CAPÍTULO ÚNICO
Era uma noite fria de inverno durante nossa viagem. Lembro que, minha saúde estava frágil e o temporal não ajudava. Foi então que, eu e meu criado decidimos pedir hospedagem em um casarão que misturava grandeza com melancolia. Logo percebemos, conforme entrávamos que havia sido recentemente abandonada. Decidimos dormir em um dos aposentos, que se localizada perto de uma das imensas janelas daquele casarão. A decoração da casa era um tanto estranha, mas estava bem conservada. Havia pôsteres nas paredes, assim como, diversas pinturas, algumas com bordas douradas.
Mandei o meu criado fechar as pesadas portas do quarto que estávamos, enquanto eu acendia um lampião. Para que, conseguisse ver todos aqueles quadros, caso não conseguisse pegar no sono. Encontrei um livro em cima da cama e coloquei-o sobre uma pequena mesa de madeira, que estava naquele lugar. Comecei a lê-lo, minha mente se concentrou naquelas palavras tingidas de preto.
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O livro se tratava das explicações e críticas a respeito de cada quadro do casarão. Li, e fiquei bastante tempo contemplando aquelas pinturas. Foi então que, a luz do lampião começou a enfraquecer. Estendi meu braço cuidadosamente em direção a ele, para não acordar e atrapalhar o sono do meu criado, e fiz o possível para que a luz permanecesse acesa. Porém esse movimento produziu o efeito inesperado e a luz iluminou um quadro em particular, um que eu não havia notado antes.
Virei-me e procurei novamente no livro, em busca de informações. Era o retrato de uma jovem do lugar. Uma jovem de uma estranha beleza, e que, em um maldito momento de sua vida conheceu e se apaixonou por um pintor. O pintor... Tinha um caráter apaixonado, estudioso e sério; havia posto a arte a sua paixão. A moça era cheia de luz e de sorrisos, era cheia de vida. Odiava apenas a arte, pois ela havia se tornado a obsessão de seu amado.
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Foi uma coisa terrível para a dama ouvir sobre o desejo que o pintor tinha de pintá-la. Mas ela era humilde e generosa, não recusou. Assentou-se pacientemente durante horas. Horas que se tornaram semanas... E que por sua vez, se tornaram meses. O pintor era um homem obcecado, e se perdia em mil pensamentos e sonhos. Tanto, que a luz que entrava vagamente naquela grande janela, secava a saúde e os encantos de sua mulher; que se enfraquecia aos olhos de todos, exceto aos olhos dele. Ela, no entanto, sorria sempre, porque via que o seu pintor sentia um grande prazer no que fazia. Ele trabalhava noite e dia, para pintar a imagem daquela que tanto amava.
Depois de vários meses de trabalho, acabou finalmente sua obra. Durante um instante o pintor ficou em êxtase, admirando o trabalho que havia realizado. Mas apenas um segundo depois, se estremeceu, ao ver que sua companheira descansava naquele chão frio, e que agora, a vida dela refletia naquela estúpida tela.
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A tempestade de neve havia passado e já estava de dia. Meu criado acordou e eu não havia pregado os olhos, nenhum momento, naquela noite. Partimos, e deixei tudo em seu devido lugar. Ao longe avistei a casa; ela tinha um aspecto triste. Talvez estivesse esperando os próximos visitantes chegarem... Esperando o próximo inverno.
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