Areia & Neve

Tempo estimado de leitura: 58 minutos

    12
    Capítulos:

    Capítulo 6

    Uma luta, Um Pedido e as Estrelas

    Heterossexualidade, Spoiler, Violência

    Mais um capítulo pra vocês! Esse eu adorei escrever!

    Alguns minutos atrás, no esconderijo de Syren.

    O gotejar de sangue era o único som que se podia escutar no local. O líquido viscoso manchava o chão do esconderijo onde até pouco tempo Mai se escondia. Ela, por sua vez, gemeu de dor ao sentir os cortes profundos em seu braço esquerdo. Ela tentou resistir à fúria de Syren, mas o homem parecia estar cego de fúria. A kunoichi tentou usar o raeghar, mas Lyin estava lá e usou o seu para proteger o ninja da neve. Quando sua irmã apareceu, Mai soube que iria perder. Lyin sequer se moveu durante o tempo em que Syren espancou Mai. Os olhos azuis permaneciam frios e indiferentes. Mai sentiu os olhos arderem, mas não era pela dor dos cortes e dos hematomas, mas sim pelo fato de que sua irmã ainda estava presa ao selamento, obedecendo às vontades de Syren. Sua nuca ainda queimava, e se não fosse pela dor causada pelo selo de Syren, Mai tinha certeza que não estaria tão ferida.

    Não fazia a menor ideia de quanto tempo estava ali, mas não se importava. Sabia que não sobreviveria muito tempo. Já estava com a visão meio turva pela falta de sangue. Moveu os dedos com certa quantidade de esforço e logo suspirou aliviada. Por um instante achou que ele havia arrancado seus braços.

    Mai fechou os olhos e se preparou para o momento em que a morte viria buscá-la. Mas a presença repentina de um chakra que ela já conhecia a fez abrir os olhos com a surpresa. Ela conhecia aquele chakra. Era ele. O ninja de Suna que lhe salvou. De repente, a ideia de esperar a morte chegar lhe pareceu um absurdo. Precisava ir agradecê-lo. Podia sentir o kazekage chegando cada vez mais perto do esconderijo, mas sabia que assim que chegasse ele encontraria Lyin, pois ela ficaria para vigiar a entrada do esconderijo. Precisava evitar um combate entre eles. Lyin não iria perder, e Mai sabia disso.

    Usou toda força que ainda lhe restara para tentar se levantar, mas falhou nas duas primeiras tentativas. O corte no braço esquerdo não parava de sangrar e Mai se perguntou quando que iria desmaiar. Sentiu o chakra dele cada vez mais próximo.

    Quando finalmente conseguiu se colocar de pé, precisou se apoiar nas paredes para não cair no chão novamente. Sentiu o gosto de seu próprio sangue na boca e não gostou daquela sensação de se sentir tão fraca. Andou devagar pelos longos corredores e tentou ao máximo apressar o passo quando sentiu o chakra de Lyin começar a aumentar, preparando-se para batalha.

    – D-droga...V-vamos Mai...E-Eu...- Falava pra si mesma, tentado aumentar sua coragem e determinação pra continuar. Sua perna doía pelos hematomas da luta contra Syren.

    Quando começou a perder as esperanças, viu a luz branca da saída e tratou de usar todo seu esforço para correr, principalmente depois de ver que o kazekage atacaria. Se ele atacasse Lyin, não venceria. Por um milagre, conseguiu chegar a tempo e anulou o ataque do Kazekage com o raeghar. Ele a olhou visivelmente surpreso e Mai não pode conter o sorriso de satisfação e orgulho de si mesma, havia conseguido. De repente a dor não tinha qualquer importância.

    – Me desculpe Kazekage. – Disse á ele. – Mas, sou eu quem deve proceder a partir daqui.

    Mai sorriu ao se lembrar do porque resistiu com tanta coragem das torturas de Syren. A vontade de agradecer aquele ninja por suas palavras era tanta que Mai jurou que não morreria enquanto não conseguisse cumprir essa vontade. Sabia que para o kazekage aquilo foram somente palavras, mas pra ela foi uma salvação e não tardaria a agradecer.

    – Eu não deixei que me matassem por um motivo, Kazekage: Eu queria muito te agradecer antes de morrer.

    – Me agradecer...? – Perguntou ele. Agora estava mais confuso do que nunca.

    – Não se deve aceitar um destino que não quer....- Ela repetiu a frase que Gaara havia dito a ela. – Você não sabe o quanto essa frase me salvou. Eu só queria dizer que te agradeço.

    Mas não deu tempo dele responder. Ela apenas correu de encontro ao seu destino. Já tinha feito o que tanto desejara, agora, tentaria trazer a irmã para o lado certo. Mai ativou seu raeghar mais uma vez e sacou sua espada Akyn. Lyin já estava na postura do taijutsu kirigazure e não mostrava qualquer brecha. Ambas desferiram golpes potentes uma contra a outra. Mai sentia o corpo protestar, pedindo por cuidados devido a enorme quantidade de ferimentos, mas a kunoichi da neve sequer se importou.

    Quando percebeu, ambas estava a uma boa distancia do chão trocando golpes poderosos enquanto saltavam pelas montanhas geladas. Afastaram-se por alguns segundos:

    – Lyin, tente se lembrar...- Implorou Mai, com um dos joelhos na neve. A dor tomava conta de seu corpo. – Sou eu! Sua irmã que você tanto protegeu! Por favor, lute contra o selo dele!

    – Por que luta ao lado de Sabaku no Gaara, Mai? – Perguntou ela, estreitando os olhos. Parecia nem ter escutado o que Mai havia dito.

    – Porque ele não é meu inimigo. – Afirmou Mai. – Ele me ajudou e eu vou protegê-lo de você e Syren. É assim que vou agradecê-lo.

    Ela não respondeu. Quando Mai se deu conta, já estava lutando para não ser atingida fatalmente pela espada de Lyin. A gêmea de cabelos curtos era muito mais veloz e o kazekage percebeu isso. Gaara assistia ao combate em silêncio. Sabia que Mai estava fraca demais pra lutar, mas não podia interferir. Só iria atrapalhar se assim o fizesse.

    Lyin estava em vantagem, principalmente depois de acertar um chute certeiro no lado esquerdo do corpo da irmã, que precisou se defender e machucou ainda mais seu braço esquerdo.

    A noite havia chegado ao norte marcando ainda mais a luta entre as kunoichis gêmeas. Mai estava tão fraca que não conseguiu manter mais o raeghar. Lyin guardou sua espada Zaichi e fez um conjunto de selos que Mai conhecia. Mas não houve tempo pra escapar. Um segundo depois de completar o selo, Lyin já tocava a testa de Mai.

    O símbolo do selamento da serpente kirigazure cobriu os olhos de Mai, entretanto ela nem teve tempo de raciocinar, pois Lyin lhe acertou um golpe poderoso. Mai foi arremessada ao longe e, enquanto ia de encontro a montanha de gelo, a kunoichi da neve viu sua visão começar a desaparecer. A cegueira causada pelo selamento havia chegado.

    A última coisa que a última coisa que a kunoichi viu foi areia ao seu redor e um par de braços a envolvendo, impedindo que ela caísse sobre o gelo mortal. Mesmo cega, ela sabia quem era. Aquele chakra se tornara inconfundível.

    – Obrigado, Gaara. – Ela novamente o agradeceu, mas dessa vez o chamando pelo nome e não pelo título de kazekage. Agora mantinha os olhos fechados, já que não havia motivos para mantê-los abertos e de certa forma tornava o fato de que estava cega menos desesperador. – É meio estranho não poder ver. Agora não me resta muito tempo.

    – Porque diz isso? – Ele perguntou enquanto usava a areia para leva-los a qualquer lugar seguro e longe de Lyin.

    – Porque Lyin usou o selo da serpente para selar meus olhos e, quando se sela o raeghar de um Kirigazure, nós morremos. A energia do raeghar é nossa fonte de energia vital. Não pude evitar que ela usasse o selo.

    – Então, porque não pediu ajuda? Eu poderia ter ajudado. – Disse á ela enquanto parava sobre uma montanha de neve. Era muito alta, mas bem iluminada pela luz alva da lua. Mai permanecia encolhida em seu colo. O desenho da serpente sobre os olhos da kunoichi mantinha seu poder selado e ela sentia-se cada vez mais fraca. O corpo voltara a doer.

    – Isso era algo que eu precisava fazer sozinha. – Disse ela e logo continuou. – Posso te pedir um favor, Gaara?

    – Sim. – Permitiu o kazekage meio confuso. Ela, mesmo cega parecia ver as reações do kazekage, pois logo deu um meio sorriso, divertindo-se com sua expressão confusa.

    – Quero que você seja meus olhos, Gaara. – Disse ela. – Quero que olhe as estrelas pra mim.

    O kazekage agora estava perdido. Ninguém jamais havia pedido aquilo pra ele. Mas, mesmo assim, olhou para o céu. Não sabia como responder ao favor da kunoichi. Ele estava olhando para o céu. Mas, o que aquilo significava? Ele não fazia ideia.

    – Minha mãe sempre costumava dizer que todas as vezes que precisamos de conforto e...- Mai dizia, sentiu seu corpo dolorido começar a deixar de responder. Tinha pouco tempo. - ...se quisermos lembrar de alguém importante pra nós, devemos olhar as estrelas. Elas farão com que nós nunca nos sintamos sozinhos.

    O kage permanecia olhando para as estrelas enquanto ouvia as palavras fracas de Mai. Lembrou-se de sua mãe e o coração se encheu de saudade, mesmo sem ter uma única lembrança dela.

    – As estrelas brilham. – Começou ele. Mai permaneceu atenta ao que ele dizia, mas agora lutava para respirar. – É estranho, mas, parecem que querem dizer alguma coisa...

    Mas não pensou em terminar a frase. Um toque suave em seu rosto o fez arregalar os olhos de surpresa. A mão de Mai estava gentilmente na face dele e o kazekage virou o rosto lentamente para encarar a jovem kunoichi. Surpreendeu-se ao ver que ela chorava silenciosamente.

    – Por favor, não façam mal a Lyin. Não somos traidoras....Apenas liberte-a.

    E dito isso, Gaara viu um turbilhão de memórias atravessarem sua mente. Não eram memórias suas.

    Em uma dessas memórias ele viu uma garotinha dançando na neve e sendo repreendida por outra. Viu também toda a violência a qual ela fora submetida pelas mãos de alguns homens. Viu as lágrimas que ela derramou ao ver a corpo de sua mãe quase morta.

    As memórias tomaram conta dele e no final não pode conter suas próprias lágrimas ao ver a garotinha das lembranças pôr as mãos sobre o coração e chorar por sentir a mesma dor que ele um dia já sentiu.

    Ela tinha uma ferida do coração, exatamente o mesmo problema que ele. Mas diferentemente de Gaara, Mai não teve ninguém para lhe dar o remédio que tanto precisava, o Amor.

    Mais uma lágrima escapou dos olhos do kazekage ao ver que, mesmo sentindo dor em seu coração a garotinha sorria todos os dias e aproveitava todo o tempo que possuía sendo gentil com os outros, dando a todos o remédio que ela tanto esperou e que nunca veio.


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