A ruiva mordia o lábio com nervosismo. A confusão que Lysandre, Nathaniel e Rosalya fizeram para distrair a todos causou sérios problemas e só não houve punições por outros alunos terem se envolvido. Com a atitude dos três, Selena conseguiu tomar uma decisão muito importante e esse era o momento de informar a eles.
Infelizmente não era tão fácil assim. A garota de cabelos flamejantes não gostava nem um pouco de confiar nas pessoas, nem mesmo ela sabia o motivo. Entretanto aqueles três, principalmente Rosalya, já tinham demonstrado que mereciam a confiança dela.
- E então? – Rosa questionou. – Já faz dois dias que você está estranha e não quer falar com ninguém, por que nos chamou aqui?
Os garotos não disseram nada. Estavam inexpressivos observando a grama seca balançar.
- Devem estar curiosos para saber por que eu trouxe vocês aqui atrás da sala de treinamento.
Rosalya cruzou os braços. – É um pouco óbvio que estamos. – Seu humor continuava terrível nos últimos dias. A garota havia passado por coisas demais e a morte sempre mexia muito com seus nervos. Alguns enfrentariam a situação chorando ou ficando entristecidos, mas Rosa tinha apenas os primeiros momentos assim, depois disso parecia um serial killer pronto para atacar.
- Aqui não tem escutas e nem câmeras. – Explicou. – O alcance é mais difícil em lugares altos, no meio das árvores e nas beiradas da ilha.
- Como sabe disso? – Nathaniel perguntou.
- É uma longa história. – Comentou com desconforto.
Lysandre segurou o próprio queixo com um braço apoiado sobre o outro. Seus olhos calmos fitaram Selena com sinceridade ao falar. – Acho que você nos deve explicações. Fizemos o que pediu há dois dias e te demos o tempo que precisava para pensar, mas agora que nos chamou aqui tem que dizer de uma vez o que está acontecendo.
- Eu sei. Vou contar tudo, mas os três. – Lançou um olhar para cada um, principalmente para Nathaniel. – Têm que me garantir que vão guardar segredo e que posso confiar em vocês.
- Sabe que pode confiar em mim Selena, mas também quero que mostre que posso confiar em você. – Rosalya falou com a voz mais suave. Já controlando melhor seu temperamento.
- Eu estou com a Rosa. – Anunciou Lysandre.
Todos olharam para o loiro.
- Pensei que não confiasse em mim.
- E não confio. – Concordou. – Mas se arriscou junto com o Lysandre sem saber o que eu precisava e mesmo não gostando de você tenho motivos para acreditar que não vai falar nada.
Ele refletiu por alguns instantes. – Está certo. Dou minha palavra.
- Vou contar tudo então. – Respirou fundo e tirou de dentro da blusa o envelope com o livro de Agatha. – Vou contar primeiro sobre a minha família e este livro que minha tia deixou
Em silêncio todos ouviram Selena, ela deixou claro que ninguém leria o que Agatha havia escrito e só informaria a eles o que considerava necessário, mesmo em meio a protestos os garotos tiveram que aceitar as condições.
Assim que terminou de contar esperou pacientemente que alguém se manifestasse.
- Você incendiou a peruca do carteiro? – Questionou Lysandre com diversão.
- O pior não é incendiar, mas sim ter uma peruca. Que tipo de lugar é esse onde os carteiros têm perucas? – A expressão de Rosalya era indignada, mas também bem humorada.
- E ainda vem dizer que vai nos informar somente o necessário. – Resmungou o loiro escondendo o sorriso.
- Quando eu percebi já tinha lido essa parte. – Respondeu encolhendo os ombros. – Mas essa história não vem ao caso.
- Vem sim. – Afirmou a garota. – Isso explica porque suas roupas são tão pouco sexys.
- O que isso tem a ver? – Levantou-se constrangida.
Rosalya assumiu a pose de uma professora ensinando o primário. – Tem a ver sim! Apenas lugares com carteiros de perucas pegando fogo podem ser perdoados por não venderem lingeries sedutoras.
Selena ficou boquiaberta diante da falta de tato. Os rapazes coraram e desviaram os olhos. – Eu nem vou responder isso.
Rosalya balançou os ombros. – Nem precisa. Sabe que é verdade.
Nathaniel pigarreou. – Será que podemos voltar ao assunto principal?
- Acho bom mesmo. – Respondeu Selena de imediato.
Lysandre andou de um lado ao outro segurando o queixo com a mesma expressão pensativa - Tudo isso é muito intrigante. – Refletiu o rapaz. – Se não estou enganado a Rosa comentou algo sobre a central de treinamento ter tido falhas no sistema, as câmeras de segurança estão com problemas, Dimitry esta fora desde que Peggy morreu e há tantas incógnitas que chega a dar uma grande dor de cabeça.
- Isso não é importante agora. – Respondeu decidida. – Eu contei tudo isso a vocês com o objetivo de cumprir parte daquilo que minha tia aconselhou.
- Esta nos usando? – Questionou o loiro.
- Não! Confiando em vocês. – Fechou o punho com violência e o abriu de forma brusca fazendo um buraco no chão. A ruiva retirou uma caixa e uma arca do local e abriu as duas. – Esses. – Deu um bracelete de titânio para cada um. – São os braceletes mencionados no livro.
- Até que sua tia tem bom gosto. – Rosalya sorriu.
- Assim o Dimitry não vai saber nada que eu fale para vocês, mas não vai impedi-lo de machucá-los.
- É um bom trunfo, contudo ainda temos problemas com a diretora. Mesmo que a sua tia tenha dito que o segredo esta nos olhos eu senti de perto e bem mais de uma vez que a influencia dela é forte com um simples toque.
Selena se lembrou do primeiro dia em Sweet Amoris. Nathaniel havia tentado dizer algo sobre Dimitry e a diretora facilmente o manipulou. – Não posso discordar de você. – Suspirou. – Mesmo eu tenho dificuldades de entender a habilidade dela, é quase como se fosse... Diferente.
- O plano é não enfrentá-la, por enquanto. – Decidiu Lysandre,
- Certo. Essa arca. – Abriu o objeto e tirou um pequeno quadro fino e transparente de dentro. – Contém um mapa de toda a ilha. – Tocou a tela e ela brilhou com hologramas da ilha inteira.
- O que é aqui? – Rosalya apontou para o lugar abaixo da central de treinamento.
- Acho que é o subterrâneo onde nós lutamos e treinamos.
Ela apertou seus olhos dourados. – Mas parece que se estende por baixo de toda a ilha.
- Esse lugar é enorme, chega a ser natural. – Disse Nathaniel já impaciente por entrar em novos assuntos. – Agora eu gostaria de saber o que faremos com tudo isso?
Selena meneou a cabeça inconformada. – Já pensei em tudo que eu podia e não sei exatamente o que a titia quer de mim. Ela disse tudo e ao mesmo tempo nada, agora sei um pouco mais sobre a morte dos meus pais, mas o que eu fiz até esse momento foi arrumar confusão, de um jeito ou outro. Não sei exatamente o que vai adiantar eu contar para vocês, esperar minha tia voltar ou treinar esses poderes que tenho, entretanto é a única maneira de colaborar.
Nathaniel se levantou. – Vamos nos encontrar aqui toda manhã uma hora antes do café. – Consultou o relógio. – É melhor eu ir para o grêmio, tenho que ver se descubro mais alguma coisa sobre a chave da Peggy.
- Ninguém sentiu falta dela ainda, é quase como se nunca tivesse existido. – Refletiu Lysandre.
- Talvez seja melhor assim. – Comentou o loiro. O silêncio tomou conta do ar por alguns minutos até que ele retornasse a falar. – Queria aconselhar vocês para se manterem longe do Castiel. – Lançou um olhar proposital a Lysandre. – Ele e a namorada são problema.
Lysandre não respondeu, mas Rosalya sim. – Debrah é o único problema, mas pode deixar que minha vingança a fará com que se arrependa.
Nathaniel crispou os lábios demonstrando claramente que não concordava, mas seja por não ter vontade de discutir ou por estar sem tempo ele se retirou do local.
Selena lembrou que sua situação não estava boa de nenhuma forma, não queria mais ver Viktor, outros alunos tinham medo dela, incluindo Iris e tinha estado tão absorta em seus próprios problemas que nem mesmo perguntou sobre Kentin. Como se Rosalya tivesse lido seu pensamento ela disse cuidadosamente. – Talvez seja melhor nós voltarmos, caso contrário você nem vai poder se despedir do seu amigo.
A ruiva inclinou a cabeça confusa. – Como assim?
- O garoto dos óculos fundo de garrafa vai embora.
*****
Quando já estava a caminho da ala 30 Selena teve de parar abruptamente para não bater no ruivo de 1,80 na sua frente.
- Desculpe. – Gaguejou.
Castiel a olhou de modo frio. Sua expressão parecia mais dura que o normal, mas não dava para ter certeza já que era a primeira vez que a garota o olhava tão de perto.
Seus olhos cinza e o cabelo na altura dos ombros fascinavam meninas que se interessam por rapazes com o espírito rebelde, o que não era bem o caso de Selena, contudo mesmo ela não poderia negar que o ruivo com músculos e postura desafiadora - Mesmo que mal humorado – tinha o seu encanto.
- O que faz aqui? – Questionou ríspido.
Ela demorou uma fração de segundos para compreender a pergunta. – O que você faz aqui?
Ele a olhou como se fosse idiota.
- Meu quarto é aqui.
Por essa ela não esperava. Definitivamente a pergunta era idiota.
- Não sei se te devo satisfação.
Ele ficou sério e então deu as costas resmungando. – Não deve mesmo.
De alguma forma a garota de cabelos flamejantes se arrependeu ao vê-lo sair e sem pensar o chamou. – Castiel!
O ruivo parou tranquilamente e se virou o mais lento que pôde. – Seja breve.
- Eu não machuquei a Debrah.
Ele grunhiu algo indecifrável e voltou suas costas para Selena.
- Eu falo sério! – Gritou, mas foi ignorada.
Suspirou pesadamente. Se ao menos ela pudesse fazer alguém acreditar. Seguiu o garoto com os olhos até sumir de vista e então se dirigiu ao quarto de Kentin. Quase conseguiu chegar ao seu destino quando foi surpreendido pelo garoto que veio aos prantos. Giles estava ao seu lado com a mesma expressão severa.
- Selena. – Disse o rapaz sorrindo entre lágrimas.
- Oi Ken. Soube que vai para casa por uns dias. – Tentou não parecer muito invejosa da sorte do garoto.
- Papai disse que eu tenho que ser mais forte e não perder para meninas como a Ambre.
A garota não respondeu nada. Sabia que no fundo Kentin era muito covarde, apesar de ser um ótimo amigo
Giles pigarreou. – Temos que ir.
- Eu quero. – Soluçou antes de continuar. – Te dar esse ursinho.
- Eu vou à frente e te espero em seguida. – Falou Giles sentindo-se desconfortável diante da situação. Tanto que saiu sem esperar uma resposta ao algo do tipo.
Selena pegou a fofa pelúcia e sorriu. – Obrigada. – O garoto chorou mais ainda e sem saber ao certo de que maneira agir ela o abraçou. Ele era exatamente do mesmo tamanho e isso a fez sentir como se abraçasse um irmão mais novo.
Logo em seguida viu Kentin partir. De alguma forma isso deixava um vazio dentro do peito, não que o amasse. De forma alguma ia deixar o amor romântico entrar em seu coração de novo, mas era difícil, pois se sentia sozinha. Viktor e Ken eram como uma parte da sua família despedaçada, mas o primeiro a magoou com suas acusações e o segundo estava indo embora, talvez para sempre.
****
Os dias passaram muito devagar. Todas as manhãs Nathaniel a obrigava a treinar seus poderes com outros, era quase como se ele esperasse que fosse usá-los numa luta de verdade. Sem mencionar a expressão que fazia toda vez que Lysandre e Castiel estavam juntos. Parecia que os dois tornavam-se cada vez mais próximos, ainda que ser próximo de Castiel é quase a mesma coisa que não ser.
Rosalya e ela já não tinham uma conversa particular fazia algum tempo, Leigh estava com mais folgas já que Dimitry não estava na ilha e ambos aproveitavam o tempo para passar juntos.
A falta de Ken foi aos poucos amenizando, mas ela continuava incomodada ao tentar fugir de Viktor que parecia decidido a fazer as pazes.
De alguma forma os alunos começaram a perceber a falta de Peggy e isso fez com que o clima na ilha ficasse cada vez mais tenso. Para a infelicidade da ruiva todos pareciam culpá-la pelo ocorrido, principalmente depois do episódio com Debrah. Iris e uma garota do cabelo violeta que combinava perfeitamente com seu nome – Violette – Sempre estavam andando juntas, contudo ficavam visivelmente apavoradas quando estavam no mesmo ambiente que a garota. Aquilo era irritante.
Selena saiu do seu novo quarto, agora situado na ala 30 - Já que o outro ficou completamente sem conserto. Caminhou pelo corredor com tristeza. Passou pela porta do quarto de Castiel e não aguentou a curiosidade quando ouviu a voz de Debrah.
- Não gatinho. – Choramingou. – Já disse que eu não tenho nada com o Dimitry. Aquilo tudo que ele mostra é mentira. – Chorou copiosamente.
- Tem certeza que ele não te forçou a nada?
Ela pareceu surpresa por alguns momentos e não falou.
- Debrah. Diga a verdade.
- Ele tenta, mas eu não dou atenção. Sabe que o único que eu amo é você gatinho.
A partir daí Selena não aguentou mais escutar, no entanto aquela informação era valiosa e talvez fosse a chave para desmascarar a morena. Ela tinha que encontrar Rosalya.
Correu até o quarto da amiga sem se importar com os olhares que recebia e quando entrou deu um grito ao ver Rosalya e Leigh se beijando.
Ambos coraram com a intromissão repentina e mais que rápido ela saiu do quarto com o rosto da mesma cor dos cabelos. Esperou no corredor ainda sentindo as maçãs do rosto queimar. Leigh saiu em seguida sem conseguir fitar a ruiva.
- A Rosa esta te esperando. – Disse corado com os olhos grudados no chão.
- Obrigada. – Disse.
Rosalya a esperava com a expressão sorridente. – Você escolheu a melhor hora. – Brincou.
- Desculpe. – Deu um meio sorriso.
- Sem problema, só acho que ele não vai conseguir te encarar tão cedo.
- Eu também não vou. – Assumiu timidamente.
Formou-se um silêncio.
- Eu queria mesmo falar com você. – Explicou com os olhos preocupados.
- Eu também. – Concordou. – Mas pode dizer primeiro.
Rosalya cruzou as pernas e Selena sentou-se antes que a primeira prosseguisse.
- Peço desculpas por ter sido tão grossa esses dias. – Fez uma pausa tentando encontrar as palavras para se expressar. – A morte da Peggy me fez lembrar tudo que eu falei para ela, me arrependi e fiquei nervosa porque eu não posso voltar atrás. Ela já esta morta! – Algumas lágrimas correram por seu rosto.
- Você não lida bem com a morte, não é?
A garota balançou os cabelos prateados. – Não é bem isso. Quero dizer, ninguém lida bem com a morte e eu não sou diferente. A verdade é que meus pais e familiares próximos estão vivos e eu nunca vi a morte de perto, até agora.
Selena assentiu de modo compreensivo. Mesmo que a amiga lhe dissesse que não, estava claro para a percepção da ruiva que Rosalya era muito sensível quando se tratava da morte, contudo aparentemente nem mesmo ela sabia disso.
- Eu me senti pressionada. – Prosseguiu. – Leigh e eu também andamos brigando e ele estava tão ocupado que quase nem nos víamos. O Lys fofo é sempre muito silencioso e você estava imersa no seu próprio mundo. Acabei me sentindo sozinha. – Desabafou.
- Desculpe. – Abraçou a amiga.
A imagem que a ruiva tinha de Rosa era sempre de alguém muito alegre e independente. Quase como se nada a pudesse derrubar, no entanto nem mesmo ela era de ferro e Sweet Amoris fazia qualquer um fraquejar.
- Tudo bem. – Secou as lágrimas e sorriu. – Eu estou melhor agora. O Leigh e eu nos resolvemos e ele fez para mim um lindo vestido – Apontou para a vestimenta roxa cheia de renda.
- Ele fez? – Não conteve a surpresa.
- Sim. Seu sonho era ter a própria loja de roupas, mas o governador precisa dos serviços dele e não vai “largar o osso” tão fácil.
Assentiu. – Não me admira que ele use roupas parecidas com as do Lysandre quando não está trabalhando.
Rosalya sorriu.
- Mudando de assunto. – Começou a ruiva. – Eu escutei uma conversa da Debrah e o do Castiel.
A amiga lançou um olhar peralta. – Escutou, é?
- Foi por acidente.
Rosa a olhou com pura incredulidade. - Aham.
- Bom... – Assumiu. – Quase acidente.
- Que surpresa! – Ironizou.
Selena a ignorou. – Pelo que eu ouvi a Debrah pode ter um caso com o Dimitry, apesar do namorado não acreditar.
- Ela tem sim, faz tempo. – Comentou indiferente. – Mas se você acha que isso pode nos ajudar é melhor esquecer.
- Por quê? – Demonstrou claramente sua decepção.
- Porque eu vou pensar em algo melhor. Que mostre o caráter dela.
- Isso mostra. – Disse ressentida.
- Não se preocupe. Deixe que eu cuide disso.
Sua resposta não passou de um sopro indignado.
- Vamos nos concentrar no mais importante agora. – Se moveu incomodada. – Eu não sei se vai gostar do meu pedido, mas... – Lançou um olhar suplicante. – Preciso ver o que sua tia escreveu no livro.
- Eu li para vocês aquele dia.
- Sim. – Controlou a voz para sair calma. – Mas também deixou algumas lacunas e eu entendo que não queira que os garotos saibam de tudo, mas eu preciso – Enfatizou a palavra. – Entender melhor você.
A ruiva desviou os olhos com receio.
-Não quero te forçar a nada. – Completou. – Contudo eu quero te ajudar como uma amiga e você é muito fechada. Preciso que confie em mim.
Ela pensou por alguns minutos e esse pequeno espaço de tempo pareceram horas.
- Só para você. – Entregou o livro esperou que a amiga terminasse de ler.
- Obrigada. – Devolveu o objeto. – Você ocultou o nome do assassino da sua família aquele dia e disse apenas que era alguém que sua tia desconfiava ter sido contratado pelo governo. Por quê?
- Não tem motivo específico. – Mentiu.
Rosalya a avaliou antes de falar. – Quando nos conhecemos você falou algo sobre ter um objetivo. Sempre que eu te vejo sinto que sua mente está em outro lugar Selena, é como se tivesse um só caminho na vida e não se importasse com mais nada.
- Eu me importo. Não quero que ninguém mais morra, contudo não vou colocar nada na frente do meu verdadeiro objetivo.
- Basicamente. – Saboreou as palavras que se seguiram como se estivessem envenenadas. – Você quer vingança.
- Não é o que qualquer um faria?
- Não somos qualquer um.
- Não quero discutir com você. – Comentou com sinceridade. – No entanto eu não posso concordar com o seu ideal de que herdeiros como nós podem fazer a diferença.
- Eu sei que é um sonho quase impossível. – Assumiu resignada. – Não vou interferir na sua escolha, mesmo antes de ler já desconfiava que tivesse algo assim por detrás. – Respirou fundo. – Só quero que a partir de agora você possa contar comigo, mesmo que eu não concorde.
- Certo. Eu digo o mesmo. – Sorriu docemente.
- Quanto à vingança, posso assumir que não vai acatar o conselho da sua tia.
- Não. – Respondeu decidida. – Essa é a única coisa que não vou voltar atrás.
***
Viktor quase se sentia envergonhado estando atrás de Selena como se fosse um stalker, mas se aquela era a única maneira de falar com a garota então não importava.
Seu esforço foi recompensado na parte da noite quando a ruiva saiu do seu quarto alguns minutos antes do horário de recolher e foi até o jardim.
O moreno a seguiu até vê-la sentar-se no banco e olhar o céu estrelado.
Pigarreou para chamar a atenção e isso a assustou de tal maneira que as chamas que foram lançadas do seu cabelo quase queimaram uma árvore próxima.
- Você ficou maluco? – Sussurrou.
- Desculpe, mas você não me deu escolha fugindo assim.
Ela se levantou com irritação, mas foi impedida de sair quando o moreno a segurou firmemente pelo braço.
- Não quero falar com você.
- Sério?! Nem deu para perceber. – Seu sarcasmo a enfureceu ainda mais.
- Me deixe.
Viktor ficou sério e a segurou pelos ombros para olhar em seus olhos. – Me dê apenas três minutos.
- Então me solte.
Ele o fez esperando que a ruiva fugisse, mas não foi o que aconteceu.
- Seu tempo está se esgotando.
- Eu fui um idiota, sinto muito.
- Não me falou nada que eu já não soubesse.
- Pensei... Nem sei o que pensei! – Desabafou. – Fiquei surpreso quando você se mostrou tão forte e falei aquelas coisas sem pensar.
- Não confiou em mim. – Acusou. – Pensou que eu fosse capaz de matar.
- Não! Eu nunca pensaria isso, não de propósito, mas acidentes acontecem e seus poderes...
- O que? Você tem medo deles? – Questionou com grande fúria.
Meneou a cabeça. – Sabe que eu nunca faria nada para te ferir.
- Já fez. – Virou as costas. – Seu tempo acabou.
- Eu sei que você tem medo de se descontrolar. Eu te entendo.
A ruiva tinha lágrimas nos olhos e ele não se conteve ao abraçá-la.
- Me solta! – Ordenou, mas seu choro abafava sua voz. – Você não entende. – Soluçou.
- Entendo. – Falou a colocando contra seu peito. – E sou o único capaz de ver você chorar.
Suas lágrimas continuaram banhando seu rosto e logo se misturaram com o dele quando a beijou carinhosamente. – Eu te amo. – Sussurrou. Mesmo sabendo que aquilo a faria se arrepender mais tarde Selena não se importou e correspondeu o beijo de Viktor. No dia seguinte ela poderia culpá-lo dizendo que estava sensível, mas naquele momento tudo que desejava era tê-lo mais e mais perto de si.
De alguma forma o calor dos seus dedos ao segurar sua cintura e o seu peito tão aconchegante a fizeram sentir-se mais calma.
- Eu tenho que ir. – Disse com o rosto afogueado.
- Ainda não. – Segurou sua cintura com mais firmeza e a apoiou em uma árvore próxima.
- O toque de recolher. – Sussurrou.
- Dane-se! – Disse ao beijá-la com mais vontade.
Algo dentro da ruiva pareceu se aquecer quando ele segurou seus cabelos e foi descendo seus beijos pelo pescoço.
- Vic... – Tentou formar a palavra, mas quando ele colocou sua mão por baixo da sua blusa caminhando por sua barriga e costas ela desistiu e o beijou com uma ferocidade que não imaginava ser possível. Ele mordeu seu lábio e a pressionou ainda mais contra a árvore.
- Você está louco. – Falou, mas o garoto a calou com um beijo. Sua língua passeou pela sua boca e ela o rodeou com seus braços, entretanto quando ele desceu sua mão para seu decote a ruiva o empurrou. – Tenho que ir. – Correu de volta ao quarto. Deixando o rapaz irritado consigo mesmo por ter cometido um erro tão estúpido.