de você.

    A ruiva caiu da cadeira. Nathaniel arregalou os olhos, mas antes que pudesse ajudá-la, ela já estava de pé.

    - O que você disse?

    O loiro balançou a cabeça. – Não é bem isso... – Suas faces coraram novamente. – Não que eu te odeie, mas...

    Selena tentou se segurar para não rir. Não sabia se sentia alivio ou vergonha, provavelmente os dois.

    -... Não me vejo tendo um relacionamento assim agora e não quero...

    Ela ainda não compreendia o motivo do representante estar dizendo aquelas coisas, mas o modo como ele se enrolava para explicar estava sendo hilário.

    -... E eu sei que graças aqueles boatos e a maneira com que eu me aproximei...

    - Nathaniel! – Interrompeu. – Ok. Já entendi. Você não gosta de mim com sentimentos românticos.

    - Isso. – Respirou recobrando a compostura. Suas faces ainda estavam afogueadas. – Eu sei que desde o início tentei me aproximar, mas não foi com essa intenção. O que a Peggy escreveu não era verdade.

    Ela assentiu. – Sem problema.

    - Não entenda mal, não quer dizer que eu te odeie ou que você seja feia.

    - Vou considerar isso como um elogio, ou pelo menos vou tentar. De qualquer forma, apenas vamos esquecer esse assunto.

    O loiro sorriu aliviado. – Obrigado.

    - Só não acredito que você me chamou aqui só para isso.

    - E não foi “só para isso”. Se não se lembra eu disse que queria conversar com você desde que te conheci.

    Ela concordou.

    - Eu tenho um assunto a tratar com você desde aquele dia, na verdade, desde a sua chegada aqui.

    A expressão séria no rosto do representante fez Selena se interessar. – Sou toda “ouvidos”.

    - Antes, preciso saber por que não confia em mim, Selena.

    A ruiva cruzou as pernas. – Quer mesmo saber?

    - Sim. De início eu até compreendo, mas mesmo depois que você me deu a pulseira ainda sinto que você me vê com desconfiança.

    A garota suspirou. – Vou te contar então representante. A verdade é que eu pensava que sabia tudo sobre Sweet Amoris. Tia Agatha me contou muitas coisas e na minha mente estava preparada para o que ia enfrentar, entretanto ao chegar aqui me deparei com um mundo completamente diferente, onde mesmo os herdeiros trabalhavam para o governo de boa vontade. Nesse lugar você não sabe quem é amigo ou inimigo. Então, eu descobri que além de monitores, inquisitores, uma diretora e um supervisor, há também um representante no meio dos alunos. É impossível confiar em você, o único com privilégio e acesso às informações que outros não possuem. Eu me questiono por quê? Qual o motivo para ter chegado a esse cargo e receber tanta confiança?

    Ele baixou os olhos. – Basicamente você acha que eu fiz algo para o governo ter confiança em mim?

    Ela estendeu ambas as mãos para cima. – O que mais poderia ser?

    - Em primeiro lugar, o governo, a diretora ou qualquer um deles não confiam em mim.

    - Não?

    - Não. A verdade é que eu não sou uma ameaça para eles porque meus pais são amigos íntimos do governador. Nenhum deles é herdeiro e ter filhos que são foi uma grande surpresa e decepção, como resultado ao completar cinco anos eu vim para cá. Não podia me rebelar ou qualquer coisa graças à minha família e o governador prometeu aos meus pais que meus poderes seriam de grande utilidade. Por todos os anos que fiquei aqui sem sair da linha eles me deram um cargo de “representante” onde minha única obrigação é coletar e atualizar informações sobre os herdeiros na ilha.

    - E você fez tudo o que eles mandaram. – Seu tom continuava severo.

    - Se tivesse pais como os meus saberia que não tive escolha.

    Selena se calou com a expressão dolorosa no rosto do loiro. Ele tinha razão, ela não sabia o que era não ter pais amorosos. Sua mãe e pai brigavam e castigavam como quaisquer outros pais, mas recebia muito amor deles e desde que foram assassinados ainda que fosse absolutamente doloroso, ela sabia que tinha o amor e a compreensão da sua tia, mesmo que Agatha estivesse desaparecida.

    Na verdade, a situação de Nathaniel talvez não fosse tão diferente da de Agatha. Ela teve de fazer muitos trabalhos para o governador e todos pela família, o loiro fez tudo por seus pais. Talvez, só talvez Selena estivesse errada sobre ele.

    - E quanto a Ambre? Ela entrou aqui junto comigo.

    - Os poderes dela se manifestaram recentemente. Agora você entende?

    - Um pouco. Só que isso não garante que você não irá ficar do lado dos seus pais.

    - Isso tem a ver com o assunto que eu tenho com você. Desde que soube da sua chegada aqui e das coisas que é capaz eu me decidi. Não quero mais ser um fantoche nas mãos do governo e dos meus pais.

    - E como posso confiar em você?

    - Já quebrei muitas regras. Eu não sou de fazer isso.

    - Não posso discordar. – Sorriu.

    - Então confie em mim.

    - Por que quer tanto a minha confiança?

    - Você pode não acreditar Selena, mas eu quero ser seu amigo. – Seus olhos demonstravam uma sinceridade impossível de não ser reconhecida. Selena podia ver isso, mas também sentia medo de confiar.

    - Não me desaponte Nath. – Ela sorriu, mas por trás do sorriso Nathaniel viu que aquela garota de cabelos escarlates estava com medo.

    - Não vou. – Disse decidido.

    A ruiva relaxou.

    -Mas você ainda não me disse o que realmente queria conversar comigo desde aquele dia.

    -Bom. – Ele se ajeitou na cadeira. – Antes me diga qual o seu objetivo?

    Selena cruzou os braços. – Você já está se enrolando demais representante.

    Assentiu. - Então eu vou ser direto. Quero fugir de Sweet Amoris.

    A garota soltou uma gargalhada. – É uma piada, não é? – A expressão de Nathaniel respondeu negativamente. Ela parou de rir. – Isso é impossível!

     - Não é e com sua ajuda muito menos.

    A ruiva se levantou. – Já é tarde, sua cabeça não deve estar muito boa. É melhor ir dormir.

    - Por que não tentar?  - Se levantou também.

    Ela o olhou como se fosse uma ameba. - Porque é loucura! Eles nos pegariam e iríamos ser mortos. Preciso estar viva para cumprir meu objetivo.

    - Qual o seu objetivo? Esperar sua tia? Selena, a gente nem sabe se ela ainda está viva, mas mesmo que esteja é lá fora e não aqui.

    - Você quer viver como foragido?

    O loiro levantou-se e pôs a mão na testa. Seu olhar percorreu a superfície da mesa e então encontrou o de Selena. Ele suspirou antes de responder no tom mais sincero possível. - É melhor do que ser prisioneiro.

    A ruiva congelou por uns segundos, então andou de um lado ao outro na sala. Nathaniel tinha razão, sua tia e o assassino de seus pais estavam do lado de fora daqueles muros, ficar ali não ajudaria muito, por outro lado se saíssem poderiam ser pegos e a consequência seria a morte, não só dela como de todos os que a acompanhassem. Precisava pensar.

    - Se ficarmos aqui nossas opções são poucas.

    - Certo. – Respondeu. – Eu vou pensar nisso, mas não te garanto ajuda nenhuma.

    - Certo, mas pense.

    - De todas as pessoas você era a última que eu esperava ouvir isso.

    O garoto franziu o cenho. – Vou considerar como um elogio, ou pelo menos vou tentar.

    Ela sorriu. – Boa noite, Nath.

    - Boa noite.

    Selena foi cuidadosa ao voltar para sua ala. Já estava na hora de todos estarem em seus quartos e se fosse pega não seria muito bom. No caminho descobriu que não era a única voltando para a ala 30 na “surdina”. Castiel estava entrando em seu quarto e nem percebeu quando a ruiva passou. O rosto do rapaz parecia mais duro que o normal e sem querer seus pensamentos invadiram sua cabeça. – “Aquele boneco plastificado vai levar mais que um soco a próxima vez que falar da Debrah”.

    A garota odiou invadir os pensamentos alheios, mas de alguma forma aquela informação poderia valer a pena na manhã seguinte. Ainda pensativa entrou em seu quarto, aliviada por não ter sido pega. Tinha muitas coisas para pensar, mas a cama parecia convidativa demais e os pensamentos de menos. Não demorou nem um minuto e a ruiva caiu no sono, entretanto não durou muito, alguém a acordou.

    Selena abriu os olhos na escuridão. Ouvia passos, alguém caminhava calmamente. Um cheiro, o mesmo cheiro daquela noite impregnou o ar. Era ele, dessa vez tinha certeza e não era sonho, contudo o medo a paralisava.

    - O que faz aqui?

    - Shh. – A luz do abajur foi acesa por alguém envolto em um capuz. – Não queremos acordar mais ninguém, não é? – A figura sombria sentou-se numa poltrona ao lado da cama.

    Um frio percorreu sua espinha. Ela tentou se mover, mas os membros não obedeciam. – O que fez comigo?

    - Ah! Isso?! Apenas por precaução injetei em você um soro paralisante, afinal não queremos começar uma luta logo no nosso segundo encontro. – Seus olhos escarlates brilharam por baixo do capuz.

    - O que quer comigo? Já matou meus pais e agora vem atrás de mim?

    - Não vou matá-la ainda. Seus pais foram apenas uma degustação, mas você é meu prato principal.

    - Maldito! Desgraçado!

    -Não grite Selena, se os inquisitores aparecerem vai ser pior.

    - Por que esta aqui, Ciaran?

    - Ora, ora. Descobriu meu nome, devo dar meus parabéns?

    - Cale a boca!

    Ciaran cresceu suas garras e se aproximou da ruiva. – Tão indefesa e ainda assim quer brigar. Isso me dá vontade de rasgar seu belo rostinho. – Roçou suas garras na pele da garota.

    Selena entrou em chamas forçando o homem para trás. Ele gargalhou com satisfação. – Boa garota. Está ficando mais forte, não o suficiente, mas vai chegar lá.

    - Não brinque comigo seu maldito. Vou matá-lo Ciaran, juro que vou.

    - Cultive essa raiva e se fortaleça. Aproximou-se do rosto da ruiva. No dia que for tão forte quanto eu, me enfrente, por enquanto pare de brincar.

    Selena apertou a mandíbula. – O que quer de mim?

    Voltou à poltrona. – Por hoje nada, vim apenas conversar.

    - Não tenho nada para conversar com você.

    - Nem sobre seus pais?

    A ruiva arregalou os olhos. - O que sobre eles?

    - Não deseja saber quem me contratou para acabar com eles?

    - O governo. – Cuspiu as palavras como se fossem a coisa mais amarga do mundo.

    Sorriu admirado. - Agatha é uma bela espiã, descobriu muito para você. Foi bom tê-la poupado.

    - Ela te faria em pedacinhos.

    Ele riu. – Quem sabe. O fato é que naquela noite eu recebi minha recompensa pelos seus pais.

    - Mata sua própria espécie por dinheiro? Eu tenho nojo de escória feito você.

    - Mas não é só o dinheiro, tem muito mais envolvido. – Lambeu os lábios.

    Franziu o cenho. - O que você planeja?

    Reclinou-se na poltrona. - Isso eu ainda não posso dizer, mas paciência. Logo você fará parte do meu plano.

    - Isso nunca!

    Riu. - Até lá, veremos. Mas, eu pensei que seria mais bem tratado vindo aqui, afinal você já não tem muitos amigos, não? Eles até tem medo dos seus poderes.

    - Como sabe?

    Ciaran sorriu com o ódio na voz da garota. - Eu sei de cada passo seu. Posso ver tudo.

    A ruiva forçou seus membros a moverem-se, mas foi em vão. Sua raiva e ódio aumentavam cada vez mais. - Você é como o Dimitry, os dois são monstros!

    - Dimitry. – Cravou as garras na poltrona. - Faz tempo que não o vejo, seria bom ter uma reunião em família.

    - Família?

    - Não notou a semelhança? – Seus olhos brilharam.

    - Vocês são irmãos? – Abriu a boca surpresa.

    - Pensei que fosse mais esperta. Não vai me dizer que meu irmão mais velho não contou?

    A garota permaneceu em silencio.

    - Já vi que não. – Ele se levantou. – Enfim, ao que parece terei que visitar outra pessoa essa noite. Foi bom vê-la. Não se preocupe, voltarei em breve. Como presente de despedida eu vou deixá-la dormir, afinal não quero que venha atrás de mim.  – Ciaran cravou uma de suas garras no pescoço de Selena antes que a garota reagisse e ela caiu no sono de imediato. Com um sorriso no rosto ficou invisível e saiu do quarto.


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