Jóia Rara

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    18
    Capítulos:

    Capítulo 7

    Um Baile Para Hinata

    Álcool, Hentai, Linguagem Imprópria, Sexo, Suicídio, Violência

    Oiii, meus queridos e queridas! Como foi o Natal de vocês? Estava com saudade de ter tempo para escrever, postar e responder. Essa época de festas é complicado, né? Mas sempre que podia eu escrevia um pouquinho do capítulo sete. Quero dizer que estou tão feliz por todo o carinho que eu e JR estamos recebendo! É um imenso prazer estar fazendo bem à todos vocês e poder entretê-los e compartilhar algo que para mim é tão importante, não tem preço! Muito obrigada por isso, minna! Bom, hoje o capítulo é um pouquinho diferente, mas ele irá relevar algumas coisinhas importantes. Talvez alguns de vocês fiquem confusos, mas logo logo tudo se completará. O passado da Hina é uma grande teia e ainda tem muita coisa para se revelar até mesmo para ela própria. Hoje também temos trilha sonora! São duas músicas, a primeira é Gehenna, do Slipknot e a segunda é Boom Clap, da Charli XCX. Deixem-me explicar, a primeira música é um tanto quanto longa e talvez nem todos vocês queiram escutá-la até o fim, porque Slipknot é um gosto meio singular (risos), mas eu achei que encaixou direito na cena e gostaria que vocês dessem o play! A segunda música, é o contrário, curta demais! kkkkkkk então sugiro que apertem o play nela mais de uma vez para poder se empolgar durante toda a cena. Os links estão lá embaixo! Enfim, espero que gostem, boa leitura e nos vemos nas notas finais! :)

    Hinata

         Segunda-feira outra vez. Uma nova semana iniciava naquele amanhecer, trazendo-me memórias avassaladoras dos dias antecessores. Dias esses que transformaram minha visão de mundo para outra antes totalmente desconhecida. Descobrir que nem todas as pessoas são ruins e que existe amor fraternal além dos braços calorosos de Akemi, estava me fazendo repensar sobre qual rumo tomar para minha vida. O que minha mãe pensaria dessa relação? Não sabia, mas algo me dizia que ela ficaria feliz. E na verdade, todas aquelas emoções vividas nos últimos dias vinham crescendo dentro de mim tal como uma árvore bem enraizada, cujas flores pareciam florescer cada vez mais próximas do que chamamos de felicidade. Porém, apesar dessas novas afirmações, não sabia o que fazer. O que tinha agora diferia de tudo o que vivi em toda a minha existência e cultivar isso não me parecia cabível. Ainda mais na situação atual. 

       Suspirei pesadamente. 

       No fundo, eu acreditava que me permitir estar aberta aos novos prazeres descobertos era como fugir do destino. Desobedecer ao carma. Esquecer o passado e, consequentemente, as memórias de Akemi. Como eu poderia mudar tanto assim? Jamais esqueceria toda a trajetória que percorri e, sendo assim, jamais seguiria em frente. Porque não era só o medo que me congelava neste estado deplorável. Havia também a culpa. A tão grande e pesada culpa que me arrastava para a cruel realidade de que eu não tinha mais o apoio de sempre. Akemi se fora e levara consigo a única pessoinha que eu poderia amar como ela. E eu não fiz nada. 

       A culpa podia ser arrebatadora - e era -, fato que determinou enfim todo o restante de minha jornada. Não era o peso de um simples erro que eu carregava nas costas; era o peso de duas vidas. E o fardo era demasiado para meus ombros frágeis, tal como minha alma obsoleta. 

       Vendo-me sem opções, mas também necessitada em fazê-lo, levantei para me ajeitar. Logo deveria partir para o colégio e Hiashi detestava atrasos. Não demorava para ficar pronta, pois não usava nenhum tipo de maquiagem e dificilmente prendia os cabelos. Assim que terminei, desci para o andar de baixo e mais uma vez esperei na sala de entrada. Os murmúrios que viam da cozinha soavam poucas vezes e imaginei que o clima ainda estivesse tenso. O que ainda me intrigava muito. Durante o domingo, Hiashi passara o dia trancado em seu escritório e Mayumi não parava de me encarar. Havia recebido uma única ordem, que também foram as únicas palavras direcionadas à mim. O patriarca entrara pela manhã no meu quarto, por volta das nove horas da manhã, e olhou-me com o olhar mais autoritário que já havia visto. Os lábios retraídos, uma carranca formada no rosto e uma aura totalmente nervosa. "Não quero que você fique fora o dia todo outra vez, Hinata. Não é um pedido. Ninguém vai pisar fora dessa mansão neste domingo, estamos entendidos?", foi o que ele disse, de um jeito tão sério que me contive e assenti. 

       A explicação de Naruto sobre a suposta rivalidade entre Sasaki e Uzumaki tirava as dúvidas de que Hiashi não estava gostando nada de nossa amizade. Mas ainda havia o principal ponto não descoberto: o porquê. Visivelmente, aquela família tirava "meu papai" do sério. Suspirei. Era outra situação que desafiava meus conhecimentos. Nunca era ordenada à algo, desafiada, ou coisas do tipo. Em se tratando de relacionamento familiar, Akemi e eu éramos parceiras. Não estávamos sempre em entendimento, mas não era uma relação imposta e regrada. Apenas vivíamos uma pela outra naquele mundo que ela tão meticulosamente criara para mim. 

    - Hinata? - chamou Aiko, surpreendendo-me e me tirando dos devaneios. Virei para trás. Ela estava timidamente apoiada à porta do cômodo. Parecia triste e preocupada.

    - Diga. - murmurei.

    - Não vai comer nada antes de ir para o colégio? - ela perguntou, mas era nítido que estava sendo evasiva.

    - Iie.* Me falta o apepite nessa hora. - respondi. Ela assentiu, mais para si do que pra mim.

    - Hiashi está vindo. - comunicou, ainda desviando de seu objetivo. 

      Suspirei. A mulher parecia abalada e, repentinamente, senti compaixão.

    - Aiko-san. - chamei, vendo-a levantar o rosto na minha direção. - Diga logo o que te aflige. 

      A expressão de surpresa dela quase me fez sorrir. Eu deveria parecer mesmo uma pessoa muito ruim.

    - N-Nada, Hinata. - desviou, tanto os olhos como o assunto. - Apenas tive uma noite mal dormida.

      Resolvi deixar de lado. Havia lhe dado a oportunidade de falar e Aiko era uma mulher, afinal, sabia muito bem o que fazia e se não quis me dizer, o problema se limitava à ela própria. Logo seu marido apareceu atrás dela, lançando-me o mesmo olhar sério do dia anterior, com sua filha caçula em seus calcanhares. Sem proferir uma palavra, nós três embarcamos em direção ao colégio. A viagem fora igualmente silenciosa e quando Hiashi estacionou, Mayumi saiu do veículo até mesmo antes de mim. A garotinha parecia nervosa, se com o pai ou comigo, não sabia dizer. Talvez com ambos. Ou talvez com suas próprias futilidades. Tive a intenção de sair ligeiro dali também, mas o patriarca deu um suspiro pesado e tocou meu braço, fazendo-me estagnar com uma das pernas já para fora.

    - Hinata - chamou, sério e de forma estranha. Olhei para o cenho franzido dele e, de repente, senti-me da mesma forma. Não o conhecia em nada e, parando para pensar, não havia aberto nenhuma brecha para que ele entrasse em minha vida. Hiashi não parecia se importar muito em ter conversas ou aparentar sentimentos. Mas havia algo nele, na forma como parecia sempre cheio de problemas, que transparecia uma frustração antiga e dolorosa. E, aparentemente, ele só demonstrava isso perto de mim. - Precisamos conversar mais tarde. Por favor, esteja em casa.

       Franzi a testa, preocupada com o rumo da conversa.

    - Conversar sobre o quê, exatamente? - interroguei. 

    - Assuntos de negócios. - Hiashi respondeu simplesmente. Surpreendi-me com a formalidade daquilo. 

    - Negócios? - ecoei.

    - Hai. - disse e suspirou outra vez - Você é a mais velha e deve aprender como liderar uma empresa. 

      Arregalei os olhos, incrédula de que ele estivesse realmente cogitando me tornar herdeira do patrimônio Sasaki.

    - M-Mas... eu não... - murmurei, sem saber como me expressar. Respirei fundo, buscando as palavras. - Não sou a pessoa adequada para isso, senhor. 

      A formalidade também o surpreendeu, aparentemente. Obtive seu olhar por um instante, mas ele logo desviou.

    - Por que você acha isso? - perguntou de repente. Pigarreei.

    - Porque... eu não estou pronta. E também não é do meu desejo. Se me permite o uso desses termos, não tenho interesse em formar uma família com o senhor, sua esposa e filha. Agradeço pela hospitalidade e por estar me dando a oportunidade de seguir em frente, mas não acredito que os Sasaki seja o lugar certo para mim. - admiti, vendo-o olhar-me fixamente. A expressão dele me fez ficar com medo do que poderia vir adiante. Seu olhar se solidificou sobre mim, como se estivesse petrificado por minhas palavras gélidas e extremamente formais. Era mais claro do que minhas íris que todo aquele teatro de família feliz não era real.

    - Hinata! Mas que tolice, você é uma Sasaki agora. Não nos desdenhe, aceite-nos como aceitamos à ti. Agora esqueça essas coisas erradas e vá para sua aula. - ele disse, surpreendendo-me totalmente. 

    Sem conseguir dizer nada em resposta, saí do carro e andei até o grande portão. Mas o que fora aquilo? De repente Hiashi tornara-se todo sentimental, como se na verdade ele tivesse medo do que minhas palavras pudessem significar. Não seria possível que ele me amasse, seria? Não, definitivamente. Se ele achava que eu não era filha dele, como poderia nutrir por mim um sentimento tão nobre assim? Não fazia sentido. E, por falar nisso, este assunto ainda era um mistério para mim. Mayumi deixara claro que a falsa paternidade de Hiashi sobre mim não era um segredo naquela casa, no entanto, ninguém falara comigo após aquele incidente. As coisas só pareçam piorar, aliás. Mas como eu podia desvendar toda essa confusão sem interrogar diretamente ao patriarca? Se não fosse ele, as únicas pessoas que poderiam me explicar eram a tal de K e, talvez, Tsunade. Mas também não tinha certeza alguma de que a Senju estaria envolvida com a suposta sociedade secreta e muito menos se ela estaria do meu lado, caso fosse comprovado.

       Diante de tantas interrogações, não havia nada a fazer senão aguardar e tentar coletar o máximo de informação possível. Tinha vontade, tão grande que me enlouquecia, de descobrir do que se tratava a sociedade, por que ela existia, o que Hiashi pretendia, por que os Hyuuga eram os herdeiros do que quer que fosse o legado disso tudo e, principalmente, quem era essa pessoa a quem Akemi nomeava tão singelamente de "K"? Por que ela confiaria tudo à ela? E onde estaria agora?

       Suspirei, rendida àquele caos. Além de mim, somente Naruto sabia sobre essa confusão. Estaria ele tão abarrotado de perguntas quanto eu? Falando nele, o avistei assim que adentrei à nossa sala. 

    Sua cabeleira loura espalhada em sua mão, enquanto ele apoiava a cabeça no punho e ria discretamente de algo que seu grupo de amigos dizia. Me aproximei, depositando a mochila ao lado da cadeira que agora me pertencia graças à engenhosidade dele em me manter por perto. Ao me ver, endireitou-se e abriu um sorriso deslumbrante.

    - Baixinha! - exclamou alegremente. O pessoal todo olhou para mim.

    - Ohayo, minna. - murmurei, reverenciando com a cabeça de leve.

    - Yo, Hinata-san! - as meninas responderam em um coro assombrosamente harmônico. Reprimi minha surpresa e sorri com o canto da boca. 

      Sentei-me e o grupo retomou sua conversa agitada. Aliás, a sala toda parecia especialmente animada hoje. Mas não conseguia imaginar um motivo plausível, afinal, era uma segunda-feira. O que poderia ser tão animador? 

    - Ei, você não quis sair ontem? - perguntou Naruto. Ergui meus olhos para ele.

    - Não, na verdade eu queria, mas Hiashi não deixou. - respondi. O loiro surpreendeu-se.

    - Como assim, Hina?

      Suspirei.

    - Ele estava bravo com alguma coisa e prendeu todo mundo em casa o dia todo. - disse. 

      Bufou, balançando a cabeça.

    - Fala sério. - murmurou. Assenti, rindo baixo. - Mas isso foi ruim, poxa, eu senti sua falta. 

      Ergui os olhos outra vez, debochada.

    - Ah, Uzumaki, deixa de ser tão melodramático. - zombei. Ele revirou os olhos, sorrindo de canto.

    - Vai dizer que não sentiu a falta da minha ilustre presença? - desafiou com um ar de presunção exalando de si. As sobrancelhas loiras arqueadas, os olhos imensamente azuis brincalhões e os lábios repuxados, revelando uma fileira perfeita de dentes brancos. 

    - Não vai me obrigar a amaciar seu ego, loirinho. - brinquei, chamando-o da mesma forma como a garçonete fizera naquele dia. Naruto bufou outra vez. 

    - Você é espertinha demais nesse jogo para uma antissocial de carteirinha. - devolveu. Corei, encolhendo os ombros. Isso o fez rir e eu o acompanhei.

    - Gomen... mas você perdeu. - murmurei olhando para baixo. Sentia-me sem graça, mas ao mesmo tempo bem em estar ali. E aquilo era incrível, afinal, tão incrível quanto ele próprio. Meu novo amigo, responsável por todos os grandes passos que dei desde que acordei para esta nova vida. 

       O professor Gai entrou na sala outra vez e isso me fez lembrar do quanto esta segunda-feira diferia da primeira em que estive no colégio. Desta vez não havia nenhuma imagem me perturbando. E isso era curioso. De certa forma, depois que conheci Naruto, meus sonhos tornaram-se tranquilos e não vi mais Akemi sofrendo. Sempre que a via, ela sorria. Esta percepção me fez abrir o caderno com uma nova vontade: cultivar isso. Se estar bem me permitia sentir a memória de Akemi de forma feliz, então eu tentaria ao máximo manter.  

       Porque independente do que o carma poderia reservar para mim, a única coisa que eu juraria preservar intacta seria a pureza que o sorriso dela transmitia mesmo sob a pior das tempestades.

                                                                                    ***

    - Kawaii!! - gritou Ino de repente, arrancando-me dos devaneios em frente ao meu prato de comida. Estávamos no horário do almoço e eu estava me lembrando da conversa que tive com Hiashi. Pretendia contar à Naruto, mas não sabia se deveria. O exclamar alegre da loira fez todos olharem para ela, que segurava o celular de Tenten com os olhos brilhando. Sakura quase engasgara com o suco de maçã, assustando-se. 

    - O que foi, porca? - perguntou. 

    - Tenten acabou de me mostrar a roupa dela para amanhã! - exclamou Ino. A morena ao lado dela exibiu um sorriso glorioso. Sakura pulou sobre as duas, ávida para ver também.

    - Kawaii!! - gritou a rosada, como sua amiga anteriormente. Eu ri, achando aquilo engraçado. As duas pareciam sempre brincar uma com a outra, zombando de si mesmas, mas na verdade se pareciam em quase tudo. 

    - Essa é a fantasia de espadachim mais linda que eu já vi! - continou Ino, encantada. Espachim? Por que diabos ela usaria uma fantasia em plena terça-feira?

    - Espadachim! Rá! - zombou Kiba. - Só podia ser a Tenten. 

    - Eu achei a minha cara! - retrucou a morena de coques, estufando o peito ao dizer. Minha expressão confusa fez Naruto rir baixo ao meu lado.

    - Tenten é fissurada por armas. - explicou ao pé de meu ouvido. Arqueei as sobrancelhas, compreendendo a escolha da garota. Tive vontade de rir, mas se ela era mesmo fissurada em armas, não devia ser muito inteligente achar graça de suas razões. 

    - Sakura vai vestida de cupcake de cereja? - zombou Kiba outra vez. Ela lhe mostrou a língua.

    - Não, Inuzuka fedorento. Eu vou de enfermeira! - exclamou. Sasuke tossiu, olhando-a de olhos arregalados.

    - Devia ir com uma burca preta com um símbolo Uchiha gigantesco! - resmungou baixo. Sakura corou e todo o grupo caiu na risada.

    - Ah-rá! Sasuke não engana ninguém com essa fachada de "badboy indiferente"! - zombou Naruto. 

    - Cale a boca, dobe. Todo mundo sabe que você vai vestido de salsinha. - disse Sasuke. Naruto arqueou-se, parecendo ficar maior do que já era.

    - Baka! Eu não vou de salsinha coisa nenhuma! Espera... eu vou aonde, afinal? De que porra vocês estão falando? - ele exclamou confuso. Sasuke revirou os olhos e Kiba caiu na risada outra vez.

    - Dobe. - o moreno repetiu tediosamente. 

    - Você esqueceu! Seu Uzumaki idiota! - berrou Ino, parecendo realmente nervosa. Arregalei os olhos, temendo por meu amigo.

    - Esqueci o quê?! - Naruto perguntou, irritado. A loira respirou fundo, cruzando os braços. Mas foi de Sakura que partiu o ataque. A garota levantou o punho sobre a cabeça do Uzumaki e acertou um soco, erguendo-se sobre ele com os olhos fervendo. 

    - BAKA! - gritou. 

      Eu ri, sentindo um pouco de pena do menino. Aquela turma era um furacão, uma bagunça. Parecia que todos os tipos de loucos possíveis se reuniam ali, naquela única mesa. Mas apesar disso, eu gostava. Eram engraçados, exclusivos em suas manias, mas completavam-se de certa forma. Naruto não poderia ter amigos melhores. 

    - Ai, ai, ai, Sakura-chan! - ele choramingou, esfregando a mão onde apanhara. 

    - Como você esqueceu do primeiro baile do ano? - disse Sai, entrando no assunto pela primeira vez. Ele ergueu os olhos do mangá que lia e riu, caçoando. Algo pareceu iluminar-se dentro do Uzumaki e ele bateu na própria testa.

    - Esqueci completamente! - exclamou. Um uníssono de risadas soou. 

    - Como você vai achar uma fantasia agora? - perguntou Chouji. 

    - Ele vai de salsicha. - disse Sasuke, que recebeu um olhar mortal do amigo de infância. 

    - Eu vou é te matar e ir vestido com a porra da sua carcaça! - exaltou-se Naruto. Kiba ria tanto que seus olhos derramavam lágrimas.Tenten revirou os olhos para os meninos e, de repente, seu olhar pousou em mim. Ino e Sakura entraram em sintonia com a menina e então três pares de orbes distintas me encaravam.

    - E você, Hinata-san, já tem uma fantasia? - perguntou a rosada de modo gentil. Arregalei os olhos.

    - O quê? - disse, arrancando toda a atenção indesejada para mim. Encolhi os ombros, pensando sobre por que eu deveria ter uma fantasia.

    - Uma roupa para usar no baile. Qual vai ser a sua? - continuou Sakura. Encarei-a interrogativamente.

    - Iiiih, ela anda passando tempo demais com o Naruto. - Ino cochichou desgostosa. O loiro ao meu lado bufou.

    - Não enche, Ino. - resmungou.

    - Oh, meu Kami-sama. Você também esqueceu, não é? Não se preocupe, nós vamos te levar ao shopping depois da aula e tenho certeza que vamos encontrar algo lindo! - disse Tenten. As amigas a apoiaram de imediato, como se a simples menção da palavra "shopping" já fosse o suficiente para acender toda sua animação. Pigarrei, sentindo-me encurralada.

    - Eu... hmm... na verdade eu não vou ao baile, meninas. - respondi timidamente.

      Olhares de águia pousaram sobre mim como se fossem me devorar. Ino ergueu-se de pé e apoiou as mãos espalmadas na mesa.

    - MAS O QUÊ? - gritou. Assustada, encolhi-me no assento. Ponderei sobre fugir correndo dali, mas sabia que o Uzumaki não me deixaria sumir de sua vista. Talvez Sakura tenha notado algo estranho em minha reação, por isso puxou a amiga de volta e a olhou feio.

    - Ino! Quer calar essa matraca? - a rosada a atacou. Suspirei. - Gomen, Hinata-san! Mas como assim você não vai? É um rito de passagem, uma coisa natural e todos nós estaremos lá. 

    - Não gosta de bailes? - perguntou Tenten. Abaixei os olhos.

    - Nunca fui em um. - murmurei, quase como um sussurro.

    - MAS O QUÊ? - Ino repetiu a atitude. Dessa vez Sakura a puxou pelos cabelos.

    - Gomen, gomen. - desculpou-se a loira.

      De repente, a reação mais inesperada da mesa partiu de alguém que eu nem me lembrava de estar ali antes.

    - ISSO É TÃO EMOCIONANTE! VAMOS FAZER COM QUE SEJA O MELHOR PRIMEIRO BAILE DE TODOS! - gritou Rock Lee. Levantava um punho à frente dos olhos chorosos, posto em pé e inclinado sobre a mesa. As três amigas encararam o garoto boquiabertas. Naruto olhou para ele e deu um tapa no próprio rosto, parecendo entediado e envergonhado com todas aquelas conversas constrangedoras. 

    - Arigatou, minna, mas eu realmente não vou. - interrompi o show. Todos me olharam com expressões tristonhas e isso pesou mais do que uma montanha inteira sobre minhas costas.

       O Uzumaki resolveu se manifestar, imaginava que fosse interceder por mim, mas ele apenas passou o braço forte sobre meus ombros e deu seu sorriso de canto.

    - Ah, baixinha, qual vai ser a graça de ir nesse baile se você estará em casa sozinha, longe de todos nós? - disse como um gatinho manhoso. Aproximou o rosto e colou os lábios em meu ouvido. - Principalmente, longe de mim? - sussurrou. 

       Um arrepio desconhecido subiu por minha espinha. Os olhos azuis dele pairavam sobre os meus, cálidos e brincalhões, faziam-me nadar naquelas águas cristalinas que pareciam inundar tudo o que miravam. Vi-me induzida à aceitar toda aquela chantagem emocional, mas desviei-me de seu campo de visão direto e suspirei de cabeça baixa. O rubor tomou minhas bochechas, mas por sorte a franja teve êxito em disfarçar. Ouvi um pigarrear vindo de uma das meninas.

    - O loiro-cabeça-oca tem razão, Hinata! Vamos com a gente, vai? - disse Sakura. 

      Fechei os olhos, as lembranças tomando conta de minha mente sem que eu desse a permissão...

           *FLASHBACK*

          "- Okaasan! - gritava, correndo como louca até Akemi, que estava sentada na varanda. Eu tinha treze anos e toda a euforia da adolescência parecia ter tomado conta da escola. Não tinha amigos, era verdade, mas ainda assim, em meu íntimo, era uma jovenzinha como todos os outros. A mulher olhou para mim, tirando os olhos perolados do cachecol que costurava.

    - Hinata, querida, como foi a escola hoje? - perguntou com doçura. Parei de correr e apoiei as mãos nos joelhos, tendo dificuldade para sugar o ar.

    - Estava com tanta vontade de chegar em casa! - exclamei. Akemi riu baixinho. Sentei-me ao seu lado no balanço de varanda e olhei para o trabalho dela. Mamãe sempre tivera todos os tipos de dons domésticos e tentava me ensinar tudo o que podia, mas eu não era uma criança muito fácil de lidar. Em alguns dias, mesmo a presença dela me importunava. E essa era uma das coisas que mais me fazia nutrir a teoria de que alguns seres vêm ao mundo para ficarem sozinhos, no caso, eu.

    - E seus colegas? - mamãe insistia nessa pergunta toda semana. Suspirei.

    - Hmm... eles não falam muito... comigo. - murmurei, balançando os pés. - Mas tem um garoto novo. 

      A matriarca me olhou outra vez, um brilho de esperança iluminando as pérolas.

    - Ah, é? E como se chama? - perguntou.

    - É Jake. Ele não é daqui, faz intercâmbio. Isso quer dizer que ele está morando no Japão só por um tempo, não é, okaasan? 

    - Hai, meu bem. Mas e esse garoto novo, vocês conversam? - interrogava esperançosa. Abaixei a cabeça, pensando sobre o que dizer. 

    - O Jake ainda não fala muito, mas as meninas gostam dele. - disse. Lembrava do coro de animação quando a professora apresentou o novato. Eu havia gostado do sorriso dele, mas não era bem isso que me chamou a atenção. Jake sempre tinha companhia, uma mulher esbelta e bonita. Tinham os mesmos olhos e ela sempre o olhava com ternura. Mas eles nunca conversavam, ela apenas o seguia por todo canto e só então que percebi que ela não era uma pessoa normal. Era aqueles tipos especiais.

    - E você, também gosta? - Akemi me despertou dos pensamentos. Dei de ombros.

    - Eu acho que sim. - murmurei. Os olhos dela brilharam e sua mão segurou a minha.

    - Que bom, minha pérola! E você vai chamá-lo para sair? - entusiasmou-se. Ergui a cabeça, olhando-a interrogativamente.

    - Sair? - ecoei. Ela assentiu.

    - Claro! A professora contou para mim hoje cedo que o primeiro baile será em dois dias. Por que não o chama para ir com você? - incentivou. 

    - O que é um baile, okaasan? - perguntei inocente. Akemi surpreendeu-se, mas logo disfarçou e afagou meu cabelo.

    - Um baile é um... evento social. Todos os alunos se reúnem no ginásio e... dançam músicas. É muito divertido! - contou. Arqueei as sobrancelhas.

    - Social, okaasan? - suspirei - Você sabe que não tenho amigos. 

      Ela largou o cachecol ao seu lado e me puxou para seu colo. Apesar da idade, eu era pequena e não pesava muito. O calor maternal me aquecia enquanto era abraçada gentilmente e embalada devagar pelo balanço.

    - Mas você deve tentar construir amizades, meu amor. Por que não tenta com o Jake? - sussurrou, beijando o topo de minha cabeça.

    - Acha mesmo que eu devo? - sussurrei de volta, temendo que ele fosse como os outros.

    - Claro que acho, filha. - disse mamãe. A doçura na voz dela me fez sentir feliz. Imaginei se era de fato a decisão certa, mas pensando sobre o assunto, talvez Jake pudesse ser diferente. Ele fora o único que eu conheci que trazia consigo uma pessoa do tipo especial. E se ele também a enxergasse? 

       Determinada, levantei do colo de minha mãe e assenti.

    - Hai, okaasan. - respondi. O sorriso dela foi de orelha à orelha e então nos abraçamos mais uma vez. 

                                                                              ***

             O dia na escola foi agitado, porque o baile seria no dia seguinte. Eu ainda não entendia muito bem o que era aquele evento social e, de certa forma, o temia um pouco. Mas acataria a sugestão de minha mãe e tentaria ser amiga do novato americano. O intervalo para o almoço estava quase chegando ao fim e eu resolvi me aproximar. A mesa onde Jake comia estava abarrotada com as garotas e garotos da minha turma, o que quase me desmotivou, mas ao olhar para a mulher que pairava atrás do garoto, decidi prosseguir. Pigarreei ao chegar próxima dele, atraindo a atenção de todos. De repente, dei-me conta de que mal sabia o que falar.

    - O-Ohayo. - murmurei timidamente. O garoto olhou para mim.

    - Ohayo. - respondeu de volta. Apertei os dedos na borda de minha saia, temendo o que sairia da minha boca.

    - Meu nome é Hinata. - continuei. Ele sorriu.

    - E ai, Hinata, eu sou o Jake. - disse. Assenti, eu já sabia. Olhei para a moça que ele trazia, ela o olhava com ternura, assim como sempre fazia. - O que está olhando? 

      Voltei minha atenção para ele, corando.

    - Apenas... a moça bonita. - sussurrei. Ele inclinou-se, querendo ouvir. A conversa era pública demais e aquilo estava começando a me deixar agitada por dentro. Decidi que deveria fazer logo o que Akemi tanto queria, então respirei fundo e me preparei. - Jake-san, você quer ir ao baile? - perguntei de imediato. Ele arregalou os olhos.

      Um coro de risadas explodiu em meus ouvidos. Encolhi os ombros, vendo todos aqueles olhares debochados sobre mim. Será que mamãe estava errada? Será que aquela pergunta significava mais do que pensávamos? O garoto parecia surpreso demais, o que talvez tenha motivado a mulher a tocá-lo. Os dedos dela, levemente luminosos, tocaram os cabelos dele. Mas o menino nem se movera.

    - Tá olhando o que ai, esquisitona? Outro dos seus fantasmas? - perguntou uma das garotas. Meus olhos começaram a arder.

    - Ela não é um fantasma! - vi-me exclamando. Calei-me de imediato, pois sabia que havia cometido um erro. Admitir que havia uma pessoa do tipo especial ali os fariam rir mais ainda. Não sabia o porquê e talvez nunca entenderia, mas os outros não enxergavam todas as pessoas que circulavam pelo mundo da mesma forma que eu. 

    - Ela quem? - perguntou Jake. O rubor tomou conta de minhas bochechas.

    - A moça... a moça que está sempre com você. - murmurei. Os olhos do garoto quase saltaram da cara e ele ficou me encarando como se eu fosse maluca. Uma das estudantes se levantou de seu lugar e se inclinou com sua altura mais significativa do que a minha, pressionando-me a sentir sua soberania.

                                      "Você acredita? Você se desvanece como um sonho?

                                       Deixe-me te escutar respirar

                                       Deixe-me observar enquanto você dorme

                                       Os olhos do pardal... Promessas deslocadas em julgamentos

                                       Eu não posso negar que você foi designado para as minhas punições."

    - Quem você pensa que é? Ta querendo assustar o Jake? Suma, sua esquisita! Você nunca vai num baile, baka! Ninguém vai te querer, duvido até que esses fantasmas estúpidos que você diz que vê iriam te convidar para qualquer coisa. Ah, não, espera, talvez tenha algo sim. Eles vão te levar para o INFERNO! - gritava. Suas amigas deram risadas e se levantaram, prensando-me contra a parede.

    - Uhhhhh, fantasmas! A Hyuuga esquisita e seus amiguinhos imaginários! - caçoavam. Encolhi-me o quanto pude, sentindo algo se agitar dentro de mim.

    - Você vai ver o que acontece com quem mexe com essas coisas. Sua bruxa! 

      De olhos fechados, senti pés me chutarem a barriga e depois mãos puxarem meus cabelos. E então a última coisa que fizeram fez todo o meu ser congelar. Abrindo os olhos, só o que pude ver foram meus fios jogados no chão, espalhados de forma irregular. Instantaneamente lembrei-me de Akemi e como eu dormia quase sempre embalada por suas mãos habilidosas trançando meu cabelo, antes longo como o dela. Gomennasai, okaasan. 

    - Sua feia, agora nem o inferno deve querer você. - falavam, mas eu não ouvia. Meu corpo estava rígido. Levantei devagar, os punhos fechados tão fortemente que meus dedos começaram a perder a circulação. Olhei para todas aquelas crianças ruins, fazendo-as se afastarem de mim. Direcionei as orbes na direção do garoto americano, vendo-o perder a cor diante de mim. A mulher, que antes o olhava sempre com tanta ternura, dessa vez pairava sobre ele com olhos escurecidos pelo ódio. Suas mãos, unhas como garras, tentaram rodear o pescoço de seu companheiro de todas as horas. O desejo que eu tinha se tornando real através dela. 

       Gritos soaram, meninas correram até Jake, balançando as mãos numa tentativa de abaná-lo. Os olhos verdes dele derramaram lágrimas, que corriam por seu rosto cada vez mais branco a cada passo que eu dava em sua direção. Passos duros, rígidos, pesados. Eu podia enxergar tudo com tanta nitidez, mas doía, como se a pele de meu rosto estivesse repuxada e quente. Se pelo ódio ou não... Mas o que era aquele sentimento, afinal?

    - Bruxa! - gritou a menina que segurava a tesoura nas mãos. E foi aí que eu ouvi as palavras vindo dele:

    - Eu vou, por favor, eu vou. - sibilara com dificuldade. 

       E então, tudo pareceu desabar sobre mim. Minha cabeça latejou e eu arquejei, tremendo. Só o que podia enxergar em todos os rostos era o medo, mas dentro de mim, o que mais assombrava era a sensação de que em minha mente, um novo sentimento fora despertado. Parecia correr por minhas veias como uma corrente de energia, fazia-me sentir o corpo entorpecer. Lágrimas quentes banharam meu rosto, contrastando com o gelo que agora parecia ter se tornado meu tão frágil coração. A garota que cortara meu cabelo se aproximou.

    - Não existe baile para você, Hyuuga. Por que não some logo de uma vez? - murmurou. 

      Jake gemeu choroso atrás dela e todos os olhares acusadores me soterram. Diante da culpa e da confusão, disparei numa corrida para fora daquele lugar, avançando num mar de escuridão no qual nunca mais soube como escapar. 

       Não existe baile para mim, okaasan. Eu já devia saber."

           Olhos curiosos pairavam sobre mim. Despertei daquele devaneio e os encarei de volta. Eram rostos diferentes dos que eu via em meu passado, eles sorriam de forma cautelosa, como se 

    estivessem preocupados comigo. 

    - Hinata-chan, você quer ir ao baile? - perguntou Naruto. Arregalei os olhos, vendo-o repetir as minhas palavras. Mas agora era o contrário. Pela primeira vez, era eu quem estava sendo chamada para 

    alguma coisa. Olhei para ele, vendo-o me retribuir de forma terna. Sua mão forte segurou a minha por baixo da mesa, apertando-a de leve. Naquelas orbes azuis, tive a impressão de que me asseguravam que estava tudo bem, que ele estava ali comigo. E talvez até mesmo por mim.

    - H-Hai. - murmurei, levemente rouca. 

    - FINALMENTE! - gritou Ino, eufórica. Eu ri, sentindo os ombros relaxarem. Desta vez eu não temia aquele evento social, não somente porque agora havia sido convidada de verdade, mas também porque havia certos dedos ao redor dos meus, puxando-me para aquela realidade, confortando-me cada vez mais com o que eu menos esperava ter: amizade. 

    - Certo, então nós vamos depois da aula fazer compras. Acho que alguma coisa de tom escuro vai ficar lindo em você, Hinata-san! - disse Sakura, sorrindo gentilmente.

    - E depois disso, rodada de vídeo-game lá em casa. Apareçam por lá, meninas! - exclamou o Uzumaki.

    - YOSHI! - gritou Rock Lee. A turma maluca começou a rir da reação do amigo e imediatamente mil planos se formaram entre eles. 

       Eu sorri, pensando sobre como conseguiam ser tão diferentes das outras pessoas. Embora houvesse toda aquela maluquisse e suas gritantes diferenças de opiniões e estilos de vida, eles pareciam uma família. Ergui o olhar para o loiro, que olhava para seus amigos com um sorriso enorme estampado em seu rosto. As íris cristalinas refletiam a visão que tinha deles e eu só pude pensar em uma coisa:

       Eles eram uma linda bagunça.

                                                                                                            ***

             A buzina soou do lado de fora da mansão Sasaki, fazendo meu coração saltar do peito. Seria a primeira vez que sairia com alguém que não fosse o Uzumaki. Peguei minha bolsa em cima da cama e corri para baixo. Mayumi olhou para mim com um olhar desconfiado, esparramada sobre almofadas no chão da sala de televisão.

    - Estou saindo. - avisei.

    - Aonde você vai? - ela perguntou, fazendo-me parar de andar para virar para ela. 

    - Sair com umas meninas. - respondi, vendo-a estreitar os olhos. Dei de ombros e a ignorei. 

        Saí de casa e avistei o Fiat 500 vermelho, conversível e gritante que estava estacionado em frente ao portão. Sakura dirigia, com Ino ao lado e Tenten no banco de trás. Esgueirei-me para dentro do veículo e sorri minimamente. 

    - Yo, Hinata-san! - exclamaram em uníssono. 

    - Ohayo, minna. - respondi. Sakura deu a partida e o vento dançou com nossos cabelos. Ino mexia no rádio, ávida por encontrar alguma música que a agradasse. 

    - Já que estamos num programa de garotas, temos que escutar as músicas mais clichês! - exclamou. Tenten revirou os olhos ao meu lado.

    - Você nem perguntou o que a Hinata gosta de ouvir, porca. - disse Sakura, rindo. A loira lhe mostrou a língua e então virou-se para mim.

    - O que você gosta de ouvir? - perguntou. Vi-me sem resposta, uma vez que não ouvia música há tanto tempo. Mas lembrava-me que gostava de músicas antigas, dos anos 60 e 70 do estilo de rock e blues americanos e/ou ingleses. Akemi ouvia muitos discos de vinil sobre esses estilos e acabei tendendo para o mesmo lado. Encolhi os ombros.

    - Não ouço música faz um bom tempo, mas eu gosto de estilos antigos. - admiti. Ino arqueou as sobrancelhas.

    - Como assim antigos?

    - Anos 60 e 70... coisas assim. - falei, sentindo-me tímida.

    - HINATA, VOCÊ É UMA VELHINHA LOUCA. - gritou a loira, fazendo as duas amigas caírem na risada. Corei. Sabia que aquele tipo de brincadeira era diferente das coisas que faziam comigo no passado. 

    Aquelas meninas eram... pessoas boas. Ao pensar sobre o que estávamos fazendo, lembrei-me de uma pergunta importante.

    - Minna, por que o baile é em uma terça-feira? - perguntei, a fim de sanar a curiosidade. Ino virou-se para mim.

    - É porque na quarta-feira será feriado. É o aniversário da fundação da escola e todo ano Tsunade organiza o primeiro baile como comemoração. - explicou. 

    - Ah! É uma forma boa de comemorar. - comentei, compreendendo. Ela assentiu.

       Voltando-se para seu trabalho com o rádio, Ino finalmente conseguiu encontrar o que queria. O som invadiu o carro com uma onda sonora frenética e eu quase pude tocar este frenesi adolescente por qualquer coisa que não envolva os pés bem no chão sobre a dura realidade da vida. Aquilo me fez rir e eu apenas balancei a cabeça. Estar ali era mesmo como fugir da minha realidade, afinal. As três amigas cantavam a música com tanta euforia que eu fiquei tentada a saber a letra também, mas me contive e apenas apreciei o momento enquanto o vento tocava meus cabelos em uma carícia.

                                                                "Bate a palma, o som do meu coração

                                                                 A batida toca, toca, toca e toca

                                                                 Bate a palma, você faz eu me sentir tão bem

                                                                 Venha até mim, venha até mim

                                                                 Agora!"

               Ao chegar no local desejado, dei-me conta de que nunca havia entrado em um shopping. Mas se dissesse isso, talvez Ino enlouquecesse. Ao invés disso, decidi apenas me deixar em suas mãos habilidosas. Seria minha primeira vez em um baile de verdade com uma turma que podia chamar de minha e sabia que não tinha a menor ideia do que a ocasião pedia. Lembrava-me de que o tema envolvia fantasias como vestimenta, mas tampouco imaginava que tipo de personagem gostaria de ser. Nós saímos do carro e já entramos no elevador, que nos levou até um outro mundo, repleto de lojas e luzes, decorações, placas em neon e muitas, mas muitas pessoas andando de um lado para o outro. Era como uma realidade paralela onde o tempo não fluía e a única coisa que passava era o cartão de crédito em máquinas. Senti uma mão pegando a minha e quando olhei para frente, vi os olhos brilhantes de Sakura olhando-me com animação.

    - Vamos lá, Hinata-san, vamos encontrar algo para você. - disse. Sorri em resposta à ela e me deixei ser puxada em direção àquele submundo alucinante. 

          Ino andava à frente com Tenten ao seu lado, ambas entrelaçadas em sua admiração pelas lojas. Elas indicaram uma loja enorme à nossa direita e nós caminhamos ate lá. Eu ainda estava hipnotizada pela grandiosidade do lugar e por todas aquelas luzes, sons e imagens. Era realmente um show de atrações, uma violação à sanidade de qualquer um com a constante pergunta: onde você vai entrar? 

            No nosso caso, a sessão de fantasia foi a primeira resposta à essa pergunta. Havia uma série de cabides prateados pendurados em um tubos de camurça rosa que abrigavam roupas dos mais diversos tipos, separados entre algumas temáticas. No meio do salão, simplesmente não tinha ideia do que comprar. Mas as outras meninas eram mais ágeis e provavelmente já arquitetavam alguma coisa, pois com um coro de gritinhos animados, todas já estavam procurando a fantasia ideal. 

    - Algo de tom escuro seria melhor, porque o tom de pele dela é bem clarinho. - dizia Sakura para Ino, enquanto eu timidamente aguardava.

    - Hinata tem um estilo mais reservado, não exagerem na escolha. - disse Tenten, com o rosto encoberto por um vestido longo e azul claro. Sentei-me em um banquinho colorido e esperei por elas. A vendedora parecia conhecer as meninas e não estava rondando-as irritantemente como geralmente faria com outros clientes. Apesar de não conhecer o shopping, por evitar locais que possam abrigar muitas pessoas, eu frequentava pequenas lojinhas com minha mãe às vezes. 

    - Certo, então Hinatinha, prova essas aqui e mostra pra gente. - disse Ino, lançando-me três fantasias. Elas apontaram para o provador e eu segui para lá. A primeira que peguei era verde, de alguma fada, porque vinha com um par de asas cheias de purpurina, mas era extremamente justa. Fiquei tímida ao afastar a cortina e mostrar o resultado às garotas. As três ficaram boquiabertas e Tenten começou a bater palmas com os olhos brilhando.

    - Oh, meu Kami-sama! POR QUE DIABOS VOCÊ SE ESCONDE NESSES PANOS? - Ino berrou, segurando o rosto com as mãos e olhando para meu corpo. O rubor tomou conta de minha face, mas revirei os olhos, pensando o quanto aquilo era óbvio.

    - Por que eu pareço uma albina! - exclamei, tímida. As meninas riram. Sakura se aproximou de mim e me fez virar para me ver no espelho.

    - Você é linda, Hinata. Não olha para si mesma? Quem não acha isso, é porque sente inveja. Você não tem que se esconder de ninguém, basta ser apenas o que é. - disse ela. 

         Senti aquecida por suas palavras. Meu contato com garotas da minha idade sempre fora traumático e eu nunca havia conseguido ter conversas e  relações duradouras. Mas apesar do pouco tempo perto daquelas três, jamais havia recebido sorrisos tão sinceros, nem levada para passear ou qualquer coisa do tipo. Estar ali com elas me fazia acreditar que ainda havia uma esperança para o mundo. Movida por essas sensações, eu sorri para Sakura e fui surpreendida por um abraço, não só dela, mas de todas as três ao mesmo tempo. Soterrada entre braços, entre sorrisos, no calor humano e singelo de uma amizade. 

    - Mas essa fantasia ai, apesar de você estar tão sexy que vai matar o Nar... Quer dizer, todos os meninos, não está no nível certo. - disse Ino ao se afastarem. Tenten começou a rir da amiga e Sakura lhe lançou um olhar reprovador.

    - E o que você quer dizer, "boca grande"? - perguntou Sakura. Ino lhe mostrou a língua.

    - Quero dizer que é uma fantasia de fadinha, convenhamos, a Hinata é muita areia pra essa simples e inocente roupinha! - exclamou, balançando a cabeça.

    - Tem razão, vista as outras pra gente ver. - ordenou Tenten. Assenti e comecei a provar a segunda fantasia. Essa já era um vestido longo e vermelho, com uma fenda que ia do começo da coxa até o pé e um decote aberto nas costas inteira. Juntamente com a roupa, vinha uma meia calça arrastão da mesma cor, luvas de cetim longas e um arco com chifres de... demônio?

        Dessa vez, extremamente constrangida, afastei a cortina, com o rosto quase igual ao vestido. Tenten tossiu, engasgando com um copo de um dos chás que havia de cortesia por ali. Sakura parecia tão corada quanto eu, mas Ino tinha os olhos brilhantes de animação e um sorriso sapeca.

    - O que certa pessoa não daria para estar aqui, hein? - disse, deixando-me confusa. Sakura lhe aplicou uma cotovelada.

    - Porca! Não a deixe constrangida! - brigou, fazendo Ino formar um bico nos lábios rosados. - Essa fantasia está inspirando fantasias demais... se é que você me entende. Vamos para a próxima, certo? 

       Assenti, feliz por me livrar de todo aquele conjunto absurdamente chamativo. Ao provar a terceira e última, senti-me finalmente à vontade. O tecido não colava no corpo como a primeira e nem era decotada e aberta como a segunda. Vinha justa até a cintura e depois pendia solta e armada até o meio das coxas, com babados nas bordas. Eu reconhecia como uma fantasia de camareira, talvez. O vestido era de uma tonalidade escura do azul, com os babados, parte dos seios e mangas num tom de branco. Vinha com um colar de laço e outro com uma gargantilha forrada em renda presa à um colar médio, de um pingente grande e roxo. Junto com a roupa principal e os acessórios, vinham meias longas azuis. Após vestir tudo, saí do provador. As meninas estavam conversando e quando olharam para mim, vi nelas a mesma certeza que senti.

    - Com certeza, essa aí ficou a sua cara! - disse Ino. 

      Decidida, levei a fantasia de camareira. Pensava que as compras haviam sido encerradas, mas Sakura lembrou que eu precisaria de um sapato, então lá fomos nós, misturadas na multidão consumidora. Optei por um par de saltos pretos, discretos, mas bonitos e depois disso Ino deu a ideia de tomarmos sorvete. Quando eu era pequena, amava sorvete de morango, mas já fazia muito tempo que não tomava um. Antes de conhecer aquele garoto loiro, cujos olhos me enchiam de lembranças, geralmente eu evitava tudo o que me fizesse recordar o passado. Mas agora, isso era inevitável. Aceitava cada recordação, porém, porque agora, mesmo que ainda seja um mistério para mim, tudo o que eu lembrava não ficava mais na zona nostálgica e triste. Agora eu podia recordar do amor sem sentir tanta dor, porque no fundo, talvez eu estivesse começando a acreditar nele outra vez. 

       E ao sairmos do shopping naquela tarde alegre, tive certeza de que aquilo podia ser algo recíproco. 

    - Próxima parada, minhas amigas: casa do loiro! - anunciou Sakura. As meninas riram e Tenten fez uma cara engraçada.

    - Ninguém pode me vencer nos jogos de guerra, vocês sabem! - exclamou, determinada. Eu ri e Ino lhe lançou um olhar desafiador. 

      Assim iniciaram uma discussão sobre quem seria a melhor, mas eu não me atentei à esse fato, apenas desfrutei da sensação de estar ali, entre amigas, cheias de sacolas que no dia seguinte me transformariam em alguém que nunca tive a chance de ser. 

      Porque havia um baile para mim. Mas dessa vez eu só não sabia o quanto isso poderia se tornar a minha vontade, ao invés da dela. E só havia uma coisa que eu podia pensar além da grande emoção que crescia em mim.

         Arigatou, okaasan. 


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