Um trovão irrompeu o silêncio. Assustado com o barulho o loiro acordou em meio à papelada de seu escritório. Nathaniel esfregou os olhos tentando se acostumar com a escuridão. Mais um clarão de relâmpago na janela e logo em seguida o trovão. O loiro deu um sobressalto na cadeira. Não conseguia se acostumar com aquela ilha, sempre havia tempestades na época do lunasolis e isso o atormentava. Não gostava de assumir, mas era amedrontador saber que ele e tantos outros estavam numa ilha no meio do nada, protegidos apenas pelos muros de sweet amoris.
Ele se levantou e aproximou-se com cautela da janela. O cômodo era frio – Na verdade toda a sweet amoris era – Mas havia as lareiras para o alivio de todos. No escritório do grêmio – Chamado assim apenas para parecer uma escola – ficavam todos os arquivos dos novos alunos e papeladas da administração. A estante completava as três paredes da sala. Ela estava recheada de livros e nem mesmo o representante havia conseguido ler de tão antigos e empoeirados. A mesa de carvalho era escura e pesada. Ficava no centro e nunca estava vazia. Parecia sempre haver algum arquivo ou pasta para completar ou analisar. O tapete tinha tanto pó que apenas pisar sobre ele fazia uma nuvem de poeira enorme e em uma das paredes creme os quadros de governantes velhos e cansados trazia a impressão de que até mesmo ali o governo vigiava – Mas sem dúvida que sim.
O jovem loiro observou o temporal que alagava o jardim de rosas – Seria mais um trabalho difícil para Jade.Contudo, o que o incomodava profundamente não era o tempo ou o jardim, mas sim a chegada dos novos herdeiros. Não seria fácil se habituarem a vigilância e a falsidade que tudo aquilo era. Nathaniel sabia que o caos irromperia maior ainda com a chegada de mais aberrações – Como o governo os chamava – E ainda mais que a aluna “problema” chegaria.
O loiro sorriu sozinho. Ele mal esperava para conhecer a garota de olhos turquesa e cabelos escarlates. Sem dúvida ele teria muito mais trabalho do que de costume, mas por algum motivo estava estranhamente animado – Algo que não acontecia há muito tempo.
Ele suspirou ao sair do seu mundinho de ideias. Olhou para o seu pulso e usou a claridade de outro relâmpago para ver em seu relógio que já passava das duas da manhã. Com certeza eles logo estariam ali.
***
O ar parecia denso demais para respirar. Seus olhos lacrimejavam. Seu corpo ardia, mas não era de qualquer fogo e sim do fogo da vingança. Ao longe ela pode ouvir o triste suspiro – O último – de seus queridos pais. O choro de um bebê ecoou em sua mente. Ela se aproximou de um berço destruído pelo tempo.
– Parece que os cupins tiveram um belo banquete – Pensou ao notar a madeira já podre.
Seus olhos se voltaram para o quarto mofado em que se encontrava. Selena não sabia como estava lá, mas parecia insuportável que qualquer criatura pudesse viver ali. As paredes nuas cobertas de mofo faziam o lugar frio e vazio. A única coisa no pequeno cômodo era o berço.
Aquele choro já estava ficando insuportável. Uma criança tão pequena não poderia gritar tanto. Ela se inclinou sobre o berço para ver melhor a pequena criatura. Havia um emaranhado de panos puídos ao redor do pequeno ser. Ele estava completamente coberto. Selena estendeu sua mão para tirá-lo do berço, mas assim que fez isso o bebê se transformou em uma criatura negra de garras afiadas que penetraram em seu braço. A garota sentiu uma dor terrível e deu um berro ao fitar os monstruosos olhos sangrentos.
Suada e tonta, acordou do seu pesadelo. Não tinha noção de onde estava, mas já podia imaginar. Afastou os lençóis brancos e a pesada coberta bege com os pés, a cama parecia grande demais e o quarto era extremamente frio e escuro. A lareira estava apagada e apenas o abajur iluminava uma parte muito pequena do cômodo. Talvez tivesse mais alguém dormindo naquele mesmo quarto, era grande demais só para ela, mas não dava para ouvir o som de outra respiração, a única coisa que Selena ouvia vinha de longe e eram passos.
Rapidamente a garota se aninhou na cama e se cobriu. Ficou em silêncio conforme os passos se aproximavam. Logo, percebeu que era mais de uma pessoa no corredor.
– Você não tem autorização para permanecer aqui agente Agatha. – Ecoou a voz do inquisitor, que Selena conhecia como Dylan. Ele era o mais severo e estúpido de todos.
Eles se aproximaram da porta do quarto. – Não me dê ordens Dylan. Eu não me importo com o que o governador diz. Vou ficar aqui para cuidar dela.
– Se fosse qualquer outro tipo de caso eu permitiria, mas nem você tem controle sobre “a coisa”.
– Cale essa porcaria que você chama de boca e vá mandar os idiotas do grupo “E” cuidarem do garoto da ala 30. Se não derem um jeito no menino ele vai eletrocutar todos os outros.
Houve um momento de hesitação e logo em seguida Dylan deu a ordem. – Mandem aqueles estúpidos injetarem um calmante naquele garoto. A última coisa que eu quero é que esses monstros destruam tudo. E dê um jeito de mandar a diretora acalmar a histérica da ala 10. Se não todos ficarão surdos.
– Sim, senhor! – Falaram em coro e saíram.
– Aquela garota vai ser um grande problema, não dá para chegar perto com aquele grito horrível. – Ele soltou um muxoxo de pura insatisfação.
– Vocês são hipócritas – Sibilou ela – Chamam de monstros os herdeiros e utilizam seus poderes para o seu bel prazer.
Ele riu sarcástico. – Isso só para acabar com a ameaça constante de criaturas como você.
Houve um silêncio mortal e alguns instantes depois Selena ouviu o tiro.
Dylan ralhou com palavrões. – Sua desgraçada!
Ela riu. – Cuide com suas palavras Dylan. Você tem tanto medo dos herdeiros que esquece que há uma bem ao seu lado.
– Miserável! Deveria agradecer por não ser extinta. Aberração!
– Cale a boca seu inseto! – Atirou mais uma vez e neste o alvo foi certeiro. – Se há alguém que corre o risco de ser extinto é você e o maldito que matou minha irmã.
Ele deu um gemido. – Nem você vai conseguir pegá-lo. Ciaran é tão escorregadio que as chances de capturá-lo são nulas.
– Como tem tanta certeza?
Mais uma vez ele ficou em silêncio.
– Não estou para brincadeira. – Agatha falou entre dentes.
Ele riu fraco. – Não sei agente, - desdenhou - Apenas conheço o caso dele há muito tempo. Se existe alguém que mata com facilidade e foge mais rápido ainda é o Ciaran.
– Você chama qualquer herdeiro de monstro, mas esse Ciaran não, por que Dylan?
– Apenas me sinto bem com o fato que ele mata a própria espécie. – Disse com ar de satisfação.
– O que é muito estranho. – Comentou desconfiada.
Dylan sorriu, ainda segurando o ferimento na coxa. – Aproveite o seu tempo com o monstrinho, não vai ter muito tempo. Se tivermos sorte Ciaran vem terminar o serviço. Acredito que ela não seja imune a veneno. – Ele deu uma gargalhada.
Selena ouviu a risada do inquisitor se afastar aos poucos e logo em seguida a porta se abriu.
– Levante-se rápido!
Abriu os olhos.
– Sei que estava ouvindo – Continuou sua tia – Não tenho muito tempo, logo eles estarão aqui.
A garota saiu da cama ainda tonta. – Quem?
– Os inquisitores, Dylan não vai perder muito tempo para trazer o governador.
– Por quê? Eu tenho tantas perguntas. Quem é Ciaran e por que matou meus pais?
Agatha olhou com doçura. – Minha querida, eu também não sei. Não tenho todas as respostas ainda, mas você tem que ficar aqui em Sweet Amoris. É o único jeito.
– Eu não vou aguentar esse lugar. Você sabe o que eles fazem aqui?
– Claro que sei! – Ela comprimiu os lábios – Você não pode compreender ainda, mas tem que fazer o que eu peço. Prometa-me.
A garota desviou o olhar e sussurrou a contragosto – Prometo.
– Então preste atenção em tudo que eu vou te falar.
Ela assentiu.
– Esse lugar tem escutas por todos os lados, mas eu cuidei para que alguns lugares não sejam vigiados.
– Como fez isso?
– Apenas escute. – Disse séria – Há alguém aqui que está infiltrado, essa pessoa pode conseguir informações importantes e acessar dados que bloqueiam a escuta do governo.
– Quem é essa pessoa?
– Meu Deus Selena! Apenas ouça. Isso não é brincadeira. Você não vai encontrar essa pessoa ainda, mas não se preocupe. O importante é que fique aqui e não cause problemas. Cuide-se bem, não sabemos o que esse Ciaran quer, mas tenho grandes motivos para desconfiar até mesmo do Dylan. Quero que você fique atenta a todos os alunos. Tem gente aqui que não é de confiança.
– Ninguém é. – Disse ríspida.
Agatha suspirou. – Eles vão tentar me matar agora que você está aqui. Eles pensam que a tem sob controle e você deve fazê-los acreditar nisso. Eu terei que sumir por um tempo, mas logo receberá noticias minhas. Enquanto isso eu deixo com você um baú onde está tudo o que precisará. Poderá encontrá-lo na torre, debaixo da terceira tábua do piso; Da esquerda para a direita. E isso – Ela colocou um anel de ouro branco e diamantes nas mãos de Selena – Deve usá-lo sempre e não importa o que aconteça não o tire.
– Eu não... – Começou a garota, mas foi interrompida pelo som de passos não muito longe.
– Depressa! Finja que está dormindo.
Selena rapidamente se cobriu e fechou os olhos. Não levou muito tempo e Agatha saiu do quarto.
– Governador – Cumprimentou ela.
– Agente Agatha, temos que conversar. Acompanhe-me até o escritório da diretora.
– Sim senhor!
Os passos e as vozes se afastaram rapidamente e Selena teve a certeza que eles tentariam matar sua tia naquela mesma hora.
***
O dia amanheceu nublado. A maioria ainda dormia em sweet amoris. Era de se esperar devido à noite turbulenta e os calmantes injetados nos herdeiros. Mas essa “calmaria” não duraria muito.
Nathaniel já estava acordado escrevendo novas informações nas pastas dos recém-chegados. Seria um dia terrível para todos. A presença dos novos herdeiros significava uma nova sessão torturadora.
O loiro estendeu a mão violentamente e lançou um jato de água na lareira. – Que raiva! – Resmungou para si.
Ele odiava não poder fazer nada para mudar sweet amoris e o preconceito que havia, ainda mais com pessoas como Dimitry.
Alguém estalou a língua rapidamente em reprovação. – Nathaniel – cantarolou.
O loiro olhou ao redor, mas não havia nada, apenas a voz que continuava.
– Você não devia estar assim... “Representante”– Desdenhou.
Ele respirou fundo para se acalmar. – Você não devia estar aqui... Peggy.
Mais uns segundos se passaram e uma garota clara de olhos azuis escuros apareceu. Ela franziu as sobrancelhas ao olhar Nathaniel – Não tem graça ser invisível se a minha voz me entrega quando falo.
Ele colocou a mão na testa, irritado. – Então seria melhor não falar ou espreitar por aí.
– Hump! E como você acha que eu conseguiria surpreender aqueles que têm coisas a esconder?
– Você é uma intrometida mesmo – Disse ríspido.
A garota deu de ombros – Apenas mostro ao mundo o que deve ser informado.
O loiro bufou. Ele sabia que não adiantava discutir com Peggy. Afinal essa era ela. A garota de sardas, cabelo roxo, curto e ondulado. Que vestia um vestido verde e sempre andava às escondidas – com um gravador – Procurando quem entregar primeiro.
– Afinal – Resmungou o garoto – O que faz aqui? Esse lugar é só para pessoal autorizado.
– Ou para quem consegue entrar sem ser pego – Disse orgulhosa.
– Pois brinque desse jeito. – Ironizou ele – Até a hora que Dimitry descobrir. O que não é nada difícil.
A garota sentiu um arrepio involuntário na espinha. – Não se preocupe que eu sei proteger minha mente – Disse mal humorada.
– Pois bem. Agora vai me dizer o que quer ou vou ter que te expulsar?
Ela sorriu e se sentou em cima da mesa de carvalho. Nathaniel franziu o cenho mais uma vez e Peggy continuou – Gostaria de dar uma olhada na ficha da nova aluna. Ela é do meu interesse para um Novo artigo.
Nathaniel olhou incrédulo. – Você veio aqui para me pedir isso?
Ela revirou os olhos – Para dar em cima de você é que não é.
Ele lançou um jato de água nela – Saia daqui e não venha mais atrás da ficha. Você não sabe no que está se metendo.
A garota arregalou os olhos –encharcada – e em seguida ficou vermelha de raiva.
– Você me paga por isso Nathaniel!
O garoto deu de ombros. – Faça o que quiser.
Ela se encaminhou para a porta. – Eu vou me vingar de você. Grave bem isso. – Disse antes de fechar a porta com força.
O loiro não perdeu tempo em pegar a ficha dos novos alunos e trancar no cofre – Ele sabia que Peggy poderia entrar ali, mas ela não iria conseguir pegar aquelas informações.
***
O silêncio em sweet amoris foi mantido até às 07h00min da manhã, quando então o alarme ecoou. – Em cada quarto e cômodo.
Selena não havia dormido, mas sem dúvida aquilo a havia assustado.
– Bela maneira de acordar – Disse para si mesma com ironia.
– Vamos lá pessoal! – Gritava no corredor alguém que ela não conhecia. – Vocês têm dez minutos para estarem arrumados no corredor, então se apressem!
Ela saiu da cama apressada. Sabia que não podia chamar atenção naquele lugar e teria que fingir ser uma boa garota, pelo menos até descobrir mais coisas sobre sua tia e o monstro de olhos sangrentos.
– Ala 20, vocês só tem dez minutos, minhas queridas, vamos!
Selena percebeu que a voz no corredor era masculina, mas extremamente melosa. Estava curiosa para ver que tipo de pessoa era.
Ignorando seus pensamentos deu uma rápida olhada no quarto. Não havia ninguém lá. Estranho um quarto daquele tamanho ser apenas para ela, mas fazia um pouco de sentido, pois uma companheira de quarto poderia criar laços fortes e a última coisa que o governo iria querer era isso, o risco que corriam já era grande demais.
Caminhou pelo frio piso cinza platinado – O tapete de veludo estava apenas perto da cama. A lareira a lenha em mármore negro estava localizada há alguns metros do lado direito. As paredes tinham tons beges como a maior parte da roupa de cama.
A garota se aproximou da janela, era grande e com grades, representava perfeitamente uma prisão, soltou As cortinas cinza escuro e percebeu como eram pesadas.
Suspirou com pesar, não havia muito tempo para se arrumar e precisava enfrentar sua nova realidade. Inconformada ela foi diretamente para a porta que estava entreaberta, ali supos ser o banheiro.
***
Boris corria de um lado ao outro do corredor. Estava animado de ser o representante da ala 20 – Só havia meninas.
As garotas saíam muito lentamente. As novatas eram as que mais demoravam, no entanto, uma em especial foi rápida e Boris sabia quem ela era.
Selena se colocou em seu lugar na fila. Estava vestida com uma blusa roxa de ombro caído, calça jeans preta com duas correntes pratas penduradas e tênis cinza claro.
Boris deu um sorriso brilhante e se aproximou. - Senhorita Blyer suponho. - Ele era alto e musculoso, parecia o tipo de conquistador barato, mas seus olhos eram gentis.
A garota assentiu forçando um sorriso.Aquele não podia ser um inquisitor, era amigavel demais.
– Me chamo Boris Scald, sou um dos monitores. É um prazer. -Ele se inclinou e estendeu a mão fazendo com. que aparecesse uma rosa.
Selena olhou com um misto de curiosidade e espanto. -O senhor é um herdeiro?
– Sim, como todos os alunos daqui.
A garota segurou uma risada irônica. Era hipocrisia demais chamar Sweet Amoris de escola e os herdeiros de alunos.
– Interessante. - Comentou. Parecia estranho que alguém como ele fosse um monitor, na verdade tudo que ela sabia sobre aquele lugar era estranho.
Ele observou a garota pensativa com curiosidade, mas decidiu deixar as perguntas para outro momento.
– Bem, minhas queridas. Já se esgotou o nosso tempo. Vou fazer uma rápida contagem para ver se tod...
–Desculpe Sr. Boris. - Disse uma garota que saiu do quarto 12. - Sabe como é... Todo dia tenho uma guerra com meu cabelo. Não é fácil ser mulher!
Selena ficou admirada com a menina. Ela tinha uma pele clara e lisa. Seus olhos estavam perfeitamente maquiados com delineador. Mas, o mais belo era seu cabelo. Extremamente liso e brilhante, de uma cor pérola. Era tão comprido que quase chegava ao chão.
– Tudo bem Rosalya, junte-se a nós. A propósito, está perfeita como sempre, minha querida.
Ela sorriu. - Gentileza sua.
– Vamos voltar à contagem... hum...dezessete,dezoito,dezenove...Onde está a de número vinte?
Ele olhou em sua prancheta por alguns segundos. - Onde esta a senhorita Ambre?
Todos ficaram mudos olhando de um lado ao outro.
Selena observou que havia apenas uma garota que não parecia se importar com toda a cena, ela estava mais interessada em lixar as unhas perfeitamente douradas.
Seu rosto era sério, mas bonito. Seu cabelo loiro escuro estava preso em um rabo de cavalo. Até mesmo sua roupa - Um colete verde por cima de uma blusa marrom, saia de babados, meia bege e salto marrom - Faziam dela uma mistura intelectual e o piercing nas sobrancelhas contrastava dando um toque de rebeldia.
Percebendo que estava sendo observada a garota encarou desafiadora. Selena ia esboçar um sorriso,mas a outra virou o rosto antes.
Boris já se desesperava ao olhar para o relógio.
– Senhorita Ambre, saia! Já estamos atrasados.
Só depois de muito insistir uma garota loira saiu. - Que diabos acontece para me encherem o saco desse jeito?
– Está atrasada. - Resmungou o monitor.
A loira sorriu com puro sarcasmo e jogou os cachos para trás. - Quem disse que eu tenho que me apressar?
– Ordens da direção. - O humor do monitor começou a mudar.
– Pois saiba - Disse com ar de superioridade - Que eu sou a irmã do representante, ou seja, lá do que vocês o chamam.
– Você não é nada parecida com Nathaniel. - Retrucou Boris com indiferença - De qualquer maneira regras são regras e se você não obedecê-las vai ser severamente punida.
Ambre olhou desafiadoramente. - E eu posso saber quem é que vai me punir?
Boris deu um passo à frente e estendeu a mão. As garotas deram gritinhos com medo do que estava por vir e então como num passe de mágica surgiu um grande pôster flutuando na palma da mão dele.
Todas caíram na gargalhada ao ver a foto. Boris ficou com um olhar pervertido ao observar a imagem de Ambre numa fantasia de mulher maravilha.
A garota ficou vermelha de raiva e cobriu seu corpo com uma armadura de diamante. Foi uma visão incrível para todos. Seu corpo do pescoço até os pés estava repleto de inúmeros diamantes coloridos e extremamente afiados. Ela estendeu a mão na direção de Boris e lançou lascas mortais do poderoso metal. Os objetos voaram diretamente em direção ao peito do monitor e antes de pensar em qualquer coisa Selena se colocou na frente criando uma poderosa lufada de ar que repeliu as armas de volta à Ambre. Os objetos voltaram com a mesma rapidez e bateram na armadura da garota tornando-se meros cacos destruídos.
Todos ficaram sem palavras por vários momentos. Até que Boris se recompôs ao dizer. - Vamos garotas. Principalmente você senhorita Ambre. -Ele lançou um olhar ressentido a ela.
A loira comprimiu os Lábios carregados de gloss e caminhou rapidamente para o início da fila, batendo com força no ombro de Selena e lançando-lhe um olhar fulminante.
– Ótimo - Pensou com ironia.
Afinal, chamar atenção era o que menos queria.
***
O caminho que percorriam era composto por corredores iluminados apenas por algumas janelas gradeadas. Sweet amoris era dividida em alas. A 10 e 20 ficava nos corredores à esquerda do hall de entrada e era habitada em sua maioria pelas novatas, mas também havia outros alunos que estavam ali há muito tempo.
Do lado direito ao hall ficavam as alas 30 e 40. Os quartos eram individuais e tinham o mesmo modelo em todas as alas.
Em frente ao hall ficava o pátio central que dava acesso ao segundo andar, sendo que naquele bloco havia três andares com 100 alas e no último só havia as alas 90 e 100 para os alunos mais exemplares, ou seja, os que eram menos perigosos para o governo.
Ao lado esquerdo do pátio ficava a sala do grêmio e do lado direito - onde mais havia inquisitores - Se encontrava o comando de tudo, ou como chamavam a "direção".
Os alunos foram levados até o pátio central. Lá estavam presentes todos os herdeiros de Sweet Amoris. Não passavam de setenta, um número extremamente baixo levando em consideração que eles vinham do mundo inteiro, mas isso era bom para a população em geral, no entanto, o que preocupava eram os rebeldes que não estavam na ilha e consequentemente não estavam debaixo da autoridade do governo.
– Atenção todos os alunos - Falou uma senhora idosa de óculos - É um grande prazer ter todos vocês em Sweet Amoris, para aqueles que ainda não me conhecem eu sou a diretora e estou à disposição para ajudar. - Ela deu um sorriso forçado. - Gostaria de apresentar-lhes também o nosso supervisor mestre, o senhor Dimitry.
Um homem alto entrou no local. Assim que ele apareceu a maioria dos alunos segurou a respiração. Ele tinha cabelos escuros e longos, seu rosto era jovem, mas nem um pouco gentil. Selena sentiu o coração disparar ao mirar os sanguinários olhos escarlates.
– O senhor Dimitry está ocasionalmente em Sweet Amoris e pode...
– Deixe a ladainha para outra hora diretora, eu não tenho todo o tempo do mundo para ficar aqui.
A senhora arregalou os olhos surpresa, mas o supervisor apenas continuou sério ao dizer - Vamos começar nossa sessão.
– Diretora! - Falou um rapaz loiro dando alguns passos a frente - Acredito... - Ele tentou procurar as palavras.
– Diga logo Nathaniel!
Ele ficou levemente corado - Acredito que... Quero dizer, a senhora acha realmente necessário que...
– Sim Nathaniel - Disse ao se aproximar e tocá-lo no ombro - E você também acha isso.
O rapaz ficou de olhos vazios e apenas balançou a cabeça em concordância.
– Bom garoto - Falou ela.
Selena comprimiu os lábios e cerrou o punho, sabia que aquele lugar era assustador, mas não imaginava que era tanto.
– O que acabou de acontecer ali? - Perguntou a ruiva ao seu lado.
– A diretora é uma herdeira também. - Respondeu, ainda tentando controlar o ódio.
A ruiva abriu a boca surpreendida - E-eu não entendo.
– Não é difícil entender, existem muitos de nós que são escravos do governo.
– Você acha que ela esta sendo controlada?- Cobriu a boca com horror.
– Não. Ela é quem manipula os outros, como fez com o garoto loiro. E se quer a minha opinião, a diretora faz tudo isso por conta própria, eu vejo o prazer em seus olhos ao ver as coisas acontecerem assim neste lugar.
Alguns minutos de silêncio se passaram e a garota ruiva continuou pálida.
– Bem, então. - Disse a diretora - Vamos começar com as alas...
– Eu vou escolher. - Disse Dimitry - Parece que temos muitos alunos "especiais" - Ele fechou os olhos lentamente deixando um silêncio mortal pairar.
Assim que fez isso alguns alunos mais jovens caíram no chão gritando. Dimitry abriu novamente os olhos e estendeu a mão na direção dos garotos fazendo com que eles fossem jogados do outro lado do pátio. - Leve-os daqui diretora, eles não têm nada para mim.
A senhora apenas assentiu fazendo sinal para um grupo de inquisitores. Eles saíram arrastando os alunos enquanto Dimitry fechava seus sangrentos olhos novamente.
A próxima vítima foi o loiro que já havia se recuperado da manipulação da diretora. Ele segurou a cabeça com as duas mãos enquanto gritava de joelhos no chão.
Dimitry deu um sorriso prazeroso - Parece que você está se comportando direito Nathaniel, mas sua amiga Peggy...
Na mesma hora a garota de sardas rolou no chão gritando em desespero. Ela segurava a cabeça enquanto seu corpo inteiro tremia.
Os demais alunos assistiam toda a cena parados, ninguém ousava se mexer. Alguns até desmaiaram como a ruiva do lado de Selena e uma garota de cabelos violeta.
Ela já não aguentava mais ver tudo aquilo. Até mesmo alguns monitores como Boris não suportaram e saíram da sala.
Dimitry demonstrava grande prazer, principalmente quando alguns resistiam. Foram muitos alunos até chegar a vez de Selena, mas assim que o supervisor chegou nela o mundo inteiro pareceu girar.
– Ah! Enfim encontrei você - Disse ao se aproximar da garota. - O que foi Selena?
A garota foi ao chão sentindo uma grande pontada na cabeça, tudo parecia estar muito longe dela, apenas a dor a perseguia.
– O que foi querida? - Ele abriu os olhos e a jogou em cima de um garoto de óculos. O menino tentou segurá-la, mas não aguentou e foi ao chão.
– Que romântico - Desdenhou ele - Parece que você não é tão forte assim, não é Ken?
O garoto de óculos abriu a boca para falar, mas foi jogado contra a parede por Dimitry. - Levem esse imbecil daqui. Antes que eu o mate!
Selena forçou sua mente para organizar os pensamentos. Podia e tinha a capacidade de bloquear aquele canalha porque sabia do que ele era capaz.
– Isso - Desafiou ele - Mostre-me tudo o que tem - Abaixou-se perto dela numa fração de segundos e colocou suas mãos em volta da cabeça da garota. - Quero ver se consegue proteger o que está na sua mente.
Ela gritou novamente ao rever o corpo de seus pais e os olhos de sangue. - Não!
Uma gargalhada sinistra ecoou - Você tem medo de mim Selena? Tem medo dos meus olhos?
– Não! - Gritou a garota apertando os olhos. - Saia da minha cabeça!
No mesmo instante Dimitry foi lançado contra a parede. Todos ficaram surpresos com a cena e olharam Selena que respirava com dificuldade. O esforço parecia insuportável, mas ela precisava resistir.
Uma gargalhada sinistra ecoou. - Isso! Mostre-me mais da sua força, quero ver se consegue proteger a sua tia. - Se aproximou novamente. - Vou lhe mostrar algumas de minhas lembranças também.
Ela gritava em desespero com a dor que a corroia, tentou formar barreiras em suas memórias para proteger Agatha, mas Dimitry forçou todas elas e era forte demais, não seria possível impedi-lo de avançar, no entanto o anel de diamantes que ganhou soltou um brilho quando as paredes das suas lembranças foram forçadas e uma onda de choque percorreu o supervisor o obrigando a dar alguns passos para trás.
– Vamos, mostre onde está Agatha - Gritou enraivecido.
Novamente os ataques foram em vão. Ele sorriu desdenhosamente - Se acha que é mais forte então veja isso.
A mente da garota foi invadida. Dimitry estava um pouco mais jovem e Agatha também, tinha cabelos mais curtos e sua tia parecia mais deslumbrante ainda na juventude, estavam no mesmo pátio em Sweet Amoris. Selena tentou afastar as memórias do supervisor,mas não conseguiu.
Agatha tremia no chão aos berros enquanto Dimitry a torturava, seus olhos estavam abertos e dessa vez ele parecia se divertir de uma maneira ainda mais monstruosa. Sua tia era jogada em diversas direções e o supervisor não parava de tortura-la mesmo com o sangue que escorria por todos os lados.
Selena voltou a realidade enquanto Dimitry sorria. - Eu posso mostrar mais no futuro, por hoje você me divertiu o suficiente. - Saiu de perto da garota que estava quase inconsciente. Nathaniel se aproximou dela e tentou ajudá-la.
Dimitry foi à direção de Ambre, a garota dos diamantes.
A loira cobriu seu corpo com diamantes negros dessa vez. - Seu truque não vai funcionar comigo. - Desafiou.
– Sei que possui bloqueio mental gracinha, mas isso não me impede de machucá-la. - Ele atirou a garota no teto e fez com que os diamantes em seu corpo se partissem. A loira voltou ao chão no seu corpo normal inconsciente e com cortes profundos.
– Odeio quando vocês não resistem - Comentou indignado. - Por hoje chega. Vocês foram diversão suficiente. E não se esqueçam de avisar o Castiel para vir na próxima sessão também, eu tenho mais um presentinho para ele. - Com isso saiu da sala.